Introdução
O trabalho e seu significado despertam representações sobre concepções de ser humano e mundo, mobilizando discussões sob a perspectiva de diversas teorias. A visão sócio-histórica descreve o caráter dinâmico e em constante transformação do trabalho, adquirindo diversos significados ao longo de sua história. O referido constructo passou de uma concepção com foco em suprir as necessidades básicas para o foco em satisfação de necessidades relacionadas a reconhecimento social, tornando-se referência para a autoimagem do indivíduo (Borges & Yamamoto, 2014).
Ao longo da história, o trabalho adquiriu centralidade na vida do indivíduo que, construída de forma discursiva por parte da sociedade, ocupa espaço significativo no ciclo de vida das pessoas. Tal centralidade admite quatro fundamentos: 1) o trabalho assume responsabilidade na construção dos valores de um indivíduo; 2) o trabalho é percebido como um dever a ser cumprido pelo indivíduo; 3) o sujeito constrói parte de sua existência em referenciais conectados ao trabalho; 4) o caráter do indivíduo é fortemente influenciado pelo trabalho (Bendassolli, 2009).
Torres (2018) caracteriza o trabalho como um fenómeno social sujeito a representações sociais, sendo construído de maneira subjetiva, trans-subjetiva e intersubjetiva, assumindo por vezes o caráter de um pensamento social hegemónico, porém, que sofre modificações ao longo do tempo. Quando analisado sob o viés de caráter subjetivo, o trabalho assume função norteadora para o indivíduo, e quando este se vê sem trabalho, pode considerar-se sem espaço social, desapropriado de valor e inativo.
Historicamente, o mundo do trabalho tem forte representação masculina, e o crescimento da participação feminina no mercado de trabalho brasileiro apre-senta-se de forma ascendente, intensa e diversificada a partir dos anos de 1970, caracterizando uma marcante transformação no país. Tal fato foi possibilitado por inúmeros aspectos como transformações socioeconómicas e conquista de direitos femininos, dentre outros. Ao ascender no mercado de trabalho, a mulher conquista a sua independência financeira, tornando-se participativa económica e socialmente (Muniz, Bacha & Pinto, 2015).
Para Natividade e Coutinho (2012), o trabalho reflete em diversas dimensões do ciclo de vida do ser humano. Neste sentido torna-se importante pensar sobre a relação entre trabalho e envelhecimento, este marcado pelo declínio na vitalidade e muitas vezes associado ao final do ciclo de vida. De acordo com Coutinho e Santana (2017) o envelhecimento pode ser definido como um processo natural que reflete em diversas áreas da vida do indivíduo, como aspectos físicos, psicológicos e sociais, neste sentido percebe-se que o processo de envelhecer é vivenciado de forma singular por cada pessoa. Estudo anterior realizado por Souza, Castro, Araújo e Santos (2018) acerca das representações sociais do envelhecimento para avós idosas, destacou que para as participantes o processo de envelhecimento se aproxima mais de um período que apresenta relativas dificuldades, porém, traz felicidade, do que um processo natural e harmónico.
O envelhecimento populacional é um fenómeno atual investigado em diversas áreas do conhecimento. No Brasil considera-se pessoa idosa homens e mulheres com faixa etária igual ou superior a 60 anos (Lei n. 10.741, 2003; Neri, 2014). Segundo dados divulgados pelo Sistema IBGE de Recuperação Automática - SIDRA, percebe-se que a população idosa no Brasil atinge cerca de 16% da população total no ano de 2019, havendo aumento de 60,98% em relação ao ano 2012; estima-se que em 2030 a população idosa no Brasil represente cerca de 18,62% da população total (IBGE, 2015).
Dados do Anuário Estatístico da Previdência Social (AEPS, 2017) disponibilizados pela Secretaria de Previdência demonstraram que no ano de 2017 84,1% dos benefícios concedidos classificaram-se como previdenciários, estando a aposentadoria entre as espécies mais concedidas, representando 68,3% do total. A aposentadoria e a velhice, apesar de não serem sinónimos, constituem-se em fases da vida que surgem concomitantemente e demandam mudanças significativas que impactam a existência do indivíduo (Herdy, 2020). Nesta perspectiva surgem as representações sociais de improdutividade e inatividade dos trabalhadores que se aposentam, tal percepção afeta significativamente o sujeito e sua relação com a família e sociedade (Figueira, Haddad, Gvozd & Pissinati, 2017), acompanha a passagem de um ciclo de vida vinculado ao trabalho, para outro direcionado ao ócio, ao lazer e à desocupação (Zanelli, Silva & Soares, 2010).
Em estudo realizado por Macêdo, Bendassolli e Torres (2017) com escopo de investigar as representações sociais da aposentadoria entre servidores públicos federais observaram-se cinco categorias de representações sociais: 1) como um direito do trabalhador e 2) descanso merecido, refletindo certa recompensa pelo esforço empregado durante os anos de trabalho; 3) como uma nova etapa de vida, empregando conotação positiva à mesma, retratando liberdade e 4) oportunidade para novos projetos; 5) identificou-se também uma conotação negativa da aposentadoria, representada pela ociosidade, remetendo à volta ao ambiente doméstico - vale ressaltar que tal perspectiva corrobora com estudo realizado por Andrade (2018) sobre o significado da aposentadoria, no qual também se identificou expectativas positivas e negativas sobre a mesma, porém, com relativa tendência às vivências positivas, ressaltando o seu aspecto recompensador, em contrapartida, em investigação realizada por Borsoi e Pereira (2017) sobre as perspectivas acerca da aposentadoria para docentes, identificou-se que parte dos entrevistados apontou aspectos negativos, caracterizando tal etapa como improdutiva e inativa, percebendo-se predomínio significativo da intenção dos participantes de continuar trabalhando após a aposentadoria.
Para Moscovici (2012) as representações sociais se constituem de elementos do senso comum, dos saberes internalizados e apreendidos pelas pessoas, tais saberes estão permeados por aspectos sociais, psicológicos, culturais e ideológicos de um grupo ou indivíduo, por tanto o seu estudo assume caráter idiossincrático. Para a compreensão das representações sociais é importante identificar os processos de objetivação e ancoragem. Para Coutinho, Araújo e Saraiva (2013), o primeiro refere-se à passagem da representação do campo abstrato para o concreto, possibilitando a elaboração de conceitos, neste processo ocorre a cristalização do objeto para o indivíduo, e o segundo refere-se ao processo de transformação do objeto não familiar em familiar, no qual o sujeito atribui significados e o torna referência a partir do sistema de ideias que construiu ao longo da sua trajetória de vida.
O campo das representações sociais encontra-se em constante expansão, pois o ser humano necessita de tal processo para apropriar-se do mundo que o cerca. Portanto as representações sociais devem ser investigadas sob a ótica da articulação de elementos afetivos, cognitivos e sociais, integralizando aspectos mentais, linguísticos e comunicativos aos fenómenos sociais que afetam a realidade à qual pertencem (Jodelet, 2011).
A partir do exposto, o presente estudo teve o objetivo de identificar e comparar as representações sociais de mulheres idosas sobre a aposentadoria e o envelhecimento. A escolha do referido público se deu principalmente pela particularidade da história de inserção da mulher no mercado de trabalho, tornando-se importe compreender como a aposentadoria é percebida por tal público. Espera-se ainda colaborar com subsídios para estudos posteriores, bem como para propostas de políticas públicas que visem o bem-estar e a promoção de cidadania voltada para a população idosa, bem como para o planejamento da aposentadoria no interior e fora das organizações de trabalho.
Método
Participantes
Contou-se com 12 idosas, com média de idade de 67 anos (DP=5) pertencentes a dois grupos, o primeiro voltado para atividades de convivência da prefeitura e o segundo grupo de idosas da Universidade Federal do Delta do Parnaíba (UFDPar), ambos os grupos são desenvolvidos na cidade Parnaíba- PI, Brasil. Os critérios de inclusão para a participação da pesquisa foram: possuir idade igual ou superior a 60 anos, ser do sexo feminino e consentir com participação anónima e voluntária à pesquisa. Utilizou-se o critério da idade segundo dados do IBGE (2014), os quais indicam como idosa pessoa com idade igual ou superior a 60 anos. A caracterização dos grupos participantes é apresentada na Tabela 1.
Instrumentos
Utilizou-se um questionário sóciodemográfico contendo itens como: idade, estado civil, escolaridade, tempo de aposentadoria, entre outros, com o objetivo de caracterizar as participantes da pesquisa. Com o objetivo de apreender as representações sociais da aposentadoria e envelhecimento, utilizou-se a Técnica de Associação Livre de Palavras (TALP), a qual é utilizada com o intuito de acessar, espontaneamente, associações relacionadas a palavras definidas como estímulo (Bardin, 2016). Para o presente estudo foram definidos previamente os estímulos "Mulher Idosa", "Envelhecimento" e "Aposentadoria".
Procedimentos de coleta de dados
Foram contatadas duas instituições que desenvolvem atividades sociais e de saúde com idosas na cidade de Parnaíba-PI, após a aprovação de tais instituições, as participantes foram contatadas de forma individual para apresentação dos objetivos do estudo, bem como os aspectos éticos envolvidos. Foi garantido o sigilo, anonimato e livre participação, sendo permitida a desistência a qualquer momento da pesquisa, para quaisquer riscos de ordem psicológica decorrente do processo, foi garantida a suspensão da investigação e a assistência psicológica, se assim fosse necessário.
Após o consentimento das participantes, a pesquisadora previamente treinada e qualificada, aplicou a TALP e realizou o preenchimento do questionário sociode-mográfico. Quanto à aplicação da TALP, as palavras indutoras foram apresentadas de forma individual para cada participante, as quais eram solicitadas a falar as cinco primeiras palavras associadas livremente a cada estímulo. Logo após as respostas a cada estímulo, pediu-se a cada participante para hierarquizar as palavras por ordem de importância, sendo o número 1 assinalado para a mais importante e o 5 para a menos importante. A coleta dos dados levou em média cerca de 20 minutos para cada participante. Verificou-se que apenas aproximadamente 10% da amostra não quis participar da pesquisa. Ressalta-se que todos os preceitos da ética em pesquisa com seres humanos foram respeitados na presente investigação.
Procedimentos de análise de dados
Para a análise dos dados sociodemográficos foram empregadas estatísticas descritivas através do software Excel. No que tange à TALP os dados obtidos foram transcritos para o Excel e analisados a partir de critérios de Redes Semânticas. De acordo com Vera-Noriega (2005), a referida técnica analisa os critérios de Núcleo da Rede (NR), Peso Semântico (PS) e Distância Semântica (DS). O PS foi obtido por meio da soma das frequências através da hierarquia de importância das palavras. A palavra mais próxima, hierarquizada com o numero 1 foi multiplicada por 5; a seguinte, sinalizada com o numero 2 foi multiplicada por 4; seguindo-se até chegar a palavra hierarquizada com o numero 5 e multiplicada por 1. O NR foi obtido através das cinco palavras que apresentaram maior PS, indicando as palavras que melhor definem o conceito investigado. Obteve-se a DS por meio das palavras definidoras do NR, sendo atribuídos 100% à palavra com maior peso e para as demais a atribuição de porcentagem se deu por regra de três simples.
Resultados
O presente estudo foi composto pela participação de 12 idosas pertencentes a grupos de instituições da cidade de Parnaíba-PI. As participantes foram agrupadas em dois grupos, nos quais 07 idosas pertenciam ao grupo de convivência da prefeitura e 05 idosas pertenciam ao grupo da Universidade Federal do Delta do Parnaíba. O detalhamento da caracterização de cada grupo pode ser visto na Tabela 01.
Os resultados obtidos pela TALP possibilitaram a realização da análise de campos semânticos das representações sobre aposentadoria e envelhecimento para as idosas entrevistadas, bem como proporcionou reflexões acerca da temática. Os resultados serão apresentados em tabelas agrupadas de acordo com as palavras eliciadas para cada estímulo obedecendo à ordem "Mulher Idosa", "Envelhecimento" e "Aposentadoria".
A análise da Rede Semântica da palavra "Mulher Idosa" proporcionou observar que as entrevistadas do grupo de convivência da prefeitura retrataram a percepção de um processo naturalizado do ciclo de vida, quando a palavra "Senescencia" (ver Tabela 02) obteve peso semântico mais significativo e distância semântica de 100%, seguida por Envelhecimento Biológico (45,7%), Relações So-cioafetivas (34,2%), Missão Cumprida (17,1%) e Convivência (8,5%).
Já na análise dos dados do grupo da UFDPar, como exposto na Tabela 02, per-cebeu-se que a palavra indutora remeteu ao ciclo de experiências já vivenciado pelas participantes, quando a palavra "Experiência" apresentou peso semântico mais expressivo e distância semântica de 100%, seguida de Saúde (60%), Responsabilidade (45%), Sabedoria (30%) e Compreensão (10%).
Quando estimuladas com a palavra "Envelhecimento" notou-se que as idosas do grupo de convivência da prefeitura associaram este período do ciclo de vida ao sentimento de satisfação ao ter alcançado tal período conseguindo cumprir com todas as responsabilidades familiares. A expressão "Missão Cumprida" (ver Tabela 03) se sobressaiu nas respostas das participantes, apresentando distância semântica de 100%, seguida por Longevidade (64%), Doença (48%), Autonomia (32%) e Cuidados (12%).
Os dados obtidos do grupo da UFDPar revelaram que as idosas participantes associam o envelhecimento ao mesmo tempo a um processo saudável e natural, mas que gera relativa dependência, apresentando a expressão "Envelhecimento Saudável" em destaque com distância semântica de 100%, seguida da expressão "Falta de autonomia" com distância semântica de 60%, Suporte (45%), Autocuidado (30%) e Dependência (15%) (ver Tabela 03).
Ao indagados acerca do estímulo "Aposentadoria" (ver Tabela 04), ambos os grupos de participantes expressaram ideia de suporte financeiro, apresentando a expressão "Segurança Financeira" com peso semântico em destaque e distância semântica de 100%. No grupo de convivência da prefeitura percebe-se que é retratada também a representação de "bem-estar" na qual a renda financeira advinda da aposentadoria proporciona "pagar contas", "comprar alimentos", "ajudar nas despesas" e desperta o sentimento de "dignidade". Nos dados obtidos através do grupo da UFDPar percebe-se maior representação da aposentadoria voltada para "suporte financeiro", no qual a renda advinda da aposentadoria proporciona "independência financeira", "ajudar a família" e "comprar remédios".
Discussão
Objetivando apreender as representações sociais acerca da aposentadoria e do envelhecimento para mulheres idosas, compararam-se os dados coletados em ambos os grupos de idosas, os quais demonstraram a percepção de aspectos positivos e negativos do envelhecimento e a aposentadoria é percebida através do viés de suporte financeiro. Nota-se que a natureza das atividades desenvolvidas pelos grupos aos quais pertencem refletem na percepção das participantes, na qual se observou que o grupo de convivência da prefeitura, por desenvolver ati-vidades de cunho psicossocial atua como apoio social, para as idosas participantes, nesta etapa do ciclo de vida.
Ao analisar os resultados do estímulo indutor "Mulher Idosa" para o grupo de convivência da prefeitura, nota-se o destaque para os aspectos da senescência, ressaltando a importância com o "autocuidado", "boa alimentação" e "envelhecer com saúde". Percebe-se também que a natureza das atividades realizadas pelo 249 grupo de convivência atua como importante apoio social para o enfrentamento das adversidades desta etapa do ciclo de vida, destacando a construção de "amizades" e a realização de "atividades". Tal perspectiva corrobora com estudo anterior realizado por Araújo, Silva e Santos (2017) acerca da resiliência e velhice, o qual demonstra que a participação em atividades sócio-culturais que proporcionem troca de experiências e relações interpessoais, atua como ferramenta no enfrentamento de possíveis dificuldades advindas do processo de envelhecer. O estudo bibliográfico realizado por Dias, Souza e Manhães (2020) também constatou a importância dos grupos de convivência para os idosos, evidenciando que tais ferramentas proporcionam o compartilhamento de sentimentos, despertam a autoestima e motivação para a vida.
Quando analisados os dados produzidos pelo grupo da UFDPar acerca do mesmo estímulo, percebe-se que ao expressar a ideia de "história de vida", as participantes demonstraram aspectos positivos ao remeter "felicidade", "sabedoria" e "conhecimento"; e aspectos negativos ao relacionar a "perda", "sofrimento" e "desânimo". Os resultados corroboram com estudo anterior realizado por Fernandes, Montiel, Andrade, Bartholomeu, Cecato e Martinelli (2015) que ao analisarem de forma discursiva as representações sociais de idosos sobre suas tra-jetórias de vida, identificaram que os participantes produziram representações negativas e otimistas da sua trajetória, remetendo à aceitação da singularidade da sua própria história de vida. Moscovici (2012) ressalta o caráter dinâmico das representações sociais, no qual os acontecimentos que ocorrem na vida dos indivíduos produzem significados nas suas percepções.
Os dados obtidos através do estímulo "Envelhecimento" para o grupo de convivência da prefeitura denotou que as participantes veem esta etapa do ciclo de vida como um "momento especial" permeado por um sentimento de "liberdade", "felicidade" e "cuidados". Para Guerra e Caldas (2010), alguns idosos apreendem a velhice como uma oportunidade de vivenciar a autonomia e a liberdade, associando a este período o sentimento de felicidade e satisfação. Em estudo realizado por Moura, Delgado e Mármora (2018) acerca da satisfação com a vida de idosos aposentados, percebeu-se maior frequência de respostas de satisfação para as participantes do sexo feminino, destacando a característica do envelhecimento feminino mais relacionado à vida doméstica a aos laços familiares.
Ao analisar os dados obtidos acerca do mesmo estímulo para o grupo da UFDPar percebe-se que o envelhecimento adquire juízo de valor positivo ao ser atribuído o caráter de "saúde" e "jovialidade" a este processo, admitindo-se a possibilidade de surgimento de "doenças" e "solidão". Em estudo anterior com idosos não institucionalizados identificou-se que para os participantes a velhice teve maior representação social com referência a uma "fase boa" (Teixeira, Dias, Castro, Freitas & Araújo, 2015), porém, também obteve conotação negativa associando-a ao surgimento de "doença". Desta forma, os autores afirmam que a avaliação positiva do ciclo de vida que atravessa as vivências dos idosos pode ajuda-los a tornarem-se mais resilientes diante das adversidades da vida.
O estímulo indutor "Aposentadoria" obteve representações ancoradas na ideia de suporte financeiro em ambos os grupos. Observa-se que a aposentadoria proporciona maior autonomia para as participantes, possibilitando também atividades de lazer, como "poder passear". Em estudo realizado por Macêdo, Bendassolli e Torres (2017) acerca das representações sociais da aposentadoria, identificou-se representações ancoradas em maior qualidade de vida, proporcionando um período do ciclo de vida marcado por maior autonomia, diminuição de estresse e cobranças e o sentimento de êxito.
Diante do exposto, observa-se que ambos os grupos de participantes ressaltaram os aspectos da senescência no processo de envelhecimento e aposentadoria. Nota-se que o grupo de convivência da prefeitura apresentou representações do envelhecimento ancoradas no apoio social desenvolvido pelas atividades realizadas pelo grupo e a aposentadoria além de suporte financeiro proporciona "bem-estar" para as participantes, já as idosas do grupo da UFDPar apresentaram representações ancoradas em aspectos do envelhecimento biológico e a aposentadoria atua com o papel de suporte e segurança financeira.
Os dados apreendidos junto às idosas deste estudo ressaltam também a concepção idiossincrática do envelhecimento, o qual se configura como um processo singular e socialmente localizado, por tanto, não é homogêneo, podendo apresentar apreensões distintas para diferentes indivíduos, sociedades e culturas. Ressalta-se que com o aumento da população idosa no Brasil, é válido afirmar a necessidade de revisão da concepção de velhice, das políticas de saúde, trabalho, aposentadorias e serviços destinados ao referido público.
Visto que as redes de atenção à saúde e assistência social são fundamentais para amparar a pessoa idosa em seus diversos aspectos (Ferreira, Bansi & Paschoal, 2014; Fonseca, Araújo, Santos, Salgado, Jesus & Gomes, 2020), os dados levantados pela presente investigação permitem a produção de sentidos e reflexões diante da singularidade das representações sociais do envelhecimento e aposentadoria para as participantes, podendo proporcionar, além da compreensão dos aspectos envolvidos no bem-estar biopsicossocial, o fortalecimento de vínculos da população idosa envolvida ativamente em tais instituições e dispositivos, possibilitando suporte para a atuação dos profissionais envolvidos principalmente em práticas psicológicas e de apoio emocional às idosas.
Ao mobilizar e produzir reflexões acerca dos processos de envelhecimento e aposentadoria para a mulher idosa possibilita-se que os profissionais envolvidos e a comunidade como um todo possam ressignificar tais temáticas e contribuir para a construção de novas práticas psicossociais e espaços de discussão que promovam aspectos como a preservação da autonomia, autoestima, apoio emocional e social e atenuem a vulnerabilidade da pessoa idosa no processo de aposentadoria, contribuindo para que tal população possa dar novos significados ao papel de cidadão e participação efetiva na sociedade.
O presente estudo apresenta limitações quanto ao fato de os dados serem restritos a um pequeno número de participantes escolhidas em um contexto sócio-histórico-cultural específico. Desta forma, os resultados não podem ser generalizados para outros contextos e grupos populacionais. No entanto, a temática abordada torna-se de suma importância para a atuação de profissionais no campo da assistência social, saúde e do trabalho, dentre outros, desta forma esperase que os dados apresentados possam subsidiar novas investigações com maior abrangência populacional, com ações de intervenções psicossociais com atividades psicogerontológicas em saúde e na promoção da cidadania do idoso nos grupos de convivências e demais espaços de construção da velhice e do processo de envelhecimento.