O câncer colorretal (CCR) envolve neoplasias que ocorre nos segmentos do intestino grosso (colón ascendente, transverso e descendente), reto e ânus. Esse câncer é curável se diagnosticado e tratado precocemente, caso não tenha atingido outros órgãos. A formação das lesões tem início por pólipos classificados como tumores benignos tendo sua oncogênese na porção interna no intestino grosso podendo evoluir para formas malignas da doença 1.
O CCR apresenta diversos fatores de risco sendo eles: sedentarismo, etilismo, tabagismo, hábitos alimentares com pouca ingestão de vegetais e frutas, alimentos industrializados, obesidade, sobrepeso, idade >50 anos, predisposição genética e histórico familiar. E ainda, a existência de alterações prévias no intestino como pólipos, doenças de Chron, colite ulcerativa e outras doenças inflamatórias do trajeto 2.
Estima-se que globalmente em 2018, 185 países tiveram 18,1 milhões de casos novos de câncer (17 milhões excluindo o câncer de pele não melanoma), 9,6 milhões de óbito por câncer geral e 9,5 milhões excluindo o câncer de pele não melanoma. Em relação ao câncer de colorretal, é o quarto mais incidente 6,1 % e o primeiro na mortalidade 9,2 %, quando analisados por sexos, é o terceiro mais incidente e paras as mulheres é a segunda causa de incidência quanto para mortalidade 3.
No Brasil, as estimativas anuais para o triênio de 20202022 revelam que 20 520 casos câncer de cólon e reto para homens e 20.470 em mulheres que se refere ao risco previsto entre 19,63 a 19,03 para cada 100 mil em homens e mulheres, respectivamente. E quando divididos por regiões geográficas, excetuando-se os cánceres de pele não melanoma, o câncer de cólon e reto apresenta- se em homens como o terceiro incidente na região Nordeste com 10,79 casos por 100 mil habitantes. No estado do Maranhão, as estimativas para câncer colorretal estão em torno de 210 casos novos para homens e em mulheres 240 casos novos, com taxas ajustadas para homens 7,70 e nas mulheres 7,37. No tocante ao município de São Luís, presumem-se para 80 casos novos homens e 90 casos novos mulheres 4.
O diagnóstico do CCR se baseia nos aspectos preventivos com enfoque na melhoria do estilo de vida, na educação em saúde promovendo hábitos saudáveis e por fim, na detecção dos sinais e sintomas: hematoquesia, alterações do intestino como diarréia, constipação, perda ponderal de peso, cólicas abdominais, associando ao exame de pesquisa de sangue oculto nas fezes, exames endoscópicos (sigmoidoscopia/colonoscopia) posteriormente a realização da biópsia 5.
No estadiamento, os tumores recebem a nomenclatura de estágio precoce a avançado. A exemplo dos cânceres colorretais, o estágio 0 é o inicio da lesão, que progressivamente tem variação do estágio I ao IV, na qual o estágio IV é mais agressivo e disseminado. E, além, disso cada variação apresenta uma subclassificação A, B e C, que os difere por meio das características histopatológicas, estruturais e de infiltração 6.
CCR possui diversos tipos de tratamentos recomendados tais como: o cirúrgico, a quimioterapia neoadjuvante, a radioterapia que interfere nas condições de saúde provocada pelas reações da terapia antineoplásica. Dessa forma, essa terapêutica modifica as condições de vida e traz impactos na qualidade de vida, pois a taxa de sobrevida do paciente está relacionada ao estágio da doença e sua morbimortalidade está ligada a fatores não modificáveis como a idade 7.
No estado do Maranhão, este câncer pode ser considerado um problema de saúde pública, o que reforça a necessidade de estudos epidemiológicos para conferir a magnitude do agravo através da vigilância em saúde. Diante disso, este estudo teve como objetivo descrever os aspectos sociodemográficos e clínicos dos pacientes que tiveram câncer colorretal no estado do Maranhão, Brasil.
METODOLOGIA
Trata-se de um estudo transversal, retrospectivo com abordagem quantitativa. Realizado no Estado do Maranhão localizando-se no oeste da Região Nordeste, com extensão territorial de 331.935,507 km2, divididos em 217 municípios, conforme dados do Censo Demográfico de 2010, realizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, totalizando 6.574.789 habitantes 8. E assim, a capital São Luís é referência no âmbito da assistência de saúde no estado do Maranhão, o Hospital do Câncer Aldenora Bello é um dos serviços da rede de atenção oncológica do estado que possui um Centro de Alta Complexidade em Oncologia.
A população da pesquisa foi constituída de 421 casos de câncer colorretal no período de 01 de janeiro de 2013 a 31 de dezembro de 2017, registados no Sistema de Informação de Registro Hospitalar do Câncer (SIS-RHC). A coleta de dados ocorreu no período de setembro a novembro de 2020, as informações analisadas foram as variáveis da Ficha de Registro do Tumor (FRT) sendo elas: sexo, faixa etária, etnia, escolaridade, ocupação e estado civil. E, quanto aos aspectos clínicos: topografia do tumor, estadiamento, tipo histopatológico, exames relevantes para o diagnóstico, tratamento, evolução da doença após o primeiro tratamento, tempo entre o primeiro diagnóstico e o primeiro tratamento recebido no hospital.
A Classificação Internacional de Doenças 10a revisão (CID-10) 9, considera que os códigos C18.0 a C21.0 recebem as nomenclaturas: (C18.0) para à neoplasia maligna do cólon, [C19.0] para neoplasia maligna da junção retos-sigmóide, (C20.0) para neoplasia maligna do reto e [C21] para neoplasia de canal anal e ânus. E para classificação dos tumores, foi normatizado por meio do sistema de es-tadiamento preconizado pela União Internacional Contra o Câncer (UICC), denominado Sistema TNM de Classificação dos Tumores Malignos. Para análise dos dados, as informações foram exportadas do SIS-RHC para planilha do Microsoft Office Excel 2018, na qual se tratou os dados através de estatística descritiva em números absolutos e percentuais, por meio do software SPSS Estatistics 20.0.
A pesquisa foi aprovada no Comitê de Ética em Pesquisa do Hospital Universitário da Universidade Federal do Maranhão sob parecer de N° 1.749.940, conforme exigido pela Resolução N° 466/12 do Conselho Nacional de Pesquisa, que regulamenta a pesquisa científica em seres humanos.
RESULTADOS
No período de 2013 a 2017 foram registrados 421 casos de câncer colorretal em um hospital oncológico no estado do Maranhão, Brasil (Tabela 1).
Variável | N | % |
---|---|---|
Sexo | ||
Feminino | 233 | 55,3 |
Masculino | 188 | 44,7 |
Faixa Etária | ||
20 - 30 anos | 10 | 2,4 |
30 - 40 anos | 32 | 7,6 |
40 - 50 anos | 60 | 14,3 |
50 - 60 anos | 97 | 23 |
60 - 70 anos | 124 | 29,5 |
70 - 80 anos | 69 | 16,4 |
80 - 90 anos | 25 | 5,9 |
Maior que 90 anos | 4 | 1 |
Raça/cor | ||
Parda | 285 | 67,7 |
Branca | 60 | 14,3 |
Preta | 43 | 10,2 |
Amarela | 33 | 7,8 |
Estado conjugal | ||
Casado | 197 | 46,8 |
Solteiro | 155 | 36,8 |
Viúvo | 45 | 10,7 |
Separado | 17 | 4 |
Sem informação | 5 | 1,2 |
União estável | 2 | 0,5 |
Escolaridade | ||
Nenhum | 42 | 10 |
Fundamental incompleto | 178 | 42,3 |
Fundamental completo | 74 | 17,6 |
Nível médio | 107 | 25,4 |
Nível superior incompleto | 1 | 0,2 |
Nível superior completo | 19 | 4,5 |
Variável | n | % |
Ocupação | ||
Diversas profissões | 145 | 34,4 |
Trabalhadores lavradores | 93 | 22,1 |
Não se aplica | 77 | 18,3 |
Trabalhadores não classificados segundo a ocupação | 65 | 15,4 |
Agentes de administração | 8 | 1,9 |
Condutores de automóveis | 7 | 1,7 |
Pescadores | 6 | 1,4 |
Costureiros | 5 | 1,2 |
Professores | 5 | 1,2 |
Trabalhadores de serventia | 5 | 1,2 |
Vendedores de comercio | 5 | 1,2 |
Total | 421 | 100 |
Fonte: SIS-RCH (2020).
Com relação às variáveis sociodemográficas, o sexo feminino apresentou 55,3 % [233] dos casos de câncer colorretal (Tabela 1). Dados semelhantes foram encontrados no estudo de Francisco et al.10 em que ocorreu a predominância do sexo feminino (56,4 %) dos casos. Os autores mencionam que embora as mulheres tenham maiores proporções, nesse estudo, o sexo masculino apresentou maior ocorrência de algum dos cânceres e outras doenças, inferindo-se historicamente, que as mulheres buscam recorrentemente os serviços de saúde facilitando o diagnóstico de doenças e tratamentos adequado. Esse tipo de câncer é o quarto mais incidente na população feminina no estado do Maranhão 4-11.
Na faixa etária de 60 a 70 anos houve maior ocorrência em 29,5 % [124] dos casos. No entanto, as faixas etárias de 50 a 70 representam as maiores frequências 52,5 % [221] dos casos de câncer colorretal (Tabela 1). Esses achados são compatíveis com Assis 12 e Scandiuzzi et al.13, na qual apontam a faixa etária dos casos entre 50 a 75 anos com maiores riscos de desenvolvimento de CCR. O câncer tem se acentuado na população idosa devido a fatores de idade, o envelhecimento populacional e o aumento da expectativa de vida que estão associados a presença de doenças crônicas 14.
Com relação a variável raça/cor, 67,7 % [285] eram pardos os pacientes acometidos por câncer colorretal (Tabela 1). Dados superiores foram encontrados na pesquisa de Silva et al.15 realizado no Pará, na qual 87,8 % dos casos ocorreram em pardos. Assis 12 pontua que a incidência de CCR na população afrodescendente nas quais negros e pardos apresentam maior probabilidade de riscos. Vale ressaltar, que o Maranhão e o Pará apresentam maior proporção de pardos com respectivamente 80,4 % e 73 % autodeclarados 16.
No que se refere ao estado conjugal, 46,8 % [197] das pacientes eram casadas (Tabela 1). O estudo de Pérez-Pacheco et al.17 realizado no México, 62,5 % dos acometidos pelo CCR eram casados. Dessa forma, reitera-se que os laços conjugais são essenciais durante o processo de diagnóstico ao tratamento, uma vez que nessas fases o paciente necessita de suporte emocional e familiar.
Quanto à escolaridade dos pacientes, o Ensino Fundamental incompleto representou 42,3 % [178] dos casos (Tabela 1). Na pesquisa de Moura et al.18 realizada em Juazeiro-BA, encontrou-se 43,4 % dos pacientes com Ensino Fundamental incompleto. Os autores apontam que a baixa escolaridade é um fator que influência no autocuidado com relação a neoplasia, a falta de acesso as instituições de saúde, o acompanhamento da condição de saúde interferindo, assim, no reconhecimento dos riscos expostos nas atividades socioeconómicas e laborais. O estado do Maranhão entre 2001 a 2015 apresentou a segunda maior taxa de analfabetismo do país, destacando os trabalhadores do campo como predominantes na população do estado segundo IBGE (2017) em Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNAD).
No que concerne à ocupação, a maior proporção dos casos de CCR foi de 34,4 % [145] nas diversas profissões, tendo os trabalhadores lavradores 22,1% [93] dos casos (Tabela 1). Nos estudos de Moura et al.18 encontraram os agricultores em maiores proporções 43,3 % dos casos. No entanto, este estudo apresentou esse grupo de trabalhadores lavradores em menor proporção pelo fato dos demais participantes do estudo apresentarem maior diversificação de profissões. Assim, vale ressaltar que os autores alertam para o uso de agrotóxicos na lavoura, pois os mesmos potencializam a contaminação e o desenvolvimento de doenças como os cânceres.
Com relação à localização dos tumores, o câncer de colón foi predominante com 36,1 % [152 dos casos, seguido do câncer de reto 34,2 % [144] dos casos (Tabela 2). No estudo de Fonseca et al.19 realizado em Minas Gerais, os cânceres de cólon 65,8 % e reto 22,6 %, tiveram proporções superiores ao nosso estudo. Segundo o INCA (2019) a região centro-oeste apresenta maior ocorrência de cânceres digestivos em relação a região nordeste. Fonseca et al.19 destacam que a alta demanda dos atendimentos e tratamentos do CCR em casos tardios ocorrem devido a procura tardia dos pacientes ao serviço.
Variável | N | % |
---|---|---|
Localização Tumor Primário | ||
Cólon (C-18) | 152 | 36,1 |
Reto (C-20) | 144 | 34,2 |
Canal Anal e Ânus (C-21) | 86 | 20,4 |
Junção Sigmóide (C-20) | 39 | 9,3 |
Tipo Histológico | ||
Adenocarcinoma | 300 | 71,3 |
Carcinoma escamocelular | 75 | 17,8 |
Diversos Tumores | 19 | 4,5 |
Carcinoma | 8 | 1,9 |
Adenocarcinoma Tubular | 8 | 1,9 |
Neoplasia Maligna | 4 | 1 |
Adenocarcinoma Mucinoso | 4 | 1 |
Carcinoma Neuroendócrino | 3 | 0,7 |
Fonte: SIS-RCH (2020).
A histopatologia predominante foi o adenocarcinoma, que representou 71,3% [300] dos casos (Tabela 2). Em um estudo realizado por Teixeira e Vasconcelos 20 em Pernambuco, foi encontrada a presença de adenocarcinoma em 47,2 % dos casos diagnosticados. Essa neoplasia ocupa a terceira posição em termos de incidência mundial de tumores malignos em homens e mulheres com mais de 60 anos, devido à elevada mortalidade e incidência nesse grupo populacional 21.
O estadiamento III apresentou 30,9 % ([130] e o IV 27,6 % [116] casos diagnosticados, respectivamente quando juntos representaram 58,6 % dos casos tardios (Tabela 3). Na pesquisa de Alhilfi et al.22 realizado no Iraque, dados superiores foram encontrados para o estádio III foi de 49,3 % e o IV foi de 15,5 % juntos representaram 64,8 % dos casos. Esses achados revelam que diagnóstico e rastreamento não precoces do câncer em estádio tardio implicam na redução da taxa de sobrevivência dos pacientes. Além disso, o estadiamento tardio torna se incurável possivelmente por baixas condições socioeconômicas na quais se destaca a pobreza, baixa escolaridade e a dificuldade de acesso às instituições de saúde 23. No entanto, o Ministério da Saúde 24 recomenda a detecção oportuna, pois os tumores surgem de pólipos adenomatosos que evoluem para lesões malignas ocorrendo cerca de 10 a 15 anos, o que reforça a necessidade de rastreamento dos casos pelo período de estágio pré-clínico da doença.
Variável | N | % |
---|---|---|
Estadiamento clínico | ||
IV | 116 | 27,6 |
II A | 87 | 20,7 |
III B | 77 | 18,3 |
I | 41 | 9,7 |
III A | 29 | 6,9 |
II | 25 | 5,9 |
III C | 24 | 5,7 |
II B | 9 | 2,1 |
Não se aplica | 9 | 2,1 |
0 | 4 | 1 |
Localização da metástase à distância | ||
Sem metástase | 313 | 74,3 |
Com metástase (diversos órgãos) | 108 | 25,7 |
Histórico de alcoolismo | ||
Não avaliado | 209 | 49,6 |
Nunca | 118 | 28 |
Ex-consumidor | 45 | 10,7 |
Sim | 45 | 10,7 |
Não se aplica | 4 | 1 |
Histórico de tabagismo | ||
Não avaliado | 181 | 43 |
Nunca | 123 | 29,2 |
Ex-consumidor | 93 | 22,1 |
Sim | 23 | 5,5 |
Não se aplica | 1 | 0,2 |
No tocante a metástase à distância, 74,3 % [313] dos casos não apresentaram disseminação para outros órgãos (Tabela 3). Na pesquisa de Vieira et al.25 ao comparar a presença da metástase em 3 grupos de pacientes, observaram a ocorrência de >50 % dos casos avaliados e corroborando Vieira et al.26 mencionam que a maioria dos casos 61,9 % dos tumores não apresentam metástases a tecidos e órgãos vizinhos.
Com relação ao histórico de alcoolismo e tabagismo, apesar das categorias "não avaliado" possuírem as maiores frequências de 49,6 % [209] e 43 % [181] respectivamente não é possível, nessa pesquisa, estabelecer uma relação de causa e efeito direto com o CCR, pois essas categorias apresentaram a ausência de registros no prontuário. No entanto, os percentuais do item "nunca" corresponderam a 28 % [118] e 29,2 % [123] dos casos respectivamente (Tabela 3). Na pesquisa de Pasqual et al.27 realizado no Rio Grande do Sul encontraram as maiores frequências de pessoas que nunca consumiram álcool 49,7 % e tabaco 37,5 %. Entretanto, o INCA (2019) ressalta que o hábito de fumar e do consumo de álcool são fatores associados ao câncer. Além disso, a qualidade de vida precária, o consumo de alimentos processados, o sedentarismo e a exposição a agentes cancerígenos também são fatores encontrados na literatura que sustentam a possibilidade de desenvolvimento de cânceres no aparelho digestivo 28.
Nesse estudo, com relação ao tipo de tratamento a cirurgia e a quimioterapia foram predominantes com 19 % (80), seguidos de quimioterapia 14 % (59) dos casos (Tabela 4). No entanto, o estudo de Trinquinato et al.29 constataram que o tratamento empregado no CCR apresentou intervenção cirúrgica em 95,8 % e quimioterápico 65,3 % nos casos. Para Silva e Errante30 a decisão clínica do tratamento dependenderá do estádio e das características da neoplasia podendo ocorrer de forma associada ou isolada.
Variável | N | % |
---|---|---|
Primeiro tratamento recebido no hospital | ||
Cirurgia + quimioterapia | 80 | 19 |
Quimioterapia | 59 | 14 |
Cirurgia | 54 | 12,9 |
Radioterapia + quimioterapia | 43 | 10,2 |
Nenhum | 37 | 8,8 |
Quimioterapia + radioterapia | 29 | 6,9 |
Radioterapia | 25 | 5,9 |
Cirurgia + radioterapia + quimioterapia | 52 | 12,4 |
Quimioterapia + cirurgia | 13 | 3,1 |
Quimioterapia + radioterapia + cirurgia | 8 | 1,9 |
Diversos tratamentos | 8 | 1,9 |
Radioterapia + cirurgia | 3 | 0,7 |
Cirurgia + cirurgia + quimioterapia | 2 | 0,5 |
Cirurgia +quimioterapia + cirurgia | 2 | 0,5 |
Cirurgia + quimioterapia + radioterapia+cirurgia | 2 | 0,5 |
Cirurgia + radiopaterapia | 2 | 0,5 |
Radioterapia + quimioterapia + radiaterapia | 2 | 0,5 |
Estado da doença ao final do primeiro tratamento | ||
Sem evidência da doença (cura) | 113 | 26,8 |
Doença em progressão | 74 | 17,6 |
Doença estável | 72 | 17,1 |
Óbito | 59 | 14 |
Suporte terapêutico oncológico | 40 | 9,5 |
Não se aplica | 38 | 9 |
Remissão parcial | 25 | 5,9 |
Histórico familiar de câncer | ||
Sem informação | 225 | 53,4 |
Não | 100 | 23,8 |
Sim | 96 | 22,8 |
Exames relevantes para o diagnóstico | ||
Exame clínico e patologia clínica + exames por imagem + anatomia patológica | 333 | 79,1 |
Exame clínico e patologia clínica + anatomia patológica | 67 | 15,9 |
Exame clínico e patologia clínica + exames por imagem + endoscopia e cirurgia exploradora + anatomia patológica | 17 | 4 |
Diversos exames | 4 | 1 |
Tempo entre diagnóstico e tratamento | ||
0 Dias | 119 | 28,3 |
1 - 30 Dias | 7 | 1,7 |
31 - 60 Dias | 137 | 32,5 |
Maior que 60 dias | 158 | 37,5 |
Fonte: SIS-RCH (2020).
No tocante ao estado no final do primeiro ano de tratamento, observou-se que 26,8 % (113) dos casos apresentam remissão completa (Tabela 4). Assim, destaca-se que é necessário um acompanhamento dos casos no que concerne a complicações e/ou metástase que por ventura possam ocorrer ao final da primeira terapêutica. Desse modo, é essencial que o seguimento seja realizado a fim de monitorar a recidiva da neoplasia 12-31.
Quanto ao histórico familiar de câncer, os registros sem informação predominaram com 53,4 % [225], seguidos dos pacientes que não possuíam histórico familiar de câncer 23,8 % [100] nos casos (Tabela 4). Nesse ínterim, observou-se que 225 prontuários não foram registrados, e por esse motivo, ocorreu nesse estudo um elevado percentual dessa variável não sendo, assim, possível estabelecer uma relação direta com os casos de CCR. Desse modo, apesar dos pacientes não possuírem histórico familiar de câncer apresentaram-se em segunda proporção. Esse fato é compatível com Murad-Regadas et al.32 que não encontraram diferenças significativas entre os grupos de pacientes avaliados com e sem histórico familiar de CCR. Entretanto, segundo Wilkinson et al.33 os pacientes com idade inferior a 50 anos apresentaram maiores riscos de desenvolver a neoplasia, por possuírem parentes de primeiro grau com CCR, em contrapartida, pacientes que não possuíam histórico familiar de câncer acima de 60 anos dispõem de maior risco para desenvolver a doença sendo, assim, recomenda-se o rastreamento a partir dessa faixa etária.
No que se refere aos exames relevantes para o diagnóstico, houve o predomínio do exame clínico, patologia clínica, exames por imagem e biópsia com 79,1 % [333] dos casos avaliados (Tabela 4). No estudo de Fernandes et al.34 e Atzingen et al.35 realizado em São Paulo, constataram que o diagnóstico por imagem (colonoscopia, retossigmodoscopia, colonografia), histopatológico e cirúrgico foram os mais utilizados em 54,3 % dos pacientes. Nesse sentido, Steele et al.36 recomenda que a vigilância dos pacientes com CCR deva ocorrer no diagnóstico realizado, no exame clínico até o processo de cura dos pacientes, uma vez que o monitoramento previne o surgimento do CCR de outros cânceres.
Com relação ao tempo (em dias) entre o diagnóstico e O tratamento, houve mais de 61 dias do tempo de espera o que correspondeu a 37,5 % [158] e 28,3 % [119] zero dias para o início da terapêutica (Tabela 4). Dados semelhantes foram encontrados na pesquisa de Lima e Villela 37 ao comparar as regiões brasileiras, observaram que a média em dias para início da terapêutica foi acima de 60 dias, destacando-se a região nordeste com o maior período para iniciar a terapêutica. Assim, destaca-se que esse fato pode ser justificado pelo tempo entre a admissão e tratamento no serviço oncológico. No entanto, fatores como acesso ao serviço de saúde e o tempo de regulação do paciente na rede oncológica podem elevar as taxas de mortalidade pelas desigualdades socioeconómicas da região 38-39.
As limitações do estudo estão relacionadas à atualização do banco de dados, campos não preenchidos, reflete na necessidade de sensibilização do preenchimento da ficha de registro de tumor. Para tanto, isso não compromete as informações apresentadas nesse estudo, visto que eles dispõem da identificação correta dos cânceres, histórico clínico completo e a série dos casos como pontos relevantes.
O câncer colorretal como problema de saúde pública é desafiador para a modificação dos fatores de risco da população no estado do Maranhão uma vez que a efetivação da rede de atenção primária junto a atenção oncológica necessita de ações integradoras dos diversos níveis de atenção em saúde para alcançar a população alvo objetivando realizar o rastreamento dos casos.
Este estudo nos permitiu identificar os aspectos sociodemográficos (sexo feminino, idosas, casadas, baixa escolaridade, ocupação de agricultores) e clínicos (câncer de colón e reto predominantes, tipo histológico adenocarcinoma e estádio IV avançado dos casos, tratamento cirúrgico e quimioterápico predominante, com mais 60 dias no tempo de espera entre o diagnóstico e o tratamento).
Portanto, percebeu-se ao logo do estudo a necessidade de sensibilizar os profissionais de saúde a realizar o preenchimento adequado da ficha de registro de tumor, visto que as informações desse registro geram dados em saúde que permitem delinear o perfil de pessoas acometidas pela CCR, a planejar ações de enfrentamento e elaborar estratégias de promoção e prevenção, controle da neoplasia com vistas a reduzir a morbimortalidade por este câncer.