INTRODUÇÃO
Desde o Iluminismo e, posteriormente, a Revolução Industrial e Francesa, o caráter científico se acentuou-se expressivamente nas sociedades. Nesta perspectiva, é de suma importância ressaltar que a informação, principalmente relativa à tecnologia cumpre um papel fundamental na gestão estratégica de centros de pesquisa, desenvolvimento e inovação e, corroborando constantemente o processo epistemológico da ciência. Não obstante, ao se retratar do caráter científico atual, vive-se uma crise pandémica declarada pela Organização Mundial da Saúde (OMS) perante o novo coronavírus, causando a doença COVID-19, ou doença respiratória de 2019-n-COV caracterizada por infecção respiratória aguda (IRA) e nos casos de maiores consequências a síndrome respiratória aguda grave (SARS), causada pelo SARS-CoV-2. Este é um dos sete coronavírus identificados, sendo assim como o MERS-CoV que foi identificado em 2012 como a causa da síndrome respiratória do Oriente Médio (MERS) e o SARS-CoV foi identificado em 2002 como a causa de um surto da síndrome respiratória aguda grave (SARS), os causadores de doenças em humanos [1-6].
Os vírus são considerados os agentes etiológicos predominantes em IRA, sejam como patógenos principais ou predispondo indivíduos a infecções bacterianas secundárias. Manifestações clínicas graves associadas a doenças do trato respiratório inferior são frequentemente observadas em indivíduos com fatores de risco tais como: cardiopatia, pneumopatia e outras condições crônicas como diabetes, obesidade e asma [7]. E são o microrganismo responsáveis pela COVID-19.
A doença COVID-19 fez a Organização Mundial da Saúde (OMS) declarar o novo coronavírus (SARS-CoV-2) uma pandemia devido ao alcance de grande região geográfica [8]. Outras doenças infecciosas ao longo da história da sociedade têm se classificado dessa forma sendo destaque as enfermidades de características virais tal como: a gripe espanhola (1908-1909) emergente na gripe suína (2009) causada pelo vírus H1N1 e o ebola [9], bastante noticiadas. As patologias associadas a pandemias destacam-se pela imprevisibilidade, estando associada ao surgimento de fatores múltiplos e complexos que criam condições para o aumento da proporção de populações atingidas ou elevam a sua exposição aos agentes [10]. As doenças de escala global têm de característica principal a fácil disseminação por circulação de pessoas ou objetos infectados [11]. Outra difusão preocupante acontece entre os profissionais que agem diretamente sobre as pessoas acometida pelo patógeno, os trabalhadores da área de saúde. A fim de reduzir os impactos nestes o uso dos antissépticos no controle da difusão de microrganismos é essencial.
A OMS define como antissépticas substâncias que desinfetam, inibindo parcialmente ou totalmente, o desenvolvimento de microrganismos sobre tecidos vivos sem causar danos [11,12]. O desenvolvimento e produção de insumos antissépticos [13] são partes importantes no enfretamento de crises de saúde coletiva em emergências. No caso da COVID- 19, as identificações de alternativas antissépticas favorecem a adoção de medidas de prevenção, o que favorece na redução da contaminação comunitária pois a doença é de forte transmissão por contato próximo ou por secreções produzidas durante os episódios de tosse, espirros e coriza quando comparada a outras apresentações do coronavírus [14]. Os antissépticos, portanto, são parte de uma ação de promoção da saúde pública pela higienização das mãos e parte da etiqueta social respiratória.
A Guia de higiene das mãos e cuidados da saúde indica alguns compostos da família química do álcool (etanol e n-propanol), o cloroxilenol, clorexidina, hexaclorofeno, iodo e iodóforos, triclosan e compostos quaternários de amônio em soluções em concentrações específicas combinados ou não [11,12]. A eficiência deste frente aos possíveis patógenos é apresentado conforme a tabela 1.
Tabela 1 Descrição da eficiência antimicrobiana de compostos antissépticos descritos pela Organização Mundial da Saúde (OMS).
Antisséptico | Bactérias Gram-positiva | Bactérias Gram-negativas | Vírus encapsulados | Vírusnáo encapsulados | .Microbactérias | Fungos | Esporos |
---|---|---|---|---|---|---|---|
Álcoois | +++ | +++ | +++ | ++ | +++ | +++ | . |
Clorexidina | +++ | ++ | ++ | + | + | +· | . |
Cloroxilenol | +++ | + | + | ± | + | + | . |
Hexadorofeno* | +++ | + | ? | ? | + | + | . |
Iodóforos | +++ | +++ | ++ | ++ | ++ | ++ | ±' |
Tridosan | +++ | ++ | ? | ? | ± | ±' | . |
Compostos de quaternário de amónio | ++ | + | + | + | ? | ± | . |
Legenda: bom = + ++, moderado = ++, ruim = +, variável= ±, nenhum = * a atividade varia de acordo com a concentração [1,20,21].
A ação dos antissépticos se apresentaram significativa de um modo geral para bactérias, no entanto limitada para esporos e vírus. Esse último grupo de microrganismos o estudo indicou poucas informações e dos caracterizado concentrando-se os resultados entre ruim a moderado. A identificação de novas substâncias para aplicação e o estudo de eficiência dos antissépticos existentes é parte da construção da estrutura de apoio para enfretamento da disseminação de doenças infecciosas como à COVID-19 [12].
Esse trabalho busca fazer o levantamento de artigos e patentes referentes a substâncias e formulações de aplicação antisséptica já identificados para a possível aplicação no auxílio do controle do vírus SARS-Cov-2, colaborando para o direcionamento estratégico e estudos de novos compostos.
METODOLOGIA
A pesquisa de produções científicas relacionadas à temática usou a base ScienceDirect acessando a página 27. O rastreio foi realizado utilizando as palavras de busca da primeira coluna sendo adicionada para busca no título, resumo ou palavras chaves, em combinação individual com as palavras das outras colunas apresentadas na tabela 2. Nesta mostra-se a quantidade de resultados encontrados e observando o instante temporal de descoberta do coronavirus (1960-fevereiro de 2021) [7-17].
Tabela 2 Relação de escopo de dados buscados no levantamento bibliográfico.
Palavra de busca | Antimicrobial | Antiviral | Viruses | Corona | COVID-19 | Sars-CoV |
---|---|---|---|---|---|---|
Antiseptic | 3189 | 265 | 570 | 17 | 146 | 76 |
Decontamination human skin | 60 | 4 | 36 | 0 | 5 | 5 |
Chemical formulations | 6599 | 1356 | 4176 | 443 | 362 | 249 |
Os dados patentários foram buscados na base de dados WorldWide do Escritório Europeu de Patentes (EPO) [18], que compreende mais de 90 países. Foi utilizado o Software da Microsoft Excel®, na qual todos os documentos foram traduzidos para a língua inglesa e, posteriormente traduzidos para a língua portuguesa [17]. Os grupos de patentes foram baseados na data de prioridade do primeiro depósito.
A busca de dados foi feita no dia 27 de fevereiro de 2021 após identificado o código A61P31/02 relacionado a classificação de antissépticos locais como o relacionado a temática de estudo. Fazendo-se a combinação do código com as palavras "antimicrobial", "antiviral, "corona", "coronavírus" e "SARS-CoV", encontrou-se a quantidade de patentes conforme correlacionada na tabela 3. Sendo assim, fez-se uma análise qualifica e quantitativa da progressão tecnológica e das perspectivas para os estudos no campo do desenvolvimento de antissépticos antivirais com foco na identificação de possíveis alternativas para o uso no SARS-CoV-2.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
O estudo da maturidade tecnológica é um meio de avaliar a permeação na sociedade do conhecimento científico [17] sendo o nível de artigos e patentes estágios iniciais para o desenvolvimento de tecnologias ao alcance de uso na sociedade.
Os resultados de análise de artigos científicos mostraram que o desenvolvimento de antissépticos com foco em vírus corresponde a 1,5 % quando "antiviral" é o termo de busca e cerca de 3,2 % quando o termo de busca é "viroses", contudo desses apenas 0,4 % têm estudos direcionados para o SARS-CoV, primeiro vírus da família do Coronavírus identificado. Considerando o termo "formulação química" e "antiviral" o resultado é também 7,7 % do presente na base de dados pesquisada. Esse resultado indica limitada quantidade de estudos da identificação de novos e da eficiência de antissépticos frente ao grupo desse vírus mesmo diante dos significativos impactos desses microrganismos na saúde dos surtos que já ocorreram.
A temática antissépticos antiviral tem a quantidade de artigos publicados segundo apresentado na figura 1.

Figura 1 Quantidade de artigos publicados na base de artigos ScienceDirect [18] em intervalos de 5 anos (dados a partir de 1996). Não foram identificados artigos publicados com objeto de estudo antes de 1996.
A figura 1 indica uma ascensão no número de artigos publicados com essa temática. Os dados indicam um crescimento acentuado da busca por informações científicas com a descoberta do MERS-CoV em 2012 quando comparado ao de publicações com a identificação do SARS-CoV em 2002. Esse resultado pode ser consequência de maior preocupação no meio científico devido a maior letalidade do vírus MERS-CoV [19-21].
A prospecção patentária demonstra a transformação da pesquisa em produto tecnológico de acordo com a figura 2.

Figura 2 Quantidade de patentes e artigos publicados de modo acumulativo na base de dados Es-pacenet e ScienceDirect, respectivamente, a partir da pesquisa dos termos antisséptico e antiviral ou antisséptico e coronavírus (dados plotados a partir de 1996 tendo como referência o primeiro artigo disponível da base de dados ScienceDirect).
O desenvolvimento de tecnologia para antisséptico com propriedades antivirais mostra-se em crescimento mais sem uma evolução de características exponenciais, apresentando progressão significativa a partir de 2016 fato que pode ser consequência também do maior número de pesquisas sobre a temática conforme apresentado no gráfico 1. Analisando a combinação do termo de busca "antisséptico" com "antiviral" é possível perceber que até 2016 esse não era objeto de publicação significativa quando comparado ao observado para o período após 2016.
Os países em que foi aplicado à proteção da tecnologia para a temática são apresentados na figura 3.

Figura 3 Países aplicantes de proteção tecnológica na forma de patentes à temática antissépticos e antiviral. Destaca-se a maior quantidade de patentes depositadas na China, seguida do Japão e Estados Unidos.
Para esta busca verificou-se no Brasil quantitativos que indicam interesse pela proteção patentária nesta temática. As empresas aplicantes de tecnologia referente a antisséptico com aplicação antiviral segue na figura 4, sendo destacada apenas empresas com mais de uma patente depositada.

Figura 4 Principais depositantes de patentes relacionadas a tecnologias de produção de antisséptico com ação antiviral.
Entre os dados apresentados na figura 4 destacam-se companhias de tecnologia para a produção de produtos e inventores autônomos, percebendo-se pouca participação de indústrias farmacêuticas na quantidade de pedidos de proteção referente ao tema. Foi identificado as aplicações da tecnologia conforme áreas na figura 5.

Figura 5 Áreas de aplicação das tecnologias patenteadas a temática antissépticos contra vírus e a quantidade percentual de patentes depositadas.
O estudo das patentes indicou possuir 38 % da quantidade de destas direcionadas à aplicação humana. Observa-se também 16 % para uso veterinário e cerca de 46 % sem definição específica no depósito, de uso humano ou veterinário. Na análise dos títulos observou-se a descrição de 2 patentes para ação específica contra o vírus SARS-CoV-2 que atingem humanos. As áreas de setores desenvolvedores das tecnologias do tema são apresentadas na figura 6.

Figura 6 Áreas de setores desenvolvedores de estudos de antissépticos antivirais e as quantidades de patentes depositadas.
O campo da biotecnologia se destaca como setor da maioria das instituições depositantes de patentes com essa temática. A figura 7 demonstra a distribuição de depósito por setores.
Os dados da figura 7 indicam que até o quadro atual o setor empresarial seguido do acadêmico são os que mais se interessam pela proteção da tecnologia.
CONCLUSÃO
O estudo exploratório de artigos científicos e patentes depositadas mostraram que esses encontram-se em estágio inicial no desenvolvimento de tecnologias preventivas com antissépticos antivirais, sendo ainda poucos os dados específicos para o vírus SARS-CoV-2. Os dados patentários indicaram que o desenvolvimento dessa tecnologia esteve associado ao crescimento da demanda social observada com o caso do MERS-CoV.
A distribuição de depósitos de patentes é concentrada em alguns países mostrando que essa não foi uma preocupação global até o presente momento. Os estudos de antissépticos com aplicação antiviral e possível aplicação para o SARS-CoV-2 mostrou-se em estágio inicial. A maioria das patentes identificadas não especificam aplicação humana ou veterinária e há alguma possibilidade de produtos tecnológicos ainda não atribuídos a esse devido a necessidade de identificação de alternativas às tecnologias existentes.
As instituições que mais protegem as tecnologias são o setor empresarial e acadêmico podendo esse fato ser alterado devido a demanda da solução do problema pandêmico causado pelo SARS-CoV-2 requisitar ações de governo.