Introdução
Os últimos anos têm assistido ao crescimento sistemático de redes de pesquisa. Este crescimento se deve à compreensão de que sua constituição serve ao propósito de impulsionar uma determinada área do conhecimento, com possibilidades de discussões, networking e divulgação dos resultados de pesquisa. Como instrumento central de atividade, seus membros se propõem a constituir processos interativos de trabalho e a colaborar na produção de conhecimento acadêmico coletivo (Leite et al., 2014).
Na área da História da Psicologia, foco deste artigo, uma rede de pesquisadores, criada em 16 de novembro de 2010, tem tido especial destaque nos últimos anos: tratase da Rede Iberoamericana de Pesquisadores em História da Psicologia (RIPeHP). Instituída durante o IX Encontro Clio-Psyché - Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), na cidade do Rio de Janeiro (Brasil), no ano de 2010, a RIPeHP é constituída hoje por 150 pesquisadores de 16 diferentes países e tem relações de proveniência marcadas por trabalhos conjuntos desenvolvidos no Grupo de Trabalho em História da Psicologia da Sociedade Interamericana de Psicologia (SIP). Mantém como desiderato tanto realizar pesquisas conjuntas (inclusive em convênios interinstitucionais), quanto promover intercâmbios científicos e acadêmicos por meio de congressos, participação coletiva em editais e diversos acordos (RIPeHP, 2010). Seu principal meio de divulgação é um blog (https://ripehp.com) iniciado em agosto de 2011.
Desde a sua criação, a RIPeHP se reúne anualmente através de dois eventos: os encontros do Clio-Psyché (http://www.cliopsyche.uerj.br/encontros.html), nos anos de 2010, 2012, 2014 e 2016 e os congressos da Sociedade Interamericana de Psicologia (2017), nos anos de 2011, 2013 e 2015. A Rede foi coordenada nos dois primeiros biênios pela Profa. Ana Maria Jacó-Vilela (Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Brasil), e logo depois, a partir de 2015 até julho de 2017, pela Profa. Cristiana Facchinetti (Fundação Oswaldo Cruz, Brasil). O atual coordenador da Rede, a se manter entre 2017 e 2019, é o Prof. Miguel Gallegos da Universidad Nacional de Rosario (Argentina), eleito durante o Congresso Interamericano de Psicologia realizado em Mérida, no México, em julho de 2017. Em linhas gerais, a missão da Rede foi entendida por seus fundadores como sendo a de fomentar o intercâmbio científico em História da Psicologia na região iberoamericana e, para tal, um dado essencial seria a troca de conhecimento realizada no âmbito da Rede (RIPeHP, 2010).
Com relação ao recorte iberoamericano, especificamente, este tradicionalmente compreende os povos de língua hispânica e portuguesa da América Latina e Europa. Entretanto, perspectivas mais atuais indicam que a Iberoamérica, além de Espanha, Portugal e países do continente latinoamericano, deveria considerar incluir outras comunidades diaspóricas (Rubim et al., 2005). De fato, no mapeamento por afinidades e deslocamentos transnacionais, a Rede acabou por incluir pesquisadores de outros países, como os Estados Unidos e Suíça.
Sete anos depois, pode-se afirmar que a Rede, que começou com 21 membros (RIPeHP, 2010), cresceu. Seus pesquisadores passaram a circular concomitantemente por diferentes sociedades de história psi e que os eventos propostos para o estabelecimento de suas trocas científicas ocorreram regularmente. Além disso, é possível perceber que esforços coletivos de publicação foram efetuados: nos últimos 5 anos, por exemplo, foram publicadas pelo menos 11 coletâneas organizadas com trabalhos de membros da Rede. Assim sendo, e por conta desse cenário, pergunta-se o quanto tal nucleação em torno da Iberoamérica favoreceu as publicações em periódicos de autoria de dois ou mais membros da Rede, as trocas entre pares de diferentes nacionalidades e o aumento de impacto da produção iberoamericana neste campo (Canclini, 2003). Para responder sistematicamente a essas questões, reunimos um grupo multidisciplinar que busca analisar as diferentes dimensões dessas trocas. Este é o primeiro artigo que resulta das investigações. Neste primeiro resultado, objeto deste artigo, busca-se apresentar o perfil geral dos membros da Rede Iberoamericana de Pesquisadores em História da Psicologia. Para isso, do conjunto de elementos coletados de março a maio de 2017, foram selecionados os dados relativos à distribuição espacial das instituições onde estão nucleados os pesquisadores da Rede, área de formação, caracterização de estágios pós doutorais e informações sobre disciplinas ministradas e orientações.
Método
Frente aos objetivos propostos, a pesquisa propugna por uma abordagem bibliométrica como instrumento de análise para analisar a atividade científica da RIPeHP. Uma vez que esses estudos tendem a trabalhar com a quantificação de citações, autorias e coautorias captadas com técnicas cientométricas (Costa & Yamamoto, 2008), convém detalhar as etapas específicas seguidas nesta pesquisa a fim de esclarecer o percurso adotado.
A ideia inicial era a de coletar informações dos membros em bases indexadas. A Web of Science (WoS) junto à base de dados Scopus fornecem contribuições na produção de indicadores bibliométricos, por meio da indexação de revistas científicas e realização de outros produtos bibliográficos, constituindo ferramentas essenciais hoje para dar visibilidade aos periódicos e artigos publicados nestes, conferindo reconhecimento a esses títulos e seus artigos. Tomando-se como base a indexação de revistas, estudos como os realizados por Rodrigues e Oliveira (2012), Osca-Lluch et al. (2013) e Rodrigues et al. (2015) apontam que os países iberoamericanos vêm expandindo seu número de revistas indexadas na WoS e Scopus no decorrer dos últimos anos.
A definição do recorte temporal se deu pelo ano de conformação da RIPePH, 2010. Como na maioria dos casos não é possível definir o mês da publicação dos artigos e livros e a inauguração da Rede foi no final do ano de 2010 (mês de novembro), optou-se em analisar os documentos publicados a partir do ano de 2011.
Mas esta primeira empreitada não logrou êxito, porque, em geral, os pesquisadores da RIPeHP - assim como grande parte dos latinoamericanos - publicam em revistas que nem sempre estão indexadas na Scopus e WoS, como já problematizado em trabalhos como os de Rodrígues- Yunta (2010) e de López-Lopez (2014), que mesmo não tendo foco específico sobre a RIPeHP, investigou questões de qualidade e visibilidade internacional das iniciativas de pesquisa iberoamericanas. Por causa disso, ampliou-se as buscas para a SciELO, PsycNET, Redalyc e Lilacs. Mesmo assim, constatou-se certa dificuldade de recuperar os artigos de membros da Rede citados nessas bases. Assim, optou-se por buscar a produção científica dos 150 pesquisadores no Google Acadêmico, que pode reunir as citações do pesquisador. Particularmente, no caso de pesquisadores brasileiros, a pesquisa foi complementada junto à Plataforma Lattes (http://lattes.cnpq.br/), do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq); e no caso dos argen- tinos, foi utilizado o “Portal de información de Ciencia y Tecnología Argentino” (http://datos.mincyt.gob.ar/). Não foram identificados portais de reunião dos dados acadêmicos dos pesquisadores de outros países.
Após este primeiro levantamento, estabeleceu-se os critérios de seleção do material encontrado. Considerou-se para a análise apenas a produção dos membros que fosse centrada no tema da história da psicologia. Inicialmente, utilizou-se como método de seleção as palavras-chave. Verificou-se então que grande parte dos artigos dos membros da Rede não continham o descritor “História da Psicologia” ou mesmo “história” na relação de palavras-chave, mas sim descritores vinculados à área principal do autor, muitas vezes indicados pelo tema (por exemplo: testes, psicoterapia, educação); por autor estudado (Freud, Vygotsky, Lewin); ou pela corrente teórica aludida (psicanálise; behaviorismo; psicologia social), o que impediu encontrar a produção do grupo por meio de palavras-chave. Assim, optou-se pela seleção através da leitura dos títulos e, quando necessário, da leitura dos resumos dos artigos. Finalmente, considerando-se a falta de homogeneidade dos meios utilizados para a importação de dados, assim como a sua grande dispersão, optou-se como estratégia de uniformização a checagem dos dados junto aos próprios pesquisadores.
Vale chamar atenção para os produtos que foram considerados para esta pesquisa. Priorizou-se a produção bibliográfica de artigos originais publicados em periódicos científicos, uma vez que esse material é reconhecido como o produto principal para avaliação por toda a comunidade científica internacional. Além disso, ao contrário de livros e capítulos de livros, a maior parte dos artigos científicos está disponível na Internet e têm o seu suporte (os periódicos) avaliados em termos de impacto, isto é, possível avaliar a importância dos trabalhos e dos periódicos frente ao número de citações.
Assim, o presente artigo não contabilizou resenhas, atas, relatórios anuais, resumos ou textos apresentados em eventos ou como divulgação científica, mas apenas artigos originais publicados em revista acadêmicas, avaliados por pares e publicados entre 2011 e 2016 (o que excluiu também o material “no prelo”). Mas, considerando-se a importância dessa outra bibliografia para as áreas de psicologia e de história, os livros autorais, os livros organizados, e capítulos de livros foram também contabilizados como produção bibliográfica.
Com o objetivo de corrigir as eventuais ausências de bibliografia, o procedimento seguinte foi lançar mão de um questionário eletrônico, enviado a cada membro da Rede através de um convite por e-mail. No questionário individualizado, indicou-se a produção científica encontrada pela equipe de pesquisa. Coube ao pesquisador aceitar ou rejeitar a triagem feita e incluir, quando necessário, outras publicações de sua autoria em história da psicologia.
O questionário eletrônico foi elaborado de modo a permitir não apenas a checagem da produção, mas oferecer também uma visão ampla do perfil de cada pesquisador, motivo pelo qual foram incluídas perguntas sobre: (1) dados de identificação; (2) dados de citação bibliográfica; (3) dados sobre formação e títulos; (4) produção científica na área (últimos 5 anos); atividade profissional, com instituição e disciplinas ministradas na área de história de psicologia; e, finalmente, (5) as orientações feitas na área, com a citação dos trabalhos considerados mais próximos ao tema que organiza a Rede - a história dos diversos saberes psicológicos.
Como veremos nos resultados, o percentual de respostas mostra que boa parte dos dados coletados na pesquisa foram obtidos através da indicação dos próprios pesquisadores. Entretanto, quando o questionário não foi respondido, a lista de bibliografia levantada e apresentada ao autor por meio de e-mail é que foi considerada para fins de avaliação, como informado no e-mail do convite aos pesquisadores. Buscou-se, ainda, junto ao blog da Rede, informações sobre as instituições desses membros.
No percurso metodológico, a etapa seguinte ao levantamento dos dados consistiu no registro e tabulação das informações em um protocolo digital na área de formulários e planilhas do Google Drive, o que permitiu a visualização sistemática conforme linhas e colunas estruturadas para esta finalidade. Considerou-se para a avaliação tanto o universo total, como a divisão por nacionalidade para cruzar os dados de diversos países que encampam a RIPeHP.
Ao avaliar os resultados parciais, considerou-se como fundamental para a série de artigos bibliométricos que se pretende produzir, fazer um levantamento prévio sobre o perfil da Rede, tanto em termos totais, como em termos parciais, de modo a conhecer as características dos membros e de suas instituições, bem como sua área acadêmica principal. Assim, produziu-se um quadro profissional dos membros da Rede, buscando demonstrar o grau de profissionalização da área de história da psicologia. Nesse processo, estabeleceu-se como significativo identificar as áreas de formação acadêmica dos membros, a quantidade de membros com doutoramento e pós-doutoramento, as instituições em que estão vinculados, assim como quantificar a presença de disciplinas em história da psicologia ministradas pelos membros, bem como suas orientações na área.
Análise dos resultados
Optou-se por segmentar a análise aqui apresentada em distintos tópicos a fim de dar clareza, inclusive gráfica, à exposição. Desse modo, este tópico se subdivide em três itens constitutivos do perfil da RIPeHP.
Distribuição espacial dos países e instituições onde estão nucleados os pesquisadores da rede
No cenário geral, pode-se dizer que atualmente a RIPe- HP tem 150 membros, e foi com base nesse número que a presente pesquisa foi realizada. Vale lembrar, contudo, que o pertencimento à Rede é dinâmico, com adesões e afastamentos que podem ocorrer a todo ano e que, portanto, esse retrato se refere a maio de 2017. A tabela abaixo indica o total de membros da Rede por país.
País | Nº. absoluto |
---|---|
Brasil | 53 |
Argentina | 43 |
Colômbia | 14 |
Espanha | 11 |
Chile | 8 |
Peru | 6 |
México | 4 |
Uruguai | 3 |
El Salvador | 1 |
Estados Unidos | 1 |
Porto Rico | 1 |
Suíça | 1 |
Bolívia | 1 |
Portugal | 1 |
Paraguai | 1 |
Guatemala | 1 |
Total | 150 |
Como o figura 1 abaixo demostra, apenas Brasil e Argentina juntos correspondem a cerca de 64% do total de membros da Rede.
Conforme indicado, o Brasil, com 35,33% e a Argentina, com 28,67%, são os países com maior número de pesquisadores na Rede. Os outros países com maior número de membros são: a Colômbia, com 9,33%; a Espanha, com 7,33%; o Chile, com 5,33 %; o Peru, com 4%; o México, com 2,67% e o Uruguai, com 2%. Os outros oito países (Bolívia, El Salvador, EUA, Guatemala, Paraguai, Portugal, Porto Rico e Suíça) possuem apenas 0,67% cada.
No caso do Brasil, verificou-se forte concentração de pesquisadores institucionalizados no Rio de Janeiro e em Minas Gerais, com 32 membros da Rede, correspondendo a 60% dos membros no veja a figura 2. Desse total, 17 pesquisadores são de instituições de Minas Gerais e 15 membros estão sediados do Rio de Janeiro. Um dado digno de nota é que no Rio, os pesquisadores se dividem em 7 distintas instituições de educação e pesquisa, enquanto que em Minas, a distribuição dos pesquisadores ocorre em 5 universidades, com protagonismo da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), que concentra 12 pesquisadores da Rede. Para se ter uma ideia comparativa do peso da UFMG no âmbito da RIPeHP, o número de membros oriundos de todo o estado de São Paulo que lidera a produção científica em todos os países da América Latina sendo menor apenas que o Brasil (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo, 2011), é de 6 pesquisadores (o que corresponde apenas a 50% dos membros da Rede institucionalizados na UFMG). Tal distribuição talvez possa ser explicada pela nucleação representada pelo Departamento de Ciências Aplicadas à Educação e pelo curso de Psicologia, ambos com membros da Rede e professores de pós-graduação da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG); e o “Clio-Psyché - Programa de Estudos e Pesquisas em História da Psicologia”, sediado na Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ).
Estado | Nº. absoluto |
---|---|
Minas Gerais | 17 |
Rio de Janeiro | 15 |
São Paulo | 6 |
Rio Grande do Sul | 3 |
Mato Grosso | 2 |
Ceará | 2 |
Sergipe | 1 |
Rio Grande do Norte | 1 |
Goiás | 1 |
Bahia | 1 |
Paraíba | 1 |
Santa Catarina | 1 |
Brasília | 1 |
Piauí | 1 |
Total | 53 |
Quando o foco muda para a situação argentina, há forte concentração de pesquisadores institucionalizados na Província de Buenos Aires, com 30 membros da Rede, o que corresponde a 70% dos membros argentinos. Além dessa província, os membros se distribuem também pela Província de San Luiz (6 membros); Córdoba (5 membros), Tucumán (1 membro) e Santa Fé (1 membros). Cabe destacar que na Província de Buenos Aires, os pesquisadores se dividem em 3 distintas instituições de educação e pesquisa, com destaque para a Universidad de Buenos Aires (UBA), que possui 18 pesquisadores da Rede, o que representa 42% dos membros argentinos (a instituição com o maior número de pesquisadores de toda a rede, aliás). Enquanto isso, a Universidad Nacional del Mar del Plata (UNMDP) possui 4 membros e a Universidad de la Plata possui 8 membros. A distribuição de pesquisadores pode ser visualizada no figura 3 a seguir.
No caso da Colômbia, que integra a Rede com 14 membros (9,33% da RIPeHP), verificou-se forte concentração de pesquisadores institucionalizados em Bogotá, com 12 membros, correspondendo a 86% dos pesquisadores da RIPeHP no país, divididos em 7 distintas instituições de educação e pesquisa, a saber: a Universidad Nacional de Colombia (4 membros); a Pontifícia Universidad Javeriana (3 membros); a Universidad Manuela Beltrán (1 membro); a Universidad de Los Andes (1 membro); a Universidad El Bosque (1 membro); a Fundación Universitária Los Libertadores (1 Membro) e a Fundación Universitária Konrad Lorenz (1 membro). Em Medellin, na Antioquia, há um membro da Rede situado na Universidad Cooperativa de Colombia; e em Pasto, na Província de Nariño, há um outro membro, na Universidad Mariana de Pasto.
Já a Espanha possui 11 membros da RIPeHP, o que representa 7,33% do total de membros da rede. Destes, verificou-se certa concentração de pesquisadores em Madrid, com 6 membros da rede, sendo 4 professores da Universidad Nacional de Educación a Distancia; 1 membro da Universidad Autónoma de Madrid e um da Universidad Complutense de Madrid, correspondendo a 55% dos membros no país. Além desses, há 3 membros na Catalunha, mais precisamente advindos da Universitat Autònoma de Barcelona e 2 membros na Andaluzia, fixados da Universidad de Sevilha.
O Chile possui 8 membros, o que representa 5,33% do total de membros da RIPeHP. Destes, verificou-se uma concentração de pesquisadores em Santiago, com 5 membros da rede, distribuídos em três instituições: a Universidad Santiago de Chile (com 2 membros); a Universidad Diego Portales (com 2 membros) e a Universidad de Chile (com 1 membro). Além desses, há membros da RIPeHP em Talca (1 membro é da Universidad Católica de Maule); em Valparaíso (1 membro é da Pontifícia Universidad Catórica de Valparaíso) e em Valdívia (1 membro é da Universidad Austral de Chile).
Os pesquisadores do Peru que representam hoje 4% da RIPeHP, com 6 membros, concentram-se em Lima, nas seguintes instituições: Universidad Nacional Mayor de San Marcos (1); Universidad Ricardo Palma (2) e Universidad San Martín de Porres (1). Além destes há 1 membro na Universidad Privada del Norte e 1 em Arequipa, na Universidad Católica de San Pablo.
Já os pesquisadores do Uruguai e do México representam 2,67% cada, com 4 membros cada um. No caso do Uruguai, os pesquisadores são todos da Universidad de la República, em Montevidéu. No México, ao contrário, há uma dispersão de instituições, estando cada membro da RIPeHP em uma universidade diferente: 1 é da Universidad Michoacana de San Nicolás de Hidalgo, em Michoacán; outro membro é de Universidad Veracruzana, de Veracruz; um é da Universidad Autónoma de Yucatán, no norte, em Iucatã e o último, da Universidad del Valle de Mexico, da Cidade do México.
Guatemala, Paraguai, Portugal, Bolívia, Suíça, Estados Unidos, Porto Rico e El Salvador são os países que correspondem, cada um, a apenas 0,67% de membros da RIPeHP, já que há apenas um membro de cada país. Juntos eles correspondem a 8 membros, o que corresponde a 5,36% do total.
Caracterização da área de formação: a graduação
A RIPeHP é essencialmente constituída por psicólogos, como já observado por Ana Maria Jacó-Vilela (Pereira & Marcellos, 2011). Com relação ao Brasil, as informações obtidas incluíram 100% dos membros, já que foi possível completar os dados dos 18 que não responderam ao questionário por meio do Currículo Lattes dos pesquisadores. Com base nessas informações, pode-se afirmar que 89% dos membros é formado em psicologia (46 membros). Dos outros 11,3%, 4 da área de humanas (2 em filosofia, 1 história, 1 pedagogia) e 2 membros vem da área da saúde (medicina e enfermagem).
Com relação à Argentina, buscou-se preencher os dados por meio do Portal de Información de Ciencia y Tecnología dos 12 membros que não completaram o questionário enviado. Com base nessas estratégias, fomos capazes de preencher as informações de 40 membros e desses, 92% (37 membros) são formados em psicologia, os outros 8% é composto por 1 membro graduado em psiquiatria, 1 em filosofia e 1 em ciências políticas e administração pública.
Na Colômbia, do universo de 14 membros, 9 responderam ao questionário. Deste universo, todos são formados em psicologia. Na Espanha, de 11 membros, 8 responderam ao questionário. Deste universo somente 1 membro formou-se em filosofia na graduação, todos os outros são graduados em psicologia. No Chile, do universo de 8 pesquisadores, todos possuem graduação em psicologia. Já no Peru, dos 6 membros da RIPeHP, apenas 1 não respondeu ao questionário. Destes, apenas 1 graduou-se em filosofia, perfazendo um total de 80% de graduados em psicologia. Com relação aos Uruguai, todos responderam à solicitação. Dos 4 uruguaios, 3 membros são psicólogos e 1 é linguista, perfazendo um total de 75% de psicólogos. Com relação ao México, de 4 membros apenas 2 responderam, sendo todos psicólogos.
Finalmente, no que diz respeito às outras nacionalidades, obteve-se informações acerca de 5 dos 8 membros da Rede, totalizando 62% dos membros de outros países iberoamericanos. Destes, todos são graduados em psicologia.
Assim, de acordo com as respostas obtidas, a Rede é essencialmente feita por profissionais que se graduaram na área de psicologia. Considerando-se apenas aqueles indivíduos que responderam ao questionário (131 membros) ou que possuem informações em bases de dados biográficas, 90% dos respondentes - ou 118 membros - é graduado em psicologia.
Caracterização da área de formação: a pós- graduação e estágio pós doutoral
No Brasil, 38 dos membros possuem doutorado. Vale dizer que 24 dos doutoramentos foram feitos na área de psicologia, representando 64% dos membros que possuem doutorado, havendo também doutorados em educação (8), filosofia (2), biologia molecular (1), saúde coletiva (1) e sociologia (1). Apenas 1 dos membros fez seu doutorado na área de história, em específico em história das ciências.
A maior parte dos membros das instituições brasileiras fez doutorado no Brasil. 14 membros fizeram doutorado em instituições no estado de São Paulo, 10 no Rio de Janeiro, 8 de Minas Gerais, 1 no Rio Grande do Sul e 1 no Espírito Santo. Entre os membros que doutorado no exterior, 2 fizeram nos Estados Unidos, 1 na Espanha e 1 no México.
Dos membros brasileiros que têm doutorado, 20 têm estágio pós-doutoral. Os estágios pós doutorais foram feitos no próprio Brasil (em 11 casos), na Espanha (5 casos), nos Estados Unidos (3 casos) e na França (1 caso). Minas Gerais e Espanha representam 50% dos centros de pós-doutoramentos.
Na Argentina, em relação ao doutorado, conseguimos completar as informações de 35 membros. Destes, 24 possuem doutorado. Dos que possuem doutorado, 17 fizeram seu doutoramento em psicologia - 71%. Dos outros 7 doutorados, 4 foram em história, 2 em filosofia e 1 em medicina. 11 dos membros não possuem doutorado.
A grande maioria fez o doutorado na Argentina. Apenas 1 membro fez seu doutorado na França (Paris). Os outros, 4 fizeram em Buenos Aires, 1 em Córdoba, 1 em Rosário e 1 em La Plata.
Com relação ao pós-doutoramento, só foi possível obter informação de 8 que responderam afirmativamente à pergunta sobre estágios de pós-doutoramento. Destes, 4 disseram ter um estágio com apoio do Consejo Nacional de Investigaciones Científicas y Técnicas (CONICET), sem informar a instituição que os abrigou. 1 estagiou na Espanha (Granada); 1 fez 3 estágios, sendo 1 na Universidad Nacional de Mexico e dois na Argentina; e 1 fez estágio em Buenos Aires, na Universidad de ciencias empresariales e sociales Buenos Aires. Tais dados demonstram a grande maioria de pós-graduações na área de psicologia, assim como no Brasil.
Quanto à Colômbia, dos membros que responderam (9), somente 3 possuem doutorado: 1 em psicologia; 1 em história e 1 em filosofia. Sendo que um se doutorou na Inglaterra (Lancaster), 1 nos Estados Unidos e um na Colômbia. 1 membro possui pós-doutoramento na Inglaterra (Lancaster).
Já na Espanha, dos 8 membros que responderam, 5 fizeram sua pós-graduação em psicologia; 2 fizeram em história da psicologia; 1 fez em filosofia e 1 em estudos avançados no cérebro e comportamento. Todos se doutoraram em instituições espanholas: 3 fizeram doutorado na Universitat Autònoma de Barcelona; 2 em Madrid; 1 em Sevilha e 1 pela Universidad Nacional de Educación a Distancia. Ressalta-se que 1 deles é doutor em Honoris Causa em diferentes instituições, incluindo 1 na Argentina (San Luís). Já no que diz respeito ao pós-doutoramento, 3 completaram este estágio, sendo 1 na Universidade de Passau; 1 na University of Cambridge e 1 na University of California.
No Chile, todos possuem doutorado, sendo que 3 em psicologia, 1 em educação, 1 em estudos latinoamerica- nos e 1 em ciências sociais. 2 não informaram a área do doutoramento. Dos 8 membros, 4 fizeram doutorado no Chile, dois na Espanha (Barcelona) e 1 no México (Cidade do México). 2 possuem pós-doutoramento, sendo um na Universidade do Estado do Rio de Janeiro e o outro na Universidad de Santiago del Chile.
No Chile, todos possuem doutorado, sendo que 3 em psicologia, 1 em educação, 1 em estudos latinoamerica- nos e 1 em ciências sociais. 2 não informaram a área do doutoramento. Dos 8 membros, 4 fizeram doutorado no Chile, dois na Espanha (Barcelona) e 1 no México (Cidade do México). 2 possuem pós-doutoramento, sendo um na Universidade do Estado do Rio de Janeiro e o outro na Universidad de Santiago del Chile.
Dos membros peruanos, 4 fizeram o doutorado, sendo todos em psicologia, e no Perú. Segundo 2 deles, o curso de pós-graduação inclui também o título de filosofia. Com relação a estágios de pós-doutoramento, nenhum deles buscou esse processo de especialização.
Já com relação aos uruguaios, somente 1 possui doutorado em linguística, que foi obtido no Brasil e não possui pós-doutorado.
No México, dos 3 membros com informação coletada, 2 possuem doutoramento em psicologia e filosofia, enquanto que outro fez o doutorado em história. Todos fizeram doutorado no México, sendo 1 deles fez também na França (Rouen). Não há qualquer informação sobre pós-doutoramento.
Com relação aos outros países, os membros da RI- PeHP com doutorado em psicologia são os de Portugal, El Salvador, Suíça, Bolívia e EUA, sendo que o último possui também doutorado em História das Ciências. Entre eles, apenas o membro da Bolívia e de El Salvador nao se doutoraram no país da atual vinculação institucional. O membro da Bolívia fez o doutorado na Espanha e o de El Salvador nos Estados Unidos. O membro da Guatemala não tem o título de doutor. Já com relação ao pós-doutorado, apenas o membro de El Salvador possui um estágio, na University of Illinois.
Podemos considerar, de acordo com as respostas obtidas, que mesmo no nível da especialização, a Rede é essencialmente composta por profissionais que se doutoraram na área de psicologia, conformando um total de 67% dos doutoramentos na área. Pode-se também dizer que o estágio de pós-doutoramento não é uma estratégia frequentemente acionada pelo grupo no processo de trocas institucionais e de institucionalização dos novos membros, já que apenas 27% dos respondentes fizeram este estágio.
Conclusões e discussão
Apresentar o perfil da RIPeHP compreende indicar as configurações de formação, nucleação e circulação dos seus membros, objeto deste primeiro artigo. Para indicar esse processo, pode-se citar a taxa de titulação de doutores e estágios de pós-doutoramento sobre o tema, assim como a circulação de membros no processo de formação. Se computados com o rigor metodológico devido, e se interpretados a partir das especificidades e das práticas de produção bibliográfica da área de história da psicologia, os indicadores podem ser úteis e significativos para explicar o ciclo de circulação da história da psicologia no contexto iberoamericano, assim como indicar vetores para o aprimoramento da política científica e tecnológica continental, tal como indicado por Mugnaini, Jannuzzi e Quoniam (2004).
Os primeiros resultados apontam que apesar da história da psicologia já ser considerada como área ou subárea da psicologia em alguns países iberoamericanos, ela é raramente a área principal dos acadêmicos da Rede, que se definem como psicólogos e professores de psicologia em diversas áreas, como a da psicologia social e clínica. Talvez isso explique a pouca adesão à palavra chave “história” e ou “história da psicologia” como descritor dos artigos científicos e na autodescrição biográfica, indicando fraca identidade dos membros como historiadores da psicologia. Por sua vez, esse estado da arte dificulta encontrar os membros da Rede nas bases de dados, diminuindo o alcance temático na busca bibliográfica e na oportunidade de citação intragrupal, o que certamente afeta o impacto dos membros e da própria área.
Os dados variam entre as diferentes nacionalidades, cabendo ao Brasil e à Argentina uma maior identidade de historiadores na Rede. A Rede começou no Brasil sob a coordenação da Prof. Ana Jacó-Vilela e essa pesquisadora construiu fortes laços institucionais com outras sociedades iberoamericanas, empossada como Secretária Executiva para a América do Sul da Sociedade Interamericana de Psicologia (SIP) de 2013 a 2017, e atualmente como Vice-Presidente para a América do Sul desta mesma instituição. Considera-se que tal articulação pode ter impactado o crescimento exponencial do Brasil na Rede, seguido pelo crescimento da Argentina, de onde provém o atual presidente da SIP, o Prof. Hugo Klappenbach e o atual coordenador da Rede, o Prof. Miguel Gallegos.
Do ponto de vista quantitativo, quanto ao número de membros da rede, avulta-se a relevância da Universidade de Buenos Aires, conforme indicado, por nuclear o maior número de pesquisadores, com destaque também para as regiões de Belo Horizonte (capital de Minas Gerais), Rio de Janeiro e Bogotá. As estratégias institucionais de pesquisa que implicaram relativa distinção entre os processos de nucleamento institucional, mais evidentes nos principais centros, deverão ser objeto de futuras investigações, uma vez que podem ensejar novas relevantes trajetórias. Como se viu, para citar um exemplo, no caso dos pesquisadores oriundos da Universidade Federal de Minas Gerais, estes tenderam a ficar concentrados na própria instituição, seja nas faculdades de psicologia e educação, seja no Centro de Documentação e Pesquisa Helena Antipoff; enquanto que os nucleados no Programa de Estudos e Pesquisas em História da Psicologia Clio-Psyché, da Universidade do Estado do Rio de Janeiro se descentralizaram por instituições distintas. As consequências de tais assimetrias institucionais, contudo, poderão ser melhor interpretadas nos artigos futuros deste projeto de pesquisa, quando da configuração da produção da RIPeHP em um grafo com vértices claramente identificados.
Em todo caso, o processo de especialização na área de história da psicologia vem ocorrendo. Neste sentido, é notável que muitos dos membros fizeram estágios de pós-doutoramento na área. Em alguns países, o processo vem se estabelecendo desde o processo de doutoramento, ou mesmo antes, por meio de orientações no tema. Além disso, há um aumento significativo de circulação dos pesquisadores, que leva em conta a senioridade: os doutores e pós doutores vem se movendo para diferentes países, não necessariamente no círculo da Iberoamerica. Como um delineamento de perfil, de acordo com as indicações no questionário, pode-se dizer que a grande maioria dos membros da RIPeHP é composta por doutores que dão aula em história da psicologia, alguns dos quais estão na pós-graduação e orientam dissertações e teses no tema. Nesse sentido, deve ser ressaltado o fato de que quem faz história da psicologia no âmbito da rede são, basicamente, psicólogos, com um número realmente reduzido de pesquisadores com formação em história (mesmo que em função de estágios pós-doutorais).