INTRODUÇÃO
O Brasil é um país de grande extensão territorial, sendo a atividade pecuária bastante intensa e importante geradora de renda na balança comercial. O uso de programas de melhoramento genéticos específicos, abrangendo os diferentes sistemas de produção é importante e as estimativas de parâmetros genéticos e estimativas de efeito de meio contribuem na realização de ajustes dos pesos às respectivas idades, além de que, possibilitam avaliar as tendências e ganho genético dos rebanhos ao longo de um determinado período.
Diversos trabalhos envolvendo efeitos ambientais como ano e estação de nascimento do bezerro, sexo, fazenda e idade da vaca foram reportados por SOUZA et al. (2000), SOUZA et al. (2002), GUIMARÃES et al. (2003), TORAL et al. (2004). Estudando herdabilidade direta e materna, e tendência genética, SOUZA et al. (2005) e FERRAZ FILHO et al. (2002) mostram valores de média a alta magnitude. Quanto ao progresso genético, SANTOS et al. (2012) reportam a necessidade de avaliar as tendências genéticas, fenotípicas e de ambiente para características de importância econômica, e utilizar essas respostas como elementos norteadores de ações futuras para melhorar a produção animal.
LAUREANO et al. (2011) estudando tendência genética de animais da Raça Nelore, reportaram 0,219 kg de ganho para características ao sobreano, com um incremento de 0,08% nas médias anuais. FERRAZ FILHO et al. (2002), que relataram tendências genéticas diretas iguais 0,280kg/ano, respectivamente, para peso ao sobreano, as quais corresponderam a incrementos na mudança genética anual de 0,10% nas médias dos pesos, para animais da raça Tabapuã.
MUCARIi y OLIVEIRA (2003) avaliando animais de raça zebuína, relataram tendências genéticas de 0,345kg/ano, para peso ao sobreano. Segundo os valores revelados, com ganhos genéticos relativamente baixos, podem estar associados à baixa variabilidade genética observada nos rebanhos avaliados (LAUREANO et al., 2011). Nesse sentido, objetivou-se avaliar os efeitos de meio, estimar parâmetros genéticos e as tendências genéticas para os pesos aos 365 e 550 dias de bovinos da raça Nelore criados no estado do Paraná.
MATERIAL E MÉTODOS
Utilizaram-se informações de animais da raça Nelore, criados no estado do Paraná, pertencentes ao banco de dados da Associação Brasileira de Criadores de Zebu e do Centro Nacional de Pesquisa de Gado de Corte da EMBRAPA (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuaria). Para estimativas dos efeitos de meio, as análises foram realizadas utilizando-se o método dos quadrados mínimos, para dados desbalanceados. Considerou-se para avaliação dos efeitos ambientais para o peso aos 365 (n = 13.218) e 550 dias de idade (n = 8.007) informações obtidas no período de 1980 a 2000, referente a 530 touros distribuídos em 182 fazendas.
Incluiu-se no modelo estatístico os efeitos fixos de ano e mês de nascimento do bezerro, sexo, idade da vaca ao parto (linear e quadrático como covariável), além do efeito aleatório do touro dentro de fazenda (nem todos os touros trabalharam em todas as fazendas) e do erro, conforme descrito a seguir:
Em que: Yijklmn = variável dependente (P365 ou P550); µ = média geral para a característica avaliada; TFij = efeito aleatório do reprodutor i dentro da fazenda j; = efeito fixo do ano de nascimento k; Ml = efeito fixo do mês l de nascimento; Sm = efeito fixo do sexo da cria m; Xijklm = idade da vaca ao parto; b1 = coeficiente de regressão para idade linear; b2 = coeficiente de regressão para idade quadrática; eijklmn = erro aleatório, normal e independentemente distribuído com média zero e variância σ 2 (NID(0,σ2)).
Para estimativa dos componentes de variância e covariâncias, assim como dos parâmetros para efeitos genéticos diretos e maternos, os números de animais utilizados foram 19.150 e 11.190, para P365 e P550, respectivamente. Os grupos contemporâneos foram formados levando-se em consideração os efeitos de mês e ano de nascimento dos bezerros, sexo e fazenda, combinados. A metodologia utilizada para obter as estimativas foi a da máxima verossimilhança restrita, programa MTDFREML, de BOLDMAN et al., (1995), com o seguinte modelo:
Y = Xβ + Za + Mm + lp + e,
Em que Y = vetor das informações; X = matriz de incidência dos efeitos fixos; β = vetor dos efeitos fixos de grupo contemporâneo e idade da vaca ao parto; Z = matriz de incidência para os efeitos aleatórios genéticos diretos de animal; a = vetor dos efeitos aleatórios genéticos diretos de animal; M = matriz de incidência para os efeitos aleatórios genéticos maternos de animal; m = vetor de efeitos genéticos maternos de animal; l = matriz de incidência do efeito do ambiente permanente; p = vetor dos efeitos de ambiente permanente e, e = vetor dos erros aleatórios associados a cada observação.
As tendências genéticas para os efeitos aditivos diretos e maternos foram estimadas pela regressão ponderada das médias anuais dos valores genéticos diretos e maternos sobre o ano de nascimento do animal.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Todas as fontes de variação do modelo influenciaram (P<0,0001) as características estudadas (Tabela 1), evidenciando a sua importância ao se fazer comparações de pesos e também para a escolha de reprodutores. A média ajustada e o erro padrão para os 365 dias de idade foram 267,0±2,6 kg, com R2 de 62,7% e o coeficiente de variação de 17,2%. Para o peso aos 550 dias, a média e o erro padrão foram 359,0±3,97 kg, com um R2 de 69% e coeficiente de variação de 16,96%. O efeito de mês de nascimento, também significativo (P<0,0001) para ambos os pesos e revelou que deve haver variações nas condições edafoclimáticas e que estas influenciam diretamente sobre as características produtivas dos animais, principalmente quando se trata de animais mantidos em pastagem.
Fontes de Variação | Peso aos 365 dias | Peso aos 550 dias | |||
---|---|---|---|---|---|
GL | QM | GL | QM | ||
Touro (Fazenda) | 2.206 | 8771,09*** | 1677 | 13517,34*** | |
Mês | 11 | 39695,76*** | 11 | 40112,15*** | |
Ano | 20 | 14132,58*** | 20 | 23413,41*** | |
Sexo | 1 | 4967855,25*** | 1 | 3016,95*** | |
Idade da vaca linear | 1 | 110140,22*** | 1 | 55335,57*** | |
Idade da vaca quadratica | 1 | 123059,90*** | 1 | 53734,29*** | |
Erro | 10977 | 6295 | |||
Total | 13.217 | 8.006 |
Os animais mais pesados aos 365 dias foram os nascidos no mês de maio, 278,1±2,9 kg, e os mais leves, com peso de 254,8±2,6 kg, nasceram no mês de janeiro (Figura 1). Para o peso aos 550 dias, o mês de nascimento em que ocorreu a maior média foi o mês de julho, com 373,1±4,0 kg e o de menor média foi o mês de abril com 344,6±4,2 kg. Para o peso aos 550 dias, os animais mais pesados nasceram no mês de julho, 373,1±3,97 kg e os mais leves, nascidos em abril, pesaram 344,6±4,2 kg.
Tais evidências orienta a implantação de uma estação de monta com intuito de obter bezerros mais pesados a essas idades, no início de maio e término em setembro. Ressalta-se a necessidade de planejamento nutricional para as matrizes e, até mesmo suplementação com volumoso e ou concentrado, para obter-se balanço energético positivo, garantindo a ciclicidade ovariana, visto baixa produção de forragens tanto quantitativamente quanto qualitativamente neste período (seca).
O efeito de ano de nascimento foi significativo (P<0,0001) mostrando as variações climáticas ao longo dos anos, devido a efeitos sazonais de chuvas ou longos períodos de estiagens, presença e/ou intensidade de geada, etc. Dessa forma, em anos com alta precipitação propiciando um aumento da produção de forragem e conseqüentemente um maior ganho de peso dos animais. Quando a estação da seca é severa, a produção de forragem fica prejudicada e o ganho de peso fica comprometido.
Durante o período avaliado os animais nascidos no ano 2000, tanto para peso aos 365 como aos 550 dias de idade, apresentaram pesos mais elevados, 288,48±5,11 kg e 396,07±9,55 kg, respectivamente. Os menores pesos observados foram os obtidos no ano de 1981 para o peso aos 365 dias e no ano de 1982 para peso aos 550 dias de idade, com 242,08±6,72 kg e 337,31±6,60 kg, respectivamente.
O efeito do sexo dos animais também foi significativo (P<0,0001) para as duas características avaliadas. O peso dos machos (n=6.784) foi 289,30 ± 2,10 kg e o das fêmeas (n=6.434), 244,61±2,08 kg aos 365 dias de idade, 15,5% mais alto nos machos. Para o peso aos 550 dias, os machos (n=3.790) pesaram 400,89±3,12 kg e as fêmeas (n=4.217) 317,02±3,05 kg, uma superioridade de 20,9%.
Para peso aos 550 dias, os valores foram 263,23±46,01 kg e 304,18±52,80 kg no estado do Mato Grosso do Sul. Observou-se também efeito linear e quadrático da idade da vaca sobre o peso dos animais. A média de idade das matrizes para o peso aos 365 dias foi de 89,5±41,62 meses e para peso aos 550 dias, foi de 88,24±42,09 meses. Observou-se que as matrizes apresentaram seu ponto máximo (média de idade em que as matrizes produziram animais mais pesados) foi aos 103,74 meses para P365 e 107,37 meses para P550, sendo que as vacas no início (jovens) e no final da sua vida produtiva (depois dos 174 meses) produziram progênies mais leves (Figura 2).
Com base nessas observações, pode-se realizar um descarte seletivo de 10% ao ano, eliminando as vacas com idade avançada e manter no rebanho as vacas jovens. Esses resultados confirmam os obtidos por SOUZA et al. (2000), que relataram apenas efeito quadrático da idade da vaca sobre peso aos 365 e aos 550 dias de idade. Por outro lado, SOUZA et al. (2002) não verificaram efeito significativo da idade da vaca efeito linear e quadrático sobre o peso aos 365 dias.
Os componentes aditivos diretos foram elevados mostrando variabilidade da característica estudada. As estimativas obtidas para herdabilidade direta e materna para P365 foram 0,24±0,03 e 0,08±0,03 e para P550, foram 0,35±0,05 e 0,03±0,04 respectivamente (Tabela 2). TORAL et al. (2004) obtiveram herdabilidade direta maior para P365 (0,40) e para P550 (0,35). Na tabela 2 pode se observar que os valores das correlações entre os efeitos direto materno foram elevados e negativos para P550, porém não significativo, visto o valor do desvio-padrão estimado.
Parâmetro | Característica | |
---|---|---|
P365 | P550 | |
Variância aditiva direta (σ 2 a) | 330,78 | 591,02 |
Variância materna (σ 2 m) | 104,34 | 50,35 |
Co-variância direta materna (σ am) | -123,02 | -157,83 |
Variância efeito permanente materno (σ 2 pe) | 127,65 | 93,92 |
Variância residual (σ 2 e) | 914,83 | 1.096,58 |
Variância fenotípica (σ 2 p) | 1.354,58 | 1.674,05 |
Herdabilidade direta (h2 ) | 0,24 ± 0,03 | 0,35 ± 0,05 |
Herdabilidade materna (h2 m) | 0,08 ± 0,03 | 0,03 ± 0,04 |
Correlação direta materna (rdm) | -0,66 ± 0,12 | -0,91 ± 0,44 |
Efeito de ambiente permanente (c2) | 0,09 ± 0,02 | 0,06 ± 0,03 |
Proporção ambiental da variância (e1) | 0,68 ± 0,02 | 0,66 ± 0,04 |
Os valores obtidos para o efeito materno foram baixos, a essas nestas idades, os animais ja encontram-se independente de suas mães, no entanto, o efeito foi negativo. O ganho genético total no período para P365 no período de 1981 a 2000 foi 9,14 kg, com uma equação de ajuste igual á y = 0.4571x - 2.4416 e um R² = 0.8563. Para o P550, o ganho genético total foi de 11,96 kg e a equação de ajuste linear foi y = 0.5978x - 3.7309 e um R² = 0.7708.
SOUZA et al. (2004) avaliando a tendência genética para o peso aos 205 dias de idade para animais da raça Nelore nas regiões do Pantanal, constataram um ganho de 6,92 kg e para a região do Alto Taquari Bolsão um ganho de 8,13 kg no período de 1976 a 2001. FERRAZ FILHO et al. (2002) ao estudarem bovinos da raça Tabapuã, verificaram tendências genéticas do efeito direto de 0,207 e 0,276 kg/ano para peso aos 365 e 550 dias respectivamente.
Apesar de a habilidade materna ser mais importante na fase inicial da vida do animal, bezerros filhos de vacas com maior habilidade materna tendem a desmamar mais pesados e consequentemente são mais pesados nas idades subseqüentes. Verifica-se (Figura 3) que com o aumento do ganho genético direto há uma redução no ganho materno, com intensidade menos acentuada.
A tendência materna no período foi negativa, com perda de 0,188 kg/ano. No entanto, deve se trabalhar no sentido de ampliar o ganho genético/ano, visto que os animais apresentam potencial genético para as duas características. Malhado et. al. (2010)) estudando melhoramento genético e estrutura populacional da Raça Nelore na Região Norte do Brasil, verificaram ganho genético de 1.559 kg para P365 e 1.951 kg para P365 e consideraram que para essas duas características houve ganho ao longo do tempo.
CONCLUSÕES
Os fatores ambientais exerceram efeito significativo sobre as características de P365 e P550 dias, portanto, é necessário levá-los em consideração quando da seleção em gado de corte. Os coeficientes de herdabilidade estimados indicam possibilidade de se realizar seleção baseando-se nos pesos a essas idades. Os animais criados no Estado do Paraná apresentaram ganho genético no período estudado, mas com perdas quanto aos efeitos maternos.