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CES Psicología

On-line version ISSN 2011-3080

CES Psicol vol.7 no.2 Medellín July/Dec. 2014

 

Representações sociais de psicólogo para jovens estudantes

Social representations of the psychologist for young students

Representaciones sociales del psicólogo para jóvenes estudiantes

Milena Bertollo-Nardi1, Luziane Zacché Avellar2, Renata Danielle Moreira Silva3, Zeidi Araújo Trindade4, Maria Cristina Smith Menandro5
Universidade Federal do Espírito Santo, Brasil.

1 Doutoranda do Programa de Pós-Graduação em Psicologia da Universidade Federal do Espírito Santo e Psicóloga do Instituto Federal do Espírito Santo.Brasil. milenabertollo@ifes.edu.br
2 Professora Associada III do Departamento de Psicologia Social e do Desenvolvimento e do Programa de Pós-Graduação em Psicologia da Universidade Federal do Espírito Santo. Brasil. luzianeavellar@yahoo.com.br
3 Doutora em Psicologia pelo Programa de Pós-Graduação em Psicologia da Universidade Federal do Espírito Santo e Psicóloga do Instituto Federal do Espírito Santo. Brasil. renatadms@gmail.com
4 Professora Titular do Departamento de Psicologia Social e do Desenvolvimento e do Programa de Pós-Graduação em Psicologia da Universidade Federal do Espírito Santo. Brasil. zeidi.trindade@gmail.com
5 Professora Adjunto IV do Departamento de Psicologia Social e do Desenvolvimento e do Programa de Pós-Graduação em Psicologia da Universidade Federal do Espírito Santo. Brasil. crismenandro@uol.com.br

Forma de citar: Forma de citar: Bertollo-Nardi, M., Avellar, L. Z., Silva, R. D. M., Trindade, Z. A. & Menandro, M. C. S. (2014). Representações sociais de psicólogo para jovens estudantes. Revista CES Psicología, 7(2), 78-95.


Resumo

Essa pesquisa objetivou analisar as Representações Sociais (RS) de psicólogo para estudantes do ensino médio. Foi desenvolvida em duas etapas: 1) sob a perspectiva estrutural, aplicação de questionário a 61 estudantes (42 meninas e 19 meninos) com o termo indutor "psicólogo"; 2) sob a perspectiva processual, realização de Grupos Focais (GF) com 9 estudantes (8 meninas e 1 menino). Analisou-se as questões de evocação pelo software EVOC e as demais, por análise temática. O elemento ajuda constituiu o possível núcleo central da estrutura das RS, enquanto os GF indicaram o processo de constituição de novos saberes sobre psicólogo e concomitantemente confirmaram a importância do elemento ajuda. Enfatiza-se a importância das interações sociais, sentimentos e afetos na construção das RS.

Palavras-chave: Representação social, Psicólogos, Jovens, Atuação Do Psicólogo, Estudantes.


Abstract

This research studied the Social Representations (SR) of the psychologist for high school students. It consisted in two phases: The first stage was carried out under the structural perspective, where a questionnaire was administrated to 61 students (42 girls and 19 boys) with the inductive term "psychologist". The second stage used the processual perspective. Focal groups of 9 students (8 girls and 1 boy) were conducted. The evocation questions were processed by EVOC software, whereas the other questions were addressed by the use of Thematic Analysis. The data analysis has demonstrated the term help as the central core of the representation. The focal groups evidenced new perceptions about the psychologist, and the help element was confirmed. It was emphasized the importance of affective interactions, feelings and affections in the construction of SR.

Keywords: Social Representations, Psychologists, Young People, Students, Psychologist's Work, Performance of the Psychologist.


Resumen

Este trabajo investigó las Representaciones Sociales (RS) de psicólogo a estudiantes de educación secundaria. Se desarrolló en dos etapas: in la perspectiva estructural, la aplicación del cuestionario a 61 estudiantes (42 chicas/19 chicos) con el término inductor "psicólogo"; in la perspectiva procesal, la realización de Grupos Focales (GF) con 9 estudiantes (8 chicas/1 chico). Las preguntas de evocación fueron tratadas con el software EVOC y, las demás, sometidas al Análisis Temático. Los datos mostraron el elemento ayuda como núcleo central da estructura de la RS. Los GF indican la aparición de nuevos saberes sobre psicólogo al mismo tiempo que corroboran el elemento ayuda. Se enfatiza la importancia de las interacciones sociales, sentimientos y afectos en la construcción de las RS.

Palabras clave: Representación Social, Psicólogos, Jóvenes, Actuación de Psicólogo, Estudiantes.


Introdução

Neste artigo, será discutido como a figura do psicólogo, com seu saber e sua atuação profissional, é apropriada e transformada por jovens estudantes à medida que as representações sociais (RS) sobre ela vão sendo construídas. Entende-se que os processos representacionais são construídos nas inter-relações entre sujeito, outros sujeitos e objetos e que neles estão envolvidos aspectos psicológicos e sociológicos (Jovchelovitch, 2008).

A história da psicologia, e também de outras ciências, tem sido marcada por oposições e dicotomias, que contribuíram para a manutenção da lógica do ou em oposição à lógica do entre: ou indivíduo ou social, ou psicológico ou sociológico, ou interno ou externo. Para Jovchelovitch (2004), a psicologia social é a ciência do "entre", já que o lugar privilegiado de sua investigação não é nem o indivíduo nem a sociedade, mas a zona híbrida que comporta as relações entre os dois.

É nesta zona híbrida que reside o fenômeno psicossocial e na qual explicações psicológicas e sociológicas se integram para explicar a complexidade dos objetos estudados. Seguindo essa perspectiva, o diálogo entre diferentes teorias pode contribuir para o estudo e análise dessa complexidade. O conceito de espaço potencial, do psicanalista inglês D. W. Winnicott (1975), entendido como lugar da mediação e da união entre o Eu e o Outro, a fantasia e a realidade, o interno e o externo, pode contribuir para a análise do espaço intersubjetivo que permite a criação e o compartilhamento de representações sociais, conforme será discutido mais adiante.

De acordo com Jodelet (2001), as representações sociais são fenômenos complexos que se encontram em contínua ação na vida social, organizados enquanto saberes (atitudes, crenças, normas, imagens) do senso comum que atuam sobre a realidade no intuito de "descrevê-la, analisá-la, explicá-la em suas dimensões, formas, processos e funcionamento" (p. 21). Ainda segundo a autora, as RS intervêm em processos tão variados quanto a difusão e a assimilação dos conhecimentos, no desenvolvimento individual e coletivo, na definição das identidades pessoais e sociais, na expressão dos grupos, nas transformações sociais e relacionam-se aos modos específicos dos indivíduos se comunicarem e construírem uma visão consensual da realidade.

Na perspectiva da abordagem estrutural (Abric, 1993) as RS apresentam duas características que à primeira vista parecem contraditórias: a primeira é a de que são, ao mesmo tempo, estáveis e dinâmicas, rígidas e flexíveis, e a segunda idéia é a de que as RS são consensuais, porém apresentam fortes diferenças interindividuais. Essa aparente contradição é resolvida pela organização das RS em dois componentes que apresentam funções distintas, porém complementares na sua estruturação: sistema central e sistema periférico (Sá, 1996).

O sistema central é diretamente determinado pelas condições sociais, históricas e ideológicas do grupo e nele se localiza aquilo que é consenso e homogêneo dentro do grupo. Ele é estável, coerente, muito resistente às mudanças e independente do contexto social imediato e o portador do significado da representação social. Já o sistema periférico pode ser caracterizado pela funcionalidade seguinte: a) consegue vincular a representação social ao contexto social imediato; b) regula e adapta o núcleo central à situação concreta vivenciada naquele momento pelo grupo social; c) permite que a representação social tenha uma modulação individual, ao acolher as vicissitudes referentes às diferentes experiências que indivíduos de um mesmo grupo têm.

As RS são, portanto, fenômenos complexos, marcados por uma organização dinâmica, na qual elementos mais centrais, históricos e ideológicos coexistem com elementos mais processuais, contextuais e relacionais. Sendo assim, neste artigo, será investigada essa organização dinâmica na representação social de psicólogo para jovens estudantes de uma escola federal.

De acordo com uma pesquisa nacional sobre a profissão do psicólogo no Brasil, a psicologia se revela como uma categoria profissional em constante crescimento, de modo que a participação dos psicólogos nos mais diversos setores da sociedade brasileira tem aumentado consideravelmente (Bastos & Gondim, 2010).

Essa inserção do psicólogo em espaços diversos dos tradicionalmente ocupados tem possibilitado o contato de uma parcela cada vez maior da população com esse profissional. Esse contato gera saberes e representações sobre o psicólogo, que vão sendo criadas e recriadas ao longo da história e dos contextos sociais. Na década de 1980, Souza e Trindade (1989) não encontraram, entre a maioria dos participantes de classe baixa, uma representação do psicólogo e de suas atividades profissionais. Os autores citaram a falta de acesso aos serviços e a lenta democratização da psicologia, como os principais fatores que levaram a essa não representação.

Atualmente, como apontado no trabalho organizado por Bastos e Gondim (2010), o cenário sofreu mudanças, assim como têm mudado a atuação do psicólogo e as RS sobre ela. Participantes de diferentes pesquisas percebem a atuação do psicólogo como uma ajuda, um auxílio para diferentes situações vivenciadas (Lahm & Boeckel, 2008; Praça & Noves, 2004). Ramos (2011), em uma pesquisa que objetivou investigar as RS sobre a atuação do psicólogo escolar entre profissionais da área da educação, encontrou duas categorias de RS compartilhadas: uma mais próxima da perspectiva clínica tradicional, baseada em um modelo individualizante e adaptativo, e outra na qual foi possível identificar concepções mais atuais, que entendem a atuação do psicólogo junto a toda a comunidade escolar, numa perspectiva psicossocial e contribuindo para o processo de ensino e de aprendizagem.

Baseado nesse contexto, esta pesquisa teve como objetivo conhecer e analisar as representações sociais de psicólogo para jovens estudantes de uma instituição de ensino federal. Objetivou, ainda, levantar expectativas com relação ao trabalho do psicólogo, as quais subsidiaram, juntamente com a análise das representações, o planejamento das intervenções profissionais a serem realizadas na instituição onde a pesquisa foi desenvolvida.

Método

A pesquisa utilizou-se de delineamento misto, definido por Creswell (2010) como abordagem de pesquisa que associa as formas qualitativas e quantitativas (e consequentemente suas principais virtudes) em um mesmo estudo de forma que "a força geral de um estudo seja maior do que a da pesquisa qualitativa ou quantitativa isolada" (p. 27). Os métodos mistos, de acordo com Sampieri, Collado & Lucio (2013), mais do que a combinação de dois tipos de delineamentos, representam a possibilidade de olhar para o fenômeno a ser investigado de forma global, no intuito de se realizar metainferências e obter maior entendimento sobre o que se investiga. Trindade, Guerra, Bonomo e Silva (2013), em levantamento sobre a produção empírica em Psicologia Social no período de 2007 a 2011, identificaram que 15% dos artigos publicados utilizaram a triangulação de dados como estratégia de pesquisa. Apostolinidis (2007) afirma que, ao estudar Representações Sociais, o pesquisador não deve se contentar apenas com um método, visto que as investigações de como os indivíduos se apropriam, organizam e utilizam os objetos sociais demandam a utilização de uma abordagem plurimetodológica como a adotada nessa pesquisa.

O local de pesquisa

A pesquisa foi desenvolvida em um campus do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Estado do Espírito Santo (IFES), localizado no interior do estado. O Ifes foi criado em 2008, a partir da junção do antigo CEFETES (Centro Federal de Educação Tecnológica do Espírito Santo) e das antigas Escolas Agrotécnicas Federais do estado, em consonância com a expansão da Rede Federal de Educação Tecnológica e com a ideia da educação profissional e tecnológica como política pública (Ministério da Educação e Cultura da Brasil, 2010).

A escolha por esse campus deveu-se ao fato de uma das autoras deste artigo ser também psicóloga da instituição. A primeira etapa da pesquisa aconteceu justamente no primeiro mês de atuação da psicóloga no campus, sendo a primeira profissional de psicologia nessa unidade de ensino. No momento em que chega ao campus, a psicóloga é recebida pelos servidores da instituição, principalmente por professores e pedagogos, que enfatizaram o quanto esperaram pela chegada desse profissional e demonstraram suas expectativas, relacionadas, principalmente, à possibilidade de resolução dos problemas enfrentados. A segunda etapa de coleta de dados aconteceu cerca de nove meses após esse primeiro momento.

Participantes

Participaram da pesquisa jovens estudantes dos cursos técnicos integrados ao ensino médio de um dos campi do IFES, com idades entre 15 e 19 anos. Da primeira etapa, participaram 61 jovens, 42 do sexo feminino e 19 do masculino. Da segunda etapa, participaram 09 jovens, 08 do sexo feminino e 01 do sexo masculino. Apesar de a maioria dos participantes ser do sexo feminino, esse não foi um critério para participação na pesquisa.

Instrumentos de coleta de dados

Para a primeira etapa da pesquisa, foi utilizado um questionário com uma questão de evocação com o termo indutor "Psicólogo", duas questões para os participantes completarem as frases "O psicólogo no Ifes vai ser bom para..." e "Eu procuraria o psicólogo do IFES para..." e uma questão solicitando que os participantes respondessem que ações e atividades esperavam que o psicólogo desenvolvesse na instituição.

Na segunda etapa foi utilizada a técnica de grupo focal (Gatti, 2012), que permite a emergência de diferentes pontos de vista dos participantes a partir da criação de um contexto de interação. Entendendo que as RS são produzidas e compartilhadas nas relações sociais, os grupos focais apresentam-se como técnica privilegiada, já que, nela, o diálogo e o contato entre participantes permite a captação de significados que poderiam ser difíceis de se manifestar por outros meios. Com relação ao moderador dos grupos, sua tarefa consistiu em criar um espaço aberto, no qual foi possível que a discussão acontecesse por meio da troca de argumentos, sem atrapalhar a iniciativa própria dos participantes (Flick, 2009). Tratou-se de um direcionamento tópico (Flick, 2009), a partir do qual novas perguntas eram introduzidas e a discussão era, em alguns momentos, orientada para o aprofundamento de questões específicas, de acordo com os objetivos da pesquisa. Para a condução dos grupos focais, foram utilizados os seguintes tópicos-guia: evocações com o termo psicólogo; contato que possuem com psicólogos; o que faz um psicólogo; motivos pelos quais procurariam um psicólogo; sugestões de ações ou atividades para o psicólogo do IFES. Cada grupo focal durou cerca de uma hora e vinte minutos.

Procedimentos de coleta de dados

Os questionários foram distribuídos nos espaços coletivos da instituição, como corredores e cantina, e foi utilizada a técnica snowball (Mension-Rigau, 1990), em que participantes sugerem outros para participar da pesquisa. Responderam ao questionário 61 participantes, número que possibilitou realizar a análise estrutural da questão de evocação livre.

Foram realizados dois Grupos Focais com estudantes que aceitaram participar da pesquisa. Os Grupos aconteceram na sala da Coordenadoria de Assistência ao Educando, sendo que do primeiro participaram 05 jovens, enquanto o segundo contou com 04 participantes. Todos os 09 participantes desta etapa tiveram algum contato anterior com a psicóloga da instituição, seja por participarem do Grupo de Orientação Profissional, das Rodas de Conversa ou de algum atendimento individual. Para definir a quantidade de grupos focais, foi utilizado o critério de saturação, que consiste em suspender a inclusão de novos participantes, uma vez que as informações obtidas passam a se mostrar, na avaliação do pesquisador, redundantes e repetidas (Fontanella, Ricas & Turato, 2008).

Procedimentos de análise de dados

As questões de evocação foram processadas pelo software EVOC -Ensemble de Programmes l'Analyses dês Évocations- (Vergès, 2003), que organiza os resultados em torno de quatro quadrantes, considerando os parâmetros frequência e ordem de evocação, e possibilita verificar o núcleo central e o sistema periférico das RS. Realizou-se também um processo de uniformização dos termos evocados pelos participantes para que o conteúdo pudesse ser homogeneizado. Além de realizar o processo de lematização (redução dos termos à sua forma raiz) palavras diferentes cujos significados eram muito próximos foram padronizados sobre a mesma designação para garantir que durante a análise "o sentido final expresso por elas fique contemplado ao mesmo tempo sejam processadas pelo software como sinônimos" (Oliveira, Marques, Gomes e Teixeira, 2005, p. 583).

Os quadrantes da estrutura indicam aspectos distintos da RS, de acordo com Sá, Oliveira, Castro, Vetere & Carvalho (2009). As evocações situadas no quadrante superior esquerdo, que apresentam maior frequência e menor ordem média de evocação, provavelmente indicam o núcleo central, que é considerado a parte mais estável e permanente da RS. Os termos situados nos demais quadrantes indicam o sistema periférico. O quadrante superior direito, que contem termos muito frequentes, mas com maior ordem média de evocação, é considerado a "primeira periferia", enquanto o quadrante inferior direito, com evocações pouco frequentes e evocados em posições mais distantes, pode ser considerado nitidamente o sistema periférico, chamado de "segunda periferia". O quadrante inferior esquerdo, cujos termos são pouco frequentes, mas com baixa ordem de evocação, é chamado de "zona de contraste" e apresenta as variações na representação elaborada por subgrupos específicos.

Os demais dados, provenientes tanto do questionário quanto do grupo focal, foram analisados pela técnica da análise temática (Minayo, 2004). A análise temática é uma técnica que "consiste em descobrir os núcleos de sentido que compõem uma comunicação cuja presença ou frequência signifiquem alguma coisa para o objetivo analítico visado" (Minayo, 2004, p. 209). A autora propõe quatro etapas da análise temática: pré-análise, exploração do material e tratamento dos resultados obtidos e interpretação.

Aspectos éticos

Os procedimentos utilizados neste estudo não colocavam em risco a integridade do participante. No questionário, havia uma nota introdutória, informando os participantes dos objetivos da pesquisa, do caráter voluntário da participação e da confidencialidade das respostas fornecidas, já que os participantes informavam apenas o sexo e a idade.

Com relação aos Grupos Focais, foi destacado para os jovens o caráter confidencial e voluntário da participação, sendo que os participantes, assim como os seus responsáveis, assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido.

O estudo que deu origem a este artigo faz parte de uma pesquisa mais abrangente, aprovada pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Federal do Espírito Santo, sob o parecer número 373.561, e aprovada também pela instituição onde a pesquisa foi desenvolvida.

Resultados

Evocações com o termo Psicólogo e expectativas com relação ao trabalho do psicólogo

A análise das evocações processada pelo software EVOC é apresentada na Tabela 1.

O núcleo central é bastante conciso e formado unicamente pelo elemento ajuda. Na primeira periferia aparecem as evocações conselhos, problemas e conversa. Na zona de contraste aparecem calma, desabafo e mente. E a segunda periferia é composta pelos elementos: amigo, conflitos, conversa, ouvir, sentimentos e solução.

Com relação à questão O psicólogo no IFES vai ser bom para..., foram encontrados os seguintes núcleos de sentido: Conversar/desabafar/dar conselhos (n=35); Ajudar os alunos em suas questões pessoais e escolares (n=27); Melhorar os relacionamentos interpessoais no campus (n=11); Ajudar a melhorar o desempenho acadêmico (n=05); Orientar em relação ao futuro profissional (n=04).

Ajudar os alunos nas suas dificuldades mais terríveis (Aluna, 17 anos);

Resolver conflitos, melhorar o rendimento escolar, controlar a tensão emocional dos estudantes, tornar saudável a convivência escolar (Aluna, 16 anos).

Para a questão Eu procuraria o psicólogo do IFES para..., as respostas mais citadas foram: Conversar, desabafar e pedir conselhos (n=25); Conversar sobre a escola e problemas escolares, como estresse e ansiedade diante de provas e trabalhos (n=15); Orientar-se quanto ao futuro profissional (n=13); Ajudar nos relacionamentos interpessoais e familiares (n=6); Ajudar em problemas pessoais que atrapalham o desempenho acadêmico (n=3); Melhorar a auto-estima (n=3); Terapia (n=2). Dois alunos responderam que não procurariam o psicólogo.

Descarregar tudo de ruim que tenho guardado para aliviar meu corpo dessas tensões e para que o profissional possa me indicar maneiras de contornar meus problemas (Aluno, 17 anos);

Me ajudar com a auto-estima e controle emocional, aumentar minha capacidade de compreensão e paciência (Aluna, 16 anos);

Quanto à pergunta sobre o que se espera do trabalho do psicólogo, as principais ações e atividades sugeridas pelos jovens foram: Palestras e debates sobre temas envolvendo a juventude (n=7); Diálogos e papos informais (n=7); Terapia, atendimento e consulta (n=07); Ajuda aos alunos em suas dificuldades pessoais e escolares (n=7); Atividades para ajudar a escolher o futuro profissional (n=6); Projetos para melhorar as relações interpessoais no campus (n=4); Atividades em grupo (n=4); Atividades que ajudem os alunos a lidar com suas emoções e controlar o nervosismo (n=4); Atividades de apoio nas provas (n=3); Atividades de descontração (n=3); Visitas às salas de aula (n=2).

Os Grupos Focais: explorando mais a fundo as representações

Após as leituras atentas e a exploração do material produzido nos Grupos Focais foi possível identificar os seguintes núcleos de sentido: Concepções de psicólogo; Mudanças nas concepções de psicólogo; Contato com psicólogos; Atuação do psicólogo; Possibilidades de atuação para o psicólogo do IFES.

Os seguintes elementos surgiram no discurso dos alunos e compõem a RS de psicólogo para eles: Ajuda; Conversa; Direção; Esperança; Problemas; Orientação/Conselhos; Preconceito; Angústia; Uma pessoa com quem contar.

Para se abrir, contar as coisas, uma pessoa que não vai te julgar ou qualquer coisa do tipo (Aluna, 15 anos);

Dar uma direção, assim, pro seu problema, dar uma esperança (Aluno, 16 anos).

Os alunos falam do psicólogo como aquele com quem podem contar, como alguém que vai dar uma orientação, uma esperança, mas sem induzir ou impor algo. Eles mencionam o fato de ainda existir muito preconceito com relação a procurar a ajuda profissional de um psicólogo, devido ao fato de esse profissional ter sido historicamente associado à ideia de loucura.

Sobre esse assunto, os participantes falam de uma mudança na forma como pensam o trabalho do psicólogo, não mais restrito a pessoas com problemas mentais. Como fatores para essa mudança, os participantes citam: a) o fato de hoje os jovens terem mais problemas, serem mais preocupados e estressados e, por isso, precisarem ter mais contato com psicólogos; b) atualmente, mais pessoas podem ter acesso a esse profissional, já que ele atua em outros espaços além do consultório; c) o acesso à informação é maior hoje em dia, o que pode contribuir para a dissolução de certos preconceitos; d) o contato direto com o psicólogo da escola.

Igual eu comentei com a minha avó que eu to participando do grupo com a psicóloga. Aí ela olhou assim pra minha cara: ‘Psicóloga? Mas o que você ta fazendo?'. Tipo assim, ela ficou preocupada. Aí eu falei assim: ‘Não, vó, é só porque eu to sem saber qual curso da faculdade fazer e ela montou esse grupo para ajudar a gente'. Aí ela se acalmou (Aluna, 17 anos).

Com relação ao contato com psicólogos, dos 09 alunos, um afirmou fazer terapia há um ano e meio, dois consultaram um psicólogo quando crianças, mas não se lembram de como foi, dois conhecem amigos que já foram atendidos por psicólogo, sendo que um deles foi na escola, e quatro estão tendo contato com o psicólogo pela primeira vez no IFES.

Uma participante contou que, na escola anterior onde estudava, dos dez alunos da sua sala, cinco faziam acompanhamento psicológico, o que gerou espanto nos outros participantes, apesar da fala recorrente entre eles de que o psicólogo é uma ajuda importante para todas as pessoas e não é só para quem tem problemas graves.

Os motivos citados para a ida ao psicólogo (tanto do próprio participante quanto de algum conhecido que já fez acompanhamento psicológico) foram: ansiedade e crises de gastrite nervosa, crise de pânico, separação dos pais, medo de ficar sozinho em casa e dificuldades em geral de lidar com a família. Como resultados da ida ao psicólogo, os alunos disseram que ajudou muito, ficou menos agitado e mais paciente, ficou mais sociável e menos tímida, tinha síndrome do pânico e hoje está doidona e mega extrovertida.

Em alguns momentos, o psicólogo é também comparado a um amigo, e, na concepção de alguns alunos, um amigo também pode fazer o papel de psicólogo ao ouvir e dar atenção. Quando questionados sobre a diferença entre conversar com o psicólogo e com um amigo, eles citaram o fato de o amigo não ser imparcial, enquanto o psicólogo é. Além disso, enfatizaram os anos de estudo dedicados para se tornar um profissional.

De acordo com os participantes, o psicólogo atua oferecendo um caminho, um modo de decidir, não fica cobrando muito, orienta, ouve, dá liberdade de escolha, ajuda a ver os problemas de outra forma, não pode reprimir a pessoa e seus sentimentos. O psicólogo, ainda de acordo com os estudantes, pode trabalhar com grupos, projetos sociais, pode fazer pesquisas para melhorar a qualidade de vida das pessoas e intervir para melhorar os ambientes de trabalho.

Como possibilidades de atuação para o psicólogo do IFES, os participantes sugeriram: trabalhos em grupo; Rodas de Conversa; trabalhos de orientação para os jovens que no geral são muito desorientados, não sabem qual atitude tomar (Aluna, 17 anos); palestras, mas sem ser daquelas chatas, que dá sono em todo mundo (Aluna, 16 anos); proporcionar um espaço para os alunos falarem dos medos próprios da adolescência (exemplos: decepcionar os pais, seguir pelo caminho errado, não encontrar o próprio caminho, não alcançar as expectativas); trabalhar com os alunos recém chegados na escola, contribuindo para a adaptação à instituição; fazer trabalhos de integração entre as turmas; focar em questões da escola, como o nervosismo que os alunos sentem diante das provas.

Discussão

A análise do software EVOC inclui o elemento ajuda no núcleo central da representação (Tabela 1). De acordo com Abric (1993), o sistema central, composto pelo núcleo central da RS, é diretamente determinado pelas condições históricas, sociológicas e ideológicas, e, como tal, é mais estável e resistente a mudanças do que o sistema periférico. Nele, estão incluídos os elementos mais ideológicos e consensuais da RS. O termo ajuda, também foi encontrado em outros trabalhos sobre a RS do psicólogo (Carvalho & Souza, 2012; Oliveira & Peres, 2009; Praça & Novaes, 2004) e parece se configurar como o elemento estruturante e funcional dos saberes que se elaboram sobre o psicólogo e sua atuação.

Conforme Abric (2001), existem dois tipos de elementos que podem constituir o núcleo central das representações sociais: os elementos normativos, originados no sistema de valores dos indivíduos e relacionados à memória do grupo e ao sistema ideológico, e os elementos funcionais, que são associados às características com as quais os grupos descrevem determinados objetos às condutas relativas ao objeto. Pode-se afirmar, portanto, que o elemento ajuda se refere às práticas sociais atribuídas ao psicólogo, como profissional cuja especificidade do trabalho é ajudar as pessoas a enfrentar as dificuldades cotidianas.

A ativação de um elemento do núcleo central é influenciada por três fatores: a finalidade da construção da representação social, a distância do objeto representacional do grupo que constrói a representação e o contexto no qual a representação é enunciada (Abric, 2001). Como a estrutura das RS de psicólogo (Tabela 1) se refere principalmente às práticas atribuídas a esse profissional, pode-se dizer que o núcleo representacional é funcional, por gerar expectativas sobre como esse profissional deve agir e como o grupo se posiciona em relação a ele. As RS desses estudantes se caracterizam por serem mais descritivas do que ideológicas, visto que o objeto de representação é algo próximo desses estudantes, mesmo na primeira etapa de coleta onde o contato com o profissional da instituição ainda era recente. Isso se deve à diversificação dos espaços de inserção do psicólogo, especialmente nos serviços públicos na área da saúde e assistência social, o que torna sua atuação profissional mais visível (Bastos, Gondim & Borges-Andrade, 2010).

O sistema periférico, mais sensível ao contexto imediato dos grupos (Oliveira, Gomes, Pontes & Salgado, 2009) descreve as formas pelas quais essa ajuda se materializa para os jovens. Na primeira periferia estão presentes os elementos relacionados à atuação do psicólogo. A ajuda se materializa e se concretiza na forma de conselhos e conversas para os problemas enfrentados, e assim se cumpre uma das funções do sistema periférico, a concretização do sistema central (Abric, 1993).

O sistema periférico, por ser mais flexível, possibilita também a integração de variações interindividuais, ligadas ao contexto dos sujeitos participantes da pesquisa. Na zona de contraste, os termos calma, desabafo e mente, refletem como a ajuda se configura para esse grupo específico: adolescentes estudantes de uma instituição federal de ensino. Trata-se de uma instituição que cobra muito dos alunos em termos de nota e desempenho escolar. Muitos procuram o atendimento psicológico com queixas referentes a essas cobranças. A possibilidade de um ambiente calmo, com um profissional que compreende a mente e com quem possam desabafar é o que esse grupo espera do psicólogo.

Os elementos identificados pelo EVOC também foram encontrados na análise das questões abertas. Espera-se do psicólogo que ele ajude o aluno a resolver suas dificuldades, solucione problemas, resolva conflitos. O psicólogo, de acordo com esses alunos, seria aquele com quem contar, uma pessoa para conversar, desabafar, receber orientação.

Encontrou-se, entre os alunos, uma grande expectativa com relação ao trabalho do psicólogo, que se reflete na ideia do profissional como alguém que resolverá os problemas mais terríveis, de diferentes ordens, capaz de mudar, melhorar, dar soluções. Praça e Novaes (2004) também encontraram, entre estudantes universitários, a RS da psicologia como aquela que pode oferecer ajuda incondicional ao outro. As autoras discutem a roupagem onipotente com que se veste a psicologia e os psicólogos e como essa onipotência se reflete nos pensamentos e expectativas das pessoas em geral.

Também nos Grupos Focais apareceram elementos mais tradicionais da RS do psicólogo, como ajuda, conversa, orientação/conselhos e problemas - elementos que, conforme a análise do EVOC, fazem parte do núcleo central e da primeira periferia da RS.

O que se espera do psicólogo é que ele forneça um espaço de acolhimento, de conversa, de aconchego aos alunos, mas também oferecendo uma possibilidade de direcionamento e orientação para as questões emergidas. Um direcionamento que, acredita-se, não pode ser dado a priori, nem pelos próprios estudantes, nem pelo profissional, mas que vai ser construído no espaço intersubjetivo entre psicólogo e estudante.

Além dos elementos mais centrais e ideológicos, os dados da pesquisa apontam também para o surgimento de novos elementos nos saberes produzidos sobre o psicólogo, indicando a dupla característica das RS que são, ao mesmo tempo, rígidas e flexíveis, consensuais e marcadas por diferenças interindividuais (Abric, 1993).

Todos os alunos enfatizaram as mudanças com relação ao que se pensa sobre o psicólogo. Atualmente, percebem um acesso maior ao profissional, o que popularizou a procura pelo psicólogo e transformou as representações e expectativas com relação a ele. Esse processo aparece de maneira mais clara a partir da inserção do psicólogo no campus onde os alunos estudam e onde esta pesquisa foi desenvolvida. De acordo com os participantes o contato direto com o profissional e a participação em atividades desenvolvidas por ele contribuíram para essas transformações, conforme será discutido mais adiante.

O papel da interação e do encontro no processo de construção das RS

Estudar os processos representacionais exige a reflexão sobre o papel da interação na construção dos significados e sentidos. Os saberes a respeito do que é sobre o que faz um psicólogo e, mais especificamente, o que faz um psicólogo trabalhando na instituição IFES, são construídos a partir das relações estabelecidas nos espaços sociais frequentados pelos jovens participantes desta pesquisa.

De acordo com Jovchelovitch (1995), as RS, como fenômenos psicossociais, "estão necessariamente radicadas no espaço público e nos processos através dos quais o ser humano desenvolve uma identidade, cria símbolos e se abre para a diversidade de um mundo de Outros" (p. 65). A esfera pública, como lugar da alteridade e do contato com outros, fornece às RS o terreno sobre o qual elas podem ser cultivadas, se estabelecer e se desenvolver.

A autora, ao discutir as noções de esfera pública e privada, refere-se às esferas públicas como os espaços de comunicação e diálogo, onde o Eu e o Outro se encontram, constroem conhecimento e expressam afetos. De acordo com a autora,

Narrativas individuais e narrativas comunitárias são entrelaçadas de tal modo que, quando a história de uma vida individual é contada, ela contém a história, os acontecimentos, as formas culturais e as maneiras de se comportar de toda uma comunidade. De modo recíproco, a lembrança, discussão e desafio de acontecimentos e histórias importantes a uma comunidade permitem a sujeitos individuais reconhecer neles o seu poder, com eles se identificar ou deles se distanciar, apoiá-los ou apaixonadamente rejeitar o que está em jogo (Jovchelovitch, 2008, p. 137).

Assim, a representação que jovens estudantes possuem do psicólogo e de seu trabalho é cultivada, estabelecida e desenvolvida no encontro, tanto com outros jovens quanto com o próprio profissional. Além disso, ancora-se em representações anteriormente compartilhadas, em experiências prévias com profissionais da área, em expectativas que possuíam e no contato direto com o psicólogo do próprio campus.

A etapa inicial da pesquisa foi realizada concomitantemente à chegada do primeiro profissional de psicologia à instituição, após 19 anos de existência do campus. Diferentes saberes a respeito desse profissional já existiam e certamente já circulavam entre servidores e estudantes, já que, conforme relato dos próprios funcionários, o psicólogo era esperado na instituição desde a sua inauguração. A partir da chegada do profissional como membro efetivo do quadro de servidores, a discussão sobre o que faz um psicólogo, como atua, as expectativas pessoais e coletivas ganharam ainda mais relevância. A então diretora de ensino da instituição chegou a assinalar que a vinda do psicólogo foi o assunto mais comentado no campus nas semanas anteriores à sua chegada. O psicólogo, portanto, fazia e continuou a fazer parte das conversas, dos diálogos, do dia-a-dia e das expectativas de servidores e alunos do IFES.

De acordo com Sá (1998), só faz sentido estudar a representação de um dado objeto por um grupo social se esse fenômeno existe para esse grupo. É necessário que um objeto seja relevante para que um grupo o represente, já que não se representa aquilo a que se é indiferente, aquilo que não provoca o desejo de comunicação, de falar a respeito, de compreender (Arruda, 2011). No caso deste grupo social, conforme discutido, o objeto em questão é um fenômeno de interesse para os seus membros, já que faz parte do convívio, da comunicação e do investimento de afeto por parte deles.

Souza e Trindade (1989), conforme já citado, não encontraram, entre a maioria dos participantes de classe baixa, uma representação do psicólogo e de suas atividades profissionais. Os autores discutiram a falta de representação pela impossibilidade de acesso a esses serviços, naquele momento, por parte dessa população, pela lenta democratização da psicologia, que não contava com profissionais atuando no setor público, e pela utilização de jargões da profissão que impediam a compreensão do profissional e de suas atividades. Essa situação passou por transformações desde então.

Os jovens participantes desta pesquisa falam de mudanças concernentes à representação e à função do psicólogo. De acordo com eles, o psicólogo foi muitas vezes associado à ideia de loucura e existia forte preconceito por parte da população em geral. Os fatores citados para essa mudança de concepção foram: o fato de os jovens atualmente terem mais problemas, serem mais preocupados e mais estressados e, por esses motivos, precisarem ter mais contato com o psicólogo; o acesso ao psicólogo que, atualmente é facilitado pelo fato de ele estar em outros espaços profissionais além do consultório particular; o nível de informação ser maior atualmente, o que pode contribuir para a dissolução de certos preconceitos; e, finalmente, o contato direto com o psicólogo na escola.

Ao produzir, expressar e reelaborar RS sobre o psicólogo, os jovens constroem representações sobre si mesmos, se definem, expressam identidades. Para eles, a representação de psicólogo mudou, porque o jovem contemporâneo mudou. Hoje eles se veem mais preocupados, estressados e com mais problemas do que gerações anteriores. De acordo com Duveen (2010),

As representações sociais emergem, não apenas como um modo de compreender um objeto particular, mas também como uma forma em que o sujeito (indivíduo ou grupo) adquire uma capacidade de definição, uma função de identidade, que é uma das maneiras como as representações expressam um valor simbólico (...) (p. 20-21).

Destaca-se, portanto, que as RS expressam um valor simbólico e afetivo, interesses, necessidades e desejos. De acordo com Jovchelovitch (2008), apesar de haver, sem dúvida, uma função epistêmica, a análise da representação vai muito além, envolvendo relações dialógicas e funções expressivas. A autora enfatiza que a representação é uma "ação de seres psicológicos cujas identidades e existência social são parcelas fundamentais do processo representacional" (p. 57).

O fenômeno da representação é tanto simbólico quanto social. Entender que o desenvolvimento do saber não se restringe à formação de estruturas cognitivas, mas que é moldado por sentimentos e afetos, nos aproxima da posição mista das representações, que, de acordo com Moscovici (1978), se situa no cruzamento entre conceitos sociológicos e psicológicos. Esse espaço intermediário será foco de análise na próxima seção.

O enfoque relacional no processo de construção das representações sociais

Interessa-se, neste artigo, analisar tanto os aspectos estruturais quanto os relacionais das RS, procurando tirar o enfoque das dicotomias que separam, de um lado, sujeito e mundo interno, e, de outro, objeto e mundo externo. Trabalha-se com a ideia de que as possibilidades humanas se desenvolvem na relação com o mundo material e social, o qual não pode ser visto como algo exterior ao homem e ao mundo psicológico (Bock, 2001). Trata-se de dois mundos completamente interligados.

De acordo com essa análise, os saberes produzidos sobre o que é e o que faz um psicólogo não são simples apreensões e reproduções do mundo social em um mundo interno pré-existente. Eles fazem parte de uma área de interseção entre mundo interno e mundo externo, entre aspectos psicológicos e sociológicos.

Acredita-se que os conceitos de espaço potencial e fenômenos transicionais, do psicanalista inglês D.W.Winnicott (1975), possam oferecer importantes contribuições para a análise dessa interseção e para o entendimento do encontro dialógico e intersubjetivo que permite a construção de RS. Para isso, a discussão será baseada nas análises anteriormente realizadas por Jovchelovitch (1995, 2000, 2008).

No caso específico desta pesquisa, discute-se como o encontro entre psicólogo e estudantes, e entre os próprios estudantes, permite o surgimento de relações dialógicas que se articulam no processo de construção das RS sobre o psicólogo e a sua prática profissional.

A teoria de Winnicott aponta o relevante papel do ambiente na constituição psíquica dos sujeitos e o autor insiste em trazer para a psicanálise o estudo da intersubjetividade e da experiência cultural (Pombo-de-Barros & Arruda, 2010). De acordo com Jovchelovitch (2008), o ponto de vista de Winnicott é radicalmente dialógico, já que sua unidade de análise não é o bebê isolado, mas a díade bebê/prestador-de-cuidados.

Winnicott (1975) postula a existência do espaço potencial, que diz respeito a uma terceira área de experiência, entre a inabilidade do bebê e sua crescente habilidade em reconhecer a realidade, entre o subjetivo e aquilo que é objetivamente percebido.

Minha reivindicação é a de que, se existe necessidade desse enunciado duplo, há também a de um triplo: a terceira parte da vida de um ser humano, parte que não podemos ignorar, constitui uma área intermediária de experimentação, para a qual contribuem tanto a realidade interna quanto a vida externa (Winnicott, 1975, p. 15).

De acordo com Winnicott (1975), no caminho percorrido pelo bebê, que vai da dependência absoluta rumo à independência, ele vive a experiência de ilusão da onipotência, para, em seguida, começar a aceitar a existência do mundo externo. Nesse percurso, os fenômenos transicionais e os objetos transicionais inauguram o primeiro lugar de separação entre a mãe ou o prestador de cuidados e o bebê, até então fusionados. Esse primeiro espaço de separação é chamado de espaço potencial e nele estão incluídas as experiências do indivíduo, a arte, a religião, o brincar, as experiências culturais.

Tanto na teoria de Moscovici quanto na de Winnicott o enfoque é dado ao estudo dos fenômenos relacionais, intermediários, contraditórios e paradoxais. É nesta zona de mediações e relações (a zona do "entre") que reside o fenômeno psicossocial, e onde explicações psicológicas e sociais convivem e se complementam para dar sentido à complexidade que envolve as situações com as quais nós, psicólogos, somos chamados constantemente a lidar.

Daí é possível entender as contradições de alguns elementos da representação de psicólogo apresentados nesta pesquisa. Ao mesmo tempo em que se espera que o psicólogo resolva os problemas mais "terríveis" e dê respostas e soluções para questões de diferentes ordens, os alunos entendem que o psicólogo não dará soluções a priori, mas, que essas soluções serão construídas nas relações estabelecidas entre profissional e estudante. Ao mesmo tempo em que os alunos expressam que não é possível pensar mais o psicólogo como sendo apenas para pessoas com transtornos mentais graves, eles ainda se espantam quando uma participante afirma que conhece muitos colegas que fazem acompanhamento com um psicólogo.

Acredita-se ser na superposição dos espaços potenciais dos sujeitos que as RS são construídas. Não se trata de representações internas, mentais, que partem de dentro. Também não há como admitir que são um reflexo do mundo externo, e que os sujeitos apenas reproduzem. O próprio Moscovici (2010) enfatizou que as pessoas e os grupos não são receptores passivos, mas repensam e recriam as RS à medida que as compartilham. Arruda (2011) enfatiza que na base da dinâmica da representação está o atravessamento, ou mesmo superposição, do pensamento social e do pensamento individual.

O espaço potencial é o lugar da mediação, da união, no qual podem se acomodar o Eu e o Outro, a fantasia e a realidade, o interno e o externo. As representações, por outro lado, também são estruturas mediadoras, pertencendo ao espaço do entre sujeito-outro-objeto. Jovchelovitch (2008) afirma que a representação simbólica é, pois, atividade fundamental do espaço potencial; ela cria espaços potenciais.

Assim como a cultura, a arte, a religião e o brincar, discutidos por Winnicott, o ato de representar também pode ser pensado como um fenômeno transicional, de união entre mundo interno e mundo externo.

Nesse sentido, as representações sobre o psicólogo apresentadas neste trabalho foram sendo construídas no encontro entre os jovens participantes da pesquisa, e entre eles e o pesquisador, que, neste caso, tratava-se de um psicólogo - objeto de representação investigado. O psicólogo pesquisador trazia suas próprias RS, experiências prévias e saberes sobre o que faz e como atua um psicólogo; por outro lado, os estudantes também expressavam representações, expectativas e experiências prévias de contato com esse profissional. Desse encontro, permeado por sentimentos, afetos e interesses, foram surgindo e sendo compartilhadas as representações de psicólogo para esse grupo de estudantes. De acordo com Duveen (2010),

O conhecimento emerge do mundo onde as pessoas se encontram e interagem, do mundo onde os interesses humanos, necessidades e desejos encontram expressão, satisfação ou frustração. Em síntese, o conhecimento surge das paixões humanas e, como tal, nunca é desinteressado; ao contrário ele é sempre produto dum grupo específico de pessoas que se encontram em circunstâncias específicas, nas quais elas estão engajadas em projetos definidos (p. 9).

Considerações finais

Neste estudo, foi possível conhecer e discutir as RS de psicólogo para jovens estudantes. Esta pesquisa insere-se em um contexto mais amplo de investigação sobre a atuação profissional do psicólogo em espaços diferentes dos tradicionalmente ocupados. Ao se inserir em um contexto novo de atuação, o profissional se depara com situações que o fazem refletir sobre as demandas que são colocadas, quais serão atendidas e como, quais as possibilidades de atuação e atividades a serem desenvolvidas.

Foi nesse contexto que surgiu o interesse em investigar as RS e as demandas de estudantes com relação ao psicólogo. Estudantes e profissional possuem, cada qual a sua maneira, uma forma de pensar, esperar e descrever o trabalho do psicólogo e é nesse encontro que as representações são construídas, elaboradas e compartilhadas.

Como discutido, os jovens esperam do profissional que ele seja alguém com quem eles possam contar, alguém que dará um direcionamento para as questões que são específicas daquele grupo de jovens, naquele momento. No entanto, nem os jovens, nem o psicólogo sabem a priori como será, qual será e para onde irá esse direcionamento. Ele vai ser construído na relação, no espaço estabelecido entre jovens e profissional.

Enfatizou-se o papel da interação e dos afetos na construção dos saberes sociais. Entender que as representações não se restringem a estruturas cognitivas, mas que nelas estão envolvidos sentimentos, interesses e afetos, nos aproxima do nosso propósito de relacionar aspectos psicológicos e sociológicos. A história da psicologia é caracterizada por reducionismos que procuraram manter a separação desses aspectos. No entanto, considerando a complexidade dos fenômenos humanos, fica a ideia de que teorias isoladas e abordagens herméticas não dão conta de tal complexidade.

Considerando que as teorias de Moscovici e Winnicott dão ênfase aos aspectos relacionais, intermediários, contraditórios e paradoxais que caracterizam o fenômeno psicossocial, acredita-se que essa interface pode oferecer um importante aparato teórico-metodológico para investigar e intervir nas situações com as quais lidamos.


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Recibido: Octubre28-2013 Revisado: Junio 26-2014 Aceptado: Septiembre 2-2014