INTRODUÇÃO
As quedas estão presentes na vida da maioria dos idosos e sua ocorrência gera uma série de fatores que implicam uma desmotivação e insegurança, além de ser uma das causas de morbidade e mortalidade na terceira idade. A busca pela qualidade de vida está cada vez mais presente em nossas vidas. Nesse sentido, a segurança e a independência do idoso são fundamentais para que ele possa realizar suas atividades de maneira tranquila e sadia1 .
Definimos queda como um acontecimento não ocasional, onde o indivíduo muda sua posição inicial bruscamente para o mesmo nível ou para um nível mais baixo2 .
Existem dois tipos de fatores que podem ser responsáveis pelo alto índice de quedas nas pessoas da terceira idade, são eles: os fatores intrínsecos e extrínsecos. Os fatores intrínsecos são decorrentes do processo natural de envelhecimento do indivíduo. Os fatores extrínsecos estão relacionados ao ambiente3 .
Quedas em idosos são consideradas um problema de saúde pública, devido ao seu alto índice que vem aumentando a cada ano4 . A prática de atividade física regular pode minimizar o risco de queda, favorecendo a melhora da saúde do idoso, sendo uma medida importante na prevenção de queda e oferecendo ao idoso mais confiança para realizar suas atividades diárias5 . Uma atividade realizada por muitos idosos é a dança de salão, que o ajuda não somente na manutenção do corpo, como também da alma5 .
A dança de salão pode ser caracterizada como uma expressão corporal em que vivenciamos emoções, alegria e liberdade5 . Teve seu início no Brasil muito antes da vinda da família real. A primeira escola de dança foi criada em São Paulo pela suíça Louise Frida Poços Leitão com o objetivo de ensinar a alta sociedade a se expressar com o próprio corpo. Dançar é uma atividade que pode ser iniciada em qualquer época da vida, podendo ser iniciada aos oito ou oitenta anos.
Podemos observar nos estudos6 sobre a temática que não somente na terceira idade a dança promove benefícios como o equilíbrio, a flexibilidade, a coordenação motora e a consciência corporal, promovendo a elevação da qualidade de vida. A dança como atividade física tem fundamental importância no processo de envelhecimento, buscando recuperar as capacidades funcionais e, consequentemente, aumentando a qualidade de vida.
Dessa forma, o estudo se justifica por investigar métodos para diminuir os efeitos do envelhecimento, além de ter uma grande importância na questão da qualidade de vida do idoso, pois o auxilia a sair do isolamento provocado pela aposentadoria e contribui para a sua independência social, melhorando a condição geral do indivíduo e ocorrendo também uma diminuição do processo cultural imposto pela sociedade.
Hipótese: Seria a dança de salão um fator protetor para quedas em idosos?
Diante do exposto, o objetivo deste estudo foi avaliar a prática da dança de salão na prevenção de quedas em idosos.
MATERIAIS E MÉTODOS
O delineamento de escolha para esta pesquisa foi do tipo caso controle, com idosos de 60 anos ou mais. Amostra com 90 idosos, sendo para o grupo “controle” (dois para um) 60 idosos escolhidos através de uma amostra aleatória simples (N=1234) em uma Unidade de Atenção Primária à Saúde (UAPS) ligada à Estratégia de Saúde da Família. O grupo “caso” foi composto por 30 idosos que praticam dança de salão por pelo menos um ano na Associação Municipal de Apoio Comunitário (AMAC). Foram considerados critérios de inclusão para o grupo “controle” (com 60 participantes) os idosos acima de 60 anos, que não praticavam dança de salão e aceitaram participar da pesquisa; e para o grupo “caso” (com 30 participantes) idosos que praticam dança de salão duas vezes por semana; e como critérios de exclusão foram considerados aqueles que adiaram a participação por mais de três vezes e que tivessem alteração de cognição. O estudo foi realizado no período de janeiro a julho de 2017.
Utilizou-se a escala de Berg7 que é um instrumento validado de avaliação funcional do equilíbrio composta de 14 tarefas, com cinco itens e pontuação de 0-4 para cada tarefa: 0 – é incapaz de realizar a tarefa e 4 – realiza a tarefa independente. O escore total varia de 0-56 pontos. Quanto menor for a pontuação, maior é o risco para quedas; quanto maior, melhor o desempenho8 . A escala foi adaptada para aplicação no Brasil9 , apresentando em cada item escores de 0-4 e um tempo determinado para cada tarefa; tem como pontuação para risco de quedas escores abaixo de 45 pontos.
Considerou-se risco aumentado de quedas nos indivíduos com Berg menor que 45.
Para a realização da análise dos dados, a escala de Berg foi dividida em grupos com tarefas funcionais semelhantes: transferências (questões 1, 4 e 5), provas estacionárias (questões 2, 3, 6 e 7), alcance funcional (questão 8), componentes rotacionais (questões 9, 10 e 11) e base de sustentação diminuída (questões 12, 13 e 14)10 , 11 .
Inicialmente, realizaram-se a codificação manual dos formulários e digitados no programa Excel. Depois foram transportados para o programa Statistical Package for the Social Science versão 21.0 (SPSS) e foram submetidos as análises estatísticas pelos testes: análise descritiva, teste t de student para variáveis continuas e qui-quadrado para análise das variáveis dicotômicas. O nível de significância considerado será de 5%.
O risco relativo foi calculado de forma clássica numa Tabela 2 por 2, onde:
Escala de Berg | Máximo | Controle | Caso | p |
---|---|---|---|---|
Berg (todos os grupos) | 56 | 55,6 (2,19) | 50,65(DP:4,79 | <0,001 |
Base de sustentação | 12 | 10,48(1,57) | 11,9(0,54) | <0,001 |
Comp. Rotacionais | 12 | 10,78(1,2) | 11,90(O,54) | <0,001 |
Alcance funcional | 4 | 3,23(0,76) | 3,97(0,18) | <0,001 |
Transferências | 12 | 10,58(1,51) | 11,90(0,54) | <0,001 |
Provas estacionárias | 16 | 15,58(0,85) | 15,93(0,36) | 0,034 |
Fonte: os autores
A pesquisa foi submetida ao Comitê de Ética em Pesquisa com Seres Humanos da Universidade Federal de Juiz de Fora, respeitando a Resolução nº 466, do Conselho Nacional de Saúde, 2012, que assegura “respeito ao participante da pesquisa em sua dignidade e autonomia, assegurando sua vontade de contribuir e permanecer, ou não, na pesquisa” (BRASIL, 2012).
O processo de coleta de dados foi realizado após aprovação do projeto pelo Comitê de Ética em Pesquisa, conforme parecer consubstanciado de número 1.878.608 de 19/12/2016.
O Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) e dados da pesquisa ficarão sob cuidado do coordenador da pesquisa durante cinco anos (BRASIL, 2012).
RESULTADOS
A análise comparativa dos dois grupos mostrou que a idade média do grupo “caso” foi de 68,63 anos (DP: 5,78 anos) e do grupo “controle” 68,45 anos (DP: 8,04 anos). O sexo feminino predominou no grupo “caso” (p=0,041). Já a raça e a escolaridade se apresentaram homogêneas entre os grupos estudados com p valor igual a 0,418 e a 0,472, respectivamente Tabela 1 .
Controle(60) | Caso (30) | P-valor | |
---|---|---|---|
Sexo (FEM/MASC) | 35/25 | 24/6 | 0,041 |
Idade (MÉDIA + DP) | 68,45(8,04) | 68,6 (5,78) | 0,912 |
Raça (BRA/NEG/PAR) | 30/15/15 | 11/08/11 | 0,418 |
Escolaridade (ATÉ FUND COMP/ MÉDIO OU MAIS) | 44/16 | 20/10 | 0,472 |
No de doenças (ATÉ 3/MAIS DE 3) | 59/01 | 30/0 | 0,477 |
No de medicações (ATÉ 3/MAIS DE 3) | 48/12 | 28/02 | 0,100 |
Berg (MÉDIA + DP) | 50,65 (4,78) | 55,60 (2,19) | <0,001 |
Etilismo (SIM/NÃO) | 6/54 | 0/30 | 0,073 |
Tabagismo (SIM/NÃO) | 6/54 | 1/29 | 0,100 |
Fonte: os autores
O etilismo e o tabagismo, apesar de mais frequentes no grupo “controle”, também não aparecem com importância estatística apresentado p valor de 0,073 e de 0,266, respectivamente.
Os grupos analisados foram homogêneos em relação ao número de doenças e medicações utilizadas de forma crônica com p valor respectivamente de 0,477 e de 0,100.
Verificou-se que no grupo de praticantes da dança (grupo “caso”) apenas um deles apresentou escore de Berg menor que 45, e que no grupo “controle” 10 usuários apresentaram escore menor que 45.
Analisando os dados estatísticos dos agrupamentos das tarefas da escala de Berg observou-se que todos os grupos apresentaram estatísticas significantes.
O risco relativo calculado foi de 0,2, demonstrando que a prática de dança de salão se apresenta como fator de proteção para escala de Berg menor que 45.
DISCUSSÃO
Os resultados deste estudo apontaram que a amostra dos idosos apresentou a média de idade de 68,3 anos para o grupo “caso” e 68,45 para o grupo “controle”. Em estudo realizado com idosos, que avaliou equilíbrio e que utilizou o mesmo instrumento, foi encontrado resultado semelhante12 , pois sabe-se que a relação entre idade e quedas é direta, ou seja, as pessoas com idade de 60 anos ou mais são consideradas como fator de risco importante para quedas e lesões decorrentes delas. Este fato pode ser explicado devido às alterações do processo fisiológico do envelhecimento que são preditores de quedas. Contudo, as doenças crônico degenerativas e o uso de mais de cinco medicamentos concomitantes são condições comuns que podem aumentar o risco de queda.
A amostra com população predominante feminina foi a do grupo “caso”, sendo queo sexo feminino aparece mais frequentemente como preditor de quedas, o que pode ser constatado pela literatura13 . Entretanto, em estudos realizados em hospitais os resultados são variados com relação a essa prevalência dos sexos, e em outro estudo foi identificado que as mulheres tiveram mais problemas de saúde como fraqueza e desempenho físico fraco, indicando a necessidade de atenção especial aos aspectos do envelhecimento.
Quanto ao hábito de fumar, ele foi mais frequente nos idosos do grupo “controle”. E, apesar de não apresentar representação estatística significativa, é importante discutir o tabagismo, pois pessoas que realizam atividade física geralmente não fumam. Em estudo14 , realizado com idosos hospitalizados evidenciou-se que a prevalência de fumar foi mais frequente em homens que não praticavam atividade física e que apresentaram história de acidente vascular, câncer e doença pulmonar14 .
Nesta amostra identificou-se baixa escolaridade entre os participantes. Sabe-se que a escolaridade possui ligação indireta com o risco de quedas, por estar relacionada ao estilo de vida do indivíduo, e esses fatores predispõem ao risco de quedas15 , 16 . Resultados semelhantes foram encontrado em outras pesquisas4 , onde se evidenciou maior porcentagem de quedas em grupos de baixa renda e escolaridade e onde se afirma que pessoas com baixos níveis de escolaridade preocupam-se menos com a saúde, principalmente no que diz respeito à prevenção, e têm menor capacidade de cuidar da recuperação17 .
Sobre o número de doenças e de medicações utilizadas de forma crônica, apesar de não ter apresentado relação estatística significativa, a literatura demonstra que esses fatores estão diretamente ligados aos preditores de quedas e considera o consumo de cinco ou mais medicamentos como polifarmácia18 . Em estudo prospectivo realizado no Brasil com idosos hospitalizados, encontrou-se entre os preditores de quedas a baixa escolaridade, a polifarmácia e o uso de laxativos e antipsicóticos.
A análise deste estudo evidenciou que houve diferença significativa entre os dois grupos estudados, já que os praticantes de dança tiveram maior equilíbrio e, consequentemente, menor risco de quedas. Estudo19 , 20 ,semelhante identificou que ações de um programa de prevenção de quedas junto a pessoas idosas poderia melhorar alguns aspectos do desempenho físico. No caso da dança, essa melhora pode ser ainda mais significava, porque se trata de uma atividade que trabalha o equilíbrio. No entanto, percebe-se que nos serviços de atenção primária não há programas de incentivo à práticas de atividades físicas, agravando ainda mais a condição do envelhecimento
Analisando as tarefas de Berg com base em experiencias clínicas, Berg e colaboradores7 afirmaram que a pontuação abaixo de 45 indica prejuízo no equilíbrio e está relacionada ao aumento do risco de quedas. Neste estudo, os idosos avaliados obtiveram pontuação superior e similar a outros estudos que avaliaram população idosa de uma comunidade sem relatos de quedas21 , reafirmando que a atividade física é um protetor para quedas22 , já que entre os riscos para quedas estão o déficit de equilíbrio e a menor força em membros inferiores. Pesquisas que avaliaram22 , treinamento de força em membros inferiores a fim de avaliar a melhora do equilíbrio constataram resultados positivos. Acredita-se que como muitos idosos estão atingindo idade avançada a prevenção torna-se uma tarefa cada vez mais urgente.
Na amostra, somente um idoso apresentou escore abaixo de 45, o que nos permite afirmar que a dança de salão funcionou como protetor para quedas. Diante do exposto faz-se necessária a discussão sobre o assunto junto com uma equipe de multiprofissionais, visando a prevenção de quedas.
O risco relativo calculado foi de 0,2, demonstrando que a prática de dança de salão se apresentou como fator de proteção para quedas na amostra deste estudo. Autores20 afirmam que a prática da dança de salão como atividade física se configura como um promotor de saúde, além de beneficiar aspectos da saúde física e promover a qualidade de vida, pois proporciona um ambiente atrativo e motivador para seus praticantes. Em estudo24 onde se avaliou o medo de cair em pessoas ativas e passivas, observou-se que a prevalência de que das e medo de cair foram menores nas pessoas ativas. Em outro estudo25 onde se avaliou os efeitos da prática dança de salão na aptidão funcional de mulheres idosas, identificou-se melhora nas percepções dos domínios fisiológicos e psicológicos após a prática do programa de dança de salão.
Os dados descritivos da Tabela 2 , sinalizam que todas as tarefas de Berg analisadas apresentaram significância estatística, indicando alto risco de quedas. De acordo com a literatura, a prática de atividade física é o principal meio para promover a saúde nos idosos, sendo uma proposta de intervenção eficaz na prevenção das quedas26 . Os benefícios provocados pela prática de atividades físicas têm sido amplamente estudados, como melhora da capacidade funcional, equilíbrio, força, coordenação e velocidade de movimento, contribuindo assim para uma maior segurança e prevenção de quedas entre as pessoas idosas.
Como limitações desta pesquisa, destacam-se a realização em um único centro. Portanto, considera-se que se avaliou um grupo pequeno, não sendo possível generalizações. Por isso, sugere-se que sejam realizadas outras pesquisas que possam complementar os dados obtidos por esta. Porém, mesmo com essas limitações, conseguiu-se atingir o objetivo deste estudo.
Como contribuições para a prática da enfermagem, evidenciou-se que a dança de salão pode prevenir quedas. Este fato reforça a importância de os enfermeiros discutirem junto com a equipe multiprofissional e pensarem em estratégias de criação e estímulo de atividades físicas, entre elas incluir a dança de salão, que pode ser até mais atrativa para os idosos, pois trabalha o corpo e a mente, além de ser uma atividade de socialização.
CONCLUSÕES
O intuito desse estudo foi avaliar a prática da dança de salão na prevenção de quedas em idosos. Nesse sentido, os resultados obtidos possibilitaram concluir que a dança de salão ajuda na prevenção de quedas da pessoa idosa e aquelas que dançam apresentam um equilíbrio melhor. Deste modo, sugere-se que os profissionais de saúde incentivem esta atividade, pois além de contribuir para saúde física na prevenção de quedas ajuda a inseri-lo no contexto social.