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Investigación y Educación en Enfermería

Print version ISSN 0120-5307On-line version ISSN 2216-0280

Invest. educ. enferm vol.30 no.1 Medellín Jan./Apr. 2012

 

ARTÍCULO ORIGINAL / ORIGINAL ARTICLE/ ARTIGO ORIGINAL

 

Vivências dos estudantes de pré-grau com as matérias de administração de enfermagem

Vivencias de los estudiantes de pregrado con las asignaturas de administración de enfermería

Nursing undergraduates experiences with nursing management subjects

 

 

Eliana Ofelia Llapa-Rodríguez1

Ticiana Sirqueira Carvalho2

Cristiane Franca Lisboa Gois3

Alzira Maria d’Ávila Nery Guimarães4

 

1 Enfermeira, Doutora em Enfermagem. Docente do Departamento de Enfermagem da Universidade Federal de Sergipe, Brasil. email: elianaofelia@gmail.com.

2 Enfermeira, Especialista em Enfermagem em Cardiologia e Centro Cirúrgico. Docente do Departamento de Enfermagem da Universidade Federal de Sergipe, Brasil. email: tissacarvalho@yahoo.com.br.

3 Enfermeira, Doutora em Enfermagem. Docente do Departamento de Enfermagem da Universidade Federal de Sergipe, Brasil. email: cristianeflg@hotmail.com.

4 Enfermeira, Especialista em Enfermagem em Cardiologia e Centro Cirúrgico. Docente do Departamento de Enfermagem da Universidade Federal de Sergipe, Brasil. email: alziranery@uol.com.br.

 

Subvenciones: ninguna.

Conflicto de intereses: ninguno a declarar.

Cómo citar este artículo: Llapa-Rodríguez EO, Carvalho TS, Gois CFL, Guimarães AMDN. Vivências dos estudantes de prégrau com as matérias de administração de enfermagem. Invest Educ Enferm. 2012;30(1):86-94.

 


 

RESUMO

Objetivo. Explorar a percepção dos alunos de enfermagem com respeito a suas vivências com as matérias de administração. Metodologia. Estudo de caso no que se utilizou a análise de conteúdo e a matriz de Fortalezas e Oportunidades, Debilidades e Ameaças. De dezembro de 2009 a agosto de 2010 se realizou a investigação na que participaram 18 estudantes de enfermagem do 6º e 7º semestre de uma universidade federal brasileira. Resultados. Dos núcleos identificados surgiram as seguintes categorias: 1) o aluno de enfermagem e sua recepção nas instituições de saúde, 2) a conexão entre a teoria e a prática, 3) o papel do professor e a organização da matéria, e 4) o papel do aluno na matéria. Surgiram possibilidades e limitações a respeito do processo de ensino analisado. Conclusão. O processo ensino-aprendizagem desta matéria não é adequado, pelo que se requerem estratégias de ação que equilibre os conteúdos acadêmicos dados com o contexto local.

Palavras chaves: educação em enfermagem; organização e administração; docentes.

 


 

RESUMEN

Objetivo. Explorar la percepción de los alumnos de enfermería con respecto a sus vivencias con las asignaturas de administración. Metodología. Estudio de caso en el cual se utilizó el análisis de contenido y la matriz de Fortalezas y Oportunidades, Debilidades y Amenazas. De diciembre de 2009 a agosto de 2010 se realizó la investigación en la que participaron 18 estudiantes de enfermería del 6º y 7º semestre de una universidad federal brasileña. Resultados. De los núcleos identificados surgieron las siguientes categorías: 1) el alumno de enfermería y su recepción en las instituciones de salud, 2) la conexión entre la teoría y la práctica, 3) el rol del profesor y la organización de la asignatura, y 4) el rol del alumno en la asignatura. Surgieron posibilidades y limitaciones acerca del proceso de enseñanza analizado. Conclusión. El proceso enseñanza-aprendizaje de esta asignatura no es adecuado, por consiguiente, el componente pedagógico y metodológico de esta asignatura requiere estrategias de acción que equilibren los contenidos académicos impartidos con el contexto local.

Palabras clave: educación en enfermería; organización y administración; docentes

 


 

ABSTRACT

Objective. To explore the perception nursing students have towards their experiences with management subjects. Methodology. Case study, in which, content analysis and the Strengths Opportunities Weaknesses and Threats matrix were used. The research was carried out from December 2009 to August 2010. 18 nursing students from the 6th and 7th semesters of the Federal Brasileña University participated Results. From the nucleus identified the following categories emerged: 1) Nursing student and their reception in health institutions, 2) theory and practice connection, 3) professor’s role and subject organization, 4) student’s role in the subject. Possibilities and limitations about the analyzed teaching process emerged. Conclusion. The subject’s teaching-learning process is not appropriate, reason why action strategies are required to balance academic contents with local contexts.

Key words: education, nursing; organization and administration; faculty.

 


 

INTRODUÇÃO

Como conseqüência da globalização, os processos de trabalho nas instituições de saúde têm ficado cada vez mais complexos. Inserido nessa dinâmica, o enfermeiro, desde Florence Nigthingale, vem desenvolvendo a dimensão prática do saber administrativo, através do qual é possível adequar planos estratégicos que favoreçam a organização do trabalho e, consequentemente a produção do cuidado.

Para atingir essa finalidade, o acadêmico é preparado durante a graduação. Esse processo de ensino-aprendizagem cria oportunidades para que o discente desenvolva potencialidades e habilidades para atuar em uma práxis condizente e transformadora da realidade, buscando capacitá-lo na prestação de cuidados, na promoção da saúde, na prevenção de doenças e na recuperação de lesões. Assim, o enfermeiro incorpora, em sua formação, conhecimentos, saberes e habilidades, a partir de uma consciência crítica e participativa de acordo com a realidade social, política e cultural da região.

Segundo a literatura, as competências profissionais contemplam um “saber agir” responsáveis, que implicam em mobilizar, integrar e transferir conhecimentos, recursos e habilidades direcionadas em três dimensões distintas: a pessoal ou singular, a organizacional ou particular e a estrutural.1 Nesse sentido, as Diretrizes Curriculares Nacionais (DCNs) direcionam e articulam a formação de recursos humanos em enfermagem visando à atenção da demanda dos serviços de saúde. Assim sendo, toda disciplina na graduação deve oferecer as condições necessárias para o desenvolvimento de competências profissionais durante o processo de formação do futuro enfermeiro.

Nas últimas décadas, a educação dos profissionais de enfermagem tem sido profundamente repensada. Estudo realizado em São Paulo apontou a necessidade e importância de refletir sobre a formação dos futuros enfermeiros propondo mudanças na assistência, no gerenciamento, nas relações de trabalho e nos modelos de organização dos processos.2 Menciona-se, ainda, que a disciplina de administração favorece e capacita o acadêmico no gerenciamento de enfermagem através da aplicação do saber administrativo, onde o professor é visto como o elo que favorece a discussão e estabelece a relação da teoria com a prática, possibilitando assim a ampliação do entendimento do aluno. Portanto, através dessa disciplina, se preparam profissionais com possibilidades de desenvolver competências gerenciais e com a capacidade de aliar questões gerenciais e assistenciais.1

Por sua vez, a disciplina de administração em enfermagem assume um compromisso real e consciente com o futuro profissional, considerando que as organizações e a população precisam de profissionais competentes para o alcance de metas e objetivos, bem como para a prestação de um atendimento de qualidade. A respeito apontam-se como competências específicas e necessárias, para formação do enfermeiro, às técnico-científicas, as sócio-educativas e as ético-políticas.3 Nesse sentido, o desenvolvimento de competências modifica sobremaneira o desempenho dos acadêmicos, tornando-os reflexivos, críticos e seguros de seus atos. Assim, espera-se que por meio do processo ensino/aprendizado na graduação, o acadêmico desempenhe diversas atividades de complexidade variada.1 Por outro lado, cabe à instituição de ensino decidir quais as estratégias e as ferramentas necessárias para facilitar e propiciar à formação desse futuro profissional, ressalvando, em todo momento, a preocupação de oferecer um ensino de qualidade, a fim de alcançar o perfil profissional desejado.1

O contexto anterior nos leva a refletir acerca da vivência dos docentes na disciplina de administração, especialmente em relação ao desenvolvimento do processo de ensino-aprendizagem, bem como refletir sobre a vivência desses acadêmicos, através da qual será possível conhecer a sua percepção. Assim sendo, através do compromisso assumido, e da responsabilidade com o ensino, nos sentimos motivados e inquietados para realizar um diagnóstico das disciplinas de administração, a fim de conhecer a real percepção dos acadêmicos, com o intuito de propor estratégias e oferecer subsídios que permitam encaminhar sugestões de melhoria.

Nesse contexto, nossos objetivos foram (1) conhecer a percepção que os acadêmicos de enfermagem têm sobre sua vivência nas disciplinas de administração cursadas e (2) analisar os dados resultantes da matriz FOFA (forças, oportunidades, fraquezas, ameaças) verificando a percepção dos acadêmicos matriculados nas disciplinas de administração de um curso de graduação de Enfermagem.

 

METODOLOGIA

Trata-se de uma pesquisa qualitativa de caráter descritivo exploratória. O método adotado foi o Estudo de Caso por estar circunscrito a um único grupo, e por observar fatos tal e como ocorrem na realidade.4 O estudo utilizou como unidade-caso o ensino das disciplinas de administração de uma instituição de ensino superior, que possui curso de graduação em enfermagem, de uma Universidade Federal. Realizado com uma turma de 18 acadêmicos que cursaram as disciplinas de “Administração dos Serviços de Enfermagem em Unidade Básica de Saúde” e a disciplina de “Administração em Enfermagem Hospitalar”. A carga horária distribuída em 120 horas de teoria/prática para ambas as disciplinas, no sexto e sétimo período, respectivamente. Ressalta-se que os mesmos sujeitos foram entrevistados em dois tempos, quando cursavam a primeira disciplina no sexto período e, quando cursavam a segunda disciplina no sétimo período.

A pesquisa aprovada pelo Comitê de Ética com CAAE n° 0326.0.115.000-09 executada durante o período de Dezembro de 2009 a Agosto 2010. Os sujeitos da pesquisa foram esclarecidos sobre os objetivos do estudo e, ao aceitarem voluntariamente participar da pesquisa, foi solicitada a assinatura do termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) conforme a Resolução nº 196/96 do Conselho Nacional de Saúde (CNS). Garantindo o anonimato, os sujeitos foram denominados, no estudo como ah 1 até ah 18 e aubs 1 até aubs 18.

Para a coleta de dados foi utilizado um questionário, previamente elaborado e auto-aplicado, com a finalidade de caracterizar o sujeito; e, de perceber a vivência do acadêmico quanto ao processo de formação nas disciplinas de administração em enfermagem. No tratamento dos dados utilizou-se: (1) a análise de conteúdo, na modalidade temática, por destacar o tema como unidade de significação que permite descobrir os núcleos de sentido. Desta forma, buscou-se compreender a percepção dos sujeitos acerca do desenvolvimento da disciplina. Os dados foram analisados alicerçados na pré-análise, na exploração do material, no tratamento dos resultados, na inferência e na interpretação, identificando-se categorias que emergiram dos relatos dos sujeitos. Por outro lado, parte dos dados do questionário, terceira parte, foi analisada segundo (2) a matriz de Fortalezas e Fraquezas, Oportunidades e Ameaças (FOFA), quatro eixos utilizados no planejamento estratégico.

Através da matriz FOFA são analisadas as condições internas e externas, quer dizer, utiliza-se de um processo interativo para análise das Fortalezas, Oportunidades, Fraquezas e Ameaças, com as seguintes finalidades: analisar e melhor utilizar os pontos fortes; eliminar os pontos fracos; conhecer e usufruir as oportunidades externas e, evitar as ameaças.5

 

RESULTADOS

O perfil dos sujeitos mostra predominância do sexo feminino (83%); entre as idades de 20 e 28 anos (91%); solteiros (75%); sem vínculo empregatício (98%); e das classes sócio-econômicas baixa e média (totalizando 93%).

Análise de Conteúdo

Tentando alcançar os objetivos propostos, o primeiro passo foi analisar os depoimentos dos participantes utilizando a pergunta: Qual é sua opinião com relação à maneira como a disciplina de administração em enfermagem (teoria/prática) foi ministrada e desenvolvida? Assim, foi possível identificar os núcleos de sentido de onde emergiram as seguintes temáticas para discussão: (1) o acadêmico de enfermagem e a receptividade do campo; (2) a conexão entre teoria e prática; (3) o papel do professor e a organização da disciplina; e (4) o papel do aluno na disciplina.

O acadêmico de enfermagem e a receptividade do campo. O acadêmico reconhece que a receptividade do campo tem um papel importante no desenvolvimento das aulas práticas, permitindo ou abrindo caminhos para colocar em prática o aprendido na teoria. Como evidenciamos a seguir: Tivemos liberdade de ação quanto ao nosso planejamento e apoio da UBS no decorrer das atividades (aubs1); tivemos livre acesso à unidade e conseguimos realizar todas as atividades planejadas, bem como o apoio de toda a UBS (aubS4). Os depoimentos dos alunos permitem perceber a importância da abertura do campo, quando realizadas as aulas teóricas, e quanto isso acrescenta no seu desenvolvimento e crescimento como futuro profissional.

Por outro lado, mencionaram que mesmo tendo receptividade dos níveis superiores, como a gerência de enfermagem, às vezes alguns profissionais podem não estar preparados para receber acadêmicos, o qual torna um pouco difícil o andamento da aula prática, tal como relatado a seguir: os profissionais atuantes na enfermagem resistiram à presença de acadêmicos (ah18); [...] existem enfermeiros que não oferecem oportunidade para os alunos, afirmando que não querem ninguém atrás deles [...] não procuram ajudar o acadêmico devido a se apropriarem daquele serviço (ah1); trataram a gente com desprezo, a equipe técnica aceita melhor a nossa presença do que os próprios enfermeiros (ah6); Observei resistência de alguns profissionais (aubs3).

A conexão entre a teoria e a prática. Os sujeitos mencionam que essa relação possibilita a capacidade de resolver problemas e sistematizar a assistência e, quando não existe essa conexão sentem-se perdidos, encontrando pouca coerência no executado, como a continuação: as aulas teóricas são baseadas nos livros, sem conexão com a realidade observada (ah1); [...] o conteúdo exibido nas aulas teóricas, às vezes, fugia da realidade encontrada no campo de estágio [...] as situações vivenciadas eram diferentes das passadas na teoria (ah4); [...] as aulas teóricas deveriam ser feitas como oficinas, estudos de caso (ah5). Da mesma forma, reconhece-se que as aulas práticas favorecem o aprimoramento do conhecimento e da aprendizagem, como apontado seguir: [...] todo o conteúdo abordado em sala de aula foi importante para a prática [...] (aubs6).

O papel do professor e a organização da disciplina. A qualificação do professor é indispensável e favorece o melhor direcionamento da disciplina, como mencionado a seguir: [...] temos preceptores qualificados [...] alguns disponíveis fora do horário das aulas e que orientam o aluno (ah17); [...] alguns professores se empenham e são dedicados [...] (ah18); a preceptora não desistiu de nossa equipe apesar dos nossos erros (ah1);[...] professora do campo de estágio, bem preparada para a disciplina [...] (aubs2).

Podemos inferir que, o papel do professor foi de fundamental importância no desempenho e aproveitamento do aluno, como apontado na continuação: os professores juntamente com as experiências relatadas, em sala de aula, foram de grande importância e contribuíram para o conhecimento e desempenho dos discentes na disciplina (aubs9); o professor ajuda bastante no desempenho da disciplina, mesmo que o campo de prática seja ruim, ele consegue adaptar e buscar alternativas para que possamos desenvolver as atividades previstas pela disciplina (ah3); o preceptor apontando nossas falhas para melhorar a cada dia (ah17).

O professor procura saber das dificuldades para melhorar o direcionamento da disciplina: [...] interesse da coordenadora da disciplina procurando resolver conflitos [...] (ah13); a metodologia que a preceptora aplicou para prosseguir a disciplina, apesar das dificuldades, garantiu uma boa qualidade da aula prática (ah18); [...] o direcionamento dado pelo professor favoreceu o êxito do trabalho realizado [...] se os acadêmicos não têm boa orientação, não conseguem desempenhar os propósitos da disciplina (aubs5). A metodologia do professor foi outro aspecto apontado: é necessário ter aulas dinâmicas que favoreçam a interação professor/aluno (aubs12); [...]. a maneira com a qual a teoria foi explorada contribui para o entendimento do conteúdo proposto pela disciplina (aubs9); a percepção do docente e a maneira de conduzir o grupo, isso faz a diferença (aubs5).

O papel do aluno na disciplina. Considera-se que, o fator aluno pode possivelmente influenciar no andamento da disciplina colocando, às vezes, a disciplina em segundo plano, tal como relatado: [...] conflitos pessoais podem dificultar o desempenho [...] (ah14); [...] motivos particulares desfavoreceram a minha aula prática (ah18). Outro aspecto mencionado foi referido à distância do campo de prática. Alguns acadêmicos mencionaram que é difícil se deslocar de suas residências até o local de prática e até a própria universidade, afirmando que o tempo gasto no deslocamento é prejudicial à motivação gerando ansiedade, como mencionado a seguir: [...] houve dificuldades devido à distância da instituição [...] (ah14) [...] muita distância entre a UBS, a residência e a própria universidade, isso dificulta [...] (ah13); Difícil acesso, para alguns de nós, à UBS (aubs2).

Análise da matriz FOFA

Posterior à análise de conteúdo, passamos para a segunda análise, para a qual foi utilizada a matriz FOFA, construída segundo os depoimentos dos acadêmicos. À luz dessa análise foi possível encontrar forças internas tais como as fortalezas e fraquezas e forças externas tais como as oportunidades e ameaças.

Com relação às oportunidades, para a disciplina de administração hospitalar, foram mencionadas: boa receptividade do campo; abertura da gerência de enfermagem; “observou-se trabalho em equipe; contrariamente foram citadas como ameaças: pouca oportunidade no campo escolhido; escassez de recursos materiais no campo de práticas; a distância entre o campo de prática e a universidade; e a dificuldade do aluno de colocar em prática o aprendido em teoria. Através desses depoimentos inferimos que não basta apenas que a receptividade do campo seja positiva, precisa-se também que o campo e os próprios acadêmicos ofereçam recursos necessários para que o desenvolvimento da prática seja singular.

Com relação às fraquezas citadas: muito conteúdo teórico; algumas aulas sem conexão com a realidade; alguns professores não abriam muita oportunidade; quebra da sequência nos dias de prática, o qual prejudicou o andamento da disciplina; e muitos trabalhos e matérias que sobrecarregavam o aluno. Por outro lado, apontaram como fortalezas: possibilidade de trabalhar em equipe; oportunidade de exercer liderança no campo de práticas escolhido; escolhas de turmas pelos acadêmicos; preceptores qualificados e disponíveis fora do horário de prática; estratégias adequadas do preceptor para conseguir atingir as metas das aulas práticas; capacidade do professor para adaptar e buscar alternativas para o desenvolvimento das atividades previstas na disciplina; Interesse da coordenadora da disciplina em procurar resolver conflitos.

A respeito da influência das ameaças na disciplina administração na UBS, foram mencionados: dificuldade de acesso à UBS e, pouca colaboração de alguns profissionais dessa instituição. Como oportunidades: abertura de campo, apoio dos profissionais da UBS; boa estrutura física; boa articulação da UBS com a comunidade e campo adequado que complementou o conteúdo teórico. Mais uma vez, afirmamos que a escolha do campo de estágio tem grande importância para que o acadêmico possa desenvolver sua prática eficientemente.

Com relação às fortalezas, foram citadas: a possibilidade de aprimorar o conhecimento; um bom direcionamento do professor e boa orientação; a adequada organização da disciplina, especialmente o relativo aos locais de estágio; textos adequados e bem trabalhados; e, aulas e professores preparados para a disciplina. Com relação às fraquezas: pouca participação dos professores substitutos; carga horária prática muito pequena; textos de difícil interpretação; mudança de professor na disciplina; e informação passada com controvérsia, principalmente em relação à avaliação e ao relatório. A esse respeito, ressaltamos o papel da comunicação como aspecto primordial que deve permear todo o processo de ensino-aprendizado, visto que ruídos podem interferir no andamento das aulas práticas.

 

DISCUSSÃO

Os resultados possibilitaram uma visão detalhada da percepção dos acadêmicos sobre a disciplina como um todo, deixando claro que a receptividade do campo, especialmente do enfermeiro e da equipe de enfermagem, abre caminhos e oferece liberdade de ação no desenvolvimento das atividades, favorecendo o crescimento do futuro profissional. Assim, fica claro que deve existir uma co-responsabilidade entre os Campos de Estágio e a Universidade.

Vale ressaltar que, as instituições de saúde devem assumir essa co-responsabilidade e compromisso com o desenvolvimento dos acadêmicos, considerando que serão os futuros trabalhadores de saúde, portanto, a acolhida deve ser vista como um investimento em termos de qualidade revertida para os serviços de saúde.1 Contudo, reconhece-se que alguns profissionais, nos campos de práticas, por vezes dificultam o processo de formação do acadêmico, situação que desfavorece o desenvolvimento das futuras competências gerenciais.

A importância da conexão entre a teoria e a prática no processo de ensino-aprendizagem foi outro aspecto explicitado pelos sujeitos da pesquisa. Assim, enfatiza-se a necessidade de desenvolver metodologias interativas durante as aulas teóricas, as quais permitam uma coerência e conexão com a realidade a ser observada durante as aulas práticas.

Nesse contexto, consideramos que verdadeiramente deve de fato existir uma conexão estreita entre teoria e prática, o que favorece a identificação, a verificação e a análise crítica dos processos gerenciais preconizados na literatura, com aqueles observados in situ. Assim, a aplicação de intervenções em diversas situações das aulas práticas é sem sombra de dúvidas a maior forma de aprendizagem, visto que o conhecimento científico oferece o direcionamento e a prática à confirmação da aprendizagem. Acrescenta-se, ainda, que para um exercício profissional eficiente e eficaz, o saber científico e tecnológico não é suficiente. Nesse contexto apontam-se como elementos fundamentais no domínio de uma profissão a interligação que deve existir entre a teoria e o desenvolvimento de habilidades interpessoais e de pensamento crítico.3

A respeito do papel do professor e a organização da disciplina, o docente foi visto como um elo fundamental no andamento da disciplina, visto que, dependendo do olhar crítico de cada um, as atividades podem ser melhoradas, mesmo após planejadas e pensadas. Através disso, será possível caminharmos de forma articulada, compartilhando nossas diferenças e refutando atitudes de cunho paternalista ou de privilégios, buscando contrapor-se a toda forma de ensino que incentive o pensamento mutilado, a inteligência cega e o cretinismo generalizado.4-6

A competência didática do professor encoraja o graduando ao autodidatismo, despertando, provocando e favorecendo a autonomia do espírito. A didática para assumir um papel significativo não poderá reduzir-se e/ou dedicar-se somente ao ensino de meios e mecanismos pelos quais se desenvolveram processos de ensino-aprendizagem, e sim, deverá ser um modo crítico de desenvolver uma prática educativa emancipadora de um processo tradicional, que não será feito tão somente pelo educador, mas, por ele conjuntamente com o educando e outros membros da sociedade.7

Assim sendo, o papel do professor é indispensável à mobilização de atitudes voltadas à inovação e à implementação de estratégias de mudanças, que transformem o contexto pedagógico do acadêmico. Além disso, compete aos docentes das disciplinas de Administração aplicada à Enfermagem facilitarem nos campos de estágio experiências que possibilitem a participação contínua e pró-ativa, gerando assim mudanças incrementais, fatores que impulsionarão o desenvolvimento gerencial de futuros enfermeiros.

Quando analisado o papel do aluno na disciplina, reconhece-se o compromisso do acadêmico como essencial para o bom andamento do processo formativo. Paulo Freire defende a educação como prática da liberdade e cria o conceito de pedagogia do oprimido, atribuindo sentido a uma prática educativa que só pode alcançar efetividade e eficácia na medida em que haja participação livre e crítica dos alunos.5,8 Pesquisa mostrou que, o desempenho das equipes de trabalho depende muito das competências e do envolvimento das pessoas na sua organização e profissão. Nesse sentido, deve-se favorecer e estimular o desenvolvimento do comprometimento afetivo, pelas conseqüências positivas para a organização e profissão.9 Essa premissa também pode ser aplicada aos acadêmicos em relação às instituições de ensino, por ser o comprometimento afetivo valioso e singular para o sucesso do processo ensino/aprendizagem.

Considerando que, a construção da aprendizagem é um processo sincrônico e conjunto, mais uma vez afirmamos a importância do papel do aluno neste processo. Para tanto, faz-se necessário além do comprometimento, a sua co-participação na disciplina, colocando suas dúvidas, medos, sugestões e percepções acerca da mesma, a fim de construir junto com o professor um saber mais dinâmico e interativo. Por outro lado, segundo a construção da matriz de Oportunidades, Fraquezas, Fortalezas, Ameaças foi possível refletir acerca da importância de utilizar uma metodologia adequada para que o processo de ensino-aprendizagem seja positivo e possibilite a sintonia entre os conteúdos ministrados e o contexto local. Estudo tem revelado que os processos de formação e as práticas profissionais desconsideram os interesses dos usuários, perpetuando modelos conservadores em todas as suas esferas, mostrando que nas práticas de atenção à saúde existe um distanciamento entre a formação profissional e as reais necessidades dos usuários.10 Na tentativa de transformar essa realidade, a Política Nacional de Educação em Saúde pontua um conceito ampliado de saúde que aborda entre outras condições, a integração do ensino com os serviços de saúde. Talvez através desse olhar de ambos os setores, academia e organizações de saúde, se possa refletir sobre mudanças mais condizentes para cada uma das realidades locais dos diversos cursos de graduação de enfermagem do país.

Concorda-se quando se afirma que não basta expandir a educação superior, é necessário avaliá-la em busca de qualidade, defendendo a elaboração de diretrizes e projetos pedagógicos que contribuam para compreender o sujeito no seu mais amplo significado, de forma a contribuir para que este seja inserido em um contexto de transformações paradigmáticas, rompendo com os princípios norteadores de igualdade e adotando ações que reconheçam e valorize as diferenças.10,11

Espera-se que, a partir de experiências favoráveis e positivas, as aulas teóricas e práticas sirvam de referências para a construção de competências necessárias a serem utilizadas na vida do futuro profissional, onde o agir em saúde seja olhado como uma articulação entre o comprometimento organizacional e profissional. Nesse sentido, acredita-se que os processos de ensino-aprendizagem, diante do avanço e da globalização, precisam ser olhados criticamente, de forma que seja possível articular e mobilizar competências técnicas e comportamentais.

Finalmente, pode-se inferir que, os modelos de ensino-aprendizagem adotados atualmente necessitam ser reavaliados, principalmente quanto à correlação da teoria com a prática e na formação do senso crítico do aluno. Para tanto, as mudanças devem ocorrer nas instituições formadoras, nos campos de práticas e nas atitudes de acadêmicos, de professores e de profissionais envolvidos.

A conclusão deste artigo é que os acadêmicos percebem a importância da receptividade do campo de estágio como um aspecto essencial no desenvolvimento de competências profissionais. Identificaram, também, que de fato deve existir conexão entre teoria e prática, já que sem essa ligação a capacidade de resolver problemas e de sistematizar a assistência fica prejudicada.12,13 Da mesma forma, destacaram a figura do professor como sendo um elemento fundamental para andamento da disciplina, um agente que direciona as atividades através da implantação de estratégicas que favorecem a adaptação e execução de ações concretas. Também mencionaram o papel do acadêmico como um aspecto que influi positivamente ou negativamente no desenvolvimento do processo ensino/aprendizagem.

A análise da matriz FOFA possibilitou fazer um cruzamento de cenários para conhecer quais as possíveis estratégias institucionais a serem discutidas. Dentre as forças internas, denominadas situações plausíveis de influencia, infere-se que as fraquezas mencionadas possibilitaram um olhar crítico e reflexivo acerca das inconformidades; visto como pontos que devem ser melhorados pela coordenação da disciplina. A respeito das fortalezas, estas podem ser consideradas como vantagens internas que no cotidiano do docente favorecem o caminhar para uma melhor construção das metodologias de ensino e do próprio processo educativo. Dentre as forças externas, as oportunidades merecem destaque especial, devendo ser consideradas como elementos que facilitam o andamento das aulas práticas, porém necessitam ser constantemente analisadas.

A respeito das ameaças, por serem situações não influenciáveis pela coordenação da disciplina ou da própria universidade, são consideradas situações não passíveis de controle, no entanto, seria ingênuo ignorar as influências advindas das fragilidades nos sistemas de saúde, que de fato desfavorecem a efetivação de modelos educativos para o desenvolvimento de competências profissionais.

 

REFERÊNCIAS

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Fecha de Recibido: 15 de abril de 2011. Fecha de Aprobado: 16 de agosto de 2011.

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