INTRODUÇÃO
O manuseio da tecnologia se faz presente deste os primórdios da humanidade até os dias atuais, acompanhando as civilizações a datar do instante em que passaram a idealizar técnicas que facilitassem suas tarefas de vida diária1 . Entre os diferentes avanços que vêm acontecendo no mundo, pode-se citar o avanço das tecnologias como processo que tem contribuído para auxiliar as ações diárias das pessoas. As mudanças também ocorrem no campo da saúde, em que se podem utilizar as chamadas Tecnologias em Saúde na assistência, educação e ensino2 .
A expressão Tecnologias em Saúde, numa percepção mais genérica, engloba uma coleção de técnicas, protocolos, sistemas e dispositivos que são implementados no contexto da saúde para auxiliar os profissionais na prestação dos cuidados nas vertentes da prevenção, promoção e reabilitação dos mais diversos grupos da sociedade3 .
As Tecnologias em Saúde podem ser classificadas como leve, leve-dura e dura. Essa classificação trata a tecnologia de forma abrangente, por intermédio da análise de todo o processo construtivo, até o produto final. As leves são os processos de produção de conversação, de elos, dos relacionamentos que direcionam a convergência do usuário com necessidades de ações de saúde. As leve-duras incluem os conhecimentos estruturados e caracterizados pelos princípios que operam em saúde, a exemplo da clínica médica, epidemiologia etc. Já as duras são representadas pelo produto efetivo como equipamentos, mobiliário tipo permanente ou de consumo4 .
Nesse contexto, busca-se cada vez mais novas tecnologias em saúde que sejam eficazes e menos invasivas para prevenção de agravos e promoção da saúde, principalmente no cenário em que aproximadamente 830 mulheres morrem todos os dias por complicações evitáveis relacionadas à gestação, parto e puerpério no mundo, sendo que 99% ocorrem em países emergentes. Dessa forma, entende-se por novas tecnologias o conhecimento abstrato e prático, ou seja, a tecnologia é o produto da junção entre conhecimento prático e conhecimento teórico5 - 6 .
A utilização de tecnologias na área de saúde está em avançada ascensão, visto que podem proporcionar aos profissionais atingirem maior acerto e desenvoltura em seus trabalhos, e as mulheres maior conhecimento e autonomia do autocuidado, uma vez que a política pública na área de saúde da mulher guia-se pelo paradigma humanístico. No que diz respeito a enfermagem, acredita-se que o uso das tecnologias tem modificado o modo de lidar com a assistência e recursos utilizados de forma rápida e organizada, qualificando o atendimento e fundamentando a ciência da profissão7 .
Nessa conjuntura, o presente estudo tem como objetivo conhecer as publicações científicas acerca do desenvolvimento de tecnologias voltadas para a área de saúde da mulher no Brasil. Para tanto, elaborou-se a seguinte indagação norteadora: “o que foi produzido em território brasileiro quanto a estudos científicos no contexto da mulher relacionado à tecnologia em saúde?”
MATERIAIS E MÉTODOS
A pesquisa consiste em uma revisão integrativa da literatura, tendo em vista identificar e compreender as publicações existentes na comunidade científica nacional sobre a produção de tecnologias voltadas para a saúde da mulher de janeiro de 2009 a janeiro de 2019.
Este método se configura como uma síntese do estado da arte dos dados científicos relacionados a um problema de pesquisa, possibilitando conclusões amplas a respeito de um tema específico, apontando lacunas que podem ser preenchidas por novas pesquisas8 . Vale salientar que essa modalidade de pesquisa não necessita de apreciação pelo Comitê de Ética em Pesquisa (CEP), fato este respaldado pelas Resoluções 466/12 e 510/16 do Ministério da Saúde9 .
A presente revisão foi desenvolvida se embasando no processo de elaboração de revisão proposto por Souza, Silva e Carvalho, que abrange seis fases: I - Elaboração da pergunta norteadora; II - Busca ou amostragem na literatura; III - Coleta de dados; IV - Análise crítica dos estudos incluídos; V - Discussão dos resultados; VI - Apresentação da revisão integrativa10 .
A questão que norteou esta revisão integrativa foi a seguinte: “o que foi produzido em território brasileiro quanto a estudos científicos no contexto de saúde da mulher relacionado à tecnologia?”
Para a busca ou amostragem dos artigos foram utilizadas as seguintes bases de dados: Banco de Dados em Enfermagem (BDENF), Latino-Americano e do Caribe de Informação em Ciências da Saúde (LILACS) e Scientific Electronic Library Online (SciELO). Os estudos duplicados entre as bases de dados foram examinados uma única vez.
Na fase de coleta dos estudos foram utilizados os presentes critérios: estudos disponíveis na íntegra online, nos idiomas português, inglês e espanhol, estudos desenvolvidos por pesquisadores brasileiros e publicados no período compreendido entre 2009 e 2019. Para a exclusão foram considerados os seguintes critérios: estudos em que não foi possível identificar relação com a temática por meio da leitura de título e resumo e estudos secundários. Os descritores utilizados foram: tecnologia and saúde da mulher. O procedimento de seleção dos estudos está representado na Figura 1 .
Para organização e tabulação dos dados dos estudos selecionados, foi utilizado um protocolo de revisão integrativa para esse fim. Nesse protocolo se fez necessário identificar o título do estudo, sua instituição-sede, o local em que o trabalho foi publicado, as características metodológicas da pesquisa e a avaliação do rigor metodológico10 .
No que diz respeito a classificação do nível de evidência dos estudos fora empregado os níveis de evidência científica da Agency for Healthcare Research and Quality (AHRQ), que se compreende seis níveis: I - metanálise e revisão sistemática; II – ensaios clínicos com randomização; III - ensaios clínicos sem randomização; IV - coorte e de caso-controle; V - revisão sistemática de pesquisas descritivas e qualitativas; VI - estudos descritivos ou qualitativos11 .
RESULTADOS
Os cruzamentos de pesquisa nas bases de dados definidas resultaram na identificação de 46 estudos no banco de dados BDENF, 280 no LILACS e 55 na SciELO, totalizando 381 estudos. A aplicação dos três filtros possibilitou refinamento que resultou em seleção final de 23 estudos, com base na relevância e na qualidade dos dados para a presente revisão. Para melhor identificação de cada estudo, seguiu-se uma classificação alfanumérica iniciada em E1 e finalizada em E23 ( Tabela 1 ).
Nº | Ano/Autor | Título | Temática | Tecnologia utilizada |
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E112 | 2010 Nunes JM. | Tecnologia educativa: uma proposta para a promoção da saúde de um grupo de mulheres | Promoção da saúde da mulher | Atividades educativas |
E213 | 2010 Nascimento NM, et al. | Tecnologias não invasivas de cuidado no parto realizadas por enfermeiras: a percepção de mulheres | Promoção do conforto da parturiente | Acolhimento e ações humanizadas |
E314 | 2011 Morais MLC. | Construção e validação de hipermídia educacional em saúde sexual – uma abordagem acerca da consulta de enfermagem ginecológica | Promoção da educação sexual da mulher | Hipermídia |
E415 | 2012 Freitas LV, et al. | Exame físico no pré-natal: construção e validação de hipermídia educativa para a Enfermagem | Promoção da saúde da gestante | Hipermídia |
E516 | 2012 Oliveira MG. | Manual saúde sexual e reprodutiva: métodos anticoncepcionais comportamentais – desenvolvimento e avaliação de tecnologia assistiva | Promoção da educação sexual da mulher | Manual |
E617 | 2012 Reberte LM, Hoga LAK, Gomes ALZ. | O processo de construção de material educativo para a promoção da saúde da gestante | Promoção da saúde da gestante | Cartilha |
E718 | 2013 Moraes JL. | Protocolo para consulta de enfermagem no pré-natal: construção e validação | Promoção da saúde da gestante | Protocolo |
E819 | 2015 Cavalcante LDW, et al. | Tecnologia assistiva para mulheres com deficiência visual acerca do preservativo feminino: estudo de validação | Promoção da educação sexual da mulher | Hipermídia e simuladores |
E920 | 2016 Peuker AC, et al. | Construção de um material educativo para a prevenção do câncer de colo do útero | Prevenção de doenças | Cartilha |
E1021 | 2016 Melo GP, et al. | Elaboração e validação do protocolo assistencial de enfermagem para sala de pré-parto, parto e pós-parto | Promoção do conforto da parturiente | Protocolo |
E1122 | 2016 Albuquerque AFLL, et al. | Tecnologia para o autocuidado da saúde sexual e reprodutiva de mulheres estomizadas | Promoção da educação sexual da mulher | Cartilha |
E1223 | 2016 Abissulo CMF, Silvino ZR, Ferreira HC. | Validação de simuladores realísticos para orientação sobre aleitamento materno: pesquisa quase-experimental | Promoção do aleitamento materno | Simuladores |
E1324 | 2017 Souza AA, et al. | Construção e validação de cartilha educativa sobre endometriose | Reabilitação da saúde da mulher | Cartilha |
E1425 | 2017 Primo CC, Brandão MAG. | Teoria Interativa de Amamentação: elaboração e aplicação de uma teoria de médio alcance | Promoção do aleitamento materno | Teoria |
E1526 | 2018 Resende FZ. | Aplicativo educacional para apoiar o ensino do processo de enfermagem na assistência à mulher, à criança e à família em amamentação | Promoção do aleitamento materno | Aplicativo |
E1627 | 2018 Bezerra RA. | Cuidado de enfermagem à saúde da gestante: aplicativo móvel para o autocuidado no controle da pressão arterial | Promoção da saúde da gestante | Aplicativo |
E1728 | 2018 Silva ANB, Machado MFAS. | Desenvolvimento de um gestograma destinado às gestantes no acompanhamento do pré-natal | Promoção da saúde da gestante | Gestograma |
E1829 | 2018 Pereira PSL, et al. | Tecnologias não invasivas de cuidado: percepção das puérperas | Promoção do conforto da parturiente | Massagem, banho, deambulação e banqueta meia-lua |
E1930 | 2019 Cruz GCV, et al. | Construção e validação de uma tecnologia educativa sobre a vacina papilomavírus humano para adolescentes | Prevenção de doenças | Cartilha |
E2031 | 2019 Sousa MGP. | Desenvolvimento e validação de um protótipo de aplicativo para plataforma móvel para promoção da saúde de gestantes. | Promoção da saúde da gestante | Aplicativo |
E2132 | 2019 Duarte MR, et al. | Tecnologias do cuidado na enfermagem obstétrica: contribuição para o parto e nascimento | Promoção do conforto da parturiente | Massagem, banho, bola suíça, deambulação aromaterapia e musicoterapia |
E2233 | 2019 Franco MS, et al. | Tecnologia educacional para empoderamento materno na autoeficácia em amamentar | Promoção do aleitamento materno | Cartilha |
E2334 | 2019 Silva RM, et al. | Uso de tecnologia móvel para o cuidado gestacional: avaliação do aplicativo GestAção | Promoção da saúde da gestante | Aplicativo |
Fonte: Autoria própria.
Os estudos eleitos foram sintetizados e organizados conforme as seguintes orientações: ordem, tipo de publicação, título, autores, ano de publicação, conteúdo temático e categoria tecnológica. A partir da análise dos anos das publicações, observa-se uma acentuação intercalada com constante à produção nos 10 anos, com a seguinte distribuição: 2010 (2), 2011 (1), 2012 (3), 2013 (1), 2015 (1), 2016 (4), 2017 (2), 2018 (4), 2019 (5).
Referente ao tipo de publicação, Teses de Doutorado e Trabalhos de Conclusão de Curso ou de Especialização se mostraram ausentes na amostra final desta revisão, enquanto os demais estudos foram categorizados em: Artigo (16) e Dissertação de Mestrado (7).
No que diz respeito a classificação, a maioria dos estudos se mostraram com nível de evidência IV (21), fundamentados na categorização da AHRQ11 , uma vez que apresentam evidências oriundas de estudos descritivos, quantitativos, aplicados ou correlacionais. Já um estudo foi classificado com nível de evidência III (E12), ensaio clínico sem randomização com planejamento quase-experimental, e um estudo com nível de evidência VI (E14), estudos descritivos ou qualitativos.
Com o objetivo de realizar a análise e discussão das tecnologias desenvolvidas no contexto da saúde da mulher, ordenou-se os estudos eleitos em categorias por classificação tecnológica de cada pesquisa, segundo a classificação de Merhy4 , a saber: “Estudos com foco em Tecnologia Leve”; “Estudos com foco em Tecnologia Leve-Dura” e “Estudos com foco em Tecnologia Dura” ( Tabela 2 ).
Classificação Tecnológica | Abordagem da Tecnologia | Estudos Selecionados |
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Estudos com foco em Tecnologia Leve | Assistência | E1. |
Educação em Saúde | E2, E18, E21. | |
Estudos com foco em Tecnologia Leve-Dura | Assistência | E7, E10, E17. |
Educação em Saúde | E5, E6, E9, E11, E12, E13, E14, E19, E22. | |
Estudos com foco em Tecnologia Dura | Educação em Saúde | E8, E16, E20, E23. |
Ensino | E3, E4, E15. |
Fonte: Autoria própria.
DISCUSSÃO
Estudos com foco em Tecnologia Leve
Na categoria “Estudos com foco em Tecnologia Leve” foram eleitos cinco pesquisas que contemplaram a abordagem da tecnologia na assistência e na educação em saúde. A grande maioria dos estudos buscou conhecer, por intermédio da percepção da puérpera, as tecnologias não invasivas de cuidado durante o parto realizadas por enfermeiras, cujo objetivo era o alívio da dor e ansiedade na parturição13 , 29 , 32 .
As puérperas que usufruíram das tecnologias de cuidado para a atenuação da dor no processo de parto as julgaram como ótimo e de grande importância, uma vez que proporcionaram bem-estar e diminuição do tempo de espera durante o trabalho de parto29 . As puérperas identificaram a ação aprazível e prática da livre movimentação corporal, o incentivo à presença do acompanhante, banho de aspersão, massagem, uso da bola suíça, aromaterapia e musicoterapia, como as principais tecnologias não farmacológicas executadas pelas enfermeiras obstetras13 , 32 .
O estudo de Nunes propôs a utilização de atividades educativas em saúde como tecnologias positivas na identificação de problemas da comunidade assistida pela Estratégia Saúde da Família (ESF). Segundo o autor, a usabilidade de tecnologias educativas na promoção de saúde possibilitou mudanças comportamentais de um grupo de mulheres adultas jovens, incluindo este grupo de usuárias na aprendizagem e na troca de saberes científicos e populares, o que corroborou na discussão dos problemas por elas enfrentadas, assim como o desenvolvimento de soluções práticas, eficazes e de baixo custo12 .
Nesse contexto, percebe-se pela relação temporal dos estudos a evolução usual das tecnologias leves nos ciclos de vida da mulher, mais precisamente nos períodos gravídico e puerperal, seja na promoção de saúde ou na assistência a esse público. Todos os estudos demonstraram que, a postura e o uso ético e seguro pela enfermagem de tecnologias leves, colaboram para uma adequada adesão e assimilação das mulheres sobre sua relevância na resolução dos problemas que possam se apresentar nos ciclos de sua vida, tornando-as mais autônomos e protagonistas desse processo.
Estudos com foco em Tecnologia Leve-Dura
Na categoria “Estudos com foco em Tecnologia Leve-Dura” selecionou-se 12 estudos que contemplavam a construção e validação ou avaliação de cartilhas, ferramentas, manuais, protocolos e teorias na assistência e na educação em saúde16 - 18 , 20 - 25 , 30 , 33 . A maioria dos estudos desenvolveram cartilhas educativas para promoção do autocuidado e prevenção de agravos à saúde da mulher nas fases reprodutiva, gestacional e puerperal, uma vez que abordaram as seguintes temáticas: saúde da gestante, saúde sexual e reprodutiva de mulheres estomizadas, câncer do colo de útero, endometriose, vacina contra papilomavírus humano e amamentação no período pós-parto17 , 20 , 22 , 24 , 30 , 33 . Todos os estudos traziam a relevância do uso das tecnologias criadas para a aquisição de conhecimento, que, por sua vez, subsidiara o empoderamento no autocuidado do público alvo17 , 20 - 22 , 24 , 30 , 33 .
Dois estudos desenvolveram ferramentas/instrumentos de baixa e alta fidelidade enquanto tecnologias inovadoras para educação e orientação. O estudo de Abissulo propôs o uso de simuladores realísticos, confeccionados artesanalmente, de baixo custo e manutenção, para orientar as puérperas sobre aleitamento materno. Sua utilização alterou o conhecimento e o desempenho das puérperas sobre o manejo do aleitamento materno, suprimindo as dificuldades evidenciadas por elas durante esse processo23 . Já o estudo de Silva e Machado apresentou um novo tipo de gestograma como tecnologia de promoção da saúde, com a finalidade permitir à gestante o acompanhamento de sua gestação por meio das informações impressas no instrumento. Os autores buscaram criar e/ou aprimorar instrumentos que permitissem suprir dúvidas das usuárias acerca de saúde28 .
Ainda com foco nas tecnologias leve-dura, dois estudos apresentaram seus protocolos assistenciais direcionados a consulta de enfermagem no pré-natal e aos cuidados de enfermagem na sala de pré-parto, parto e puerpério (PPP). Consideraram-se protocolos estruturados com qualidade técnica e científica, sendo validados em conteúdo e aparência por especialistas, indicando-se, portanto, suas utilizações na prática de enfermagem na ESF e nas maternidades18 , 21 .
Outro estudo selecionado tinha como cerne o desenvolvimento e a avaliação de uma tecnologia assistiva, cujo prisma era os métodos contraceptivos comportamentais para mulheres cegas16 . Tecnologia assistiva, segundo Bersch e Pelosi, é o termo usado para nomear o grupo de aparatos e técnicas que promovam ou amplifiquem aptidões funcionais de Pessoas com Deficiência (PcD) e idosos, proporcionando a maximização da independência, qualidade de vida e inclusão social36. O manual apresenta texto em Braile e em tinta, com figuras em alto relevo acompanhados de descrição simples, clara e objetiva16 .
O estudo de Primo e Brandão25 descreve a criação de uma teoria de médio alcance fundamentada no Modelo Conceitual de Sistemas Abertos de Imogene King e os princípios do método de amamentar. Por apresentar fundamento em um modelo conceitual da enfermagem e apresentar uma característica de abstração, essa tecnologia pode ser implementada nos diferentes contextos da comunidade, uma vez que conceitua a amamentação de forma ampla, dinâmica e processual, além de contribuir para a ciência da enfermagem.
Vale ressaltar que a maioria dos estudos passou por diferentes fases de desenvolvimento até serem validados ou avaliados por juízes especialistas da área de enfermagem, de outras ciências, e de usuários. Usando essas tecnologias, a enfermagem, até mesmo outros profissionais, poderão oferecer suporte educacional e técnico no manejo e conduta de uma gama de situações que envolvem a saúde da mulher.
Estudos com foco em Tecnologia Dura
Nesta categoria, sete estudos foram eleitos conforme seu cerne no desenvolvimento e/ou validação de aplicativos móveis. Nessa categoria, três APP têm como objetivo auxiliar as grávidas interessadas em conseguir informações sobre a fase gravídica e o autocuidado no controle da pressão arterial27 - 28 , 31 . Outros três estudos desenvolveram hipermídias que têm como finalidade apresentar o processo de criação e validação de tecnologias para o apoio do processo ensino-aprendizagem da consulta e da assistência de enfermagem em ginecologia, pré-natal e amamentação14 - 15 , 26 .
Um estudo visou validar uma tecnologia assistiva denominada “Construir para aprender a usar o preservativo feminino” para mulheres com deficiência visual. A TA apresentou em todos os itens avaliados pelos juízes especialistas um nível de concordância de 70%. Dessa forma, foi validada e classificada como adequada, ou seja, é uma ferramenta inovadora e de baixo custo que pode auxiliar mulheres deficientes visuais quanto ao manuseio do preservativo feminino19 .
As informações examinadas nesta revisão mostraram que os estudos na vertente de pesquisa de tecnologias inovadoras aplicadas no contexto da saúde da mulher no Brasil é uma área nova e em progressiva ascensão. Os estudos identificados entre os anos de 2009 e 2019 apresentaram maior centralização no ano de 2019 com cinco estudos. Se observou uma ampliação das publicações significativas no que se refere ao objeto de pesquisa ao longo dos anos estudados e julga-se que esse número será ainda mais significativo nos próximos anos, uma consequência da popularização da internet e das tecnologias móveis.
A análise das publicações evidenciou que a categoria tecnológica mais focada no desenvolvimento de instrumentos assistências, educacionais e de ensino foi a tecnologia leve-dura com doze estudos, que segundo Merhy, integra o conjunto e conhecimentos estruturados e retratados pelos princípios que são empregados na saúde. As temáticas que foram tratadas exclusivamente dizem respeito a assistência e a educação4 .
No meio dos estudos examinados fora possível reconhecer três aplicativos que focam como público final as mulheres e os profissionais de enfermagem. A construção de APP, seja para dar apoio a mulher ou ao profissional enfermeiro, é passível de ser evidenciada como um espaço a ser melhor investigado. Uma das qualidades marcantes dos celulares inteligentes é a usabilidade quanto a resolução de tarefas, seja qual for a fase do dia, uma vez que esta tecnologia se faz acessível 24 horas, podendo ser transportada e manuseada em qualquer lugar. No que diz respeito a ciência enfermagem, esta característica dos dispositivos móveis pode representar um relevante auxílio na disseminação de informações e qualificação das boas práticas nos contextos do ensino, da pesquisa e da assistência.
CONCLUSÕES
A maior parte dos estudos eleitos tinha como foco o desenvolvimento de tecnologia leve e leve-dura com abordagem na educação em saúde desse público, o que destaca o esforço dos profissionais em tornar a mulher protagonista de todas as fases de sua vida.
Ainda que exista discreto quantitativo de estudos desenvolvidos no Brasil sobre essa temática, nota-se uma evolução contínuo ao longo da década analisada. Todavia, nota-se que os pesquisadores e as tecnologias duras concentram a maior parte de seus objetivos na fase reprodutiva e gestacional da mulher, não observando que o cenário de morbimortalidade desse público, seja a nível mundial ou nacional, perpassa por complicações evitáveis relacionadas à gestação, ao parto e ao puerpério.
O levantamento dos estudos evidenciou que existe uma ascensão de pesquisas com foco na promoção, prevenção e reabilitação da mulher por intermédio das mais diversas tecnologias em saúde, seja do acolhimento a esse público ao mundo virtual da web . No entanto, deve-se destacar que qualquer modalidade tecnológica deve passar por análise e testagem de profissionais qualificados e que conheçam a real necessidade do público alvo, uma vez que o produto final será coerente a demanda pela qual foi criado, testado na pesquisa e implementado na prática.
Para as pesquisas futuras, sugere-se que, além das tecnologias identificadas, torna-se necessário explorar ainda mais as tecnologias classificadas como duras, especificamente as tecnologias informatizadas em dispositivos móveis, a julgar pelo atual cenário da era digital em que a adoção de tecnologias para o cuidado proporciona maior resolubilidade, agilidade e segurança na avaliação do cliente, além da coleta, manuseio e armazenamento de dados.