As transformações sociais, econômicas, jurídicas, organizacionais e técnicas do trabalho exercem influência sobre o processo saúde-doença e qualidade de vida nos contextos laborais. A principal resposta orgânica a essas transformações é o estresse, compreendido por reações complexas que produz disfunções fisiológicas quando o equilíbrio do indivíduo é rompido 1.
O estresse pode originar-se a partir de diversas situações internas e/ou externas, inerentes ao ser humano e que geram mudanças, sobretudo no ambiente laboral. Assim, o trabalho, considerado como uma necessidade básica em nossa sociedade, pode ser compreendido e conduzido como um veículo de prazer e dignidade, ou de sofrimento e estresse 2.
De acordo com os dados do boletim quadrimestral sobre benefícios por incapacidade publicado ano de 2017 pelo Ministério da Previdência Social, somente no ano de 2016, no Brasil, 75,3 mil trabalhadores foram afastados devido ao estresse ocupacional 3. Dentre as principais doenças associadas ao trabalho, destaca-se a síndrome de burnout, definida como fenômeno psicossocial que ocorre como resposta crônica aos estressores interpessoais ocorridos no ambiente de trabalho 4.
A síndrome se manifesta por meio de três dimensões: exaustão emocional, despersonalização e sentimentos de reduzida realização profissional. A exaustão emocional é um estado de grande cansaço em decorrência dos esforços produzidos por contínuas interações dos trabalhadores no ambiente laboral; a despersonalização é caracterizada pelo distanciamento, desenvolvimento de atitudes cínicas e tentativas em culpar terceiros pela frustração diante do trabalho. Por fim, a reduzida realização profissional é produzida por autoconceito negativo e insatisfação com seu desempenho no trabalho 5.
No Brasil, um estudo realizado em 2012 pelo International Stress Management Association (ISMA), identificou que cerca de 30% dos mais de 100 milhões de trabalhadores brasileiros sofriam com a síndrome de burnout6. A docência é identificada pela Organização Internacional do Trabalho como uma profissão de alto risco para doenças ocupacionais. Ademais, estudos descrevem altas prevalências da síndrome de burnout em docentes, enfatizando esta categoria profissional como uma das mais suscetíveis a este agravo 2,7,8.
A sobrecarga de trabalho, a falta de controle sobre o tempo, os problemas comportamentais dos estudantes, a burocracia excessiva, a implementação de novas iniciativas educacionais e a expectativa social de excelência, são fatores de desgaste no ambiente de trabalho. Além disso, também são apontados outros aspectos, tais como classes superlotadas, falta de autonomia e salários inadequados, considerando-os como potencializadores ao surgimento da síndrome de burnout em professores 9.
A falta de reconhecimento do adoecimento e da relação entre este e o trabalho tem como consequência a manutenção do estresse, contribuindo para o aumento de casos da doença 8,10. Assim, estudos sobre a síndrome de burnout em professores universitários dos cursos de saúde fazem-se necessários para dar maior visibilidade às condições de trabalho dos docentes, que além da exposição aos fatores supracitados, estão diante da responsabilidade de preparar os profissionais de saúde que irão lidar com elevadas cargas de estresse em suas práticas laborais. Portanto, este estudo objetiva avaliar a síndrome de burnout em docentes universitários dos cursos de saúde visando contribuir para reflexão e planejamento de estratégias que reduzam a incidência desse agravo.
MÉTODO
Trata-se de um estudo descritivo, transversal, exploratório, com abordagem quantitativa, cujo local de estudo se deu no âmbito de uma instituição privada de ensino superior situado na região metropolitana do Recife, Brasil. A população foi composta por todo o corpo docente dos cursos de graduação em saúde, com o total de 91 professores.
Os professores que se encontravam de atestado médico [2], os que se recusaram a participar da pesquisa [9], e para evitar viés de seleção, os que conheciam o instrumento de coleta [23] foram excluídos da pesquisa. Portanto, a amostra final do estudo totalizou 57 professores.
Para coleta de dados foi utilizado a versão do Maslach Burnout Inventory (MBI) validado por Tamayo e Tróccoli 11. O MBI é um instrumento reconhecido internacionalmente, além de validado e amplamente utilizado no Brasil. Esse instrumento reúne 22 variáveis em que se atribui uma pontuação, segundo escala de Likert, que varia de um a cinco, sendo: 1. nunca, 2. algumas vezes no ano, 3. algumas vezes no mês, 4. algumas vezes na semana, 5. diariamente.
As variáveis compõem as três dimensões que caracterizam a síndrome de burnout e são distribuídas em nove questões referentes à exaustão emocional, cinco à despersonalização e oito à baixa realização profissional. Assim, o escore atribuído a cada indivíduo variou entre as dimensões de acordo com o número de questões e a pontuação atribuída por cada entrevistado às perguntas: exaustão emocional (9 a 45); realização profissional (8 a 40) e despersonalização (5 a 25).
Os pontos de corte foram definidos estatisticamente baseados nos tercis baixo, médio e alto da distribuição da pontuação, conforme recomendação do manual do MBI 11 (Tabela 1).
Dimensões | Níveis | ||
---|---|---|---|
Baixo | Médio | Alto | |
Exaustão emocional | < 24 | 24 - 31 | > 31 |
Despersonalização | < 9 | 9 - 12 | > 12 |
Realização profissional | < 32 | 32 - 35 | > 35 |
Fonte: manual do MBI, 2002.
A análise que considera os níveis apresentados em cada uma das três dimensões neste estudo, foi realizada de acordo com os critérios apresentados por Grunfeld et al.12, que define que o indivíduo apresenta burnout diante da identificação de pelo menos uma das três dimensões da síndrome, considerando-se: nível alto em exaustão emocional; nível alto em despersonalização; nível baixo em realização profissional ou ainda, mais de uma das três concomitantemente 12.
Além disso, foi utilizado um questionário composto por 20 variáveis, construído pelos pesquisadores para a investigação dos dados demográficos e socioeconômicos dos participantes. Aos entrevistados, foi disponibilizado um envelope contendo os instrumentos da pesquisa e duas vias do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, além das orientações adicionais sobre a pesquisa. Os envelopes foram entregues e recolhidos na sala dos professores por um dos pesquisadores nos horários de repouso e intervalo entre as aulas. O tempo de duração média de resposta foi de 25 minutos.
A variável idade foi agrupada em cinco classes, estas definidas matematicamente pela diferença entre a maior e a menor observação, dividida pelo número de classes. A variável estado civil foi agrupada em solteiro (solteiros e divorciados) e casado. Agrupou-se raça/cor em branca e preta (negros e pardos) devido à resistência social em se autointitular negro, além das semelhanças sociais entre os grupos.
Os dados foram registrados em planilha Excel® em dupla entrada para validação e eliminação de possíveis erros de digitação. Após a validação, fez-se uso do programa RStudio® versão 1.3.1 para análise dos resultados utilizando a estatística descritiva por meio da distribuição das frequências absolutas e relativas. Utilizou-se do Teste Exato de Fisher para verificar associação entre as variáveis sociodemográficas e a presença da síndrome de burnout. Foi estabelecido o valor de 95% de intervalo de confiança e p-valor <0,05 para definição da significancia estatística.
A pesquisa foi regida pela resolução 466/2012 - Conselho Nacional de Saúde, sob o parecer n° 2.959.106 do Comitê de Ética em Pesquisa do Centro Universitário Maurício de Nassau da cidade do Recife, Brasil, e CAAE: 89793618.1.0000.5193.
RESULTADOS
Os resultados mostraram a caracterização sociodemográfica dos 57 docentes participantes da pesquisa, apresentando a maior frequência do sexo feminino (n=39; 68,4%), com faixa etária entre 33 a 40 anos (n=24; 42,1%) com idade média de 36,6 anos e desvio padrão de 6,8 anos, de cor branca (n=36; 63,1%) e casados (n=34; 59,6%). Apresar de haver predomínio em relação a residir com mais alguém (n=52; 91,2%), a maior parte afirma não possui filhos (n=31; 54,4%), (Tabela 2).
Variáveis | Total | Burnout | P-valor | ||||
---|---|---|---|---|---|---|---|
Sim | Não | ||||||
n | % | n | % | n | % | ||
Sexo | 0,388 | ||||||
Masculino | 18 | 31,6 | 9 | 50,0 | 9 | 50,0 | |
Feminino | 39 | 68,4 | 14 | 35,9 | 25 | 64,1 | |
Faixa etária (a) | 0,266 | ||||||
26 a 32 | 16 | 28,1 | 9 | 56,3 | 7 | 43,7 | |
33 a 39 | 24 | 42,1 | 8 | 33,3 | 16 | 66,7 | |
40 a 46 | 9 | 15,8 | 4 | 44,4 | 5 | 55,6 | |
47 a 54 | 6 | 10,5 | 2 | 33,3 | 4 | 66,7 | |
Raça/cor (b) | 1 | ||||||
Branca | 36 | 63,1 | 15 | 41,7 | 21 | 58,3 | |
Preta | 20 | 35,1 | 8 | 40,0 | 12 | 60,0 | |
Estado Civil | 0,415 | ||||||
Solteiro | 23 | 40,4 | 11 | 47,8 | 12 | 52,2 | |
Casado | 34 | 59,6 | 12 | 35,3 | 22 | 64,7 | |
Reside com alguém | 0,146 | ||||||
Sim | 52 | 91,2 | 19 | 36,5 | 33 | 63,5 | |
Não | 5 | 8,8 | 4 | 80,0 | 1 | 20,0 | |
Filhos | 0,588 | ||||||
Sim | 26 | 45,6 | 9 | 34,6 | 17 | 65,4 | |
Não | 31 | 54,4 | 14 | 45,2 | 17 | 54,8 |
Número e percentual de ignorados: (a) n=2; 3,5%, (b) n=1; 1,8%.
Os resultados das variáveis laborais e lazer evidenciaram que a maioria dos docentes possui outro vínculo empregatício (n=43; 75,4%) e com dedicação de mais de 40 horas semanais ao trabalho (n=35; 61,4%). A maioria atua profissionalmente por mais de 10 anos (n=30; 52,6%) e tirou férias no último ano (n=40; 70,2%). Mais de 80% dos participantes não realizam, nem nunca realizaram atividades de relaxamento em seus ambientes laborais (n=47; 82,4%).
A maior parte dos docentes praticam atividades físicas (n=41; 71,9%) com frequência de até 3 vezes na semana (n=30; 73,2%). Em quase sua totalidade, costumam realizar atividades de lazer (n=50; 87,7%) com uma maior proporção na frequência anual (n=16; 32%). A variável atividade de lazer (p-valor 0,030) apresentou significância estatística (Tabela 3).
Variáveis | Total | Burnout | P-valor | ||||
---|---|---|---|---|---|---|---|
Sim | Não | ||||||
n | % | n | % | n | % | ||
Possui outro vínculo (a) | 0,753 | ||||||
Sim | 43 | 75,4 | 17 | 39,5 | 26 | 60,5 | |
Não | 13 | 22,8 | 06 | 46,2 | 7 | 53,8 | |
Horas semanais dedicadas ao trabalho(b) | 0,576 | ||||||
≤ 40 horas | 21 | 36,8 | 10 | 47,6 | 11 | 52,4 | |
> 40 horas | 35 | 61,4 | 13 | 37,1 | 22 | 62,9 | |
Tempo de atuação profissional (Anos)(c) | 0,182 | ||||||
< 10 anos | 25 | 43,8 | 13 | 52,0 | 12 | 48,0 | |
> 10 | 30 | 52,6 | 10 | 33,3 | 20 | 66,7 | |
Tempo das últimas férias (d) | 0,085 | ||||||
≤ 1 ano | 40 | 70,2 | 13 | 32,5 | 27 | 67,5 | |
> 1 ano | 11 | 19,3 | 7 | 63,6 | 4 | 36,4 | |
Realização de atividade de relaxamento em ambiente laboral (e) | 0,458 | ||||||
Sim | 9 | 15,8 | 2 | 22,2 | 7 | 77,8 | |
Não | 47 | 82,4 | 20 | 42,6 | 27 | 57,4 | |
Pratica atividade física (f) | 0,759 | ||||||
Sim | 41 | 71,9 | 17 | 41,5 | 24 | 58,5 | |
Não | 15 | 26,3 | 5 | 33,3 | 10 | 66,7 | |
Se Sim, qual a frequência semanal | 1 | ||||||
≤ 3 vezes na semana | 30 | 73,2 | 12 | 40,0 | 18 | 60,0 | |
> 3 vezes na semana | 11 | 26,8 | 5 | 45,5 | 6 | 54,5 | |
Costuma sair a lazer (g) | 0,030* | ||||||
Sim | 50 | 87,7 | 17 | 34,0 | 33 | 66,0 | |
Não | 6 | 10,5 | 5 | 83,3 | 1 | 16,7 | |
Se sim, qual a frequência | 0,801 | ||||||
Raramente | 7 | 12,3 | 2 | 28,6 | 5 | 71,4 | |
Semanalmente | 14 | 28,0 | 4 | 28,6 | 10 | 71,4 | |
Mensalmente | 13 | 26,0 | 4 | 30,8 | 9 | 69,2 | |
Anualmente | 16 | 32,0 | 7 | 43,7 | 9 | 56,3 |
Número e percentual de ignorados: (a) n=1; 1,8% (b) n=1; 1,8% (c) n= 2; 3,5% (d) n= 6; 10,5% (e) n=1; 1,8% () n=1; 1,8%, 1,8%, (g) n=1; 1,8%.
Na distribuição das frequências em relação aos escores das três dimensões da síndrome de burnout, observa-se que os docentes apresentam, em sua maioria, níveis médios de exaustão emocional (43,9%) e de realização profissional (45,6%) e níveis baixos de despersonalização (56,1%). No entanto, parte dos docentes possuem graus elevados de exaustão emocional (24,5%), despersonalização (10,5%) e baixa realização profissional (24,6%) caracterizando uma grande parte com a síndrome de burnout (n=23; 40,4%), (Figura 1).
DISCUSSÃO
Os achados deste estudo corroboram com outras pesquisas que descrevem os professores como uma classe predominantemente feminina 13,14. As mulheres são mais vulneráveis ao adoecimento pelas cargas de trabalho que assumem. Culturalmente, além de cumprirem com a jornada de trabalho, a maior parte ainda se responsabiliza por tarefas do lar assumindo o papel de cuidadora 15,16. Além disso, as posições de liderança e remunerações mais altas são, com maiores frequências, atribuídas aos homens 17. Estes fatores podem tornar as mulheres preditoras da síndrome de burnout em relação aos homens.
Neste estudo, não houve significância estatística na maioria das variáveis indicando homogeneidade na distribuição da síndrome de burnout entre as categorias dessas variáveis. No entanto, a literatura afirma que os mais jovens ou recém-empregados possuem maiores risco de desenvolver a síndrome de burnout. Isso pode ser evidenciado devido à dificuldade do trabalhador em se inserir no grupo laboral, bem como para adaptação e execução de tarefas, além do sentimento de instabilidade no emprego. Este contexto também está associado à necessidade de aceitação e de reconhecimento, atrelado a pouca experiência na profissão e/ou o tempo na instituição 18.
Em relação ao estado conjugal e ambiente familiar, a estabilidade afetiva no âmbito familiar é considerada como fator de proteção para a síndrome. A paternidade pode equilibrar o indivíduo e possibilitar o uso de melhores estratégias de enfrentamento das situações problemáticas, diminuindo assim o risco para síndrome de burnout associado ao enfrentamento do estresse laboral 19. Em contrapartida, outro estudo aponta o grupo dos solteiros como aqueles com menores preocupações com questões familiares e conjugais, sendo mais propícios a realização profissional e menor risco de adoecimento 20.
A síndrome de burnout pode ter maior incidência no primeiro ano de ingresso profissional do indivíduo no mercado de trabalho 21. As pesquisas apontam maior incidência dessa doença no início das carreiras, pois os profissionais se frustram com maior frequência, uma vez que apenas a formação universitária não os fornece experiências suficientes para lidar com as diferentes e adversas situações ao qual estão expostos 22,23.
O desenvolvimento da síndrome de burnout é multi-causal e envolve fatores individuais e laborais, sendo as variáveis socioambientais coadjuvantes no processo de adoecimento 7,8. O fato dos indivíduos terem mais de um vínculo empregatício pode representar análises divergentes, uma vez que apesar de complementar a renda familiar, a literatura descreve que pode afetar o comprometimento das atividades laborais devido ao esgotamento físico gerado pelos múltiplos vínculos empregatícios e da exaustiva jornada de trabalho 24.
Portanto, verifica-se que o período de férias é imprescindível para que o trabalhador tenha mais tempo para conviver com a família e realizar atividades de lazer e descanso, buscando reestabelecer o equilíbrio emocional. Esse período de pausa contribui para diminuição dos es-tressores laborais no ambiente de trabalho 25. O indivíduo, por possuir mais de um vínculo empregatício, pode inclusive não conseguir conciliar as férias de todos os vínculos, o que acarreta em, "pseudoférias", visto que ainda estará vinculado a um ambiente laboral 20.
Além disso, a participação em outras atividades que não tenham relação com o contexto laboral contribui potencialmente para a redução das tensões e sofrimentos no trabalho e influencia diretamente na forma como o docente pensa, sente e age com relação ao seu trabalho 26. No presente estudo, o lazer apresentou associação estatística positiva em relação ao diagnóstico da síndrome de burnout, identificando uma distribuição proporcionalmente heterogênea com maiores frequências de adoecimento no grupo que não praticava o lazer. Este achado corrobora com outras literaturas que afirmam que o lazer possui um efeito protetor para o desenvolvimento da síndrome 27-29.
A realização de algum tipo de atividade física regular tem sido apontada pela literatura como fator de proteção ao estresse, por ser escolhida de acordo com interesses próprios que lhe são prazerosos, além de estimular endor-finas responsáveis pelo prazer e alívio das tensões. Assim, obtém-se o descanso reparador e a energia para executar as atividades cotidianas no ambiente laboral 30.
Um estudo apontou que, os indivíduos que praticam exercícios físicos, tem os sintomas da síndrome de bur-nout atenuados, além de atuar como medida preventiva 27. Estudo realizado com a aplicação de treinamento aeróbico durante três meses em voluntários com a síndrome revelou também uma diminuição nos sintomas, especificamente na exaustão emocional e no estado de humor. Para os autores, a prática regular de exercício físico pode promover melhora na qualidade de sono, diminuindo a exaustão emocional, além da melhora no comportamento cognitivo 31.
Neste estudo, verificou-se percentuais elevados de exaustão emocional, despersonalização e baixa realização profissional. Assim, semelhante a outros estudos também foi revelado uma alta prevalência da síndrome de burnout entre os docentes 8,14. Esses achados sugerem que os docentes possuem elevado sofrimento psíquico relacionado ao processo laboral, que apontam para a necessidade de intervenção de cuidados para esses profissionais, pois o desenvolvimento dessa psicopatologia ocorre de forma gradual e insidiosa 32. Vale ressaltar que a prevalência varia muito entre os estudos por levar em consideração a população avaliada, bem como os valores de parâmetro utilizados como referência.
Portanto, ao se tratar de docentes dos cursos de saúde, deve ser levado em conta que alguns destes profissionais podem atuar conjuntamente em outros ambientes laborais inclusive assistenciais, fato este que pode contribuir para o desenvolvimento da síndrome 33. Muitas vezes a síndrome não é percebida pelo indivíduo no estágio inicial, pois o mesmo resiste em assumir que existe algo de errado que esteja interferindo em seu cotidiano 8. Além disso, os sinais e sintomas dos estágios iniciais são similares aos sintomas do estresse e depressão, dificultando assim o seu reconhecimento, pois as características próprias da síndrome são evidenciadas nos estágios mais avançados da doença, diferenciando-as das outras patologias 34.
Dessa forma, esses achados merecem atenção para o acompanhamento dos fatores psicossociais e organizacionais do trabalho que possam intervir na qualidade de vida no trabalho e nas condições de saúde desse trabalhador. Somente por meio da vigilância é que se pode reconhecer os problemas e refletir para novas possibilidades de promover a saúde e prevenir o aparecimento de doenças nessa categoria profissional.
Apesar de reconhecer que a influência dos aspectos culturais no contexto laboral também incide sobre a síndrome de burnout, no universo laboral existem outras variáveis que envolvem os valores sociais, as condições econômicas e momentos históricos como elementos decisivos para explicar os processos de desenvolvimento individual e coletivo dessa síndrome.
Destaca-se como limitações deste estudo seu delineamento transversal, que não permitiu a análise de relações causais. Também se verificou baixa adesão dos docentes em participar da pesquisa, o que dificulta uma análise mais precisa da população.
Este estudo mostrou elevados graus de exaustão emocional, despersonalização e baixa realização profissional, verificando-se uma alta prevalência da síndrome de bur-nout entre os participantes. Apesar de o estudo retratar a realidade de uma instituição privada de ensino superior em uma região do país, acredita-se que as características essenciais do processo de trabalho da carreira docente são semelhantes em outras realidades nacionais.
Os resultados desse estudo também verificaram a importância das atividades de lazer como fatores de proteção para o adoecimento dos docentes, enfatizando a relevância em refletir sobre os potenciais estressores no ambiente laboral do professor. Sabe-se que a dinâmica do deste ambiente envolve o desenvolvimento de habilidades complexas que podem conduzir o profissional ao adoecimento. Portanto, a tomada de decisão no âmbito das medidas preventivas e de promoção de saúde deve ser adotada.
Análises qualitativas deste fenômeno podem contribuir para o melhor entendimento dos fatores estressores, o que favorece o processo de compreensão e intervenção, bem como da organização do ambiente de trabalho, de forma que este possa ser fonte de saúde e bem-estar.
Evidencia-se dessa forma a necessidade de suporte para outras pesquisas sobre esse tema de tão importante repercussão social. Para saúde coletiva o tema é relevante no tocante à saúde do trabalhador, para reflexão e implementação de estratégias de cuidado nos ambientes laborais, sobretudo nos que envolvem os docentes dos cursos de saúde, tendo em vista o risco para o adoecimento ♦