Services on Demand
Journal
Article
Indicators
- Cited by SciELO
- Access statistics
Related links
- Cited by Google
- Similars in SciELO
- Similars in Google
Share
Íkala, Revista de Lenguaje y Cultura
Print version ISSN 0123-3432
Íkala vol.20 no.2 Medellín May/Aug. 2015
https://doi.org/10.17533/udea.ikala.v20n2a05
METHODOLOGICAL ARTICLES
DOI: 10.17533/udea.ikala.v20n2a05
O Tratamento do Polimorfismo em Dicionários Gerais Monolíngues de Orientação Semasiológica*
El Tratamiento del Polimorfismo en Diccionarios Generales Monolingües de Orientación Semasiológica
The Treatment of Polymorphism in General Monolingual Dictionaries of Semasiological Orientation
Le Traitement de Polymorphismes dans des Dictionnaires Généraux Monolingues d'Orientation Sémasiologique
Myriam Lucía Chancí Arango*
* Professora do Magistério Superior Instituto de Letras e Artes –ILA Universidade Federal do Rio Grande– FURG Av. Itália km 8, Carreiros Rio Grande – RS 96203–900 Brasil E–mail: mylucha@hotmail.com
Received: 2014–06–23
Accepted: 2015–03–09
How to reference this article: Chancí Arango, M. L. (2015). O tratamento do polimorfismo em dicionários gerais monolíngues de orientação semasiológica. Ãkala, Revista de Lenguaje y Cultura, 20(2), 205–219. doi: 10.17533/udea.ikala.v20n2a05
RESUMO
Este trabalho faz uma análise do tratamento dado ao polimorfismo em verbetes de substantivos em dicionários gerais monolíngues de orientação semasiológica da tradição lexicográfica hispânica. Nosso objetivo é avaliar tal questão nessas obras não apenas em relação com a presença, disposição e localização das informações, mas também no tocante aos critérios empregados para se estabelecer as formas type e token. Para tal análise, lançamos mão, entre outros, dos postulados de Porto Dapena, Hausmann e Wiegand. Os resultados indicam que os dicionários analisados não se baseiam em um programa constante de informações (PCI) para a abordagem e apresentação estratégica das informações relativas às variantes ortográficas. Isto, necessariamente, termina comprometendo a qualidade de muitos segmentos, que acabam por oferecer informações pouco ou nada funcionais para o potencial usuário.
Palavras–chave: lexicografia, dicionários gerais monolíngues semasiológicos, microestrutura, polimorfismo
RESUMEN
Este trabajo hace un análisis del tratamiento que se le da al polimorfismo en artículos de sustantivos en diccionarios generales monolingües de orientación semasiológica de la tradición lexicográfica hispánica. Nuestro objetivo es evaluar el manejo de dicho asunto en esas obras no solo en relación con la presencia, disposición y localización de la información, sino también en lo concerniente a los criterios utilizados para establecer las formas type y token. Para tal análisis, utilizamos como soporte teórico, aunque no exclusivamente, los postulados de Porto Dapena, Hausmann y Wiegand. Los resultados indican que los diccionarios analizados no se basan en un programa constante de información (PCI) para abordar y presentar estratégicamente la información relativa a las variantes ortográficas. Esto, necesariamente, termina comprometiendo la calidad de muchos segmentos, que acaban ofreciéndole información poco o nada funcional al potencial usuario.
Palabras clave: lexicografía, diccionarios generales monolingües semasiológicos, microestructura, polimorfismo
ABSTRACT
This paper presents an analysis of the treatment given to polymorphism in entries of nouns in General monolingual dictionaries of semasiological orientation of the Hispanic lexicographical tradition. The goal of this research is to evaluate this issue in these works not only in relation to the presence, arrangement and location of the information, but also as regards the criteria used to establish the ''type'' and ''token'' items. For this analysis, the postulates of Porto Dapena, Hausmann and Wiegand were used as theoretical framework, although not exclusively. The results indicate that the analyzed dictionaries are not based on a microstructural information program (PCI, in Portuguese) to treat and strategically organize the information relating to spelling variants. This, necessarily, ends up compromising the quality of many segments of the lexicographical microstructure, which may turn out to provide little or no functional information to potential users.
Keywords: lexicography, General monolingual semasiological dictionaries, microstructure, polymorphism
RÉSUMÉ
Ce document fait une analyse du traitement du polymorphisme dans les entrées des substantifs dans les dictionnaires généraux monolingues d'orientation sémasiologique de tradition lexicographique hispanique. Notre objectif est d'évaluer cette question dans ces oeuvres, non seulement en ce qui concerne la présence, la fourniture et l'emplacement de l'information, mais également en ce qui concerne les critères retenus pour établir les formes type et token. Pour cette analyse, nous utilisons comme support théorique, bien que pas exclusivement, les postulats de Porto Dapena, Hausmann et Wiegand. Les résultats indiquent que les dictionnaires analysés ne reposent pas sur un programme constant d'information (PCI) pour l'approche et la disposition stratégique de l'information concernant les variantes orthographiques. Cela finit, nécessairement, par compromettre la qualité de nombreux segments, qui offrent peu ou pas d'information fonctionnelle pour l'usager potentiel.
Mots–clés: lexicographie, dictionnaires généraux monolingues sémasiologiques, microstructure, polymorphisme
Introdução
Desde o auge do interesse pelo objeto ''dicionário'', especialmente a partir da segunda metade do século XX, o número de estudos e estudiosos deste tipo de obras vem aumentando (Casares, 1950; Householder & Saporta, 1962; Quemada, 1967; Zgusta, 1971; Vilela, 1979; Porto Dapena, 1980; 2002; 2009; 2014; Haensch, Wolf, Ettinger, & Werner, 1982; Hausmann, Reichmann, Wiegand, & Zgusta, 1989–1991; Landau, 2001; Seco, 2003a; Hartmann, 2003; Rafel i Fontanals, 2005; Lara, 2006; Atkins & Rundell, 2008; Svensén, 2009; Wiegand & Fuentes Morán, 2009; Castillo Carballo & García Platero, 2010; Gouws, Heid, Schweickard & Wiegand, 2013). A lexicografia deixou de ser somente a arte de compor dicionários para ser também o estudo dos dicionários e de sua técnica. A fim de distinguir este 'estudo' desta 'técnica', visto que a habitual confusão das terminologias as chama da mesma forma, é frequente dar ao primeiro o nome de lexicografia teórica ou metalexicografia e à segunda lexicografia (Seco, 2003b, pp. 2–4).
Não obstante os avanços da metalexicografia, ainda subsistem numerosas questões teóricas a serem resolvidas, dentre as quais pode–se citar a elaboração de taxonomias mais abrangentes em distintas tradições lexicográficas, que interrelacionem os critérios funcional e linguístico; a definição macroestrutural quantitativa para estabelecer a densidade macroestrutural que os tipos de dicionários devem ter; a real funcionalidade de dois dos três componentes do outside matter ou textos externos: o middle matter ou textos internos e o back matter ou textos posteriores (Welker, 2005, p. 79); uma teoria da definição lexicográfica, que permita a formulação de paráfrases explanatórias suficientemente elucidativas, não somente para as palavras lexicais, mas também, e especialmente, para as palavras gramaticais, entre muitas outras questões.
Embora a microestrutura seja um dos componentes do dicionário dos que mais se têm ocupado os estudiosos1, também nela podem–se constatar aspectos lacunares que impedem sua definição rigorosa, porquanto ainda não existem modelos de programas constantes de informações (PCI) em correlação com variáveis como a definição taxonômica do dicionário, a função da obra, o perfil do usuário e a estrutura da língua descrita. Os postulados de Wiegand (1989a, 1989b) e Hausmann e Wiegand (1989) constituem uma das contribuições mais significativas das três últimas décadas no que se refere à concepção e à avaliação da microestrutura de dicionários semasiológicos; a discussão gerada por eles é retomada, seguida e ampliada em estudos posteriores que se estendem até hoje (Hartmann, 2001; Engelberg & Lemnitzer, 2001; Schlaefer, 2002; Gouws, 2003; Wiegand & Fuentes, 2009; Wiegand & Smit, 2013), além de ter sido e continuar sendo alicerce de diversas pesquisas (Bugueño, 2009; Farias, 2011).
Este artigo faz uma análise do tratamento dado ao polimorfismo em dicionários gerais monolíngues de orientação semasiológica da tradição lexicográfica hispânica. Nosso objetivo é avaliar tal questão nessas obras não apenas em relação com a presença, disposição e localização das informações, mas também no tocante aos critérios empregados para se estabelecer as formas type e token. A análise será feita em verbetes de substantivos escolhidos de DRAE2 (2001), DUEAEe (2003) e DUE (2007).
Caracterização da Microestrutura
Todo verbete de um dicionário geral monolíngue de orientação semasiológica está constituído de tópico e comento (Hausmann & Wiegand, 1989, p. 328) ou, em palavras de Porto Dapena (2002, p. 183), de enunciado e corpo do verbete, que, respectivamente, também podem ser considerados, em sentido amplo, tema e rema. O enunciado está formado pelo lema e, às vezes, por alguma terminação flexiva, variantes fonológicas e/ou gráficas, e indicações sobre a pronúncia (Porto Dapena et al., 2007, p. 27). Por sua vez, o corpo ou desenvolvimento do verbete está constituído pela parte informativa propriamente dita (Porto Dapena, 2002, p. 191). A microestrutura, portanto, é o conjunto das informações ordenadas de cada verbete e que, em princípio, responde ao programa previsto para a obra. Segundo a natureza e a função de tais informações, elas se organizam dentro do verbete em componentes textuais imediatos chamados de comentários (Wiegand, 1989b, p. 434; Wiegand & Fuentes, 2009, p. 52). Em um dicionário geral monolíngue, os comentários básicos são dois: o 'comentário sobre a forma', que contém todas as informações relativas ao lema enquanto significante, e o 'comentário semântico', que comporta todas as informações referentes ao lema enquanto significado.
Wiegand (1989b, p. 417) estabelece uma distinção entre microestrutura abstrata e microestrutura concreta. A microestrutura abstrata está constituída por um conjunto pré–determinado de tipos de informações suscetíveis de estarem presentes nos verbetes, correspondendo a um 'programa constante de informações', PCI. A microestrutura concreta, por sua vez, é a representação da microestrutura abstrata na obra lexicográfica, isto é, o conjunto de todas as informações linearmente organizadas no interior de cada verbete (Wiegand, 1989b, pp. 412–416). Daí que, em termos de microestrutura concreta, possa–se falar de um 'grau zero de informação' (Wiegand, 1989b, pp. 416–417) ou, a nível da microestrutura abstrata, de uma classe de 'indicação zero' (Wiegand & Fuentes, 2009, pp. 83–85). Em outras palavras, embora determinadas informações estejam contempladas no PCI, as mesmas podem não estar na representação concreta, devido às especificidades de cada lema. Assim sendo, cada classe de lema tem uma microestrutura abstrata diferente (Hausmann & Wiegand, 1989, p. 344), mas pode apresentar uma grande variedade empírica de microestruturas concretas.
Cada segmento microestrutural ao qual corresponde uma informação específica se denomina segmento informativo (Farias, 2011, p. 111). Os segmentos informativos de um verbete microestruturalmente organizado adquirem seu valor fundamentalmente pela disposição estratégica no interior da estrutura (Schlaefer, 2002, p. 85). No entanto, também é indispensável que esses segmentos sejam funcionais para o consulente, ou seja, efetivamente informativos. Para tal fim, é necessário que as informações apresentadas no verbete cumpram dois princípios estruturantes: que sejam discretas, isto é, que constituam fatos de norma; e que sejam discriminantes, ou seja, que proporcionem ao leitor algum proveito em relação ao uso ou ao conhecimento da língua (Bugueño & Farias, 2006, p. 118).
A discussão metalexicográfica dos últimos tempos centrou–se em determinar a classe de informações que poderiam fazer parte do verbete e as possíveis formas de organizá–las. Assim, por exemplo, Wiegand (1989a, p. 468) menciona noventa diferentes tipos de informações lexicográficas de caráter linguístico, passíveis de constituir segmentos informativos no PCI dos dicionários semasiológicos. Porém, ainda não existe consenso sobre os segmentos informativos que devem estar na microestrutura de um verbete segundo a classe de dicionário nem sobre o lugar que esses segmentos devem ocupar, apesar de Wiegand (1989b, p. 417) já ter afirmado que o PCI está determinado, em grande medida, pelo tipo de dicionário.
É difícil arriscar uma definição bem apurada do que é um dicionário geral monolíngue de orientação semasiológica, porquanto algumas características a ele associadas nem sempre se aplicam. Deste modo, atribui–se a este tipo de dicionário a função de oferecer uma explicação sobre o significado das palavras, mas ele termina sendo multifuncional ao fornecer também informações ortográficas, gramaticais, etimológicas, prosódicas, estilísticas, entre outras. Além disso, afirma–se que atende a uma perspectiva sincrônica da língua; porém, em todo dicionário que se diz sincrônico subjaz um ingrediente de historicidade (Zgusta, 1971, pp. 190, 203–204). Nem sequer o caráter 'semasiológico' se aplica strictu sensu, visto que no tratamento do léxico nestes expoentes lexicográficos também se tenta estabelecer relações onomasiológicas. Finalmente, assegura–se que esta classe de dicionário está concebida para um público amplo de falantes nativos; todavia, tal caracterização do perfil do usuário é difusa e vaga.
Não obstante as dificuldades para defini–lo, nas diferentes tradições lexicográficas é um expoente lexicográfico consultado pelos usuários para satisfazer, principalmente, duas necessidades básicas: desvelar a significação de uma palavra e/ ou verificar sua ortografia. Nesta ordem, esses são os dois tipos de informações mais procuradas pelo consulente (Hartmann, 2001, p. 82; Jackson, 2002, p.76), embora não sejam as únicas. Este expoente lexicográfico é chamado por Biderman (2001, p. 131) de ''dicionário padrão''; por Porto Dapena, ''dicionário comum'' (2002, p. 69); por Welker (2005, p. 77), ''dicionário monolíngue geral seletivo'' e por Bugueño e Farias (2011, p. 43), ''dicionário semasiológico''.
As informações contidas nas microestruturas de dicionários de diferentes tradições lexicográficas podem variar e apresentar distintos graus de densidade e complexidade. Isso depende não só do tipo de dicionário, a sua função e o perfil do usuário, mas também das diferenças estruturais das línguas e das diversas maneiras como são (ou deveriam ser) marcados alguns segmentos informativos nas várias categorias gramaticais. Nosso foco, a seguir, é analisar o tratamento do polimorfismo em verbetes de substantivos nos três dicionários gerais de língua da tradição lexicográfica hispânica que conformam nosso corpus: DRAE (2001), DUEAEe (2003) e DUE (2007), com o intuito de verificar a pertinência e utilidade real das informações presentes na microestrutura.
Análise: O Polimorfismo no Nível Ortográfico
No PCI dos dicionários gerais monolíngues são apresentados diferentes tipos de informações de caráter linguístico que têm como fim proporcionar orientações ao potencial usuário. Desta maneira, podemos afirmar que a normatividade é uma característica intrínseca dos dicionários, independentemente de seus objetivos. Com Montes (1995, p. 27), entendemos por norma linguística a convenção 'tradicionalizada', incluída no sistema de regras que fazem e mantêm a coesão de uma comunidade humana. Este autor diferencia norma consuetudinária ou real de norma prescritiva. A norma consuetudinária ou real é a que se manifesta no funcionamento da língua como padrão comunitário de realização das oposições do sistema ou código de convenções, ao passo que a norma prescritiva é aquela formulada explicitamente e propagada por instituições que mediante ela pretendem manter a unidade da língua; ou seja, esta norma é a concreção institucionalizada do esforço, de caráter eminentemente sociopolítico, para manter a coesão de uma determinada comunidade idiomático–cultural.
Por sua parte, no comentário sobre a forma são apresentadas todas as informações do lema enquanto significante: informação ortográfica, informação fonético–fonológica, informação morfológica, entre outras. Sendo a informação ortográfica uma das mais consultadas nos dicionários de língua, espera–se que estes sejam sistemáticos, coerentes e rigorosos na sua apresentação, e que ofereçam, quando seja preciso, segmentos informativos adicionais efetivamente úteis para o consulente.
Nesta seção, abordaremos o polimorfismo como uma das questões mais problemáticas do nível ortográfico, visto que os dicionários nem sempre parecem ter um critério bem definido para seu tratamento.
Entende–se por polimorfismo as variações que, no que concerne ao significante, pode oferecer uma palavra ou unidade léxica em geral. Distinguem–se dois tipos de polimorfismo: um polimorfismo gramatical, característico das palavras flexivas, e um polimorfismo léxico ou polimorfismo propriamente dito, entendido como a coexistência de variantes fônicas e/ou ortográficas de uma mesma unidade léxica (Porto Dapena, 1980, p. 185; 2002, pp. 183–184). Neste trabalho, usaremos o termo polimorfismo no segundo sentido.
Os casos de variantes ortográficas tanto acentuais (suprassegmentais) quanto grafêmicas são comuns nos dicionários. Tomando emprestada a distinção type/token de Peirce (1998, pp. 75–103) para analisar o tratamento dado ao polimorfismo em dicionários gerais da tradição lexicográfica hispânica, consideramos a forma canônica ou de mais prestígio como type e a variante ou forma de menos prestígio como token.
Ao revisarmos o front matter ou textos anteriores das três obras analisadas, encontramos que só DRAE (2001) posiciona–se a respeito do que ele considera type e token, embora não explique os critérios levados em conta para sua escolha. Assim, este dicionário só deixa explícito que,
[Q]uando a ordem alfabética permite, dispõem–se as variantes no mesmo lema, separadas por uma conjunção disjuntiva; a forma que aparece em primeiro lugar é a preferida e recomendada pela Academia, que, não obstante, aceita as consignadas na sequência. [...] Quando as variantes admitidas não podem figurar em um mesmo verbete por exigências da ordem alfabética, a preferida pela Academia é a que leva a definição direta; as aceitas, mas não preferidas, definem–se mediante remissão [...] àquela (DRAE, 2001, p. XXXIX).
DUEAEe (2003), por sua vez, não traz informações no tocante às variantes ortográficas, enquanto DUE (2007) apenas limita–se a informar que as variantes de um lema
[I]ncluem–se sistematicamente nas entradas correspondentes a afixos quando as diferentes formas que adota um elemento prefixo ou sufixo não vão seguidas na ordem alfabética. No resto dos lemas só aparecem quando a diferença formal entre o lema e a variante é mínima. Nos demais casos, as variantes incluem–se no bloco de sinônimos, introduzido pelo sinal após a definição (DUE, 2007, p. XXVI).
No intento de elucidar os critérios adotados pelos dicionaristas para se ocupar deste assunto, cotejamos nossas observações com os dados fornecidos pelos corpora CORDE, CREA e CORPES XXI (doravante, nesta ordem, os três corpora). Igualmente, usamos os dados proporcionados pela ferramenta de busca Google em espanhol, sempre e quando as variantes ortográficas não fossem suprassegmentais, caso em que só utilizamos CORDE e CREA (doravante, nesta ordem, os dois corpora), já que CORPES XXI e Google não as diferenciam. Além do mais, é oportuno advertir que a utilização da web como corpus apresenta o inconveniente de que, embora as buscas sejam direcionadas e restringidas a sites em espanhol, continuam aparecendo resultados em outras línguas.
Tomemos, em um primeiro grupo, três pares de exemplos com variação acentual. No par elite/élite, DRAE (2001) e DUEAEe (2003) lematizam a forma élite como type, enquanto DUE (2007) registra somente a forma elite e apresenta élite como estrangeirismo. Nos dois corpora, a forma élite tem o maior número de ocorrências: 103 e 900, frente a 4 e 752 da forma elite. Estes dados nos fazem supor que DRAE (2001) e DUEAEe (2003) assumem um critério estatístico, atendendo à pronúncia mais estendida da palavra como proparoxítona [élite], mesmo sendo nisto antietimológicos. Pelo contrário, DUE (2007), ainda que reconheça o uso generalizado da pronúncia da palavra como proparoxítona, parece obedecer a um critério etimológico e purista ao optar pela forma paroxítona elite, cuja pronúncia [elíte] está mais próxima à do étimo francês élite [elít].
Já no par chofer/chófer, os três dicionários lematizam a forma paroxítona chófer como type, que, além de apresentar o menor número de ocorrências nos dois corpora (337 e 945, frente a 429 e 1270 da forma oxítona chofer), também não corresponde à pronúncia do étimo francês chauffeur, mais próxima à forma chofer. Deste modo, os três dicionários contrariam a decisão tomada antes, parecendo manter ou adotar um critério orientado só pela norma peninsular ao privilegiar chófer, a forma mais estendida no espanhol da península Ibérica.
Por fim, vejamos como lidam os dicionários com guion/guión, acaso o par de variantes suprassegmentais mais controverso dos últimos quinze anos no mundo pan–hispânico. Os três dicionários lematizam as duas formas, sendo que para DRAE (2001) e DUE (2007) a forma type é guion, enquanto para DUEAEe (2003) é guión. Realizamos a busca nos dois corpora e verificamos que a forma guión tem, de longe, o maior número de ocorrências (482 e 3302, frente a 106 e 4 da forma guion). Isto nos leva a conjecturar que a escolha de DUEAEe (2003), como no primeiro par analisado, obedece à frequência de uso.
Para entender o critério adotado por DRAE (2001) e DUE (2007), convém antes fazer algumas considerações a respeito da penúltima edição da Ortografía de la Lengua Española, OLE (1999), a primeira referendada pela Associação de Academias da Língua Espanhola, ASALE. Na OLE (1999, pp. 43–46), estabelece–se taxativamente que toda combinação de duas vogais fechadas distintas (i, u) e toda combinação de vogal fechada átona (i, u) com uma vogal aberta (a, e, o) constituem ditongos ortográficos. Assim sendo, a combinação io é um ditongo e, por conseguinte, a palavra guion é um monossílabo, independentemente de sua articulação dissilábica por uma parte da comunidade hispânica. E, se guion é monossílabo, então não deve levar acento gráfico em hipótese alguma. Além do mais, não podem existir variantes gráficas acentuais que não respondam a mudanças na vogal tônica das palavras, e guion, embora seja pronunciado em uma ou em duas sílabas, sempre recebe o acento sobre a mesma vogal.
Não obstante as observações supracitadas, a OLE (1999) incorre em uma ''flagrante e crua contradição'' (Gutiérrez Ordóñez, 2011) contra sua própria doutrina preceptiva ao quebrar o princípio de unidade ortográfica permitindo a dupla lexia guion/guión de acordo com a percepção de sua fonética. Assim, mesmo deixando explícita sua preferência pela forma monossilábica (sem acento gráfico), aceita a 'variante dissilábica'(?), palavra 'oxítona terminada em –n(?) e, portanto, com acento gráfico'(?). Eis aqui precisamente a postura que refletem tanto DRAE (2001) quanto DUE (2007). Poderíamos tentar justificar a infelicíssima (in)decisão da RAE e da ASALE como ''uma moratória ou período de adaptação'' (Gutiérrez Ordóñez, 2011) da norma e à norma prescritiva. Porém, se, como afirma o próprio acadêmico, a ortografia ''é o código onde se manifesta de forma mais visível o caráter unitário da língua'', temos que concordar com aqueles que aduzem que ela deve estabelecer normas unívocas, e não regras potestativas.
Esperemos, pois, que a 23.a edição de DRAE, programada para outubro de 20143, e também a próxima edição de DPD (2005), atualmente em revisão, sejam congruentes com a Nueva gramática de la lengua española (2009) e com a última edição da Ortografía de la Lengua Española (2010), obras acadêmicas pan–hispânicas em que já se aplica a convenção ortográfica no tocante a sequências vocálicas e prescreve–se o uso da lexia guion sem acento gráfico (RAE & ASALE, 2010, pp. 229– 230, 235).
Resumindo, pode–se dizer que no par guion/ guión os três dicionários apresentam equívocos não apenas pelo fato de refletirem a contradição da OLE (1999), como também pela aplicação de critérios diferentes em um caso no qual deveria ter primado, por sobre todos os outros, o princípio de unidade ortográfica. Assim, as edições dos dicionários após 1999 deveriam ter lematizado unicamente a forma guion, com um comentário intermediário à esquerda ou um pós–comentário4 que dissesse: '[antes de la Ort99, guión]', o qual se manteria durante um período prudencial de adaptação.
Agora, tomemos um segundo grupo de exemplos com variação grafêmica para avaliar se os dicionários de língua da tradição hispânica mantêm a mesma divergência que constatamos nos critérios adotados nas variantes acentuais para a apresentação das formas type e token ou se, pelo contrário, mostram–se mais coerentes. No par hipérbato/hipérbaton, DRAE (2001) lematiza a forma hipérbato como type, DUE (2007) apresenta como type a forma hipérbaton e DUEAEe (2003) unicamente registra a forma hipérbaton. Cotejamos estas observações com os dados fornecidos pelos três corpora e não encontramos registrada a forma hipérbato em nenhum deles, ao passo que hipérbaton apresenta 107, 20 e 15 ocorrências, respectivamente. Consultando o Google (26–04–2014), encontramos 181.000 ocorrências da forma hipérbaton, frente a 167.000 ocorrências da forma hipérbato, sendo que a maioria das páginas neste último caso está em português, língua em que hipérbato é a forma mais usada.
Levando em conta as informações sobre o par hipérbato/hipérbaton, é difícil deduzir o critério adotado por DRAE (2001) para optar pela forma hipérbato como type, ainda mais depois de consultar DPD (2005), que remete da forma hipérbato para hipérbaton, onde é apresentada a definição e faz–se referência a hipérbato como variante. Também a Nueva gramática (RAE & ASALE, 2009, p. 135) se refere a hipérbato como uma variante de hipérbaton hoje pouco usada. Assim sendo, a opção por apresentar a forma hipérbato como type simplesmente poderia estar respeitando uma ordem alfabética estrita, inclusive na disposição das duas formas variantes na mesma entrada, ou mostrar a preferência da Academia pela variante que tem mais consistência com a formação do plural, hipérbatos, de ambas as formas. DUE (2007), por sua vez, pode ter adotado para a indicação do type um critério baseado na etimologia, dado que a forma hipérbaton está mais próxima de seu étimo latino hyperbăton. Já a decisão de DUEAEe (2003) de só lematizar a forma hipérbaton pode estar baseada em um critério estatístico, ou seja, na frequência de uso.
No par caleidoscopio/calidoscopio, DRAE (2001) e DUEAEe (2003) lematizam a forma caleidoscopio como type, à medida que DUE (2007) apresenta como type a forma calidoscopio. Consultando os três corpora e o Google (15– 05–2014), respectivamente, encontramos ocorrências de ambas as formas em todos eles, sendo maior, porém, o número de ocorrências de caleidoscopio: 25, 101, 127 e 865.000, frente a 21, 26, 34 e 236.000 da forma calidoscopio. Neste caso, DRAE (2001) e DUEAEe (2003) parecem orientar a eleição desta forma como type pela frequência de uso e por sua proximidade ao segundo étimo grego do composto. Por sua vez, DUE (2007) pode ter optado pela forma calidoscopio como type baseado na hipótese de que a pronúncia mais estendida da lexia na Espanha está mais próxima à fonética do segundo étimo grego , que vacila entre [éidos] e [ídos].
Podemos ver que DRAE (2001) e DUE (2007) vão de encontro à decisão tomada com relação aos critérios adotados no primeiro exemplo deste segundo grupo de variantes para apresentar as formas type e token, enquanto DUEAEe (2003) parece ser o mais coerente na manutenção da frequência de uso como critério para eleger a forma type.
Por último, analisemos as variantes membrecía/ membresía, um caso de polimorfismo grafêmico bastante questionável, que, ou não é considerado como tal, ou nem sequer é lematizado pelos dicionários que constituem nosso corpus. Comecemos nesta vez por dizer que ambas as formas apresentam ocorrências nos três corpora (respectivamente, 1, 18 e 7 ocorrências, frente a 0, 60 e 207) e também no Google (respectivamente, 450.000 ocorrências, frente a 1.540.000 [15–05– 2014]). Tanto na consulta a DRAE (2001) quanto a DUE (2007) encontramos com exclusividade a forma membresía, marcada como de uso apenas em alguns países da América, no primeiro, e na Hispano–América, no segundo, à medida que DUEAEe (2003), contrariamente ao esperado, não lematiza nenhuma das duas formas.
O primeiro fato que nos surpreende é que DUEAEe (2003) não considere a dupla léxica em questão, por se tratar de uma obra que se declara pan–hispânica no próprio título. Poderíamos presumir que essa decisão tenha obedecido, por um lado, à baixa frequência de uso no corpus VOX em que se baseia e, por outro, à novidade das grafias e, consequentemente, a sua instabilidade ou não registro nos dicionários da época. Entretanto, como justificar, por exemplo, a não inclusão da dupla sábila/zábila como formas grafêmicas alternantes no espanhol americano e sim a tríade cebiche/ceviche/seviche?
Antes de especularmos sobre os critérios para a lematização de membresía em DRAE (2001) e DUE (2007), é preciso tecer alguns comentários acerca dessa lexia. Segundo CORDE, o primeiro registro que se tem dela, mesmo escrita com c, data da década de sessenta no romance Tres tristes tigres do escritor cubano Cabrera Infante. O termo membrecía aparece na descrição de um alcácer e, nesse contexto, seu significado corresponde à definição de miembro arquitectónico s.v. miembro em DUE (2007), equivalente à acepção 5 do verbete miembro em DRAE (2001), que diz assim: ''5. m. Arq. Cada una de las partes principales de un orden arquitectónico o de un edificio''. Embora este significado de membrecía não seja uma das atuais acepções de membresía nem em DRAE (2001) nem em DUE (2007), pelo menos deveria ter servido para chamar atenção sobre o processo de derivação dessa palavra, antes de tomarem a decisão de lematizá–la com s, pela primeira vez nessas edições, ou posteriormente com c, no caso da RAE, em outras obras acadêmicas como DPD (2005) e DELE (2006).
A propósito da derivação nominal no espanhol (RAE & ASALE, 2009, pp. 431–438), é oportuno assinalar que o sufixo –ía mostra–se bastante produtivo na formação de nomes de qualidade ou condição a partir de adjetivos ou substantivos, como em abogado > abogacía; alevoso > alevosía; cortés > cortesía; feligrés > feligresía; hereje > herejía; hombre > hombría; miembro > membresía/ membrecía. Neste grupo de substantivos derivados, as irregularidades morfofonológicas são poucas. Assim, por exemplo, ''a alternância /d/ ∼ /s/ ou /q/ em abogado > abogacía (não *abogadía) pode ter sido influenciada pelo antigo abogación'' (RAE & ASALE, 2009, p. 432; o grifo é nosso). Já no caso de miembro > membresía/membrecía (não *miembría), concordamos com RAE e ASALE (2009, p. 432) em que a alternância vocálica relativa à ausência de ditongo deve–se, quase com certeza, à influência do inglês membership. No entanto, também acreditamos que o acréscimo de fonemas na base igualmente deve–se à dita influência.
Eis no parágrafo acima a que poderia ser a justificativa principal da decisão de DRAE (2001) e DUE (2007) de lematizarem apenas a forma membresía. Além do mais, esta opção de ambos os dicionários também foi favorecida pelo critério do uso constante ao ser a forma mais estendida no espanhol da América. Por último, parece que tanto DRAE (2001) quanto DUE (2007) aplicaram o critério de unidade ortográfica, precisamente no sentido de ''limitar a presença de variantes na escrita'' (RAE & ASALE, 2010, p. 40). Não obstante, indo totalmente contra estes possíveis argumentos e, portanto, contra suas próprias recomendações, a RAE posiciona–se em DPD (2005, s.v. membrecía) e prescreve unicamente a forma membrecía como 'correta', arguindo que ''ainda que, devido ao seseo, esteja muito estendida no uso a forma *membresía, a grafia correta é membrecía, já que o sufixo espanhol para formar este tipo de derivados é –cía (de abogado, abogacía; de clero, clerecía)''. Neste caso, discordamos completamente de sua decisão porque, conforme dito supra, estamos convencidos de que a alta frequência de uso de membresía não é pelo seseo e sim pela analogia com a grafia inglesa. Ademais, o sufixo espanhol para formar membresía é –ía, que não podemos confundir com o sufixo –ería, cuja variante –ecía explica a formação de clerecía (RAE & ASALE, 2009, p. 435). Logo, a grafia que deve ser unificada em todas as obras acadêmicas é membresía e não *membrecía5.
A esta ausência de critérios claros e coerentes para estabelecerem os types e os tokens com base na definição de uma norma, soma–se em alguns casos a falta de constância na maneira como são apresentadas essas informações nos dicionários e também na localização dos segmentos que as contêm, dificultando a consulta e deixando ainda mais confuso o consulente menos ativo e atento. DUE (2007) indica o polimorfismo de vários modos. Às vezes, dispõe as variantes (e/ ou sinônimos?) na mesma entrada, separando–as por uma conjunção disjuntiva e acrescentando, em alguns casos, o nível de frequência de uso (s.v. hontanar ''hontanar u hontanarejo''(?); s.v. ineptitud ''ineptitud o, menos frec.[uente], inepcia''(?); s.v. infrascripto ''infrascripto, –a o, más frec.[uente], infrascrito, –a'' [DUE, 2007]). Outras vezes, lematiza todas as formas, desenvolvendo o verbete correspondente somente em uma delas, ao final da qual remete às demais variantes (nem sempre, nem a todas) que aparecem misturadas com os sinônimos, mediante o símbolo , e à que, por sua vez, faz remissão indiretamente, de distintas formas, nas outras entradas (s.v. cacahuete ''cacahuete o, no frec.[uente], cacahuet [...] Planta leguminosa [...] Alcagüés, cacahuate, cacahuey, maní. [...]'' (e cacahué?); s.v. cacahuate ''cacahuate [...] Cacahuete.''; s.v. cacahuey ''cacahuey [...] Cacahuete.''; s.v. cacahué ''cacahué [...] Cacahuete.''; s.v. calidoscopio ''calidoscopio [...] Aparato formado por un tubo [...]. Caleidoscopio''; s.v. caleidoscopio ''caleidoscopio [...] Calidoscopio.''; s.v. cebiche ''cebiche [...] *Guiso de pescado [...]. Ceviche.'' (e seviche?); s.v. ceviche ''ceviche [...] Variante ortográfica de cebiche.''; s.v. seviche ''seviche [...] Cebiche.''; s.v. elite ''elite [...] Grupo *selecto de personas, por pertenecer a una clase social elevada o por destacar en una actividad.'' (e élite?); s.v. élite ''élite [...] Elite.'' [DUE, 2007]).
Por sua parte, DUEAEe (2003) também indica os casos de variantes ortográficas de distintas maneiras. Algumas vezes, apresenta–as na mesma entrada, separadas simplesmente por uma conjunção disjuntiva (s.v. portarretrato ''portarretrato o portarretratos'' [DUEAEe, 2003]). Outras vezes, lematiza todas as formas no lugar alfabético que lhes corresponde, mas apenas uma delas leva a definição direta. Além disso, registra entre parênteses e em um corpo de letra menor, ao lado da entrada que dá lugar ao verbete, todas as demais variantes ordenadas alfabeticamente e antecedidas pela palavra 'también', acrescentando, em alguns casos, o nível de frequência de uso. Estas, por sua vez, definem–se mediante remissão àquela, pelo menos de dois modos diferentes: 1) ou escrevendo a forma definida no espaço correspondente à definição e, em algumas ocasiões, fazendo remissão direta a ela no espaço da etimologia (s.v. caleidoscopio ''caleidoscopio (también calidoscopio) [...] Instrumento óptico que consiste en un tubo [...]''; s.v. calidoscopio ''calidoscopio [...] Caleidoscopio. ETIMOLOGÍA Variante de caleidoscopio (V.).''; s.v. cebra ''cebra (también zebra, poco usado) [...] Mamífero équido [...]''; s.v. zebra ''zebra [...] Cebra.'' [DUEAEe, 2003]); 2) ou chamando atenção para a forma definida, mediante a palavra 'ver' (s.v. yogur ''yogur (también yoghourt, yoghurt, yogourt o yogurt) [...] Alimento líquido y espeso o pastoso [...]''; s.v. yoghourt ''yoghourt ver yogur.'' [DUEAEe, 2003]). Finalmente, em algumas ocasiões todas as variantes se definem, ao tempo que remetem umas às outras de duas maneiras possíveis: 1) ou registrando–as entre parênteses ao lado da entrada, segundo já explicamos, e acrescentando também, às vezes, o nível de frequência de uso (s.v. armonía ''armonía (también harmonía) [...] 1 Equilibrio [...]''; s.v. harmonía ''harmonía (también armonía, más frecuente) [...] 1 Equilibrio [...]''; s.v. cebiche ''cebiche (también ceviche o seviche) [...] Plato de pescado o marisco crudo [...]''; s.v. ceviche ''ceviche (también cebiche o seviche) [...] Plato de pescado o marisco crudo [...]''; s.v. seviche ''seviche (también cebiche o ceviche) [...] Plato de pescado o marisco crudo [...]'' [DUEAEe, 2003]); 2) ou bem dispondo as formas variantes no espaço reservado aos sinônimos ao final do verbete, antecedidas pela abreviatura 'sin(ónimos)' (s.v. bohío ''bohío [...] Casa de planta rectangular [...]. sin buhío.''(?); s.v. buhío ''buhío [...] Casa de planta rectangular [...]. sin bohío.''(?) [DUEAEe, 2003]).
Por sua vez, DRAE (2001), como ficou dito acima, se a ordem alfabética permite, apresenta as variantes na mesma entrada, separadas por uma conjunção disjuntiva, sendo a forma que aparece em primeiro lugar a preferida e recomendada (s.v. chófer ''chófer o chofer''; s.v. hipérbato ''hipérbato o hipérbaton'' [DRAE, 2001]). Porém, se as variantes não podem aparecer em um mesmo verbete por exigências da ordem alfabética, a preferida é a que leva a definição direta e as outras variantes se definem por meio de remissão àquela (s.v. caleidoscopio ''caleidoscopio. [...] Tubo ennegrecido interiormente [...]''; s.v. calidoscopio ''calidoscopio. [...] caleidoscopio.''; s.v. jolgorio ''jolgorio. [...] Regocijo, fiesta, diversión bulliciosa.''; s.v. holgorio ''holgorio. [...] jolgorio.'' [DRAE, 2001]).
A partir destas observações e dos nulos (DUEAE, 2002; DUEAEe, 2003), escassos e confusos (DUE, 2007, pp. XXVI, XXXIII) ou claros (DRAE, 2001, p. XXXIX) dados fornecidos nos respectivos front matters ou textos anteriores das obras lexicográficas acerca da disposição das formas variantes, pudemos concluir que DRAE (2001) é o mais constante quanto à apresentação e localização dos segmentos informativos relacionados com o polimorfismo. Além disso, é o único dicionário a se posicionar a respeito do que ele considera type e token, o que tem um valor altamente discreto e discriminante para o consulente, mesmo não explicitando os critérios que adota para a escolha dessa forma type, como vimos na primeira parte da análise. O fato de ser uma obra eminentemente normativa e optar sempre por uma forma preferida e recomendada simplifica e facilita não apenas a organização das informações, como também a consulta ao dicionário.
DUE (2007), assim como DRAE (2001), opta basicamente pelas duas mesmas maneiras de apresentação das variantes, mostrando sua preferência por uma delas, embora não explicite isto em parte alguma nem deixe claros, conforme vimos antes, os critérios adotados para tal escolha. Contudo, até aqui as semelhanças, porquanto DUE (2007) não tem a constância nem a coerência de DRAE (2001) neste quesito como veremos a seguir. Por um lado, DUE (2007) nem sempre parece considerar os critérios para diferenciar as variantes ortográficas dos sinônimos, não somente por agrupá–los ao final do verbete, mas também, e especialmente, pelo fato de lematizar duas lexias sinônimas na mesma entrada.
Antes de seguir adiante, convém lembrar quando duas ou mais formas podem e devem ser consideradas variantes ortográficas da mesma lexia, pois de fato em alguns casos concretos poderiam surgir dúvidas sobre se são variantes ou mais bem palavras diferentes e, portanto, sinônimas. Assim, é indiscutível que, por exemplo, caleidoscopio e calidoscopio são variantes do mesmo vocábulo, mas não podemos dizer isso de hontanar e hontanarejo, e menos ainda de ineptitud e inepcia, que DUE (2007) registra como se fossem variantes. Obviamente, não podemos nos basear só na semelhança fônica e gráfica, porque, além disso, elas têm que coincidir totalmente no significado ou significados, ter idêntica etimologia e proceder dela pela mesma via, seja tradicional ou culta. Ademais, a variação não deve implicar nenhuma mudança morfológica nem sintática, isto é, entre as formas em questão não se pode produzir alternância de morfemas nem mudança alguma em seu comportamento sintático (Porto Dapena et al., 2007, pp. 27–28).
Por outra parte, DUE (2007) nem sempre faz remissão a todas as variantes no espaço reservado a este tipo de informação (no final do verbete definido), como se pode ver nos exemplos supracitados em que cacahué, seviche e élite deixam de ser registrados nos verbetes correspondentes. Além do mais, a inconstância de DUE (2007) se reflete na não manutenção do mesmo tipo de letra, de maneira que às vezes usa itálico sem razão aparente, e também no estilo de remeter à forma na qual se desenvolve o verbete, como s.v cacahuey e s.v. ceviche, respectivamente.
Quanto a DUEAEe (2003), o primeiro fato que chama atenção, segundo afirmávamos mais acima, é que não há qualquer explicação na obra a respeito do tratamento dado ao polimorfismo, pelo que o consulente não tem como saber se existe uma forma type ou não, e quais os parâmetros de organização das formas variantes, uma vez que o dicionário parece agir de forma arbitrária quando em alguns casos define todas as variantes e, em outros, utiliza o sistema de remissões. Ou seja, mistura frequência de uso (norma consuetudinária) e norma acadêmica (norma prescritiva), sem assumir diretamente uma posição por uma forma preferível ou recomendada e, às vezes, contradiz a afirmação de que oferece ''una descripción de lo que se podría llamar español común actual'' (DUEAE, 2002, p. VI). A dupla de lexias armonía/harmonía poderia nos servir para ilustrar tudo isso. Assim, s.v. harmonía, palavra comprovadamente em desuso que sequer deveria aparecer neste dicionário, lê–se ''harmonía (también armonía, más frequente)'' e s.v. armonía, no espaço correspondente à etimologia, diz–se que é um ''[P]réstamo (s. xv) del griego harmonía, derivado de harmós 'juntura', 'clavija'. Las palabras de esta familia pueden escribirse según la norma académica con h o sin ella. La grafía con h es la más cercana a la etimología. A la misma familia etimológica griega pertenece armónico (V.).'', informação que com certeza deixa o consulente em estado de perplexidade.
Por outro lado, destacamos em DUEAEe (2003) a presença de um segmento informativo mediante o qual se faz remissão a todas as variantes de uma palavra, isto é, os parênteses em que são organizadas alfabeticamente, visto que esta informação é bastante útil para o consulente que, deste modo, é advertido sobre a existência de formas concorrentes de uma lexia determinada. Além disso, nesses mesmos parênteses às vezes é oferecido outro segmento informativo que dá conta da frequência de uso da variante e que, caso fosse um segmento regular, avisaria ao consulente, pelo menos, acerca da forma mais usual, dado que neste dicionário a definição de uma variante nem sempre orienta para a escolha da forma type, como vimos no parágrafo anterior. Não obstante a pertinência e funcionalidade desse segmento remissivo em DUEAEe (2003), também nos deparamos com remissões em espaços inusitados, os quais deveriam ser reservados exclusivamente à etimologia e à sinonímia. No primeiro caso, além dessa informação estar fora de lugar, é redundante e desnecessária; no segundo, é preocupante a confusão do dicionário ao considerar como sinônimas lexias que são claramente alternâncias ortográficas: no polimorfismo, trata–se de variantes de uma mesma palavra, enquanto na sinonímia são palavras distintas que coincidem no significado (Porto Dapena, 1980, pp. 187–188).
Conclusão
Muitas das dúvidas dos falantes em relação à ortografia têm a ver com os casos de formas variantes concorrentes, porquanto suscitam questionamentos sobre sua legitimidade e criam a necessidade de se obter esclarecimentos e orientações quanto à existência de uma forma preferível ou não. A análise anterior serviu para ratificar nossa suspeita de que os dicionários de língua da tradição hispânica apresentam sérios problemas no tratamento do polimorfismo, fazendo com que as informações fornecidas por eles neste sentido se tornem, com frequência, pouco ou nada funcionais para o consulente.
A indicação de variantes constituiria um tipo de informação pertinente sempre que, mediante algum mecanismo, explicitasse–se a forma type ou, se não houvesse, advertisse–se de que todas as variantes existentes gozam do mesmo prestígio, levando–se em conta critérios estabelecidos com base na definição de uma norma desde o mesmo momento da concepção do dicionário. Assim, não somente deveriam ser apresentadas ao consulente as duas ou mais formas ortográficas de uma unidade léxica, mas também se deveria informá–lo sobre qual delas é a preferível, recomendada ou mais usual, ou, no caso de variantes com o mesmo prestígio, dever–se–lhe–ia alertar inclusive acerca da legitimidade do uso de qualquer uma delas. Entretanto, como pudemos constatar, os dicionários avaliados em geral não são consequentes na manutenção de um padrão para apresentar este tipo de informação.
Por outro lado, alguns dos dicionários indicam as formas variantes de uma maneira indiscriminada e, às vezes, até aleatória. Além disso, não estabelecem diferença entre sinônimos e variantes e também não são constantes quanto a sua localização dentro do verbete. Tudo isso prejudica a consulta ao dicionário, levando o consulente a se perder em conjecturas e deixando–o com mais dúvidas do que certezas. Ou seja, informações desta ordem, que são altamente discretas e que também poderiam ser altamente discriminantes para o consulente, acabam por não sê–lo por culpa das imprecisões e das incoerências. Seria recomendável, então, que os dicionários se baseassem em um programa constante de informações para a abordagem e disposição estratégica das informações concernentes ao polimorfismo, de tal maneira que inclusive a ausência deste segmento informativo na microestrutura de um verbete tivesse um alto valor funcional.
NOTAS
* Este artigo faz parte dos resultados da pesquisa do Doutorado em Letras, área de Estudos da Linguagem, especialidade em Lexicografia, Terminologia e Tradução: Relações Textuais, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul – UFRGS, Porto Alegre – RS, Brasil.
1 Para um levantamento e descrição geral dos principais estudos sobre a microestrutura e seus componentes, cf. Welker (2005, pp. 107–177).
2 Usaremos abreviaturas para as citações de dicionários, seguindo a tendência da metalexicografia europeia (Hartmann, 2001, p. 11). Além disso, nas citações de verbetes, utilizaremos a abreviatura s.v., que significa ''sub voce'', sob a palavra.
3 Antes do fechamento do presente número da revista, pudemos comprovar que a unidade léxica guion já aparece sem acento gráfico na 23.a edição de DRAE (2014, s.v. guion).
4 O modelo microestrutural de Wiegand e Fuentes (2009) prevê a ampliação interna e externa da microestrutura simples de verbete (constituída só por comentário sobre a forma e comentário semântico, no caso dos dicionários gerais monolíngues) com pré–comentários, pós–comentários ou comentários intermediários.
5 Não obstante, pudemos constatar que, na 23.a edição de DRAE (2014, s.v. membrecía, membresía), foram lematizadas ambas as formas, remetendo da lexia membrecía para a lexia membresía, na qual é desenvolvido o verbete.
Referências de Dicionários
DELE. Real Academia Española & Asociación de Academias de la Lengua Española (2006). Diccionario esencial de la lengua española. Madrid, España: Espasa. [ Links ]
DPD. Real Academia Española & Asociación de Academias de la Lengua Española (2005). Diccionario panhispánico de dudas. Madrid, España: Santillana. [ Links ]
DRAE. Real Academia Española (2001). Diccionario de la lengua española. Madrid, España: Espasa. [ Links ]
DRAE. Real Academia Española (2014). Diccionario de la lengua española. Madrid, España: Espasa. [ Links ]
DUE. Moliner Ruiz, M. (2007). Diccionario de uso del español. Madrid, España: Gredos. [ Links ]
DUEAE. Battaner Arias, P. (Dir.). (2002). Vox. Diccionario de uso del español de América y España. Barcelona, España: Spes. [ Links ]
DUEAEe. Battaner Arias, P. (Dir.). (2003). Vox. Diccionario de uso del español de América y España. Barcelona, España: Spes. [ Links ]
Outras Referências
Atkins, B. T. S. & Rundell, M. (2008). The Oxford Guide to Practical Lexicography. Oxford, United Kingdom: Oxford University Press. [ Links ]
Biderman, M. T. C. (2001). Os dicionários na contemporaneidade: arquitetura, métodos e técnicas. In A.M.P.P. de Oliveira, & A.N. Isquerdo (Orgs.), As ciências do léxico: Lexicologia, Lexicografia e Terminologia (pp. 131–144). Campo Grande: UFMS. [ Links ]
Bugueño Miranda, F. V. (2009). Sobre a microestrutura em dicionários semasiológicos do alemão. Contingentia, 4(2), 60–72. Recuperado em 27 agosto, 2011, de http://www.lume.ufrgs.br/bitstream/handle/10183/20868/000726263.pdf?sequence=1 [ Links ]
Bugueño Miranda, F. V., & Farias, V. S. (2006). Informações discretas e discriminantes no artigo léxico. Cadernos de Tradução, 18, 115–135. Recuperado em 24 junho, 2014, de https://periodicos.ufsc.br/index.php/traducao/article/view/6944/6451 [ Links ]
Bugueño Miranda, F. V., & Farias, V. S. (2011). Da microestrutura em dicionários semasiológicos do português e seus problemas. Estudos da Língua(gem), 9(1), 39–69. Recuperado em 24 junho, 2014, de http://estudosdalinguagem.org/seer/index.php/estudosdalinguagem/article/view/121/281 [ Links ]
Casares, J. (1950). Introducción a la lexicografía moderna. Madrid, España: CSIC. [ Links ]
Castillo Carballo, M. A. & García Platero, J. M. (2010). La lexicografía en su dimensión teórica. Málaga, España: UMA. [ Links ]
Engelberg, S. & Lemnitzer, L. (2001). Lexikographie und Wörterbuchbenutzung. Tübingen, Deutschland: Stauffenburg. [ Links ]
Farias, V. S. (2011). Considerações preliminares sobre o pós–comentário na microestrutura de dicionários semasiológicos. ReVEL, 9(17), 109–139. Recuperado em 28 agosto, 2011, de http://www.revel.inf.br/site2007/_pdf/21/artigos/revel_17_consideracoes_preliminares.pdf [ Links ]
Gouws, R. H. (2003). Types of articles, their structure and different types of lemmata. In P. van Sterkenburg (Org.). A Practical Guide to Lexicography (pp. 34– 43). Amsterdam/Philadelphia: John Benjamins. [ Links ]
Gouws, R. H., Heid, U., Schweickard, W. & Wiegand, H. E. (Eds.). (2013). Dictionaries. An International Encyclopedia of Lexicography. Supplementary Volume: Recent Developments with Focus on Electronic and Computational Lexicography. Berlin/Boston: De Gruyter Mouton. [ Links ]
Gutiérrez Ordóñez, S. (2011, febrero 6). ¿Guion o guión? El País, Opinión, Tribuna: La Cuarta Página. Recuperado em 12 maio, 2014, de http://elpais.com/diario/2011/02/06/opinion/1296946812_850215.html [ Links ]
Haensch, G., Wolf, L., Ettinger, S., & Werner, R. (1982). La lexicografía: de la lingüística teórica a la lexicografía práctica. Madrid, España: Gredos. [ Links ]
Hartmann, R. R. K. (2001). Teaching and Researching Lexicography. London, United Kingdom: Longman. [ Links ]
Hartmann, R. R. K. (2003). Lexicography. Critical concepts. London, United Kingdom: Routledge/Taylor & Francis. [ Links ]
Hausmann, F. J., & Wiegand, H. E. (1989). Component Parts and Structures of General Monolingual Dictionaries: A Survey. In F. J. Hausmann, O. Reichmann, H. E. Wiegand, & L. Zgusta (Eds.), Wörterbücher/ Dictionaries/ Dictionnaires. Ein internacionales Handbuch zur Lexikographie/ An International Encyclopedia of Lexicography/ Encyclopédie internationale de lexicographie, 1. (pp. 328–360). Berlin/New York: De Gruyter. [ Links ]
Hausmann, F. J., Reichmann, O., Wiegand, H. E., & Zgusta, L. (Eds.). (1989–1991). Wörterbücher/ Dictionaries/ Dictionnaires. Ein internacionales Handbuch zur Lexikographie/ An International Encyclopedia of Lexicography/ Encyclopédie internationale de lexicographie, 1, 2, 3. Berlin/New York: De Gruyter. [ Links ]
Householder, F. W., & Saporta, S. (Eds.). (1962). Problems in lexicography. Supplement to the International Journal of American Linguistics, 28(2). [ Links ]
Jackson, H. (2002). Lexicography: An Introduction. London, United Kingdom: Routledge. [ Links ]
Landau, S. I. (2001). Dictionaries: The art and craft of lexicography. Cambridge, United Kingdom: Cambridge University Press. [ Links ]
Lara Ramos, L. F. (2006). Curso de lexicología. México, D. F., México: El Colegio de México. [ Links ]
Montes Giraldo. J. J. (1995). Dialectología general e hispanoamericana. Orientación teórica, metodológica y bibliográfica. Santafé de Bogotá, Colombia: Instituto Caro y Cuervo. [ Links ]
Peirce, C. S. (1998). Antologia Filosófica (A. Machuco Rosa, Trad.). Lisboa, Portugal: Imprensa Nacional/Casa da Moeda. [ Links ]
Porto Dapena, J.–Á. (1980). Elementos de lexicografía. Bogotá, Colombia: Instituto Caro y Cuervo. [ Links ]
Porto Dapena, J.–Á. (2002). Manual de técnica lexicográfica. Madrid, España: Arco/Libros. [ Links ]
Porto Dapena, J.–Á. (2009). Lexicografía y metalexicografía: estudios, propuestas y comentarios. Anexos de Revista de Lexicografía, 12. [ Links ]
Porto Dapena, J.–Á. (2014). La definición lexicográfica. Madrid, España: Arco/Libros. [ Links ]
Porto Dapena, J.–Á. (Dir.), Conde Noguerol, E., Córdoba Rodríguez, F. & Muriano Rodríguez, M. M. (2007). El Diccionario 'Coruña' de la lengua española actual: planta y muestra. Anexos de Revista de Lexicografía, 9. [ Links ]
Quemada, B. (1967). Les Dictionnaires du français moderne 1539–1863. Étude de leur histoire, leurs types et leurs méthodes. Paris, France: Didier. [ Links ]
Rafel i Fontanals, J. (2005). Lexicografia. Barcelona, España: Voc. [ Links ]
Real Academia Española. (1999). Ortografía de la lengua española. Madrid, España: Espasa. [ Links ]
Real Academia Española. Banco de datos (CORDE) [en línea]. Corpus diacrónico del español. http://www.rae.es [26–04–2014/15–05–2014] [ Links ].
Real Academia Española. Banco de datos (CREA) [en línea]. Corpus de referencia del español actual. http://www.rae.es [26–04–2014/15–05–2014] [ Links ].
Real Academia Española. Banco de datos (CORPES XXI) [en línea]. Corpus del español del siglo XXI. http://www.rae.es [26–04–2014/15–05–2014] [ Links ].
Real Academia Española & Asociación de Academias de la Lengua Española. (2009). Nueva gramática de la lengua española. Morfología y Sintaxis. Madrid, España: Espasa. [ Links ]
Real Academia Española & Asociación de Academias de la Lengua Española. (2010). Ortografía de la lengua española. Madrid, España: Espasa. [ Links ]
Schlaefer, M. (2002). Lexikologie und Lexikographie. Eine Einführung am Beispiel deutscher Wörterbücher. Berlin, Deutschland: Erich Schmidt Verlag. [ Links ]
Seco, M. (2003a). Estudios de Lexicografía Española (2a ed.). Madrid, España: Gredos. [ Links ]
Seco, M. (2003b). Los lexicógrafos [Lección Inaugural Curso de Especialización en Lexicografía Hispánica/2003]. Madrid, España: Real Academia Española. [ Links ]
Svensén, B. (2009). A Handbook of Lexicography. The Theory and Practice of Dictionary–Making. Cambridge, United Kingdom: Cambridge University Press. [ Links ]
Vilela, M. (Org.). (1979). Problemas da lexicologia e da lexicografia (M. Vilela, Trad.). Porto, Portugal: Livraria Civilização. [ Links ]
Welker, H. A. (2005). Dicionários. Uma pequena introdução à lexicografia. Brasília, Brasil: Thesaurus. [ Links ]
Wiegand, H. E. (1989a). Arten von Mikrostrukturen im allgemeinen einsprachigen Wörterbuch. In F. J. Hausmann, O. Reichmann, H. E. Wiegand & L. Zgusta (Eds.). Wörterbücher/ Dictionaries/ Dictionnaires. Ein internacionales Handbuch zur Lexikographie/ An International Encyclopedia of Lexicography/ Encyclopédie internationale de lexicographie, 1. (pp. 462–501). Berlin/New York: De Gruyter. [ Links ]
Wiegand, H. E. (1989b). Der Begriff der Mikrostruktur: Geschichte, Probleme, Perspektiven. In F. J. Hausmann, O. Reichmann, H. E. Wiegand, & L. Zgusta (Eds.). Wörterbücher/ Dictionaries/ Dictionnaires. Ein internacionales Handbuch zur Lexikographie/ An International Encyclopedia of Lexicography/ Encyclopédie internationale de lexicographie, 1. (pp. 409–462). Berlin/New York: De Gruyter. [ Links ]
Wiegand, H. E. & Fuentes Morán, M. T. (2009). Estructuras lexicográficas. Aspectos centrales de una teoría de la forma del diccionario. Granada, España: Tragacanto. [ Links ]
Wiegand, H. E. & Smit, M. (2013). Microstructures in printed dictionaries. In R. H. Gouws, U. Heid, W. Schweickard & H. E. Wiegand (Eds.). Dictionaries. An International Encyclopedia of Lexicography. Supplementary Volume: Recent Developments with Focus on Electronic and Computational Lexicography. (pp. 149–214). Berlin/Boston: De Gruyter Mouton. [ Links ]
Zgusta, L. (1971). Manual of Lexicography. The Hague/ Paris: Mouton. [ Links ]