INTRODUÇÃO
O setor saúde apresenta alto índice de adoecimento dos trabalhadores decorrente da exposição frequente a cargas biológicas, físicas e psíquicas. Dentre esses trabalhadores a enfermagem representa o maior contingente da força de trabalho, sobretudo em hospitais, estando mais exposta e vulnerável ao desenvolvimento de agravos à saúde1, em especial os transtornos mentais e comportamentais, devido ao contato frequente com o sofrimento e óbito em pacientes e às intensas cargas de trabalho2,3.
Os transtornos mentais e comportamentais (TCM) correspondem a 13% de todas as enfermidades e afetam por volta de 700 milhões de pessoas mundialmente. A depressão, a ansiedade e o estresse lideram a lista dos TMC mais comuns. A ansiedade acomete aproximadamente 10 milhões de pessoas e o estresse já é considerado uma epidemia global. Por volta de 350 milhões de pessoas, aproximadamente 5% das pessoas no mundo, são acometidas pela depressão. Epidemiologistas preveem que em 2020 esta seja a segunda maior doença incapacitante do planeta. Em âmbito nacional, a depressão atinge cerca de 10% da população4.
No Brasil, os TMC implicam em aumentos na concessão dos benefícios do tipo auxílio-doença acidentário e não acidentário, de modo que, de 2004 para 2013, o número de auxílios-doença acidentários concedidos por estes diagnósticos passou de 615 para 12.818. Ao todo, houve um acréscimo da ordem de 1964% para essa concessão5.
Diante do interesse em realizar pesquisa na área de saúde mental e saúde do trabalhador e dado o número crescente de afastamentos de trabalhadores de enfermagem nas instituições de saúde provocados por transtornos mentais e comportamentais, realizou-se o estudo em tela. Sabe-se que a incapacidade para o trabalho entre os profissionais de saúde gera um prejuízo econômico considerável para a sociedade, além de prejudicar o andamento do serviço de saúde.
Frente à problemática, elegeu-se como questão de pesquisa: “Quais as principais causas dos afastamentos do trabalho por transtornos mentais e comportamentais entre profissionais de enfermagem?”. Objetivou-se, portanto, descrever as causas dos afastamentos do trabalho por transtornos mentais e comportamentais entre os profissionais de enfermagem.
MATERIAIS E MÉTODOS
Trata-se de estudo transversal e descritivo, realizado no Setor de Saúde Ocupacional e Segurança do Trabalho (SOST) de um Hospital Universitário, localizado em Teresina, Piauí. A população da pesquisa englobou todos os trabalhadores de enfermagem do hospital, totalizando 597 profissionais. A amostra do estudo foi censitária e constituída por 116 trabalhadores de enfermagem.
Adotou-se como critério de inclusão aqueles trabalhadores de enfermagem que tiveram afastamento do trabalho por transtornos mentais e comportamentais, no período de 2013 a 2017, de acordo com a Classificação Internacional de Doenças (CID) F-10 adotada na instituição. Excluíram-se os que não foram registrados no banco de dados do SOST, afastamentos repetidos do mesmo profissional pelo mesmo CID, bem como aqueles que estavam fora do período delimitado.
Para coleta de dados utilizou-se um formulário elaborado pelos pesquisadores constando informações sociodemográficas e ocupacionais. Definiu-se como variável dependente o tipo de afastamento, categorizado em transtornos ansiosos (F40 a F48), transtornos de humor (F30 a F39) e os demais transtornos do CID F-10. E como variáveis independentes foram avaliados o sexo, idade, tempo de ocupação no serviço (expresso em anos), categoria profissional, setor de trabalho, tempo de afastamento em dias, ano do afastamento e frequência dos afastamentos. A Coleta de Dados se deu através do acesso ao banco de dados do Hospital Universitário, o qual continha todas as informações relacionadas às condições sociodemográficas e ocupacionais dos participantes da pesquisa, bem como aos dados referentes aos afastamentos.
Utilizou-se o programa SPSS© v.22 (Statistical Package for the Social Science) para análise de dados. Para contemplar os objetivos da pesquisa, realizaram-se análises univariadas e bivaridas, utilizando-se, para observação desta, tabelas de contingência. Para observação de diferenças estatisticamente significativas entre variáveis independentes e variável dependente optou-se pelo teste qui-quadrado. As variáveis quantitativas realizaram testes de normalidade para a média e desvio padrão e as categorias foram definidas com base na análise descritiva dos dados. Pelo fato do hospital em questão ter sido inaugurado em 2012, optou-se por investigar os afastamentos categorizando-os em até dois anos ou de dois a quatro anos. O intervalo de confiança foi fixado em 95% e adotou-se valor do nível de significância de p = 0,05. Não foi possível realizar a correlação entre as variáveis “setor de trabalho” e “diagnóstico dos afastamentos de trabalho” por limitações no quantitativo amostral após categorizações.
O estudo teve autorização da Comissão de Avaliação de Projeto de Pesquisa (CAPP) do Hospital Universitário e aprovação pelo Comitê de Ética em Pesquisa (CEP) da Universidade Federal do Piauí (CAAE:78103417.8.0000.5214, parecer: 2.342.992). Por se tratar de um estudo em um banco de informação em saúde, não foi necessário obter assinatura de consentimento livre esclarecido dos participantes da pesquisa.
RESULTADOS
De acordo com o estudo, a faixa etária entre 31 a 40 anos apresentou a maior frequência de afastamentos 64(57,7%) e média de 35,7 anos, ± 6.6 anos. Em relação ao sexo, observou-se que 105(90,5%) são do sexo feminino. Quanto ao tempo de serviço, predominou aquele maior que 2 a 4 anos 104(92,9%), com média de 3,5 anos. A categoria profissional prevalente foi de técnico de enfermagem, representando 79(68,1%) da amostra (Tabela 1).
Variáveis | n(%) |
---|---|
Faixa etária (em anos) Media ± DE | 35,7 ± 6.6 |
22 a 30 | 24(21,6) |
31 a 40 | 64(57,7) |
41 a 57 | 23(20,7) |
Sexo | |
Masculino | 11(9,5) |
Feminino | 105(90,5) |
Tempo de serviço (em anos) Media ± DE | 3.5 ± 0.6 |
Até 2 anos | 8(7,1) |
Mais de 2 a 4 anos | 104(92,9) |
Categoria profissional | |
Técnico de enfermagem | 79(68,1) |
Enfermeiro | 37(31,9) |
Em relação aos setores de trabalho da amostra do estudo, a internação apresentou maior número de afastamentos por transtornos mentais e comportamentais, observando-se percentual de 36(31,3%), seguido pelo ambulatório com 18(15,7%). Os setores "Governança" e "SOST" representaram o menor percentual, com 01(0,9%) dos afastamentos (Gráfico 1).
Os dados apontam que o episódio depressivo moderado (F32.1) foi o mais prevalente nesse estudo, com (24,1%) dos casos, seguido do transtorno misto ansioso e depressivo (F41.2) com (19,8%) e da ansiedade generalizada (F41.1) com uma frequência de (12,9%). A psicose não-orgânica não especificada (F29) e a distimia (F34.1) apresentaram a menor prevalência, 1,7 e (1,5%), respectivamente (Gráfico 2).
Observa-se, por meio dos dados da Tabela 2, que houve associação estatisticamente significativa apenas entre a variável independente "sexo" e a presença de afastamento por transtornos mentais e comportamentais (p 0,03). A pesquisa evidenciou que o sexo feminino se destacou nos afastamentos por transtornos de humor 40(38,1%) e o sexo masculino nos afastamentos por transtornos ansiosos 8(72,2%). Os trabalhadores afastados por transtornos de humor apresentavam-se na faixa etária entre 21 a 30 anos 11(45,8%), atuando, em sua maioria, como técnicos de enfermagem 29(36,7%).
Diagnóstico dos afastamentos de trabalho | ||||
---|---|---|---|---|
Transtorno de humor | Transtorno ansioso | Outros transtornos | ||
Variáveis | 41(35,1%) | 69(59,5%) | 6(5,3%) | p ≤ 0,05 |
Faixa etária (em anos) | 0,49 | |||
21 a 30 | 11(45,8) | 13(54,2) | - | |
31 a 40 | 21(32,8) | 39(60,9) | 4(6,3) | |
41 a 57 | 6(26,1) | 16(69,6) | 1(4,3) | |
Sexo | 0,03 | |||
Masculino | 1(9,1) | 8(72,2) | 2(18,2) | |
Feminino | 40(38,1) | 61(58,1) | 4(3,8) | |
Tempo de serviço (em anos) | 0,54 | |||
Até 2 | 4(50,0) | 4(50,0) | - | |
Mais de 2 a 4 anos | 34(32,7) | 65(62,5) | 5(4,8) | |
Categoria profissional | 0,90 | |||
Técnico de enfermagem | 29(36,7) | 46(58,2) | 4(5,1) | |
Enfermeiro | 12(32,4) | 23(62,2) | 2(5,4) | |
Nº de afastamentos | 0,42 | |||
1 a 2 | 35(33,7) | 63(60,6) | 6(5,8) | |
3 a 4 | 6(50,0) | 6(50,0) | - | |
Tempo de afastamento (em dias) | 0,51 | |||
1 a 15 | 35(34,0) | 62(50,2) | 6(5,8) | |
Mais de 15 | 6(46,2) | 7(53,8) | - | |
O p valor foi obtido pelo teste do qui-quadrado (x2). O nível de significância estatística foi fixado em p valor =0,05.
Com relação aos afastamentos por transtornos ansiosos, predominou a faixa etária entre 41 a 57 anos 16(69,6%). Os enfermeiros foram os trabalhadores mais afetados 23(62,2%). 7(53,8%) dos participantes da pesquisa ficaram mais de 15 dias afastados do trabalho por esse grupo.
No grupo que engloba outros transtornos mentais e comportamentais encontrados, a faixa etária entre 31 a 40 anos foi a mais prevalente 4(6,3%), com destaque para o sexo masculino 2(18,2%) e sendo mais frequente entre os enfermeiros 2(5,4%).
DISCUSSÃO
Os afastamentos laborais do trabalhador por transtornos mentais e comportamentais nesta pesquisa foram justificados por atestado ou laudo médico de acordo com a Classificação Internacional de Doenças (CID) F-10 registrados no banco de dados do SOST do Hospital Universitário em estudo.
Constatou-se prevalência significativa de absenteísmo na população pesquisada. O absenteísmo ou afastamento laboral é uma expressão utilizada para designar a falta do profissional ao trabalho, sua etiologia é considerada multifatorial e depende da sua origem6.
O absenteísmo dos trabalhadores de enfermagem, sobretudo nas organizações públicas de saúde, merece destaque devido aos altos índices de ocorrência. Os trabalhadores de enfermagem inseridos na produção em saúde sofrem diferentes agravos oriundos de diversos fatores determinantes, verificando-se a pluralidade e gravidade dos problemas de saúde desse grupo laboral, que evidenciam processos de desgastes a que estão submetidos os trabalhadores, seja pela própria natureza do trabalho desempenhado, ou pelas condições em que o mesmo é realizado7.
A análise dos dados também revelou uma população majoritariamente feminina, concordando com um estudo de revisão integrativa realizado por Barbosa et al.,8que analisou o absenteísmo dos profissionais de enfermagem no contexto hospitalar e evidenciou que nesse ambiente a maior força de trabalho é feminina, sendo, portanto, a taxa de absenteísmo maior entre as mulheres8. Fato que pode ser explicado devido à predominância histórica do sexo feminino na profissão de enfermagem. Em relação à idade, a análise dos dados demonstrou prevalência na faixa etária de 31 a 40 anos, o que se assemelha aos resultados do estudo de Machado et al.,9sobre as características do perfil sociodemográfico da profissão de enfermagem, que concluiu que 61,7% dos trabalhadores possuíam idade até 40 anos, significando que a profissão é predominantemente jovem9.
Os profissionais de nível técnico apresentaram a maior taxa de afastamento (68,1%), isso pode ser entendido pelo fato de que estes profissionais são maioria em hospitais. Estudo realizado entre os anos de 2012 e 2013 sobre afastamento do trabalho entre os profissionais de enfermagem em São Paulo demonstrou que este pode ser até três vezes maior entre os auxiliares e técnicos de enfermagem do que entre os enfermeiros10. Vale ressaltar que são estes os profissionais mais submetidos, diariamente, à realização de tarefas repetitivas, desgastantes e que exigem maior esforço físico. Além disso, essa categoria profissional está frequentemente em contato mais próximo com os pacientes e consequentemente com o seu sofrimento, o que favorece o adoecimento e afastamento do trabalho desses profissionais.
Quanto aos transtornos mentais e comportamentais, o estudo em tela revelou que os episódios depressivos foram os responsáveis pela maior parte dos afastamentos dos trabalhadores de enfermagem (24,1% dos casos). Dados que ratificam um estudo realizado em 2014, na cidade de Curitiba, Paraná, sobre o absenteísmo dos profissionais de saúde, evidenciando que (18%)do total de afastamentos estudados ocorreram entre a equipe de enfermagem; e quanto às causas de afastamento, observou-se frequência significativa de episódios depressivos, (52,72%) dos casos, constituindo-se a principal causa de afastamento11.
Os fatores desencadeantes de depressão nesses trabalhadores podem estar relacionados à submissão frequente a excessivas cargas de trabalho, a plantões desgastantes, altas cargas piscológicas (morte, sofrimento e cuidados intensivos), fatores que repercutem na qualidade de vida desses profissionais e favorecem o seu adoecimento físico e mental12.
Entre os transtornos ansiosos responsáveis pelos afastamentos deste estudo, destacaram-se o transtorno misto ansioso e depressivo (F41.2) com 19,8%, seguido da ansiedade generalizada, (F41.1) com 12,9% e da reação aguda ao estresse (F43.0), com 8,6%. Este resultado pode estar relacionado ao estresse laboral entre trabalhadores de enfermagem, bem como à existência de associação às características emocionais do trabalho executado, resultando em maior vulnerabilidade às situações de morte, sofrimento e dor. Esses fatores implicam em prejuízos ao profissional e a assistência prestada, podendo causar danos à pessoa assistida13.
Com relação à idade, o estudo revelou que os afastamentos por transtornos ansiosos foram mais frequentes na faixa etária mais avançada, entre 41 a 57 anos e naqueles trabalhadores com mais de 02 a 04 anos de serviço. Fato que corrobora com pesquisa realizada sobre o período de exposição prolongada e contínua aos estressores no ambiente hospitalar como indutores de exaustão física e psíquica. Dessa forma, acredita-se que quanto maior o tempo de profissão e a faixa etária, maior será a susceptibilidade desses profissionais a esses estressores14.
Quanto à categoria profissional, os transtornos de humor foram mais frequentes nos afastamentos dos técnicos em enfermagem, e os transtornos ansiosos, em enfermeiros. Resultado que se assemelha a pesquisa realizada no estado do Paraná com propósito de analisar a incidência e o tempo dos afastamentos motivados especificamente por causas psicológicas entre profissionais de enfermagem e concluiu que o transtorno depressivo recorrente foi a maior causa de afastamentos entre auxiliares e técnicos em enfermagem. Nos enfermeiros, a terceira causa responsável pelos afastamentos foram os transtornos ansiosos, especificamente pelas reações ao "stress" grave e transtornos de adaptação (CID F43)15.
Neste estudo, observou-se que o sexo feminino apresentou o maior índice de afastamento por transtorno de humor. Estudos indicam que as mulheres apresentam maior risco de desenvolverem episódios depressivos do que os homens, apresentando uma prevalência duas vezes maior do transtorno depressivo. Possível explicação para este fato pode estar relacionada às diferenças hormonais, bem como os efeitos de gerar filhos e estressores diferentes para os sexos. Além disso, muitas mulheres estão inseridas no mercado de trabalho para contribuir com a renda familiar, o que pode gerar sobrecarga de atividades, aumentando a probabilidade de essas mulheres desenvolverem problemas de saúde mental, prejudicando sua qualidade de vida16,17.
Constatou-se também que o sexo masculino foi o mais afetado por transtornos ansiosos, achado que diverge de outros estudos que apontam este grupo como mais frequente no sexo feminino. Chama-se a atenção que a situação pode estar relacionada ao aumento do número de trabalhadores enfermeiros do sexo masculino, embora a profissão ainda seja predominantemente feminina. Pesquisa realizada na Bélgica identificou que, entre os homens, eventos estressores recentes no trabalho estão associados a transtornos mentais como ansiedade e depressão18.
Os afastamentos pelos grupos "transtornos de humor" e "transtornos ansiosos" foram responsáveis por perdas de dias de trabalho, em sua maioria, superiores a 15 dias. Pesquisa em São Paulo, apontou os transtornos mentais e comportamentais como a segunda causa de afastamentos com duração menor que 15 dias e os principais responsáveis por afastamentos com duração maior que 15 dias, correspondendo a 78,9%19.
Quanto aos setores com o maior número de afastamentos por transtornos mentais e comportamentais, a internação apresentou a maior frequência, seguido do ambulatório. Esses dados diferem dos achados de um estudo em Goiânia que identificou o ambulatório como a unidade com maior número de atestados, 201(12,8%) casos; seguidos da clínica médica com 177 (11,2%) e do Pronto Socorro com 143 (9,1%) casos. Tal fato pode ser explicado por se tratarem de locais de grande desgaste físico do trabalhador, principalmente por apresentarem atividades cansativas e desgastantes, bem como o convívio diário com a morte, o que ocasiona desgaste físico e emocional20. No hospital estudado isso pode ser explicado devido à grande demanda de atendimentos no setor de internação, fato que pode levar a sobrecarga de trabalho gerando o adoecimento e absenteísmo dos trabalhadores.
Percebe-se a elevada vulnerabilidade de trabalhadores de enfermagem ao adoecimento por transtornos mentais e comportamentais, principalmente naqueles que atuam em setores que exigem maior atenção e que apresentam uma dinâmica diferenciada de trabalho. O contato mais frequente com óbitos e doenças graves facilita o surgimento de fatores desencadeantes para o desenvolvimento desses transtornos, levando a diversas consequências, dentre elas o afastamento dos trabalhadores. Tendo em vista a pertinente e oportuna temática abordada, sugere-se, também, a discussão acerca do índice de suicídio nos profissionais de enfermagem, consequente dos fatores estressantes da profissão e atrelados ao desenvolvimento de doenças mentais. O suicídio laboral é, no momento, uma das maiores preocupações do Conselho Federal de Enfermagem com a categoria profissional devido à sua ocorrência entre profissionais de enfermagem como relatado na mídia brasileira.
Diante do exposto e devido às dificuldades na alimentação do banco de dados pesquisado, verifica-se a importância de uma boa atualização do sistema de informação dos serviços de saúde para a realização de pesquisas documentais. Assim, torna-se necessário reformar pesquisas de instalações e fortalecer os sistemas rotineiros de informação em saúde. Além disso, recomenda-se que os levantamentos atuais das unidades de saúde, sejam mais concisos, frequentes e focados. Os sistemas de informação de saúde de rotina devem ser fortalecidos para coletar resultados de saúde precisos, e sistemas de informações de rotina fortes devem ser utilizados para rastrear a qualidade ao longo do tempo e avaliar as intervenções aplicadas21.
Em relação à limitação do estudo, observou-se lacunas no registro de informações no banco de dados, a exemplo do registro das referentes ao turno de trabalho e a existência de outros vínculos empregatícios desses trabalhadores. Tais informações seriam úteis e pertinentes para uma análise mais reflexiva e crítica da realidade, visto que o turno de trabalho e a duplicidade ou mais de vínculos empregatícios são fatores determinantes ou condicionantes de adoecimento psíquico da classe trabalhadora, podendo culminar com os afastamentos laborais por transtornos mentais e comportamentais.
CONCLUSÕES
Os achados mostraram que os episódios depressivos foram os responsáveis pela maior parte dos afastamentos dos trabalhadores de enfermagem no Hospital Universitário em estudo, sendo o sexo feminino o mais predominante, e a faixa etária situou-se entre 31 a 40 anos. Quanto à categoria profissional destacaram-se os técnicos de enfermagem, e o setor de internação surgiu como responsável pelo maior número de afastamentos. Em relação aos transtornos mentais e comportamentais que motivaram os afastamentos, predominou os episódios depressivos, seguido pelo transtorno misto ansioso e depressivo e da ansiedade generalizada. Notou-se associação estatisticamente significativa apenas entre a variável independente "sexo" e a presença de afastamento por transtornos mentais e comportamentais (p 0,03). O sexo feminino apresentou maiores afastamentos por transtornos de humor e o sexo masculino por transtornos ansiosos.
Estratégias que promovam a saúde mental dos profissionais, a fim de prevenir riscos para transtornos mentais e comportamentais, inclusive para o suicídio, necessitam de abordagens inovadoras que reconheçam a vulnerabilidade da enfermagem como força de trabalho nos sistemas de saúde. Nesse sentido, necessita-se repensar as políticas de saúde do trabalhador para o profissional de enfermagem para que elas diminuam a sobrecarga do profissional e garantam o bem-estar dos trabalhadores.
Enfim, acredita-se que o presente estudo possa fornecer subsídios para a implementação de estratégias de promoção da saúde mental, bem como a reorganização das condições de trabalho e a adequada atenção à saúde desses trabalhadores. Tais ações constituem-se em medidas importantes para o bem-estar dos funcionários, bem como para a redução do afastamento do trabalho. Estimula-se, ainda, a realização de novas pesquisas com investigação ampliada acerca dos afastamentos laborais por transtornos mentais e comportamentais em profissionais da saúde.