Services on Demand
Journal
Article
Indicators
- Cited by SciELO
- Access statistics
Related links
- Cited by Google
- Similars in SciELO
- Similars in Google
Share
Revista Colombiana de Psicología
Print version ISSN 0121-5469
Rev. colomb. psicol. vol.23 no.2 Bogotá July/Dec. 2014
http://dx.doi.org/10.15446/rcp.v23n2.40672
A Paternidade e a Maternidade sob o Olhar de Jovens de Classe Média e Baixa: Um Estudo em Representações Sociais
La Paternidad y la Maternidad Desde la Mirada de Jóvenes de Clase Media y Baja: Un Estudio en Representaciones Sociales
Fatherhood and Motherhood Under the Point of View of Medium and Low Class Youth: A Study on Social Representations
ÁGNES BONFÁ
DRAGO MARIA CRISTINA SMITH MENANDRO
Universidade Federal do Espírito Santo, Vitória (Espírito Santo), Brasil
A correspondência relacionada a este artigo deve estar dirigida a Ágnes Bonfá Drago, e-mail: agnesbonfa@gmail.com.
Universidade Federal do Espírito Santo, Centro de Ciências Humanas e Naturais, Departamento de Psicologia Social e do Desenvolvimento, Avenida Fernando Ferrari, 514 Goiabeiras, Vitoria, ES - Brasil, CEP 29075-910.
Como citar este artigo: Drago, Á. B. & Menandro, M. C. S. (2014). A paternidade e a maternidade sob o olhar de jovens de classe média e baixa: um estudo em representações sociais.
Revista Colombiana de Psicología, 23(2), 311-324.
ARTIGO DE PESQUISA CIENTÍFICA
RECEBIDO: 5 DE NOVEMBRO DE 2013 - ACEITO: 26 DE AGOSTO DE 2014
Resumo
O objetivo do estudo foi identificar e analisar as Representações Sociais (RS) de paternidade e de maternidade de jovens do sexo masculino. Participaram 60 rapazes de 17 a 24 anos, sendo 30 de classe média e 30 de classe baixa. Utilizou-se questionário para captar as RS, por meio da técnica de evocação livre. Identificaram-se semelhanças e divergências nas representações desses jovens levando em consideração suas diferentes inserções. O software EVOC foi utilizado e os resultados evidenciam que responsabilidade e amar foram os principais elementos de representação evocados. Além disso, os elementos possivelmente compositores das RS de paternidade e de maternidade, para os dois grupos, ora se assemelham, ora se diferenciam.
Palavras-chave: paternidade, maternidade, juventude, adolescência, representação social.
Resumen
El objetivo del estudio fue identificar y analizar las Representaciones Sociales (RS) de paternidad y maternidad de jóvenes del sexo masculino. Participaron 60 jóvenes entre 17 y 24 años, siendo 30 de clase media y 30 de clase baja. Se utilizó un cuestionario para captar las RS por medio de la técnica de evocación libre. Se identificaron similitudes y divergencias en las representaciones de esos jóvenes teniendo en cuenta sus distintas inserciones. Se utilizó el software EVOC y los resultados evidencian que responsabilidad y amar fueron los principales elementos de representación evocados. Además de eso, los elementos posiblemente compositores de las RS de paternidad y maternidad, para los dos grupos, algunas veces se asemejan y otras se diferencian.
Palabras clave: paternidad, maternidad, juventud, adolescencia, representación social.
Abstract
The aim of the study was to identify and analyze the social representations (SR) of fatherhood and motherhood on young males. A total of sixty guys between 17 to 24 years old, participated. Thirty boys of respondents were from middle class and the others thirty, from a low social class. A questionnaire was used to capture the (SR) by using the technique of free recall. We identified similarities and differences in the representations of these youth people, considering their different inserts. The EVOC software was used and the results showed that responsibility and love were the main elements evoked. Moreover, the elements possibly composers of the (SR) paternity and maternity for both groups, sometimes resemble, sometimes differ.
Keywords: fatherhood, motherhood, youth, adolescence, social representation.
NO CENÁRIO acadêmico não existe concordância sobre a definição precisa do período que compreende a adolescência. De acordo com Sarti (2004), "em nossa sociedade, pode-se dizer que tanto a adolescência como a juventude, deixaram de configurar um momento de passagem, mas tampouco têm lugar definido" (p. 22). Miranda e Souza-Santos (2009) expõem que a definição da juventude é delicada, não se é criança e nem adulto. Contudo, as autoras apontam a ideia de processo, de algo não estático, que abrange assim várias possibilidades de demarcação. A Organização Mundial da Saúde (WHO, 1986) considera adolescente o indivíduo que possui de 10 a 19 anos. Já a Organização das Nações Unidas (ONU, 1985) considera juventude aqueles que possuem de 15 a 24 anos de idade. Como neste estudo utilizamos os termos adolescência e juventude como similares, optamos pela faixa etária proposta pela ONU (15 a 24 anos), por esta englobar o período de idade que investigamos.
Negreiros e Féres-Carneiro (2004) relatam que há duas décadas é possível identificar um considerável número de estudos psicossociais no Brasil que atestam um fenômeno comum, que é a coexistência de representações tradicionais e modernas no que se refere à substituição de modelos antigos por novos nos modos de se relacionar. Hoje, por exemplo, convivemos com distintas formas de vínculos familiares, nenhum essencialmente melhor ou pior que o outro. Na família tradicional recaía sobre o pai a função de prover o sustento do lar e da família, enquanto à mãe cabia a função de cuidar das crianças (Amazonas, Damasceno, Terto, & Silva, 2003). Em decorrência das transformações sociais, os membros das famílias foram levados a assumir novos papéis e posições que culminaram em no-vos arranjos familiares.
Nesse sentido, ao falarmos de família, de-vemos especificar de qual família se fala, pois a organização e o significado que se atribui ao grupo familiar são construções sociais e não estão "resguardadas" de influências dos contextos histórico, socioeconômico e cultural nos quais se inserem. Como evidenciam Perucchi e Beirão (2007), "a decadência do modelo familiar patriarcal propicia novas concepções de papéis sociais e pauta (re)configurações da família moderna. Adaptando-se às transformações, as novas famílias criam espaços para que diferentes formas de relações sejam estabelecidas" (p. 66). Dentre tantas configurações existentes atualmente, o fato é que alguns grupos familiares coexistem com uma flexibilidade de papéis que revelam arranjos inventados para abranger a multiplicidade de tarefas e de afetos comumente existentes nas relações em família.
Assim como o conceito de família, a noção do masculino e do feminino também se transformou. Alguns autores atestam que a família brasileira apresenta um novo perfil, com uma maior divisão de tarefas entre os membros. Contudo, não se pode dizer que essa configuração seja comum em todo o território (Wagner, Predebon, Mosmann, & Verza, 2005).
Para Olavarría (2003; 2005), um dos principais motivos que abalou a estrutura familiar na década de 1980 foi a perda significativa que os homens sofreram em seus postos de trabalho estáveis, já que a mulher foi forçada a também compor o mercado de trabalho e complementar a renda familiar. Certamente os efeitos que essas transformações provocaram no cotidiano foram profundos, e um dos mais diretos se deu sobre os papéis parentais, que hoje vêm tomando outros contornos, principalmente no cenário urbano.
No decorrer da história recente no Ocidente, percebe-se que ao mesmo tempo em que as mulheres se tornam mais distantes do ideal de maternidade (não mais vista como obrigação para toda mulher), surge, especialmente entre os homens jovens, "um desejo de maternagem ou mesmo de maternidade" (Badinter, 1985, p. 362). Segundo essa autora, já se constatava, em estudos da época com pais jovens, atitudes e desejos tradicionalmente qualificados como maternos.
Perucchi e Beirão (2007), Ramires (1997), e Staudt e Wagner (2008) identificam uma maior variedade de configurações familiares, e destacam, especialmente, as transformações referentes ao âmbito da paternidade (Orlandi & Toneli, 2005). Embora não se possam estender essas mudanças a todas as culturas e níveis socioeconômicos, Moreira e Toneli (2013) lembram que o leque de atributos que integra a paternidade aumentou, especialmente no que se refere ao cuidado dispensado pelos homens.
Neste trabalho, ao nos referirmos ao fenômeno da paternidade, também incluímos a maternidade, visto que esses dois objetos podem ser considerados "faces de uma mesma moeda", e entendemos que a representação social de paternidade não se faz isolada da de maternidade, ou seja, uma se constrói em relação com a outra.
No cenário acadêmico a paternidade foi um fenômeno negligenciado durante muito tempo pelos pesquisadores até meados da década de 1980, só vindo a ganhar relevância e ser estudada devido às transformações ocorridas no espaço público e privado, provocadas pelo movimento feminista, o qual implicou redefinições sobre o lugar social do homem (Barreto, Almeira, Ribeiro, & Tavares, 2010; Brasileiro, Jablonski, & Féres-Carneiro, 2002; Freitas et al., 2009; Orlandi & Toneli, 2005; Ramires, 1997; Silva & Piccinini, 2007; Trindade & Menandro, 2002).
Desde então o lugar do homem na família, anteriormente negligenciado (exceto no poder e no provimento), tem ganhado espaço nas discussões, além de estar sendo questionado e reconstruído, sobretudo nas últimas décadas. Essa mudança pode ser percebida pelo avanço, nos últimos anos, de pesquisas sobre a paternidade e a saúde reprodutiva dos homens, que colocam em xeque velhos estereótipos sobre o pai frio, autoritário, insensível, que não manifesta afeto por seus filhos, o que assinala que os modelos parentais podem ser tanto repetidos como reelaborados (Levandowski, Piccinini, & Lopes, 2009; Medrado & Lyra, 1999; Trindade & Menandro, 2002).
Esse maior envolvimento de homens com as atividades no âmbito privado vem sendo denominado de "nova paternidade" por alguns pesquisadores (Brasileiro et al., 2002; Dias & Aquino, 2006; Staudt & Wagner, 2008). Embora não haja consenso do que seja esse novo pai, em síntese, alguns autores descrevem esse fenômeno como sendo os comportamentos daquele homem que demonstram o interesse, cuidado e envolvimento com os filhos (Badinter, 1985; Sutter & Bucher, 2008), mesmo que tais cuidados possam variar muito de homem para homem. De modo geral, o novo pai corresponderia àquele que dedica esforços que ultrapassem os esporádicos contatos disponibilizados pelos pais ditos "tradicionais".
É oportuno mencionar que, de acordo com Moreira e Toneli (2013), já existem autores que problematizam mais esta categoria denominada "novo pai". Essa preocupação se baseia na recusa de que esta seja mais uma classificação de um modelo hegemônico e que represente, na verdade, a diversidade de modelos e comportamentos existentes na sociedade contemporânea.
Cabe destacar ainda que a parentalidade ultrapassa o exercício da paternidade e da maternidade. Assim, pode-se dizer que esse tema também vem sendo mais explorado nas produções nacionais graças ao interesse dos pesquisadores sobre o desenvolvimento adulto, provavelmente causado pelo envelhecimento da população (Carvalho-Barreto, 2013).
Além disso, o crescimento da participação feminina na esfera pública não é harmônico ao crescimento do homem na esfera privada (Staudt & Wagner, 2008). Mesmo que os pais tenham assumido o cuidado com os filhos com maior frequência e qualidade, as mudanças ainda não parecem ser capazes de modificar a velha divisão entre o que é coisa de mulher e coisa de homem (Fleck, Falcke, & Hackner, 2005). No estudo de Perucchi e Beirão (2007), por exemplo, as mães participantes do estudo atribuíam a si mesmas a responsabilidade pelo cuidado com os filhos. Mesmo quando estas conviviam com o companheiro, entendiam que a ele cabia apenas a função de complemento.
Em resumo, a opinião que esses autores defendem é a de que os homens, salvo exceções, continuam a escolher as tarefas que não entram em conflito com suas próprias atividades, como profissão, lazer e convívio social.
Corroborando essa ideia, a assimetria nos cuidados parentais também foi encontrada na pesquisa longitudinal de Lawson e Mace (2009), em que diferenças referentes aos cuidados dispensados por pais e mães aos seus filhos distinguiam em termos de tempo e variação. Os autores perceberam que essa desigualdade certamente reflete uma divisão de formas de investimento parental, bem como uma divisão de tarefas, ficando o pai responsável pelo sustento da família a partir do emprego, ao passo que a mãe dispensa mais tempo com o cuidado direto dos filhos.
Em contrapartida, Souza e Benetti (2009) destacam a complexidade de situações que determinam e facilitam o envolvimento masculino com os filhos. Os resultados apontam que a paternidade é foco importante para a compreensão das relações familiares e vem sendo estudada com mais intensidade, principalmente nos Estados Unidos, na Inglaterra e no Brasil. Estudos nacionais como o de Vieira e Souza (2010) demonstram a importância dada ao tema. Os autores ressaltam que as representações sociais de paternidade e maternidade dos homens estudados eram bastante tradicionais (autoridade moral e financeira para paternidade, e aspectos biológicos, afetivos e superioridade materna para a maternidade), embora também se observasse a emergência de elementos que se relacionam à nova paternidade (pai cuidador e afetuoso com o filho), e a maternidade como análogo à paternidade.
Ao analisar a representação social (RS) da condição da paternidade e da não paternidade, Paterna, Martínez e Rodes (2005) mostram que os homens demonstram uma RS com mais elementos positivos para a paternidade quando comparada à situação de não ser pai.
Em Bogotá, na Colômbia, Villamizar e Rosero-Labbé (2005) apreenderam as RS de paternidade e maternidade de homens e mulheres. As autoras identificaram três grupos e denominaram-nos como "de tendência tradicional", "em transição" e "de ruptura". Essa divisão é bem próxima aos três grupos propostos por Hegg (2004), em que é demonstrado que a paternidade tradicional segue sendo a principal nos países pesquisados.
Gallardo, Gómez, Muñoz e Suárez (2006) encontraram representações entre jovens sem filhos que revelam que, além dos fatores que definem a nova paternidade -como o afeto nas relações-, ainda são valorizados como positivos a autoridade e o provimento.
É importante ressaltar que "as representações socioculturais da maternidade e da paternidade -influenciadas pelos valores de gênero vigentes na sociedade- revelam nossos ideais, padrões, crenças e expectativas em relação às mulheres e aos homens que serão mães e pais" (Brasileiro et al., 2002, p. 4). E essas representações são permeadas por valores tradicionais de gênero que interligam os modos de ser homem ao de ser pai, bem como os modelos de feminilidade ao modo ideal de ser mãe, isso sempre misturado às novas demandas que a sociedade impõe a esses papéis (Brasileiro et al., 2002; Staudt & Wagner, 2008).
Para Abric (1998) as representações podem ser entendidas como conjuntos de conceitos que se relacionam com as práticas sociais e apresentam algumas funções, como: compreender e explicar a realidade, definir identidades, guiar comportamentos e práticas, bem como justificar tomadas de posição. De acordo com Sá (1998), a teoria do núcleo central, proposta por Abric, visa compreender a composição, o conteúdo e a estrutura das RS, a fim de entender o seu funcionamento. O núcleo central constitui-se de elementos cognitivos mais estáveis, o que garante a continuidade das RS, enquanto os elementos periféricos possuem características mais mutáveis. As condições históricas, sociais e ideológicas determinam os elementos do núcleo central e, por isso, estes são coletivamente compartilhados e mais resistentes a mudanças.
No presente estudo, pesquisar o fenômeno da paternidade e da maternidade tendo como guia a teoria das representações sociais (TRS) foi uma escolha por esses objetos sociais estarem vinculados a algumas das características desse pressuposto teórico, quais sejam a importância dada aos conhecimentos populares e consensuais, e sua importância e perenidade ao longo das gerações. Ou seja, a teoria reconhece uma "ciência popular", do senso comum, gerada e transmitida pelas pessoas no cotidiano (Moscovici, 2004) e que torna possível a comunicação e a organização dos comportamentos (Vala, 1997). Além disso, entendemos que o jovem traz consigo uma maior possibilidade de evidenciar mudanças nas RS de um determinado objeto em um determinado contexto histórico, já que ele está inserido em uma fase da vida em que há intensas trocas sociais com amigos, familiares e grupos distintos.
Assim, o objetivo geral deste estudo foi o de identificar e analisar as RS de paternidade e de maternidade para jovens do sexo masculino. Já os objetivos específicos consistiram em identificar e analisar as semelhanças e/ou diferenças de RS entre esses jovens considerando suas diferentes inserções socioeconômicas.
Método
Participantes
A maioria dos informantes se concentrou na faixa etária de 19 a 24 anos e ainda cursava o ensino superior. Entre esses jovens, a diferenciação por classes socioeconômicas de acordo com a escolaridade também ficou equacionada (dos 50 jovens que cursavam o ensino superior, 26 eram de classe média e 24 de classe baixa).
A denominação de classe média e baixa teve como referência o bairro onde o jovem residia, visto que, de acordo com informações socioeconômicas contidas nos sites de algumas prefeituras da região, foi possível delimitar geograficamente áreas predominantemente habitadas por jovens de classe popular ou média. Eles também deveriam estar no período da juventude proposto neste estudo (17-24 anos). Essa faixa de idade foi escolhida por ter sido a mais encontrada em um estudo preliminar e também por estar inserida na faixa etária proposta pela ONU (1985; 15 a 24 anos). No caso deste estudo, a quantidade de participantes explica-se pelo uso do software utilizado. Todas as entrevistas foram realizadas no ano de 2011.
Tendo em vista os procedimentos utilizados para a obtenção e análise dos dados, entende-se que não houve a necessidade de aprovação do Comitê de Ética em Pesquisa com Seres Humanos, pois se acredita que a pesquisa não ofereceu riscos aos participantes. Além disso, foi assegurado a eles o anonimato das informações obtidas.
Instrumentos e Procedimentos
Neste estudo exploratório, utilizamos entrevistas com roteiro semiestruturado com 30 rapazes de classe socioeconômica média e 30 rapazes de classe socioeconômica baixa.
A técnica de evocação livre foi escolhida devido à sua conhecida vantagem por ser prática e de rápida aplicação a fim de acessar o universo semântico da representação (Vasconcellos, Viana, & Souza-Santos, 2007). O estímulo que demandou as evocações foi auditivo, por meio dos termos paternidade e maternidade. Desse modo, foi solicitado aos participantes que enumerassem cinco palavras que estivessem associadas a cada um dos termos. As evocações foram realizadas mediante autorização e assinatura dos participantes. O contato com os jovens foi estabelecido por meio de indicação de conhecidos que residissem em bairros incluídos nas áreas de uma das duas classes socioeconômicas pesquisadas ou pela abordagem em locais públicos nesses bairros.
Após a coleta, os dados das evocações foram homogeneizados, categorizados e submetidos ao software EVOC (Ensemble de Programmes Permettant L'Analyse dês Évocations). O EVOC gera um quadro com quatro quadrantes que leva em conta a frequência e o valor médio da ordem de evocação de cada termo (neste estudo adotamos 7 e 2.5, respectivamente, para estabelecermos os cortes dos quadrantes). Para a análise, as palavras presentes no primeiro quadrante serão consideradas como provavelmente as estruturantes do núcleo central. As situadas no quadrante superior direito pertencerão à primeira periferia e são os elementos periféricos mais importantes; as situadas no quadrante inferior esquerdo são os elementos de contraste, geralmente consideradas importantes pelos participantes apesar da baixa frequência, o que pode revelar elementos que reforçam os da primeira periferia ou até mesmo a existência de um subgrupo minoritário portador de uma RS diferente; e finalmente, as localizadas no quarto e último quadrante são os elementos mais periféricos, ou constituintes da segunda periferia. Cada um dos quadrantes apresenta uma informação essencial para a análise da representação (Oliveira, Marques, Gomes, & Teixeira, 2005).
Resultados
Representações Sociais de Paternidade de Jovens do Sexo Masculino
Na Tabela 1, vê-se que, quanto às RS relacionadas ao termo paternidade, obtiveram-se dois quadros gerados pelo software EVOC, um para os jovens de classe média e outro para os jovens de classe popular. Unimos os quadros gerados pelo software a fim de transformá-los em uma única figura e facilitar a comparação dos resultados.
A análise das evocações sugere que o elemento que possivelmente organiza a RS de paternidade tanto para classe média quanto para classe popular é responsabilidade.
Já o termo amar aparece no segundo quadrante dos jovens de classe baixa, com 14 evocações, ao passo que esse mesmo termo só aparece na zona de contraste dos jovens de classe média, com seis evocações. O termo respeito aparece no segundo quadrante dos jovens de classe média e, no de classe popular, três evocações situados no último quadrante.
Outros termos também são comuns em ambos os grupos: bons sentimentos, carinho, companheirismo, educar o filho, comprometimento, compreensão, sustentar e trabalho. Observa-se que comprometimento é um termo comum na zona de contraste dos dois grupos. Contudo, entre os jovens de classe popular, um elemento mais contrário ao núcleo central e à primeira periferia aparece: disciplina contrasta mais intensamente que amar e compreensão (presente nos de classe média), o que parece indicar um elemento de representação que ainda evidencia a permanência de um pai mais tradicional e responsável por orientar os filhos, na visão desses jovens.
Ainda comparando as evocações em ambos os grupos, observamos um dado muito interessante. Entre os jovens de classe média, aparecem no último quadrante os termos casamento, família, futuro, obrigações, proteção e ser presente. Esses termos não aparecem nas evocações de jovens de classe popular. Ao mesmo tempo, no grupo de classe popular, os termos cumplicidade, dedicação e medo aparecem também no quarto quadrante e são exclusivos desse grupo.
Representações Sociais de Maternidade de Jovens do Sexo Masculino
A Tabela 2 ilustra as evocações referentes ao termo indutor maternidade.
Entre os elementos constituintes do núcleo central para a maternidade, mais uma vez encontramos responsabilidade, como também mencionado para paternidade, além do elemento amar. Outro termo comum aos dois grupos foi carinho, sobretudo entre os de classe popular.
Os elementos presentes na periferia mais próxima, explicitada no segundo quadrante, evidenciam representação semelhantes, por exemplo, dedicação, que foi evocada pelos jovens de ambos os grupos, situada no segundo quadrante. No terceiro e quarto quadrantes é possível notar elementos relacionados ao aspecto biológico de ser mãe (conceber, ligação maior e filho), bem como expressões que conferem o sentido de algo autoexplicativo, que já se encontra subentendido: para os jovens, maternidade é exercer o que lhe é socialmente esperado (ser mãe).
Como na estrutura das RS de paternidade, aqui também observamos um processo interessante. Alguns elementos evocados pelos jovens foram exclusivos tendo em vista a divisão por grupos socioeconômicos. Entre os jovens de classe popular, as expressões mais difícil que ser pai, proteger, compaixão, conceber, difícil e ligação-maior aparecem bem distribuídas nas zonas periféricas. Já entre os jovens de classe média, são evocados elementos como comprometimento, família, cumplicidade, filho e respeito, que não são vistos entre os jovens de classe baixa. Mais uma vez é possível notar expressões diferenciadas vindas de ambos os grupos.
Quando observamos a distribuição dos elementos de RS dos dois termos entre os dois grupos socioeconômicos, vemos algumas expressões que constituem a representação tanto para a paternidade como para a maternidade: amar, bons sentimentos, carinho, companheirismo, compreensão, educar o filho e responsabilidade.
Além disso, não observamos muitas expressões estritamente vinculadas a uma classe social, com exceção das palavras família e filho, as quais aparecem somente entre os jovens de classe média.
Discussão e Conclusões
Tendo em vista os dados apresentados, observa-se que, para a paternidade, o elemento do núcleo central dos dois grupos indica uma RS que pode estar ancorada numa visão tradicional de pai, coerente com os estudos sobre masculinidade e paternidade em geral, os quais elucidam a função reconhecida socialmente como masculina, de arcar com os deveres inerentes de ter um filho. Moreira e Toneli (2013) destacam que às vezes essa responsabilidade, esse dever de pai, referem-se à presença paterna, à imposição da moral que norteará a educação do filho, uma espécie de referência para que os filhos não se envolvam com a criminalidade.
Esses dados vão ao encontro com os da pesquisa de Pereira e Arpini (2012), a qual identifica entre os adolescentes entrevistados que ser pai requer alguns atributos que ultrapassam os vínculos sanguíneos. O pai deve ser merecedor dessa designação, pois deve demonstrar uma atitude de cuidado para com o filho.
Ainda assim, dentre as RS da paternidade, o elemento amar parece ser um forte compositor dessa representação para ambos os grupos, pois aparece nas zonas próximas do núcleo central. Isso sugere a implicação que o pai deve ter no âmbito emocional e afetivo da vida do filho. Esse elemento denota algo novo, pois altera a ideia daquele pai autoritário e afetivamente distante dos filhos, apenas, já mencionado em outros estudos (Gontijo, Bechara, Medeiros, & Alves, 2011; Orlandi & Toneli, 2005; Perosa & Pedro, 2009; Piccinini, Silva, Gonçalves, Lopes, & Tudge, 2004).
O elemento disciplina, evocado pelos jovens de classe popular, é mais contrastante ao núcleo central e à primeira periferia, quando comparados aos termos evocados pelos jovens de classe média: amar e compreensão. O elemento disciplina pode indicar uma representação que evidencia a permanência de um pai mais tradicional e responsável por orientar os filhos, na visão dos jovens de classe baixa.
Considerando os dois grupos de jovens, também é interessante observar que, apesar de a paternidade ainda ser representada em suas dimensões tradicionais, a afetividade e o envolvimento emocional já aparecem como elementos de RS, o que sugere que sejam aspectos provavelmente vivenciados por eles ou então ganharam valor em seu cotidiano.
Alguns elementos periféricos, observados no segundo quadrante em ambos os grupos, como bons sentimentos, carinho e companheirismo possibilitam reforçar a ideia acima apresentada, de que há a percepção de um pai mais envolvido afetivamente, enfatizado pela valorização dos aspectos de parceria, de estar junto com o filho. Também é possível observar a presença de elementos que dizem respeito às concepções socialmente construídas de provedor do pai e responsabilização pela criança, como visto nos elementos educar o filho, sustentar e trabalho, comum aos dois grupos.
Ao investigar as representações e significados atribuídos ao pai por adolescentes de famílias monoparentais ou reconstituídas, Pereira e Arpini (2012) destacam que os adolescentes do estudo confirmaram os dados demográficos, segundo os quais a maioria dos filhos de casais separados fica sob responsabilidade da mãe, o que reforça um modelo no qual a mãe centraliza em si a maior função de cuidados dos filhos. Já na busca de estudos realizada por Silva, Lamy, Rocha e Lima (2012), um dos termos que a norteou foi ausência paterna. Ausência que remeteu a diversas formas, por exemplo, afastamento, falta da presença, inexistência, carência, falta de participação. Ausência também foi definida como quando o pai, mesmo sendo provedor e oferecendo suporte emocional à mãe, assim como exercendo o modelo de poder e autoridade perante os filhos, não se envolvia diretamente nos cuidados e na atenção necessários ao desenvolvimento do filho (distância emocional). Esses estudos podem indicar o motivo da característica afetuosa ser valorizada entre as representações dos jovens do presente estudo, visto que a presença e o cuidado por parte dos pais são fatores relacionados à qualidade das relações parentais, muitas vezes negligenciados.
Além disso, o elemento respeito (que o pai impõe/merece ter) vem corroborar a imagem de homem responsável e representante da moral. Esse elemento representacional aparentemente tradicional apareceu mais fortemente entre jovens de classe média. Ela parece ser construída desde o início de nossa socialização e permeia não apenas o imaginário masculino, pois as informantes do estudo de Perucchi e Beirão (2007) também vincularam a paternidade à imagem de força, respeito e autoridade.
Ainda comparando as evocações em ambos os grupos, observamos um dado muito relevante. Entre os jovens de classe média, aparecem no último quadrante os termos casamento, família, futuro, obrigações, proteção e ser presente. Esses termos não aparecem nas evocações de jovens de classe popular. Ao mesmo tempo, no grupo de classe popular, os termos cumplicidade, dedicação, e medo aparecem também no quarto quadrante e são exclusivos desse grupo.
Isso sugere um dado importante, pois, embora no sistema periférico localizem-se os elementos menos estáveis e que permitem as variações ou modulações individuais (Almeida & Souza-Santos, 2011), observamos que esses agrupamentos de termos remetem a conceitos que diferenciam um grupo do outro, mesmo que suavemente. Curiosamente, notamos que os jovens de classe média parecem falar não apenas da paternidade, mas desta em um contexto de projeção de futuro. Esse dado nos parece coerente ao se considerarem evocações como casamento, família, futuro; e até mesmo uma reflexão sobre esse momento, como em obrigações, sustentar e trabalho. Já os elementos sugeridos pelos jovens de classe popular estão bem mais aproximados com as práticas paternas que indicam maior afeto com o filho, pois indicam maior proximidade e envolvimento com este.
Ainda entre os jovens de classe popular, o termo medo, exclusivo desse grupo, pode sugerir que a paternidade é uma tarefa que exige extrema responsabilidade, e pode causar inseguranças e angústias ligadas às expectativas que podem não ser alcançadas, já que, para esse segmento populacional, nem sempre ela é planejada e caracterizada como bem-sucedida.
É importante destacar essa diferença, pois geralmente são nas classes sociais mais favorecidas economicamente que brotam as regras e ideais que norteiam o exercício dos papéis sociais (Amazonas et al., 2003; Braz, Dessen, & Silva, 2005).
Mesmo observando-se tais especificidades entre grupos, de modo geral pode-se dizer que a maioria dos elementos evocados indica a paternidade como algo positivo e valorizado pelos jovens, bem como uma atividade que exige um empreendimento por parte do homem.
Já a existência de valores aparentemente contraditórios (como disciplina/carinho) pode ser entendida como uma ressignificação da tarefa de ser pai na atualidade. Embora ele esteja mais presente na vida do filho e mais emocionalmente envolvido, ainda é esperado que esse pai seja o responsável por agir com firmeza, impor limites, em resumo, seja o responsável por orientar o que deve/pode ser feito na educação dos filhos.
Quanto aos elementos de representação para a maternidade, nota-se que ela está primeiramente ligada à ideia de doação de afeto, embora também implique responsabilidade. Desse modo, entende-se que a dimensão da maternidade encontra-se mais intimamente relacionada aos afazeres socialmente concebidos como maternos e à ligação afetiva.
Os elementos relacionados ao afeto são um dos focos da discussão de grande parte dos estudos sobre maternidade. São vários os estudos sobre a temática que sugerem a mãe como mais afetuosamente vinculada à criança, ficando sob sua responsabilidade esse quesito na criação dos filhos (Braz et al., 2005; Rangel & Queiroz, 2008).
Os elementos presentes na periferia mais próxima, explicitada no segundo quadrante, evidenciam mais uma vez o caráter de doação à qual a maternidade está vinculada. A representação referente à dedicação foi evocada pelos jovens de ambos os grupos, situada no segundo quadrante. No terceiro e quarto quadrantes é possível notar elementos relacionados ao aspecto biológico de ser mãe (conceber, ligação maior e filho), bem como expressões que conferem o sentido de algo autoexplicativo, que já se encontra subentendido: para os jovens, maternidade é exercer o que lhe é socialmente esperado (ser mãe).
Comparando os dois quadros, na zona de contraste dos jovens de classe popular, encontramos elementos bastante tradicionais. Já quando se levam em conta todas as evocações de ambos os grupos, embora entre os jovens de classe média também apareçam vários termos tradicionais, parece que para os jovens de classe popular o suporte familiar é muito mais centrado na figura da mãe. Essa informação nos parece coerente quando se nota que neste grupo são mencionados mais termos que se referem ao suporte materno, sua disposição para o cuidado e envolvimento com o filho. Ou seja, revela uma visão de que ocupação designada à mulher consiste na sua disponibilidade às necessidades afetivas e fisiológicas da criança.
Também observamos um processo interessante entre alguns elementos evocados para a maternidade. Alguns termos evocados pelos jovens foram exclusivos tendo em vista a divisão por grupos socioeconômicos. Entre os jovens de classe popular, as expressões mais difícil que ser pai, proteger, compaixão, conceber, difícil e ligação maior aparecem bem distribuídas nas zonas periféricas. Já entre os jovens de classe média, são evocados elementos como comprometimento, família, cumplicidade, filho e respeito, que não são vistos entre os jovens de classe baixa. Mais uma vez é possível notar expressões diferenciadas vindas de ambos os grupos. Mesmo que essas expressões tenham aparecido de maneira mais difusa na representação de maternidade, ficou claro que entre os jovens de classe popular aparecem elementos de representação extremamente tradicionais e que evocam o intenso envolvimento por parte da mãe no cuidado com a criança, no sentido de cuidados práticos com o filho. Embora também tradicionais, nas expressões dos jovens de classe média parece prevalecer uma representação da maternidade compreendida no contexto da família, como algo que se estabelecerá posteriormente.
A TRS compreende a conexão entre os quadrantes como um processo típico da representação. Conforme a abordagem estrutural, essa maleabilidade é mais explícita nos elementos periféricos, que são mais flexíveis e passíveis de mudança, e estão relacionados mais diretamente com o contexto dos sujeitos. Tendo em vista os elementos evocados na periferia dos nossos participantes, pode-se dizer que são menos subjetivos e podem representar práticas observadas no cotidiano desses jovens e aparecem em suas representações como um modo de ilustrar como esses objetos sociais se ancoram no dia a dia de cada um.
Quando observamos a distribuição dos elementos de representação social dos dois termos entre os dois grupos socioeconômicos, vemos algumas expressões que constituem a representação tanto para a paternidade como para a maternidade: amar, bons sentimentos, carinho, companheirismo, compreensão, educar o filho e responsabilidade. Assim, podemos dizer que tanto a paternidade como a maternidade, embora impliquem comprometimento e aquisição de tarefas por parte dos pais, também traduz bons sentimentos e sensações para os que vivem essa experiência.
Além disso, não observamos muitas expressões estritamente vinculadas a uma classe social, com exceção das palavras família e filho, as quais aparecem somente entre os jovens de classe média. Esse dado pode reforçar a nossa análise anterior de que a classe média evocou elementos de representação de paternidade muito mais tradicionalmente, e até mesmo de que, para ter filhos, faz-se necessário ter família.
Outro dado que pareceu diferenciar um grupo do outro foi o de que, entre os jovens de classe média, tanto as representações de paternidade quanto de maternidade foram envolvidas num contexto de futuro, ou seja, são representadas não apenas em termos de sentimentos e maneiras de exercê-las, mas também como um projeto que se estabelecerá após um planejamento.
Diante dos resultados, podemos dizer que não há diferenças significativas nas representações de paternidade e maternidade. Além disso, é possível formular que tanto as RS de paternidade quanto as de maternidade dos jovens deste estudo ainda se organizam em torno de vários elementos tradicionais, mesmo que seja perceptível a existência de elementos modernos, como evidenciado nas pesquisas já mencionadas (Negreiros & Féres-Carneiro, 2004; Toneli, Araújo, Amaral, & Silva, 2011; Vieira & Souza, 2010).
Os jovens participantes do estudo de Gallardo et al. (2006) também citaram que consideram o afeto na relação pai/filho como algo positivo, mas ainda assim destacam a importância na manutenção da responsabilidade de provedor e figura de autoridade por parte do homem. De maneira semelhante, Toneli (2010) ressalta que nas pesquisas que vem desenvolvendo, as atribuições de responsabilidade para pais e mães ainda são marcadas pelo sistema sexo/ gênero. De acordo com a autora, entre os jovens pesquisados, o ideal de provedor e protetor do grupo familiar ainda é visto como responsabilidade paterna.
No entanto, algumas diferenças nos permitem afirmar que os elementos de representações para a maternidade conservam-se mais tradicionais quando comparadas aos de paternidade: embora as representações de paternidade apresentem elementos da dita nova paternidade, o mesmo não pode ser dito a respeito da maternidade, a qual apresenta elementos bastante fundamentados no dispêndio de cuidado e atenção aos filhos. Por-tanto, parece que os jovens já assimilaram novas possibilidades para o exercício da paternidade, mas não abrem mão da concepção de que eles ainda devem manter o status de autoridade familiar. Ao mesmo tempo, esperam que a mulher, no exercício da função materna, mantenha sua postura carinhosa e dedicada aos filhos.
Ainda foi possível contemplar que vários elementos de representação atribuídos à nova paternidade foram evocados pelos jovens, o que indica que a existência desse mais recente modo de se relacionar e criar filhos já está presente na mentalidade e possivelmente nas atitudes dos jovens desta geração.
Em linhas gerais, pode-se concluir que as representações dos objetos estudados possivelmente são muito próximas, e que as diferenças observadas devem-se pelo peso das diferentes inserções socioeconômicas e histórias pessoais de cada um.
Este estudo não teve a intenção de esgotar as possibilidades de análise das RS de jovens acerca da paternidade e da maternidade, mas é condizente afirmar que se puderam acrescentar elementos mais atualizados sobre a visão do jovem acerca da temática para ambas as classes sociais pesquisadas.
Acreditamos que uma limitação deste estudo seja a pequena quantidade de informantes utilizada. Por isso, acreditamos que ainda seja necessário que outras pesquisas investiguem as diferenças não só das representações, mas também as diferenças nas representações em diferentes regiões de nosso país, visto que ainda são poucas as pesquisas na área da psicologia que se baseiam em vários contextos étnicos e socioeconômicos e que abarquem vastamente a temática da paternidade, sobretudo com sujeitos de classe popular. Embora não tenhamos destacado tanto as diferenças individuais, as quais transcendem as particularidades da classe social, o estudo permite o reconhecimento de que vivemos numa sociedade em que as condições sociais têm impacto em como esses objetos sociais são representados pelos jovens.
Tendo em vista o exposto, acreditamos que o presente estudo contém um valioso dado para profissionais que trabalham com esta temática/ público, pois, além de se tornar mais uma fonte de consulta científica sobre a temática das RS, da paternidade e da maternidade, estudamos a temática sob uma perspectiva privilegiada: o ponto de vista do próprio jovem.
Por fim, cabe destacar que observamos, mesmo com uma quantidade pequena de participantes, muitos elementos de representação com características individuais. Assim, talvez um aspecto que mereça ser adicionado nas investigações futuras seja incluir a percepção dos jovens acerca de sua própria criação, o que possibilitaria que se originassem dados mais enriquecidos, bem como a maior explicitação de nuances desses elementos de representações que os jovens têm anunciado.
Referências
Abric, J. C. (1998). A abordagem estrutural das representações sociais. Em A. S. P. Moreira & D. C. de Oliveira (Orgs.), Estudos interdisciplinares de representação social (pp. 27-38). Goiânia: Editora AB. [ Links ]
Almeida, A. M. de & Souza-Santos, M. de F. (2011). Representações sociais masculinas de saúde e doença. Em Z. A. Trindade, M. C. S. Menandro, & C. R. R. Nascimento (Orgs.), Masculinidades e práticas de saúde (pp. 99-128). Vitória: GM Editora. [ Links ]
Amazonas, M. C. L. de A., Damasceno, P. R., Terto, L. de M. de S., & Silva, R. R da (2003). Arranjos familiares de crianças das camadas populares. Psicologia em Estudo, 8, 11-20. [ Links ]
Badinter, E. (1985). Um amor conquistado: o mito do amor materno. Rio de Janeiro: Nova Fronteira. [ Links ]
Barreto, A. C. M., Almeida, I. S. de, Ribeiro, I. B., & Tavares, K. F. A. (2010). Paternidade na adolescência: tendências da produção científica. Adolescência & Saúde, 7(2), 54-59. [ Links ]
Brasileiro, R. F., Jablonski, B., & Féres-Carneiro, T. (2002). Papéis de gênero, transição para a paternalidade e a questão da tradicionalização. Psico, 33(2), 289-310. [ Links ]
Braz, M. P., Dessen, M. A., & Silva, N. L. P. (2005). Relações conjugais e parentais: uma comparação entre famílias de classes sociais baixa e média. Psicologia: Reflexão e Crítica, 18(2), 151-161. [ Links ]
Carvalho-Barreto, A. (2013). A parentalidade no ciclo de vida. Psicologia em Estudo, 18(1), 147-156. [ Links ]
Dias, A. B. & Aquino, E. M. L. (2006). Maternidade e paternidade na adolescência: algumas constatações em três cidades do Brasil. Cadernos de Saúde Pública, 22(7), 1447-1458. [ Links ]
Fleck, A. C., Falcke, D., & Hackner, I. T. (2005). Crescendo menino ou menina: a transmissão dos papéis de gênero na família. Em A. Wagner (Coord.), Como se perpetua a família?: a transmissão dos modelos familiares (pp. 107-121). Porto Alegre: EDIPUCRS. [ Links ]
Freitas, W. de M. F., Silva, A. T. M. C. da, Coelho, E. de A. C., Guedes, R, N., Lucena, K. D. T. de, & Costa, A. P. T. (2009). Paternidade: responsabilidade social do homem no papel de provedor. Revista de Saúde Pública, 43(1), 85-90. [ Links ]
Gallardo, E. G. G., Gómez, E., Muñoz, M., & Suárez, N. (2006). Paternidad: representaciones sociales en jóvenes varones heterosexuales universitarios sin hijos. Psykhe, 15(2), 105-116. [ Links ]
Gontijo, D. T., Bechara, A. M. D., Medeiros, M., & Alves, H. C. (2011). Pai é aquele que está sempre presente: significados atribuídos por adolescentes à experiência da paternidade. Revista Eletrônica de Enfermagem, 13(3), 439-448. [ Links ]
Hegg, M. O. (2004). Masculinidad y paternidad en Centroamérica. Revista Centroamericana de Ciencias Sociales, 2(1), 59-74. [ Links ]
Lawson, D. W. & Mace, R. (2009). Trade-offs in modern parenting: A longitudinal study of sibling competition for parental care. Evolution and Human Behavior, 30(3), 170-183. [ Links ]
Levandowski, D. C., Piccinini, C. A., & Lopes, R. de C. S. (2009). O Processo de separação-individuação em adolescentes do sexo masculino na transição para a paternidade. Psicologia: Reflexão e Crítica, 22(3), 353-361. [ Links ]
Medrado, B. & Lyra, J. (1999). A adolescência "desprevenida" e a paternidade na adolescência: uma abordagem geracional e de gênero. Em N. Schor, M. S. F. T. Mota, & V. Castelo-Branco (Orgs.), Cadernos: juventude, saúde e desenvolvimento (pp. 230-248). Brasília: Ministério da Saúde. [ Links ]
Miranda, E. B. de & Souza-Santos, M. F. (2009). Histórias de jovens que estão "dando certo" na vida. Em Z. A. Trindade, M. C. S. Menandro, L. Souza, & M. B. Cortez, (Orgs.), Juventude, masculinidade e risco (pp. 128-140). Vitória: GM Editora. [ Links ]
Moreira, L. E. & Toneli, M. J. F. (2013). Paternidade responsável: problematizando a responsabilização paterna. Psicologia & Sociedade, 25(2), 388-398. [ Links ]
Moscovici, S. (2004). O fenômeno das representações sociais. Em S. Moscovici (Ed.), Representações sociais: investigações em psicologia social (pp. 29-109). Petrópolis: Editora Vozes. [ Links ]
Negreiros de, T. C. G. M. & Féres-Carneiro, T. (2004). Masculino e feminino na família contemporânea. Estudos e Pesquisas em Psicologia, 4(1), 34-47. [ Links ]
Olavarría, J. (2003). Los estudios sobre masculinidades en América Latina. Un punto de vista. Anuario Social y Político de América Latina y el Caribe. Nueva Sociedad, 6, 91-98. [ Links ]
Olavarría, J. (2005). La masculinidad y los jóvenes adolescentes. Revista Docencia, 27(10), 65-71. [ Links ]
Oliveira, D. C., Marques, S. C., Gomes, A. M. T., & Teixeira, M. C. T. V. (2005). Análise das evocações livres: uma técnica de análise estrutural das representações sociais. Em A. S. P. Moreira, B. V. Camargo, J. C. Jesuíno, & S. M. Nóbrega (Eds.), Perspectivas teórico-metodológicas em representações sociais (pp. 576-599). João Pessoa: Editora Universitária, UFPB. [ Links ]
Organização das Nações Unidas [ONU]. (1985). Assembléia Geral da ONU. Programa Mundial de Acção para a Juventude. Obtido em http://www.un.org/youth. [ Links ]
Orlandi, R. & Toneli, M. J. F. (2005). Sobre o processo de constituição do sujeito face à paternidade na adolescência. Psicologia em Revista, 11(18), 257-267. [ Links ]
Paterna, C., Martínez, C., & Rodes, J. (2005). Creencias de los hombres sobre lo que significa ser padre. Interamerican Journal of Psychology, 39(2), 275-284. [ Links ]
Pereira, C. R. R. & Arpini, D. M. (2012). O lugar do pai nas novas configurações familiares. Pediatria Moderna, 48(12), 522-527. [ Links ]
Perosa, C. T. & Pedro, E. N. R. (2009). Perspectivas de jovens universitários da região norte do Rio Grande do Sul em relação à paternidade. Revista da Escola de Enfermagem da USP, 43(2), 300-306. [ Links ]
Perucchi, J. & Beirão, A. M. (2007). Novos arranjos familiares: paternidade, parentalidade e relações de gênero sob o olhar de mulheres chefes de família. Psicologia Clínica, 19(2), 57-69. [ Links ]
Piccinini, C. A., Silva, M. da R., Gonçalves, T. R., Lopes, R. S., & Tudge, J. (2004). O envolvimento paterno durante a gestação. Psicologia: Reflexão e Crítica, 17(3), 303-314. [ Links ]
Ramires, V. R. (1997). O exercício da paternidade hoje. Rio de Janeiro: Rosa dos Tempos. [ Links ]
Rangel, D. L. de O. & Queiroz, A. B. A. (2008). A representação social das adolescentes sobre a gravidez nesta etapa de vida. Escola Anna Nery Revista de Enfermagem, 12(4), 780-788. [ Links ]
Sá, C. P. (1998). A construção do objeto de pesquisa em representações sociais. Rio de Janeiro: EdUERJ. [ Links ]
Sarti, C. A. (2004). A família como ordem simbólica. Psicologia USP, 15(3), 11-28. [ Links ]
Silva, E. L. C., Lamy, Z. C., Rocha, L. J. L. F., & Lima, J. R. (2012). Paternidade em tempos de mudança: uma breve revisão de literatura. Pesquisa em Saúde, 13(2), 54-59. [ Links ]
Silva, M. da R. & Piccinini, C. A. (2007). Sentimentos sobre a paternidade e o envolvimento paterno: um estudo qualitativo. Estudos de Psicologia (Campinas), 24(4), 561-573. [ Links ]
Souza, C. L. C. de & Benetti, S. P. da C. (2009). Paternidade contemporânea: levantamento da produção acadêmica no período de 2000 a 2007. Paidéia, 19(42), 97-106. [ Links ]
Staudt, A. C. P. & Wagner, A. (2008). Paternidade em tempos de mudança. Psicologia: Teoria e Prática, 10(1), 174-185. [ Links ]
Sutter, C. & Bucher, J. S. N. F. (2008). Pais que cuidam dos filhos: a vivência masculina na paternidade participativa. Psico, 39, 74-82. [ Links ]
Toneli, M. J. F. (fevereiro, 2010). Paternidades e masculinidades no contexto de populações urbanas no Brasil. Actas do VII Simpósio Nacional de Investigação em Psicologia Universidade do Minho, Portugal, 351-360. [ Links ]
Toneli, M. J. F., Araújo, S. A., Amaral, M. dos S., & Silva, F. L. S. dos. (2011). Exercícios e atribuições sociais da paternidade: pequeno balanço de uma década de pesquisa. Em M. J. F. Toneli, B. Medrado, Z. A. Trindade, & J. Lyra (Orgs.), O pai está esperando? Políticas públicas de saúde para a gravidez na adolescência (pp. 125-135). Florianópolis: Editora Mulheres. [ Links ]
Trindade, Z. A. & Menandro, M. C. S. (2002). Pais adolescentes: vivência e significação. Estudos de Psicologia (Natal), 7(1), 15-23. [ Links ]
Vala, J. (1997). Representações sociais: para uma psicologia social do pensamento social. Em J. Vala & M. B. Monteiro (Coords.), Psicologia social (pp. 353-384). Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian. [ Links ]
Vasconcellos, K. de M., Viana, K. M. P., & Souza-Santos, M. de F. (2007). Pensando o método de pesquisa em representação social. Em M. M. P. Rodrigues & P. R. M. Menandro (Orgs.), Lógicas metodológicas: trajetos de pesquisa em psicologia social (pp. 39-56). Vitória: UFES, GM Editora. [ Links ]
Vieira, E. N. & Souza, L. de. (2010). Guarda paterna e representações sociais de paternidade e maternidade. Análise Psicológica, 28(4), 581-596. [ Links ]
Villamizar, Y. P. & Rosero-Labbé, C. P. M. (2005). Traer "hijos o hijas al mundo": significados culturales de la paternidad y la maternidade. Revista Latinoamericana de Ciencias Sociales, Niñez y Juventud, 3(2), 2-21. [ Links ]
Wagner, A., Predebon, J., Mosmann, C., & Verza, F. (2005). Compartilhar tarefas? Papéis e funções de pai e mãe na família contemporânea. Psicologia: Teoria e Pesquisa, 21(2), 181-186. [ Links ]
World Health Organization [WHO]. (1986). Young people's health: A challenge for society. Report of a WHO study group on young people and health for all [Technical Report Series no. 731]. Obtido em http://apps.who.int/iris/handle/10665/41720. [ Links ]