1. Introdução
A discussão sobre a importância do comércio internacional como fator relevante para o desenvolvimento econômico dos países passa longe de ser uma novidade. Como destacam Porto, Canuto e Mota (2017), desde o conceito de vantagem competitiva de Ricardo, passando pelo modelo 2x2 fatores de Heckser-Oline, por fim, pelo modelo de economias iguais de Krugman, os economistas se debruçam para descobrir em que medida o comércio entre países pode contribuir para o crescimento econômico dos mesmos, através do aumento da concorrência, do emprego e renda.
De fato, o comércio internacional tem sido o principal vetor do crescimento global, de convergência de renda e de redução da pobreza. Países em desenvolvimento e emergentes têm se beneficiado de oportunidades de transferência de tecnologia e por se submeter a transformações estruturais de suas economias através da integração pelo comércio internacional nas últimas décadas (Canuto, 2016).
Lima (2006, p. 13) ressalta que:
A economia global vem passando por um processo de intensificação dos fluxos comerciais que supera a dinâmica da prôpria produção mundial. [...] a proliferação de acordos comerciais (entre nações, entre estas e os blocos econômicos e estes entre si) e os tratam como decisões estratégicas que melhoram as condições necessárias para que um pais seja projetado a uma posição de liderança no movimento da globalização.
Em compensação, o Brasil aparenta não apresentar um papel de destaque em relação a sua posição no comércio mundial. Canuto e Fleischhaker (2015) e Oliveira (2014) apontam que, desde meados da década de 1980, portanto antes do período da globalização, o país vem apresentando significativas perdas relacionadas a participação da indústria de transformação na economia diante de um baixo nível de renda per capita, o que a literatura convencionou chamar de desindustrialização1, e que expõe os problemas estruturais pelos quais passa a economia brasileira. Ato contínuo, Lohbauer (2014) indica que se analisarmos a relação volume de comércio como proporção do Produto Interno Bruto (PIB), identifica a economia brasileira como uma das mais fechadas do mundo.
A convergência destes problemas (indústria em queda e baixo volume de comércio internacional) foi potencializada no pós-crise de 2009, trazendo na esteira a redução do desenvolvimento econômico, o crescimento do setor de serviços (que passa a absorver boa parte da mão-de-obra da indústria), e impacta diretamente as exportações brasileiras, uma vez que, com a perda de força da indústria, passa a se "especializar" na produção e exportações de produtos primários.
Cervo e Lessa (2014) analisam que, no período2011-2014, o Brasil perde inúmeras oportunidades de combater a crise iniciada em 2008 e de penetrar de maneira mais profunda a economia internacional, devido, entre outros fatores, à escolha de uma estratégia não dequada de inserção em um novo modelo de desenvolvimento externo, preferindo voltar-se ao comércio interno. Como destacam Cervo e Lessa (2014, p. 145):
Ora, como a economia nacional alcançara o maior indice de industrialização da América Latina, o dinamismo do comércio exterior brasileiro estava ligado ao dinamismo das exportações de manufaturados. Urgia proceder a uma reestruturação produtiva nesse sentido, para repor a pauta industrial do comércio exterior. Como não ocorreu, as estatisticas indicam consequências negativas e múltiplas.
Lacerda e Ramos (2020) e Pessoti (2020) ponderam que, os efeitos da crise econômica iniciada em 2008 provocam um acentuado processo de estagnação da economia. Os autores destacam que o Produto Interno Bruto (PIB) per capita do Brasil, ou em outras palavras, a renda média do país obtida dividindo o PIB total pelo número de habitantes, não cresceu mais do que 0,3 % no biênio 2017-2019 e que, ao analisar o comportamento desta variável no período 2015-2016, a queda é de 6%, o que configura um processo de crise econômica no Brasil, que gera não só redução da renda dos trabalhadores, mas também desemprego através do fechamento de postos de trabalho.
No seio da estagnação econômica, o ano de 2020 é marcado pela pandemia do novo coronavírus, que agrava ainda mais o processo de crise da economia brasileira, visto os impactos do vírus através do isolamento social e do fechamento de atividades intensivas de contato (setor de serviços), as quais Blanchard (2020) destaca serem as maiores geradoras de riqueza da maioria dos países.
Em face do exposto, o presente artigo tem como objetivo analisar a dinâmica de comércio internacional do estado da Bahia com o Mercosul sob à otica das exportações e importações e detectar os efeitos da pandemia nessas variáveis, visto que a economia baiana é parte da da economia nacional, enfrentando problemas similares do ponto de vista da inserção no comércio internacional e dos efeitos do novo coronavírus. Para o cumprimento desse objetivo, este artigo utilizou as bases de dados da Superintendência de Estudos Econômicos e Sociais da Bahia (SEI) e do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC) para compreender a pauta de importações e exportações da Bahia, e como elas se relacionam dentro do Mercosul.
O artigo conta com três seções além dessa introdução: uma breve revisão sobre as teorias de comércio internacional e a criação do Mercosul; outra de análise da evolução da economia da Bahia e a última sobre as relações de exportação e importação da Bahia com o Mercosul.
2. Teorias do comércio internacional e criação do Mercosul
O estudo das relações de comércio internacional busca compreender de que modo os diversos países do mundo cooperam entre si dentro de um sistema de interdependência entre eles. Dentro desse sistema, não apenas as relações comerciais ganham importância, mas também as relações (e instrumentos) políticos, culturais, sociais e governamentais são ponderados ao analisar qualquer relação de comércio externo atual.
Lima (2006) destaca que o estudo da economia internacional começa de fato em 1758 om o ensaio Balance of Negotiations2 de David Hume, que debatia os efeitos da política mercantil britânica na economia nacional e na europeia.
Vinte anos depois, outro britânico, Smith (1996), publica sua obra celebre intitulada The Wealth of Nations3, no qual instaura de vez o debate sobre o intervencionismo na economia e sobre os mecanismos da "mão invisível". Tal discussão acabaria dentre outras coisas, a levar os preços mundiais de bens comerciáveis a um ponto de equilíbrio determinado por duas grandes forças: a oferta e demanda mundiais.
A partir dos estudos de Hume e Smith, outros autores passaram a se debruçar mais a fundo sobre as relações comerciais internacionais. Dentre estas teorias, algumas ganharam destaque, como a teoria das vantagens comparativas de Ricardo (1996), a teoria 2x2 fatores de Heckscher-Ohlin e o modelo de economias iguais de Krugman e Obstfeld (2001).
Em relação às vantagens comparativas de Ricardo, seriam resultantes do aproveitamento das diferenças nas dotações do fator de produção trabalho. A capacidade de um país produzir um bem melhor que em outro seria explicada pela produtividade do trabalho nas indústrias do país (Lima, 2006).
Inspirados pelos escritos ricardianos, a teoria de Heckscher-Ohlin acrescentou novos elementos ao debate. Segundo esse modelo, o determinante das vantagens comparativas não mais pode ser entendido como as dotações do fator trabalho, mas sim a abundância proporcional de outros fatores de produção como o capital (Krugman e Obstfeld, 2001 ).
Para que um país tenha vantagem comparativa em relação ao outro, duas condições precisam ser atendidas: i) utilizar de forma correta das diferenças das dotações dos fatores e ii) se o comércio exterior conduzir a uma equalização entre os preços dos fatores de produção entre os países.
Já o modelo de Krugman, segundo Krugman e Obstfeld (2001), foi baseado em um modelo de comércio internacional apoiado nas diferenças entre as técnicas de produção e no nível tecnológico utilizado para a produçãodesses produtos. Os autores pontuam que:
[...] a organização da produção, as economias de escala, a concorrência imperfeita e a acumulação de capital e tecnolôgica (aprendizagem) conduzem a um patamar de produtividade ou de economias de escala dinâmicas que implicam o aumento do comércio internacional. (p. 22).
Estes modelos, em diferentes períodos da história, contribuíram para tornar o campo da economia internacional um ramo importante de análise pautada nos efeitos do comércio internacional na economia real. A economia internacional ganha ainda mais importância com o processo de globalização iniciado nos anos 1990 e que perdura neste século XXI. Com o crescimento das redes de comunicações, as reduções de distâncias, as formações dos blocos econômicos, os acordos comerciais e as novas formas de produção, as nações mundiais nunca estiveram tão próximas em toda a história, seja comercializando produtos e serviços, seja com os investimentos estrangeiros diretos que movimentam vultosos fluxos de dinheiro. A economia tem se tornado cada vez mais global, sendo praticamente impossível de qualquer país não ter algum tipo de relação econômica neste contexto.
Ato contínuo, diante deste cenário, é importante entender que os blocos econômicos são instrumentos que diversos países de uma mesma região e/ou continente utilizam a fim de formar um mercado regional comum através de facilidades que podem ser monetárias, aduaneiras ou tarifárias. Como destacam Gomes (2000) e Ohlweiller (1989), o Mercado Comum do Sul (Mercosul) criado em 1991 através do tratado de Assunção com os estados-membros Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai, tinha como principais objetivos, promover a integração dos países da América do Sul, especialmente os do Cone Sul, nos âmbitos econômico, político e social. Igualmente, deseja preservar democracia dos países do continente sul-americano.
A organização do Mercosul se deu através do Protocolo de Ouro Preto de 1994 que estabelecia uma estrutura institucional composta por: i) Conselho do Mercado Comum (CMC): o instrumento encarregado da direção política no processo de integração. A presidência deste Conselho é exercida de maneira rotativa, a cada seis meses, por cada um dos Estados-Membros; ii) Grupo Mercado Comum (GMC): trata-se de um grupo com poder de decisão para fixar programas de trabalho e negociação de acordos com terceiros em nome do Mercosul; Comissão de Comércio do Mercosul (CCM): auxilia o GMC a elaborar a política comercial do bloco, entre outros orgãos que cuidam da parte econômica e administrativa do bloco (Gomes, 2020).
Em virtude do estado da Bahia ser pertencente a um dos estados-membros do Mercosul (o Brasil), é importante entender quais as relações de exportação e importação a economia baiana estabelece com este bloco. Entretanto, antes dessa análise, é necessário discorrermos sobre a evolução histórico econômica do estado da Bahia, de modo a compreender como a análise macro da formação econômica baiana se correlacionou com o comércio externo.
3. Evolução histórico-econômica do estado da Bahia
No que diz respeito a evolução histórico-econômica da Bahia, segundo Pessoti e Sampaio (2009), desde o século XIX, a então Província da Bahia já possuía uma economia pautada no setor agrícola, tendo o cacau como principal fonte de desenvolvimento econômico do estado e de relações de comércio exterior. Além disso, a então Província da Bahia já possuía uma estrutura industrial pautada sobretudo no ramo têxtil, sendo também encontradas fábricas de charutos, sabonetes e do ramo metalúrgico, sendo as últimas mais voltadas para o abastecimento da demanda interna.
Teixeira e Guerra (2000) e Cavalcante e Teixeira (1998) argumentam que, somente a partir dos anos 1950 que o estímulo à indústria passou a ser retomado através de intervenções estatais planejadas, sobretudo na Região Metropolitana de Salvador (RMS), e da oferta de terrenos infraestruturados e incentivos fiscais dos quais surgiram grandes obras importantes e históricas para a industrialização baiana nas décadas seguintes, a saber a Refinaria Landulpho Alves (RLAM), o Centro Industrial de Aratu (CIA) e o Complexo Petroquímico de Camaçari (COPEC).
Uderman (2005) e Pessoti e Pessoti (2010) ressaltam que a partir desses grandes empreendimentos , há uma significativa mudança no modelo de estrutura produtiva da economia baiana, que perde de vez a característica de economia agroexportadora e consolida a feição do desenvolvimento da indústria baseado na produção de bens de consumo intermediários,principalmente setores siderúrgico-metalúrgico e petroquímico,com o objetivo a servir como atividade complementar às dinâmicas industriais do Sudeste do país.
A partir dos anos 1980, sem poder contar mais com o apoio do Estado na dinamização das economias menos favorecidas, coube aos estados subnacionais desenvolver um processo autônomo na condução do planejamento econômico. Aqueles que outrora galgaram um processo de acumulação capitalista (poupança) conseguiram manter o status dominante. Os outros, excluídos historicamente deste processo, tiveram que abrir suas economias ao capital estrangeiro, sobretudo, com o apoio dos incentivos fiscais (Lacerda, Pessoti e Jesus, 2013).
Essa dinâmica dos anos 1980 encontra continuidade nas décadas seguintes na economia baiana, que,em uma tentativa I através da reorganização das contas públicas (que permitiu a Bahia ter acesso a financiamentos de instituições para execução de obras de infraestrutura econômica) e de programas fiscais como o PROBAHIA e o DESENVOLVE, atrair grandes indústrias de diversos setores, de modo a promover tanto a diversificação da estrutura industrial do estado quanto maiores conexões com o setor internacional.
Contudo, esta tentativa de diversificação econômica não encontra sucesso, e a economia baiana continua atrelada a um modelo quase inalterado voltado a produção de bens de consumo intermediários, ancorados na força do setor químico e petroquímico e altamente concentrados em torno da Região Metropolitana de Salvador (RMS). Lacerda, Pessoti e Jesus (2013, p. 152) destacam que:
Os entraves à dinâmica de redimensionamento da espacialização produtiva baiana residiam na insuficiência de infraestrutura, nas pressões políticas regionais e nas dificuldades de acesso aos mercados, principalmente internacionais, de uma parcela considerável dos territôrios do estado. A evolução econômica da Bahia sempre apresentou um perfil de pouca diversificação, o que resultou numa relação de extrema dependência das oscilações de um grupo restrito de mercadorias no cenário internacional.
Nos anos 2000, a economia baiana experimenta a introdução de novos setores industriais, tais como celulose, papel, calçadista e automobilístico, e a expansão dos setores já tradicionalmente fortes, o que permitiu a Bahia alcançar um grau de diversificação significativo, de modo a ampliar o rol de produtos a serem comercializados no mercado externo, aumentando os fluxos comerciais e financeiros e o nível das exportações.
A crise de 2008 causa profundos impactos ao redor do mundo, incluindo a economia brasileira. Sobre estes efeitos, Lima e Deus (2013, p. 55-56) destacam que:
Dado o papel fundamental das expectativas dos agentes, o setor bancário reagiu com muita prudência e retraiu consideravelmente o crédito na economia brasileira, levando, consequentemente, as empresas a reverem seus planos de produção e de investimento. A forte retração da oferta de crédito bancário tanto no mercado doméstico como a interrupção de linhas externas foram condições suficientes para provocar uma redução na demanda interna e ancorar as expectativas de inflação.
O segundo efeito recorrente da crise de 2008/2009 se dá nas transações de capitais no país e no preço da moeda internacional. A rápida e desordenada desvalorização do câmbio provocou uma forte desestabilização na economia brasileira.Várias empresas do setor produtivo, principalmente as exportadoras, sofreram fortes prejuízos com a valorização do real. Além da própria redução das exportações, algumas empresas que se voltam para o mercado externo realizaram grandes quantidades de operações de forward target no período anterior a crise.
Entretanto, medidas anticíclicas por parte do Estado foram tomadas para a contenção da crise pós 2008, conforme salienta Nascimento, Britto e Santana (2017, p. 32):
A economia brasileira, por sua vez, recupera-se lentamente, deixando incertos os horizontes possiveis de sua evolução macroeconômica. A conjuntura atual combina inflação baixa, taxa Selic em queda, tímida reativação do mercado de trabalho, dificuldades fiscais relevantes, níveis de arrecadação tributária ainda baixos e capacidade ociosa na indústria. Essa conjunção de fatores não permite vislumbrar, em médio e longo prazos, uma saida sustentável para a crise, ainda que a elevada capacidade ociosa dos fatores de produção enseje um crescimento da produção no curto prazo. Por sua vez, a economia baiana ressente-se da grave crise que atingiu os setores da indústria e de serviços. Embora haja uma desaceleração no ritmo de queda destes, os indicadores não registram, diferentemente do que ocorre em outros estados, resultados positivos para estes setores. Portanto, a retomada da economia baiana ocorre de forma mais lenta em comparação com a economia nacional em seu conjunto.
Aliado a este cenário de lenta recuperação econômica após crise de 2008, o ano de 2020 é marcado pela pandemia do novo coronavírus que impacta palpavelmente nas relações de comércio exterior. Com as restrições impostas pelo distanciamento social e trabalho remoto, inúmeras transações deixaram de ser realizadas, surgiram problemas de reabastecimento com a falta de componentes e/ou insumos ou até mesmo de atrasos na produção dos grandes mercados globais, o que acabou por gerar escassez de determinados produtos dos mais variados setores.
Em face do exposto, última seção deste artigo pretende estudar e analisar a dinâmica de comércio internacional do estado da Bahia com o Mercosul sob à otica das exportações e importações e detectar os efeitos da pandemia nessas variáveis. A escolha se dará na anáise comparativa nos anos de 2019 e 2020. A escolha por estes dois anos se deu tanto para demonstrar as principais relações e dinâmicas internacionais da Bahia frente ao Mercosul, quanto para compreender os efeitos da pandemia do novo coronavírus nas referidas variáveis (exportação e importação).
4. Pandemia e dinâmicas de comércio internacional: análise da relação Bahia-Mercosul sob à ótica das exportações e importações
Antes de analisar as dinâmicas de comércio internacional em relação ao Mercosul e detectar os efeitos da pandemia nestas dinâmicas, torna-se necessário compreender o contexto no qual a economia baiana está inserida, que é a economia brasileira. O comportamento da balança comercial brasileira (a diferença entre exportações e importações em um determinado período de tempo) é um importante indicador comparativo de desempenho seja entre países, nações ou regiões.
Os dados da Tabela 1 são referentes ao comportamento da balança comercial brasileira no biênio 2019-2020(antes e durante a pandemia). Os dados demonstram que há variação negativa tanto do ponto de vista das exportações (-6,88%), quanto das importações (-10,38 %) e da corrente de comércio (a soma das exportações mais importações), que tem uma redução de 8,42%, o que demonstra a relevância dos efeitos da pandemia do novo coronavírus no fluxo de comércio internacional brasileiro.
Fonte: Brasil (2021) e Superintendência de Estudos Econômicos e Sociais da Bahia (2020). Elaboração prôpria.
Em relação a balança comercial da Bahia no biênio 2019/2020, é observada também uma tendência que acompanha a balança comercial brasileira, do ponto de vista da queda das exportações, importações e corrente do comércio. Entretanto, um dado chama a atenção em relação a economia brasileira que são as importações baianas, com queda de quase 30%, que resulta em uma queda da corrente de comércio de mais de 15 %. Os dados são apresentados na Tabela 2.
Fonte: Brasil (2021) e Superintendência de Estudos Econômicos e Sociais da Bahia (2020).. Elaboração prôpria.
Segundo o Boletim de Comércio Exterior da Bahia (2020, p. 3), o resultado obtido pelas exportações baianas em 2020 foi motivado basicamente:
[...] pela queda nos preços médios dos produtos vendidos ao exterior, que se desvalorizaram 25,5% no ano (sempre comparado com 2019), já que o volume embarcado (quantum) exibiu crescimento de 28,7% em comparado ao mesmo período. Pesaram ainda positivamente no resultado, o ajuste da taxa de câmbio nominal, com desvalorização média de 30% do real em relação ao dôlar; a safra recorde de grãos e o voraz apetite chinês no mercado de commoodities.
Para compreender de forma mais detalhada a acentuada queda das importações baianas no biênio 2019/2020, é necessário analisar de forma detalhada os principais setores da economia baiana, de modo a entender o impacto de cada um nas importações gerais. Os dados contidos na Tabela 3 demonstram que os bens de consumo intermediários (produtos químicos, metalúrgicos, borracha, papel, celulose entre outros), os combustíveis e lubrificantes e os bens de consumo não duráveis (alimentos, cosméticos, medicamentos entre outros), foram os principais afetados nas importações do biênio, uma vez que os referidos setores (principalmente o químico e o petroquímico), são historicamente, os protagonistas da economia baiana.
Fonte: Brasil (2021) e Superintendência de Estudos Econômicos e Sociais da Bahia (2020). Elaboração prôpria.
Além disso, os dados da Tabela 3 demonstram que do ponto de vista da importação, que o setor de bens intermediários participa por mais de l/3 das importações do estado (75,17%), sendo seguido de longe pelo setor de bens de capital (15,84%) e pelos combustíveis e lubrificantes (4,28%).
Em relação as importações da Bahia perante o Mercosul no biênio, os dados da Tabela 4 demonstram que no biênio 20192020, há pequena variação negativa de 0,66 % no valor das importações Free on Board (FOB) por US$ 1000 dólares (US$ 712.011 em 2019, 707.339 em 2020). Entretanto, há variação positiva de 23,78% nas toneladas importadas pela Bahia frente ao Mercosul no mesmo período observado (760.943 toneladas em 2019, 941.919 em 2020).
Fontes: Brasil (2021) e Superintendência de Estudos Econômicos e Sociais da Bahia (2020). Elaboração prôpria.
No que tange as exportações, os dados da Tabela 5 demonstram uma dinâmica diferente das importações no mesmo período observado. Chama a atenção a variação negativa das exportações baianas em relação ao Mercosul (-30,12%) no valor das exportações Free on Board (FOB) por US$ 1000 dólares (490.432 em 2019, 339.427 em 2020), e redução também nas toneladas exportadas (242.066 em 2019, 205.494 em 2020).
Fonte: Brasil (2021) e Superintendência de Estudos Econômicos e Sociais da Bahia (2020). Elaboração prôpria.
Concomitantemente, além das análises de exportações e importações, que já demonstram os impactos pandêmicos na dinâmica internacional da Bahia com o Mercosul, sobretudo nas exportações conforme os dados apresentados neste artigo. Entretanto, como forma complementar as análises feitas, cabe também uma análise sobre os principais setores exportadores da Bahia no biênio 2019-2020. Os dados na Tabela 6 demonstram que, os principais setores históricos exportadores da Bahia tais como Pétroleo e Derivados e Químico e Petroquímicos apresentaram quedas bastante significativas no preço médio. Além disso, o setor e Químico e Petroquímicos e Metalúrgico apresentam reduções tanto no preço médio quanto nos valores exportados por US$ 1000 FOB.
Fonte: Brasil (2021) e Superintendência de Estudos Econômicos e Sociais da Bahia (2020). Elaboração prôpria.
Ato contínuo, a análise dos resultados obtidos pelos resultados identifica que as dinâmicas de comércio internacional da economia baiana dentro do mercado internacional se dão sobretudo na produção e exportação de commodities agrícolas (soja e derivados) e produtos derivados da indústria química e petroquímica (petróleo e derivados), além do papel e da celulose, cujos principais destinos são a Ásia e a União Europeia como blocos econômicos, tendo a China como principal destino das exportações baianas. Sob a ótica da importação, a inserção no mercado internacional se dá nos bens intermediários e de capital advindos principalmente da Ásia e dos Estados Unidos. Neste sentido, o Mercosul ainda não encontra o protagonismo na dinâmica internacional, embora encontre relevância tanto no destino das exportações, quanto das importações.
Estes resultados corroboram com análises feitas por De Negri (2005), Spínola (2004) Pessoti e Sampaio (2009) e Silva, Alvez, De QUeriroz e Miyaji (2013), que destacam que no contexto internacional, historicamente a Bahia sempre obteve destaque em produtos semimanufaturados e manufaturados e em exportações agrícolas. Os autores, entretanto, chamam a atenção que estes setores são menos dinâmicos e competitivos em relação aos padrões internacionais de comércio, sendo necessário pensar em um novo modelo de inserção internacional baseado na produção sobretudo, de tecnologia. Como destacam Silva et al (2013, p.155),"o fato da pauta de exportação baiana ser especializada em produtos oriundos de firmas dominadas por fornecedores revela a defasagem tecnológica em que se encontra atualmente o setor industrial da economia baiana".
Nesse sentido, torna-se crucial para promover uma maior inserção da economia baiana no mercado externo, que sejam firmadas parcerias entre as empresas e o setor público no sentido de propor iniciativas voltadas ao aproveitamento da tecnologia, seja na captação de indústrias para o estado de modo a criar complexos tecnológicos , seja no investimento na capacitação da mão-de-obra existente no estado através do incentivo da educação e da tecnologia em diversos setores como produção de eletrônicos, inteligência artificial, nanotecnologia, internet das coisas, produtos farmacêuticos , além do fortalecimento por exemplo da indústria química, setor historicamente forte da economia baiana.
Em face do exposto, estas medidas acima citadas contribuirão tanto para o aumento da competitividade das exportações baianas, quanto para o aumento da inserção e da diversificação da Bahia no mercado internacional, hoje "limitada" apenas em commodities e produtos oriundos do setor químico e petroquímico.
5. Considerações finais
As últimas três décadas foram marcadas por intensas transformações do ponto de vista dos fluxos comerciais globais, que impuseram inúmeros desafios para as economias nacionais, principalmente as economias fora do principal eixo mundial, para se realocarem nessas novas configurações.
Aliado a este processo, o ano de 2020 é marcado pela pandemia do novo corona vírus, que impõe medidas restritivas de distanciamento social, trazendo novas configurações do ponto de vista das relações globais tanto de exportação, quanto da importação de novos produtos, o que acabou por frear e atrasar inúmeras transações globais, reduzindo este fluxo.
A proposta deste artigo consistiu em analisar a dinâmica de comércio internacional do estado da Bahia com o Mercosul sob à otica das exportações e importações e detectar os efeitos da pandemia nessas variáveis.
Como resultados obtidos, foi detectado que a Bahia tem em suas principais conexões globais com as commodities agrícolas e de produtos derivados da indústria química e petroquímica, cujo principal destino não é o Mercosul, e sim a a China, União Europeia e Estados Unidos, além de apresentar significativas quedas em suas relações com a mesma.
Além disso, os desafios impostos para a economia baiana neste século passam pela capacidade do estado de se inserir nos fluxos globais de inovação e tecnologia, que permitirão a Bahia tanto uma maior dinâmica no comércio mundial, quanto um maior desenvolvimento econômico no estado nos próximos anos.