Introdução
A Organização Mundial da saúde considera como pessoa idosa aquela com mais de 60 anos, em países em desenvolvimento, e com mais de 65 anos em países desenvolvidos 1 . A população idosa vem crescendo exponencialmente nos últimos anos sendo resultado da queda de indicadores como fecundidade e natalidade 2 . Além disso, o avanço da medicina e a incorporação de novas tecnologias de saúde ocasionou a queda acentuada da mortalidade por causas agudas, favorecendo o aumento da expectativa de vida 3 .
O envelhecimento é um processo natural, contínuo e progressivo que engloba aspectos fisiológicos, psicológicos e sociais, sendo que o contexto em que a pessoa vive impacta diretamente na forma de envelhecer, tornando o heterogêneo e individual 4 .
Esse processo vem ocupando um grande espaço nas discussões das políticas públicas, uma vez que são necessárias adequações para assegurar a autonomia e independência dessa população, especialmente quando se trata da população mais idosa, ou seja, com idade igual ou superior a 80 anos, visto que estes encontram-se ainda mais expostos às doenças crônico-degenerativas e às demais alterações decorrentes desta fase da vida, o que contribui para o comprometimento de sua autonomia e independência 5 . Essa população representa o segmento que mais cresce nos últimos tempos. De 170,7 mil pessoas, em 1940, passou para 2,9 milhões em 2010, representando 14,3% da população idosa e 1,5% da população total 6 .
Considerando-se que com avanço da idade a presença de doenças e as alterações do processo de envelhecimento tornam-se mais frequentes e intensas. A dor, muitas vezes consequência desses problemas, apresenta alta prevalência nesta população 7 . Define-se dor como uma experiência sensorial e/ou emocional, que compreende elementos afetivos, cognitivos e comportamentais, podendo ser proveniente de aspectos: sociais, físicos, étnicos, psicológicos, culturais e ambientais 8 .
Esta apresenta-se como um problema de saúde pública mundial, uma vez que pode potencializar ou promover incapacidades no indivíduo, afetando sua vida e repercutindo em diferentes aspectos, incluindo psicológicos, sociais e econômicos 9 - 11 .
Dentre os diferentes tipos de dor, a dor crônica é a que mais acomete a população idosa acima de 80 anos. A dor crônica é aquela que possui duração acima de 30 dias e aumenta sua prevalência progressiva e proporcionalmente ao aumento da idade 12 . Em todo o mundo, sua prevalência varia de 48 a 83% nessa população, sendo 51,4% no Brasil 13, configurando-se como um dos principais motivos pelos quais os idosos procuram o serviço de saúde 11 .
É valido ressaltar, ainda, que na cidade de São Paulo observou-se a prevalência de 29,7% de dor crônica em sua população idosa, sendo associada a incapacidades funcionais para as Atividades de Vida Diária (AVD) e, consequentemente, para a perda de autonomia 7, 12 .
Considerando a dor no idoso como, na maioria das vezes, decorrência das alterações do processo de envelhecimento, sua interferência na autonomia e realização das AVD, bem como o importante crescimento da população acima de 80 anos, questiona-se: qual a frequência da presença de dor em mais idosos? Quais as estratégias de enfrentamento que eles utilizam? Propõe-se como objetivo para o presente estudo descrever a presença de dor, suas características e as formas de enfrentamento entre idosos acima de 80 anos.
Material e Método
Trata-se de um estudo transversal e descritivo, realizado com idosos acima de 80 anos, residentes da comunidade, na cidade de Marilia, localizada no interior do Estado de São Paulo, com uma população de 216.745 habitantes, da qual 13,6% são idosos 14 . A rede básica de saúde do município é constituída por 12 Unidades Básicas de Saúde (UBS) e 39 Unidades de Saúde da Família (USF), as quais se constituem como porta de entrada ao sistema de saúde 15 .
Para a coleta de dados foi selecionada a área de abrangência da USF que contém o maior número de idosos, a qual possui um total de 2776 usuários cadastrados, contando com 1690 domicílios, destes 1684 estão localizados na região urbana e seis na região rural do território. A unidade conta com 150 idosos com oitenta anos ou mais cadastrados, sendo 52 do sexo masculinos e 98 do sexo feminino.
Os critérios de inclusão foram: ter 80 anos ou mais; residir no território de abrangência da USF selecionada e ter capacidade cognitiva para responder o questionário. Foram excluídos os idosos que apresentaram comprometimento cognitivo que os impossibilitaram de responder aos questionamentos e aqueles que não foram encontrados na residência após três tentativas consecutivas de contato. Para verificação do comprometimento cognitivo dos idosos, foi considerado a avaliação subjetiva dos Agentes Comunitários de Saúde sobre a capacidade do idoso em responder aos questionamentos constantes no instrumento de coleta de dados, considerando o vínculo existente entre esses profissionais e os idosos.
Para a coleta de dados foi elaborado um roteiro contendo dados sociodemográficos baseado no IBGE, incluindo: sexo, idade, estado civil, escolaridade, cor, principal fonte de renda e classe socioeconômica que pertence. Em relação à classe socioeconômica foi utilizado o Critério de Classificação Econômica Brasil - CCEB, versão 2014. Este critério atribui pontos à presença e quantidade de alguns itens constantes no domicilio e o grau de instrução do chefe da família. As classes consideradas pelo CCEB classificam-se em A1, correspondente a 42 a 46 pontos, A2 (35 a 41 pontos), B1 (29 a 34 pontos), B2 (23 a 28 pontos), C1 (18 a 22 pontos), C2 (14 a 17 pontos), D (8 a 13 pontos) e E (0 a 7 pontos) 16 . Além das variáveis de caracterização, foi utilizado o Inventário Resumido da Dor, na versão portuguesa do Brief Pain Inventory (BPI) 17, 18 .
O BPI é um instrumento multidimensional, com escala de 0-10, que permite graduar: a intensidade da dor; sua interferência na habilidade de deambular, atividades diárias, no trabalho, atividades sociais, humor e sono. Por ser um instrumento de avaliação multidimensional, possibilita avaliar a dor em diferentes aspectos como sua localização, intensidade, comparação das diferentes intensidades da dor, o impacto no cotidiano do indivíduo e avalia os tratamentos medicamentosos e não medicamentosos; bem como o alívio trazido pelos mesmos, por meio de uma análise na qual 0% representa nenhum alívio e 100% alívio completo 19 . Para qualificar a dor através das pontuações, foi utilizada a classificação da escala analógica visual (EVA), a escala numérica que avalia a intensidade da dor conforme a pontuação atribuída de 0 a 10 20 associada ao Inventário Resumido da Dor.
A coleta de dados foi realizada de fevereiro a agosto de 2019, por meio de visitas às residências dos idosos, por um estudante de Enfermagem e um de Medicina, devidamente uniformizados e identificados. Foram treinados por uma doutoranda, a partir de um teste piloto com os instrumentos citados acima. Os dados foram digitados em uma planilha eletrônica no programa Excel, versão 2010, e apresentados na forma de tabelas. Foram utilizadas tabelas de distribuição de frequências e porcentagens.
A variável independente foi a presença de dor e as variáveis dependentes foram o nível da dor e a interferência da dor. As análises estatísticas foram realizadas com o software SPSS versão 17.0. As análises inferenciais foram realizadas por meio do Teste G de contigência. Em todas as conclusões obtidas pelas análises inferenciais utilizou-se o nível de significância α igual a 5% (p ≤ 0,05).
A pesquisa foi submetida à apreciação do Comitê de Ética em Pesquisa Envolvendo Seres Humanos da Faculdade de Medicina de Marilia (FAMEMA), sendo aprovada segundo o parecer nº 2.739.985.
Os idosos que aceitaram participar da pesquisa assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, no qual deram seu consentimento para divulgação dos resultados, sendo garantido seu anonimato.
Resultados
Do total de 150 idosos, maiores de 80 anos da área de abrangência da USF, a amostra final contou com 60 idosos. Houve perdas devido a dificuldades de acesso aos condomínios, mudanças de território, óbitos, recusa e por não atenderem os critérios de inclusão do estudo.
A tabela 1 apresenta os dados de caracterização da população estudada e presença da dor.
Variáveis | Idade M ± DE | % N |
---|---|---|
Sexo | ||
Masculino | 84,19± 4,06 | 35,00(21) |
Feminino | 85,82± 5,01 | 65,00(39) |
Estado conjugal | ||
Vive sem o companheiro | 86,19± 4,96 | 68,33(41) |
Vive com companheiro | 83,21± 3,49 | 31,66(19) |
Cor/Raça | ||
Branca | 85,56± 4,91 | 80,00(48) |
Preta/parda | 84,37± 4,44 | 13,33(8) |
Indígena/amarela | 83,25± 2,75 | 6,66(4) |
Escolaridade | ||
Analfabeto | 84,33± 5,41 | 11,66(7) |
Primário incompleto/completo | 86,02± 5,10 | 56,66(34) |
Ginasial incompleto/completo | 83.00± 2,19 | 10,00(6) |
Colegial incompleto/completo | 84,80± 5,07 | 8,33(5) |
Ensino superior | 84,50± 3,93 | 13,33(8) |
Ocupação atual | ||
Sem ocupação | 85,84± 5,29 | 63,33(38) |
Comerciante | 85,33± 3,06 | 5,00(3) |
Do lar | 84,16± 3,60 | 30,00(18) |
Outro | 82,00± 0 | 1,66(1) |
Renda | ||
Aposentadoria | 85,39± 4,89 | 71,66(43) |
Ocupação atual | 82,00± 0 | 1,66(1) |
Outros | 85,06± 4,49 | 26,66(16) |
Classe econômica | ||
A2 | 88,00± 8,48 | 3,33(2) |
B1 | 85,15± 4,06 | 21,66(13) |
B2 | 85,44± 4,59 | 30,00(18) |
C1 | 85,21± 5,44 | 23.33(14) |
C2 | 84,88± 4,86 | 15,00(9) |
D | 84,25± 5,68 | 6,66(4) |
Presença de dor | ||
Sim | 85,26± 4,82 | 70,00(45) |
Não | 85,20± 4,60 | 25,00(15) |
Fonte: Dados da pesquisa
Quanto a localização da dor, dos 45 idosos que relataram apresentar na última semana, observou-se mais de uma resposta por idoso, sendo que a maioria dos participantes a localizavam nos membros inferiores (N=34; 36%), na coluna vertebral (N=24; 26%), nos membros superiores (N=18; 19%); cabeça e pescoço (N=9; 10%); abdome (N=7; 7%) e tórax (N=2; 2%).
Segundo a classificação utilizada, a maioria dos participantes apresenta dor moderada. Nenhum idoso atingiu os critérios previamente definidos para dor intensa. Quanto a interferência da dor nas atividades, dos 45 idosos que relatam apresentar dor na última semana, encontra-se que a dor interfere de forma moderada ou intensa na realização das atividades gerais, na disposição, na capacidade de andar a pé e no trabalho normal. Além disso, ela interfere em 39% e 24%, de forma moderada ou grave, no sono e no prazer de viver, respectivamente, ( tabela 2 ).
Sem interferência (0) | Leve (1-2) | Moderada (3-7) | Grave (8-10) | Valor p* | |
---|---|---|---|---|---|
|
|||||
N (%) | N (%) | N (%) | N (%) | ||
Nível da dor | (55) | (41) | (70) | (10) | 0,01 |
Máximo durante a última semana | 0 | 3 (7,32) | 32 (45,71) | 9 (90,00) | |
Mínimo durante a última semana | 14 (25,45) | 19 (46,34) | 11 (15,71) | 0 | |
Médio durante a última semana | 10 (18,18) | 13 (31,71) | 20 (28,57) | 1 (10,00) | |
Dor neste preciso momento | 31 (56,36) | 6 (14,63) | 7 (10,00) | 0 | |
| |||||
Interferência da dor | 0,01 | ||||
Atividades Gerais | 13 (8,44) | 1 (5,89) | 14 (25,00) | 16 (9,75) | |
Disposição | 16 (10,39) | 2 (11,76) | 16 (28,57) | 10 (12,34) | |
Capacidade para andar a pé | 18 (11,69) | 3 (17,65) | 8 (14,28) | 15 (18,52) | |
Trabalho normal | 19 (12,34) | 1 (5,89) | 8 (14,28) | 16 (19,75) | |
Relações com outras pessoas | 35 (22,73) | 3 (17,65) | 1 (1,78) | 5 (6,17) | |
Sono | 22 (14,28) | 5 (29,41) | 3 (5,36) | 14 (17,28) | |
Prazer de viver | 31 (20,13) | 2 (11,76) | 6 (10,71) | 5 (6,17) |
*Teste G de contingência
Constatou-se associação positiva entre a presença de dor, tanto o nível (p< 0,01) quanto a interferência da dor (p> 0,01). Observa-se predomínio de nível de dor "máximo durante a última semana" para a presença de dor "grave". Observa-se, também, predomínio de interferência de dor "leve" para a presença de dor "leve".
Foi constatado que 32% dos idosos utilizam métodos farmacológicos para o alívio da dor e 48% em associação com métodos não farmacológicos, sendo que, independentemente do método escolhido, a maioria relatou a melhora de 100% do sintoma ( Tabela 3 ). Quanto as terapias farmacológicas utilizadas com indicação médica ou não, os mais utilizados são a dipirona®, o paracetamol® e os anti-inflamatórios não hormonais. Entretanto, a dipirona® demonstra ser o princípio ativo mais prevalente no tratamento dos idosos, seja isoladamente ou em associação com outras substâncias analgésicas.
Método | Grau de alivio da dor em porcentagem | Total | % | ||||||||||
---|---|---|---|---|---|---|---|---|---|---|---|---|---|
0 | 10 | 20 | 30 | 40 | 50 | 60 | 70 | 80 | 90 | 100 | |||
Farmacológico | 0 | 0 | 0 | 0 | 0 | 1 | 2 | 3 | 1 | 0 | 7 | 14 | 31,81 |
Não farmacológico | 0 | 0 | 0 | 0 | 0 | 0 | 0 | 0 | 0 | 1 | 6 | 7 | 15,90 |
Associação | 0 | 1 | 2 | 0 | 1 | 2 | 0 | 4 | 3 | 1 | 7 | 21 | 47,72 |
Nenhum método | 0 | 0 | 0 | 0 | 0 | 0 | 0 | 0 | 0 | 0 | 2 | 2 | 4,54 |
Total | 0 | 1 | 2 | 0 | 1 | 3 | 2 | 7 | 4 | 2 | 22 | 44 | 100,00 |
Fonte: Dados da pesquisa
Discussão
A partir dos resultados fica evidente a presença de dor na população em questão, a qual tem como características principais: ser do sexo feminino, com ensino primário completo/incompleto e viver sem o companheiro. Husky et al. 19 relatam o maior risco de dor crônica nas mulheres em todas as faixas de idade em comparação com os homens. Assim como identificado em estudo realizado no sul do Brasil, em que a dor crônica estava presente em 58,2% dos idosos, a ocorrência entre as mulheres foi significativamente maior 21 .
O fator educação merece destaque, uma vez que influencia diretamente no acesso à informação, podendo ser um determinante na condução para uma melhora na dor referida 22 .
Há relatos ressaltando a relação entre o aspecto socioeconômico e este sintoma, sendo a população hipossuficiente, normalmente engajada em serviços que possuem alta carga de trabalho físico pesado, envolvendo elevação e transporte de materiais; a mais atingida por esse quadro 11 .
Associa-se ainda à população mais pobre uma habitação insalubre, inserção em um ambiente ruidoso, presença de poluição, acesso à água, higiene e saneamento prejudicados, propiciando quadros de doenças infecciosas e maiores episódios de estresse, principalmente por idosos que diante da diminuição de suas capacidades funcionais, ficam impossibilitados de levar uma rotina saudável 11 . Entretanto, a maioria dos idosos do presente estudo pertencem às classes B2 (30%), C1 (23%) e B1 (22%).
Além do mais, as condições sociodemográficas e os determinantes culturais influenciam a crença sobre a dor, uma vez que pacientes que cursaram o ensino médio completo ou ensino superior têm maior índice de crença de dor na dimensão orgânica. Diferentemente da crença orgânica da dor, há a crença psicológica, que é composta por influências e sentimentos internos que impactam diretamente no bem estar, pois induz sentimentos que afetam negativamente a sua permanência e intensidade, bem como a eficácia das abordagens de controle do sintoma 23 .
Os idosos relatam, frequentemente, episódios diários de dor moderada/intensa que geralmente prolonga-se por anos, comprometendo sua mobilidade e impactando negativamente no desenvolvimento diário das atividades básicas e instrumentais de vida. A dor, então, dificulta consideravelmente a autonomia do idoso no desempenho de suas atividades 24 .
Entre os idosos entrevistados, 73% relataram dor durante a última semana, corroborando com o estudo que evidenciou em uma população entre 18 e 98 anos (38,3%) a presença da dor crônica, com maior prevalência na faixa etária de 70 a 79 anos, seguida da faixa de 80 a 98 anos 21 . No Brasil, um estudo destacou que 58,2% dos idosos apresentaram essa queixa 21, fato este que condiz com a presente investigação.
A dor lombar e nos membros inferiores foi a mais encontrada entre os idosos, o que reforça com o estudo realizado em 330 idosos longevos da cidade de São Paulo 25 . Uma revisão sistemática sobre a prevalência de dor lombar entre idosos brasileiros mostra estimativas de prevalência desse sintoma em 36% do idosos de 65 ou mais anos de idade 26 . Da mesma forma, a dor em membros inferiores, especialmente no joelho, frequente entre os idosos, decorre de alterações musculares e articulares oriundas do processo de envelhecimento 27 .
É valido ressaltar, ainda, que a dor é uma das principais causas de polifarmácia e iatrogênia terapêutica em idosos 24 . O envelhecimento traz consigo uma diminuição da reserva funcional do organismo e doenças típicas da idade, levando ao consumo de diversos tipos de medicamentos. As mudanças orgânicas decorrentes desse processo modificam a farmacocinética e farmacodinâmica das drogas, o que expõe os idosos aos ricos decorrentes da interação medicamentosa e de seus efeitos indesejáveis 22, 28, 29 .
Em detrimento deste tipo de tratamento, as terapias não farmacológicas para alivio da dor, que podem ser definidas como um conjunto de práticas e produtos de saúde que não são inclusos na medicina convencional, compondo um grupo de ações integrantes da medicina alternativa ou complementar, apresentam-se como uma alternativa segura, equilibrada, não invasiva, bem tolerada por parte da população e que possui um custo-efetividade muito baixo comparado às terapias farmacológicas 28, 29, sendo este método adotado por 16% dos entrevistados.
A maioria dos entrevistados adota o uso de métodos farmacológicos, seja isoladamente ou em associação com outras terapias. Peixoto 29 e Junior et al. 30 encontraram que a associação dos métodos tem apresentado efeitos positivos na evolução da dor, pois as ações não farmacológicas tendem a potencializar os efeitos farmacológicos de medicamentos sem que seja necessário um aumento da dose e, assim, diminuindo os efeitos colaterais.
Embora a população idosa tenha apresentado um aumento crescente na inclusão dos métodos não farmacológicos em suas terapias, os mesmos são confrontados com barreiras que incluem a presença de doenças crônicas, mobilidade restrita ou ausente, depressão e medo de agravamento dos sintomas. Além disso, condições externas, incluindo falta de recursos para transporte, condição econômica desfavorável e ambiente dificultoso para a realização de tais atividades, impedem adesão a essas estratégias 29 . Ressalta-se, entretanto, que especialmente a atividade física exerce importante influencia na presença e intensidade da dor entre idosos 21 .
Ressalta-se, também, que a maioria dos idosos relataram a interferência da dor para a realização de suas AVD. Este resultado merece atenção uma vez que a realização das atividades de vida diária influencia positivamente na percepção do estado de saúde e no bem-estar psicossocial 23 .
A maioria dos entrevistados no presente estudo relatou não sentir interferência da dor nas suas relações com outras pessoas sendo essa percepção valiosa, pois a manutenção do bem-estar psicológico depende do potencial das relações com outras pessoas, a autonomia, estabelecimento de objetivos de vida e a auto-aceitação 23 . Contudo, ressalta-se a importância de avaliar os componentes físicos, psicológicos, aspectos sociais e crenças a fim de compreender como o idoso percebe sua dor e se adapta a ela, direcionando o cuidado à manutenção da sua autoestima e autonomia, visto que o sofrimento psíquico experenciado pelas relações de dependência funcional na dor é moderado/grave 8 .
Nesta perspectiva, o enfermeiro pode utilizar de estratégias de autoeficácia, habilidades de controle e enfrentamento da dor para contribuir com a manutenção do bem-estar psicológico do idoso, uma vez que emoções positivas têm efeito protetor no desenvolvimento da dor crônica 23 . Assim, o enfrentamento dessa por tal parcela da população requer uma abordagem multifatorial e integral envolvendo o cuidado interdisciplinar e o apoio da família.
Mesmo assim, acredita-se que os resultados aqui apresentados permitem reflexões importantes sobre a presença de dor que se refere a uma condição limitante para o idoso. Trata-se, portanto de uma condição que precisa ser constantemente avaliada, pois é uma das mais importantes causas de morbidade e, consequentemente, diminuição da qualidade de vida, devido às limitações das atividades da vida diária.
Conclusões
Os idosos com 80 anos ou mais relatam a presença de dor em diferentes partes do corpo, sendo que os mesmos utilizam medidas farmacológicas e não farmacológicas para seu alívio com resultado satisfatório.
Quanto a localização da dor, observou-se que a maioria dos participantes localizavam nos membros inferiores, seguida da coluna vertebral.
Devido aos impactos do sintoma nesta população, é possível avaliar a necessidade de uma abordagem multidisciplinar e ampliada, deixando de lado estigmas que norteiam a população idosa e impedem que haja um olhar voltado para a sua integralidade seja executado. Nesta perspectiva salienta-se os benefícios das medidas não farmacológicas para essa parcela da população com vistas à redução do uso contínuo de medicamentos, bem como de seus efeitos indesejáveis.
As dificuldades para localização do idoso devido a dados desatualizados e de abordagem dos idosos por residirem em condomínios fechados, bem como o fato de ter realizado o estudo em uma única unidade de saúde, mostraram-se como uma limitação da presente investigação.