Introdução
No final de 2019, surgiu na China um novo vírus com alto poder de contaminação denominado "Severe Acute Respiratory Syndrome Coronavi-rus 2" (SARS-eov-2), que originou o novo corona-vírus, causador da doença covid-19. Inicialmente, os primeiros casos foram registrados na cidade chinesa de Wuhan e, logo em seguida, a doença se disseminou por todos os continentes 1. Diante desse quadro, a Organização Mundial de Saúde (OMS) reconheceu, em março de 2020, que se tratava de uma pandemia, considerada o grande desafio global deste século 2.
Até o início de abril de 2021, foram confirmados no mundo mais de 135 milhões de casos de covid-19 e quase três milhões de mortes, sendo a América o continente com o maior percentual de casos confirmados (43 %) e de óbitos (48 %). Quando avaliados apenas os países do continente americano, Estados Unidos e Brasil apresentam a maior incidência 3.
O Brasil, até 10 de abril de 2021, ocupava o segundo lugar em número de casos no mundo 3. De acordo com os dados do Ministério da Saúde, eram 13.445.006 pacientes diagnosticados com covid-19 e 351.334 óbitos pela doença 4. Estima-se que 67,2 % dos casos de síndrome respiratória aguda grave (SRAG) que necessitaram hospitalização decorreram da doença. Dados do boletim epidemiológico do Ministério da Saúde brasileiro identificaram o seguinte perfil de pacientes hospitalizados: idoso, sexo masculino e cor parda 4. O número de hospitalizações por SRAG com covid-19 ultrapassou o total de casos registrados dessa síndrome desde o ano de 2009, com o surgimento da influenza A (H1N1).
Acredita-se que isso decorra de a covid-19 ainda ser uma doença nova e, portanto, não haver conhecimento etiológico específico sobre ela, tampouco informações a respeito da história natural dessa doença, e de não apresentar uma conduta terapêutica concreta. Por esses motivos, o sistema de saúde no Brasil ficou sobrecarregado para atender aos casos mais graves, sendo os idosos a população que apresentou maior hospitalização por SRAG em 2020 5.
Estudo de revisão identificou e avaliou 60 fatores de risco para casos severos ou de óbito por covid-19, dos quais sete foram considerados de alta consistência: avanço da idade, D-dímero, Proteína C Reativa, escore de avaliação sequencial de falência de órgãos, temperatura corporal, diminuição de albumina e histórico de diabetes mellitus6. O elevado número de hospitalizações e de óbitos entre idosos, considerados os mais vulneráveis, tem chamado a atenção da sociedade e sido amplamente noticiado nos diversos meios de comunicação.
Diante do exposto, considera-se que a proposta de desenvolver um estudo para investigar o que tem sido publicado na mídia sobre a assistência ao idoso com covid-19 é relevante, pois contribui para uma melhor compreensão de comportamentos sociais ligados ao enfrentamento dessa nova doença. Além disso, ampliar o conhecimento sobre essas informações e acerca de como se prevenir durante a pandemia pode auxiliar na elaboração de estratégias voltadas ao combate da doença entre os idosos, além de auxiliar os profissionais de saúde na divulgação de informações relevantes e fidedignas, comprovadas cientificamente.
Assim, considerando a importância de realizar uma pesquisa decorrente da problemática apresentada, elaborou-se a seguinte questão orientadora: qual o conteúdo das notícias divulgadas sobre o cuidado dos idosos durante a pandemia da covid-19 em jornais de grande circulação no Brasil? E, com intuito de responder a ela, o estudo estabeleceu o objetivo de analisar as notícias publicadas a respeito do cuidado do idoso durante a pandemia da covid-19 por três jornais considerados de grande circulação no país.
Materiais e método
Estudo documental, retrospectivo, de caráter exploratório e descritivo, com análise qualitativa. Foram analisadas as matérias publicadas sobre o cuidado dos idosos durante a pandemia da covid-19 nos jornais de grande circulação no Brasil.
Antes da busca, foi realizado um levantamento sobre os principais jornais na modalidade on-line no Brasil. De acordo com o site Poder360 7, os jornais com maior circulação entre 2019 e 2020 foram: Folha de S. Paulo, O Globo, O Estado de S. Paulo, Super Notícia (Minas Gerais), Zero Hora (Rio Grande do Sul), Valor Econômico, Correio Braziliense (Distrito Federal), Estado de Minas, A Tarde (Bahia) e O Povo (Ceará). A escolha para a busca foi descrita como: Jornal 1 - O Globo, Jornal 2 - O Estado de S. Paulo e Jornal 3 - Correio Braziliense. Esses três jornais, nas últimas décadas, foram responsáveis por veicular as informações para a população brasileira e contam com um grande público leitor, além de disponibilizarem, durante o início da pandemia, gratuitamente todos os conteúdos publicados sobre o coronavírus.
Para a realização da busca, os jornais foram acessados na modalidade on-line. A busca pelos artigos jornalísticos seguiu os critérios de inclusão: acesso gratuito; publicações do período de 1 de janeiro a 31 de maio de 2020; uso das palavras-chave "covid-19" ("novo coronavírus"), "idoso" ("envelhecimento" AND "velho") e "hospital"; além de serem publicados na íntegra.
As notícias avaliadas estavam disponíveis gratuitamente na internet, e a busca compreendeu a seleção das matérias jornalísticas com o auxílio da ferramenta de busca de cada jornal, sendo escolhidas aquelas que tratavam especificamente da temática.
Para analisar o conteúdo das notícias, optou-se pela análise de conteúdo temática, que tem o objetivo de compreender o sentido das comunicações e suas significações explícitas e/ou ocultas. Esse tipo de análise é capaz de desmembrar o conteúdo e agrupá-lo em categorias formadas por elementos comuns, a partir de uma classificação prévia 8.
Para garantir que todas as etapas fossem realizadas sem interferência dos pesquisadores, utilizou-se o software Interface de R pour les Analyses Multi-dimensionnelles de Textes et de Questionnaires (Iramuteq). Foram percorridas as seguintes etapas: pré-análise, que consiste na seleção das unidades de contexto (parágrafos); seleção das unidades de registros (temas, recortes, processo categorial a posteriori [subcategorias e categorias]); decodificação e texting da técnica selecionada; exploração do material, que é a administração da técnica sobre o corpus (número de textos a serem analisados) 9. Os pesquisadores realizaram a terceira etapa com o auxílio da literatura, que é tratamento dos resultados e interpretações, dimensão estatística, síntese e seleção dos resultados (validação), inferências e interpretação.
O banco textual foi então submetido ao software, tendo sido selecionado o método Reinert, que gera a classificação hierárquica descendente (CHD). Optou-se pela CHD por ser uma análise que indica os contextos lexicais, associados ou não a variáveis descritivas desses materiais 8.
O estudo não foi registrado no Comitê de Ética em Pesquisa, uma vez que não utilizou dados diretos ou indiretos que envolvessem seres humanos, mas apenas informações disponíveis de forma gratuita na internet. Para atender aos requisitos de uma pesquisa qualitativa, foi seguido o guia COREQ, porém com adaptações em virtude do tipo de estudo.
Resultados
As buscas nos três jornais no período do estudo resultaram em 2.147 matérias sobre a temática do cuidado do idoso no Brasil durante a pandemia da covid-19, das quais, após a leitura por dois pesquisadores, foram selecionadas 25. O jornal que mais publicou notícias sobre o tema foi o Correio Braziliense (68 %).
Para a análise, o programa reconheceu a separação do banco textual em 25 textos, que foram fracionados em 457 segmentos de texto, dos quais 77,46 % foram retidos na CHD. O banco foi dividido em quatro classes categorizadas nominalmente pelos pesquisadores: i) população idosa e risco de morte por covid-19; ii) internação e sistema de saúde diante da pandemia; iii) medo e medidas de enfrentamento da população diante da pandemia e iv) profissionais de saúde e luta contra a covid-19.
A seguir, o dendograma mostra as relações entre as classes resultantes da CHD. Em um primeiro momento, o programa dividiu o banco em dois: o primeiro originou as classes 1 e 2, e o segundo, as classes 3 e 4 (Figura 1).
A primeira classe, denominada População idosa e risco de morte por covid-19, representa 22,3 % dos segmentos de textos retidos na análise e corresponde à terceira maior classe. Os conteúdos que a compõem tratam da maior vulnerabilidade apresentada por idosos contaminados pelo novo vírus SARS-COV, bem como da possibilidade de evoluírem para óbito durante a internação hospitalar. As palavras utilizadas denotam que os idosos apresentam comorbidades que facilitam comprometimentos de saúde nessas situações, conforme é possível observar nos seguintes trechos:
Além disso, idosos a partir de 60 anos são as principais vítimas da enfermidade. Ainda de acordo com as informações da pasta, quase 80 % dos mortos já apresentavam alguma comorbidade antes de serem infectados com o Covid-i9. (Jornal 3, artigo 20)
Ministério da Saúde: 85 % dos mortos por Covid-i9 têm mais de 60 anos. Pasta também divulgou que 82 % dos mortos apresentavam pelo menos um fator de risco. A cada i00 mortos por Covid-i9 no Brasil, 85 têm mais de 60 anos. (Jornal 3, artigo 21)
Diferentemente do que ocorre entre os jovens, os idosos enfrentam uma resposta mais frágil aos fatores externos. Assim, quando um idoso adoece, mesmo quando ele se recupera da doença, pode sofrer alguma alteração no organismo. (Jornal 3, artigo 25)
A classe 2, denominada "Internação e sistema de saúde diante da pandemia", representa 31,4 % dos segmentos de textos analisados e é a segunda maior classe. Nas notícias, verifica-se que a pandemia gerou mudanças nas internações hospitalares, pois alguns pacientes desenvolvem a forma mais grave da doença e necessitam de leitos nas Unidades de Tratamento Intensivo (UTIs). Assim, diante de um número crescente de casos, protocolos foram criados e tanto os hospitais públicos quanto os privados tiveram que se adequar. Os fragmentos a seguir evidenciam essa nova situação:
Com pacientes desse perfil e a quantidade crescente de idosos no país, a maior preocupação das autoridades sanitárias no momento é a capacidade de atendimento do sistema de saúde nacional nas UTIS. (Jornal 3, artigo 25)
Dar prioridade à expectativa de vida com o objetivo de garantir ao jovem a oportunidade de envelhecer não é uma decisão clínica [...]. Não lutamos contra a doença da mesma forma que enfrentamos um inimigo na guerra. As conquistas de direitos dos idosos não podem ser ameaçadas por decisões incongruentes que permitem um genocídio dos mais idosos. (Jornal 2, artigo 6)
A classe 3, nomeada "Medo e medidas de enfrentamento da população diante da pandemia", reteve 13,6 % das palavras analisadas e apresenta o modo como a população vem enfrentando a pandemia. Observa-se que os textos remetem ao medo do contágio, à evolução da doença e ao adoecimento de parentes e amigos, mas destacam a palavra "quarentena", que leva ao isolamento social e é uma tentativa de conter o avanço da doença:
No Piauí, moradores do assentamento Araras, no município Amarante, localizado a i27 km de Teresina, improvisaram um lock-down com o intuito de proteger cerca de 50 idosos e pessoas de risco que moram na comunidade da propagação do corona-vírus. (Jornal 2, artigo ii)
Aqueles que estão em instituições de longa permanência não devem receber nenhum tipo de visita, porque são ainda mais vulneráveis. O ideal é manter contato pela internet ou por telefone. Já no caso de um idoso que esteja em casa, é mais ativo, é possível fazer algum tipo de concessão desde que o visitante não apresente nenhum tipo de sintoma e evite contato físico. (Jornal 3, artigo 25)
Os idosos, querendo ou não, estão se protegendo e ficando em casa. (Jornal 2, artigo i)
A classe 4, "Profissionais de saúde e luta contra a covid-19", equivale a 32,8 % do banco textual e é a maior classe. As palavras agrupadas remetem aos profissionais de saúde que estão responsáveis pelos cuidados e pelo atendimento de idosos acometidos pela doença. Nota-se ainda a presença de elementos como o cuidado do profissional com o familiar e a solidão de estar enfrentando uma doença que pode contaminá-lo e sua família, conforme os textos a seguir:
A maioria dos pacientes estava sedada nos leitos em salas de pressão negativa: o único movimento era nas filas embaralhadas nos monitores eletrônicos. Uma paciente que se recuperara depois de dez dias no respirador acenou para mim feliz, mas ela foi a exceção; muitos pacientes de Covid-i9 que estão na UTIs nunca voltam para casa. (Jornal 3, artigo 18)
Os doentes que precisam ser entubados são aqueles em que a pneumonia causada pela Covid-i9 torna-se tão grave que, mesmo usando oxigênio por um cateter ou uma máscara, o paciente mantém-se com muita falta de ar e baixa oxigenação no sangue. (Jornal 3, artigo 9)
A este ponto, o telefone toca. É o que recebe os chamados das ambulâncias anunciando que um paciente extremamente grave está a caminho. O Hospital tenta abrir espaço transportando, em geral, mas as ambulâncias com novos pacientes chegam mais rapidamente, antes que os outros possam ser transferidos. Do lado de fora do edifício há barracas para a triagem, mas às vezes há ainda engarrafamentos de macas na entrada da zona quente. (Jornal i, artigo 3)
Discussão
As análises das matérias veiculadas nos três jornais permitiram identificar o conteúdo das informações recentemente difundidas na grande mídia sobre o cuidado do idoso durante a pandemia. Acredita-se que a imprensa contribua para divulgar e popularizar diferentes conteúdos, o que pode influenciar a opinião e o comportamento das pessoas.
Nesse sentido, as notícias publicadas pelos jornais podem ajudar a construir um saber popular que modifica a forma de enfrentamento da pandemia. As categorias identificadas nas matérias revelam que a população idosa tem sido a mais vulnerável ao risco de morte pelo novo coronavírus e os comprometimentos que isso gera no sistema de saúde, ocasionando medo de adoecer entre as pessoas. Além disso, demonstram como tem sido o trabalho dos profissionais de saúde.
População idosa e risco de morte por covid-19
A maior vulnerabilidade dos idosos ficou bastante evidente na categoria 1, sobretudo nas notícias publicadas por esses jornais a respeito da situação de países como Itália e França, onde há grande número de óbitos de idosos na comunidade e em casas de repouso.
Na atual pandemia, os idosos são mais vulneráveis pelo próprio processo de senescência e/ou senilidade, que altera o sistema imunológico. Também ao longo do envelhecimento, outras inúmeras alterações afetam e prejudicam quase todos os componentes do sistema imunológico, tais como as células imunes, os órgãos linfoides e os fatores da circulação (quimiocinas, citocinas e outras moléculas solúveis), o que resulta em uma diminuição no controle de infecções 10.
Com a presença da covid-19 no organismo, há alterações significativas, sendo o sistema imune responsável pela produção de células B específicas ao antígeno e à produção de anticorpos. Esse processo determina a resposta imune ao vírus e determina se ela será leve ou grave. Nos casos graves, a inflamação provocada é do tipo persistente, não gerando uma resposta adaptativa adequada e dando abertura para uma tempestade de citocinas, para a síndrome do desconforto respiratório agudo e para a morte, o que explica a maior vulnerabilidade dos idosos a essa nova doença 11,12.
A ciência aponta que o risco de adoecer nos idosos aumenta com a presença de doenças crônicas como hipertensão arterial, diabetes mellitus, doença pulmonar obstrutiva crônica e doenças renais, uma vez que podem favorecer o desenvolvimento da forma grave do SARS-COV-2 13.
Internação e sistema de saúde diante da pandemia
Diante do cenário atual de pandemia, as condições dos sistemas de saúde de diversos países foram bastante discutidas e noticiadas, sobretudo devido à sobrecarga de atendimento, correspondendo a 314 % dos segmentos de textos analisados e dando origem à segunda categoria, que aborda as internações hospitalares na pandemia ocasionada pela covid-19. O atendimento da população idosa no sistema de saúde tem aumentado no período do estudo, tal como se observa no conteúdo extraído dos jornais e nas palavras que conformam essa categoria.
No sistema de saúde tanto público quanto privado, com o aumento dos casos graves, o número de pacientes idosos que necessitam internações hospitalares subiu significativamente. Esses pacientes precisam de diversos dispositivos médicos e da presença de uma equipe multidisciplinar de saúde, com o uso prolongado dos leitos nas UTIS, o que acarreta a sobrecarga do sistema e a precarização do atendimento da população 14. Relatório da OMS indica que 80 % dos pacientes diagnosticados com covid-19 evoluem com sintomas leves e sem complicações, mas 15 % necessitam hospitalização com uso de oxigênio não invasivo e 5 % de atendimento em UTI 15.
A mídia alerta que os casos vêm aumentando, principalmente entre idosos, e sobre o risco de essa população vir a óbito quando acometida. Por esse motivo, diversos países, entre eles o Brasil, têm elaborado estratégias para o controle da saturação de atendimento dos pacientes idosos com covid-19 nas UTIS, buscando meios de suprir as crescentes demandas de hospitalização, agravadas por condições preexistentes e pela idade 16.
No Brasil, uma alternativa para aumentar o número de leitos para os pacientes com diagnóstico de covid-19 foi a construção de hospitais de campanha para o atendimento de pacientes com sintomas leves e moderados. Isso permitiu adaptar e ampliar o número de leitos e áreas hospitalares, assim como a contratação de profissionais da saúde 17.
Na Itália, medidas como o remanejamento de pacientes que necessitam atendimento em UTI sem o diagnóstico de covid-19, a contratação de novos profissionais da saúde, inclusive médicos e enfermeiros, e a compra de equipamentos de suporte de ventilação buscaram aliviar a saturação do sistema de saúde 18. No entanto, países como Itália, embora assegurem a todos os indivíduos o direito de receber os cuidados de saúde necessários sem restrição 18, tiveram que escolher entre jovens e idosos para o uso dos leitos na UTI.
No Brasil, o alto número de pacientes nas UTIS, a falta de recursos ou a alocação destes em caráter de emergência em virtude do avanço da pandemia exigiram a recente adoção de critérios para escolhas difíceis. Nessas situações, o "Protocolo Sofia" retira a responsabilidade dos profissionais de saúde de escolher como serão utilizados os recursos da UTI, inclusive optando pela internação de pacientes jovens ou idosos 19.
Medo e medidas de enfrentamento da população diante da pandemia
Importante destacar que as categorias evidenciadas mostram contraposição em seus conteúdos, pois enquanto a classe 1 reúne notícias sobre os idosos como população de risco e que podem ir a óbito em consequência da covid-19, a classe 3 discorre sobre o medo e as medidas de isolamento. Nota-se, em todas as categorias, o quanto é urgente o cuidado do idoso, assim como a implementação de medidas de prevenção e proteção capazes de reduzir o contágio e, consequentemente, os óbitos, principalmente em locais que abrigam idosos que mantêm contato com pessoas que não estão em isolamento social, como aqueles assistidos por cuidadores e familiares, e os que vivem em instituições de longa permanência.
Com o início da pandemia da covid-19, medidas de prevenção para prevenir a contaminação foram instituídas em todo o mundo. No Brasil, destaca-se a Lei 13.979/2020, que apresenta como medidas de enfrentamento isolamento e/ou distanciamento social, quarentena, realização de exames de forma compulsória, entre outras. Além disso, há determinação para usar máscaras, arejar os ambientes, lavar as mãos e utilizar álcool em gel a 70 % como complemento de algumas ações de combate ao novo coronavírus. Em alguns países, a quarentena foi adotada com a finalidade de proteger as populações mais vulneráveis, entre as quais se encontram os idosos 20.
Implementar intervenções não farmacológicas para o controle da pandemia têm sido de grande benefício e fundamental para a diminuição da curva epidêmica, já que essas medidas têm alcance individual, ambiental e comunitário 21. Todavia, isso tem gerado impacto na vida das pessoas e na sociedade, uma vez que o isolamento social veio acompanhado de aumento da violência doméstica, do medo, da angústia e da preocupação com o contágio 20. Todos esses elementos foram identificados mais predominantemente na classe 3 e, ao mesmo tempo, auxiliaram a compreender a classe 1, que contempla a vulnerabilidade dos idosos à doença e o proeminente risco de morte.
O uso de um modelo matemático demonstrou que o distanciamento social tem a capacidade de diminuir em aproximadamente dez mil o número de óbitos esperados por covid-19 no Brasil 22. Ademais, faz-se importante manter um distanciamento maior que um metro e meio entre as pessoas para impedir a transmissão do vírus e, por conseguinte, os desfechos negativos dessa infecção 23.
Outra medida é o uso de máscaras para todas as pessoas, como forma de evitar o contato com indivíduos com infecção confirmada ou suspeita pelo novo coronavírus e para seus cuidadores. Revisão sistemática identificou a importância do uso de protetores faciais 23. Ademais, as máscaras de tecido são reutilizáveis e servem como barreira às gotículas, sendo um recurso adicional à higienização das mãos 24.
Profissionais de saúde e luta contra a covid-19
O conteúdo desta categoria associa-se à atuação dos profissionais de saúde que trabalham cotidianamente contra o novo coronavírus e suscita a discussão sobre a responsabilidade que eles têm em combater uma doença nova e com alto risco de contágio. Essa tensão pode levar ao adoecimento dos profissionais, tal como observado na China, em que 1.563 médicos que atuavam na chamada "linha de frente" apresentaram sintomas como estresse (73,4 %), depressão (50,7 %), ansiedade (44,7 %), e insônia (36,1 %) 25.
A saúde mental dos profissionais pode ser afetada durante uma pandemia, pois estão diariamente expostos a diversos fatores estressores: potencial risco de ser infectado, adoecer e morrer; maior probabilidade de infectar outras pessoas; sobrecarga; fadiga; experienciar diariamente a morte; frustações com as perdas mesmo diante de inúmeros esforços; falta de recursos; violência por parte dos que não conseguem atendimento, e, principalmente, o afastamento do convívio com a família e os amigos. Nas matérias jornalísticas analisadas, foi informado que esses estressores foram aflorados durante o atendimento a idosos, que eram maioria nos leitos hospitalares 26.
A covid-19 tem gerado pânico na população em todos os países afetados, pois é uma doença que desnuda os sistemas de saúde e mostra a fragilidade dos profissionais de saúde, visto que enfrentam uma doença altamente contagiosa e que apresenta considerável mortalidade entre os infectados, dos quais os idosos são os mais afetados. Esse contexto, segundo pesquisadores chineses, vem sendo o gatilho para desencadear ou intensificar alterações mentais e psicológicas 27.
Palavras como "abraço", "proteger" e "filho" aparecem nessa categoria, o que demonstra que os profissionais, além do cuidado do paciente, precisam proteger seus familiares. Os profissionais de saúde são os que mais sofrem com o isolamento 28, pois diariamente são desencorajados a manter contato com outras pessoas e passam a lidar com protocolos alterados a todo momento, o que acentua seus medos e incertezas 25.
No Brasil, esses profissionais também têm se deparado com situações que impõem conflitos éticos, tais como priorizar o atendimento de um jovem, e que podem ocasionar sofrimento psicológico, irritabilidade aumentada e recusa a momentos de descanso. Na China, esses comportamentos foram observados nos profissionais da saúde que atuavam na linha de frente 29.
Nesse sentido, deve-se refletir sobre o fato de não apenas a população idosa estar sendo infectada, mas também os profissionais de saúde estarem adoecendo pela covid-19 e, nos casos graves, vindo a óbito. No Brasil, o Conselho Federal de Enfermagem divulgou os resultados de um levantamento realizado em um município brasileiro, segundo o qual enfermeiros e técnicos de enfermagem apresentam três vezes mais chances de se contaminarem em comparação com os médicos, justamente porque mantêm contato mais direto com os pacientes 30.
Os conteúdos, principalmente das categorias 2 e 4, fazem alusão ao sistema de saúde e aos problemas de assistir a população idosa acometida pela covid-19, uma vez que a doença se apresenta na forma mais grave entre os idosos. A vulnerabilidade do idoso e as consequências severas da doença, incluindo o óbito, estão presentes nas categorias 1 e 3, o que demonstra que algo novo gera medo e comportamentos que podem afetar a qualidade de vida dos idosos durante o enfrentamento da pandemia.
A mídia, por exigir que muitas informações cheguem à grande massa, com frequência acaba gerando um excesso de informações que nem sempre contribuem para que a população realmente saiba como se prevenir dessa doença. Nesse contexto, diante da "infodemia" sobre o corona-vírus, os idosos podem assumir condutas que não contribuem para um comportamento seguro, tais como causarem aglomerações ou não usarem máscaras. Os conteúdos encontrados nas matérias jornalísticas comprovam a necessidade de uma conscientização da população, em especial dos idosos, bem como a importância do trabalho dos profissionais de saúde no combate a essa doença.
Uma limitação identificada durante a realização desta pesquisa é a falta de notícias especificamente sobre a assistência hospitalar ao idoso com covid-19, o que dificultou a discussão a respeito dos diferentes contextos em que o idoso está sendo ou poderá ser acometido pela nova doença. Outro problema é o acesso aos jornais de grande circulação no país, pois muitos são pagos e, portanto, restam poucas opções de livre acesso. Essa limitação também desperta a reflexão sobre que tipo de mídia alcança os idosos, pois a leitura de determinados jornais demanda custos elevados para essa população.
Conclusões
Identificou-se, nas matérias jornalísticas analisadas, que as informações veiculadas sobre o cuidado do idoso com o novo coronavírus (covid-19) se relacionaram ao medo de enfrentar a doença, ao receio de uma eventual internação hospitalar e consequente necessidade de transferência para a UTI e, como pior desfecho, à possibilidade de evoluir para óbito. Nessa análise, também ficou evidente o papel dos profissionais de saúde que estão à frente do cuidado dessa população, apesar dos riscos de infecções a que estão expostos. Acreditase que as notícias divulgadas por esses jornais de grande circulação no Brasil contribuem para que os profissionais de saúde orientem a população, em especial aos idosos, com intuito de evitar e reduzir o negacionismo que tem assolado o país e dificultado o combate a essa doença.
Faz-se importante salientar que as matérias analisadas descrevem algumas dificuldades encontradas pelo sistema de saúde brasileiro para atender a tantos pacientes infectados simultaneamente pelo vírus, pois, além da escassez de profissionais de saúde que trabalham na UTI, os hospitais apresentam dificuldades financeiras, falta de equipamentos adequados e desabastecimento de equipamentos de proteção individual.
Assim, durante uma pandemia, compete aos governos federal, estadual e municipal implementar medidas que assegurem atendimento à população, principalmente aos mais vulneráveis, assim como condições de trabalho que não sobrecarreguem os hospitais e os profissionais de saúde. A população idosa precisa de um atendimento de qualidade e de ações que favoreçam a conscientização e garantam que ela receberá os devidos cuidados quando afetada pelo vírus.