INTRODUÇÃO
Os coronavírus são vírus de RNA, da família Coronaviridae , conhecidos por causar doenças respiratórias e entéricas. A Síndrome Respiratória Aguda Grave do Coronavírus 1 (SARS-CoV-1) surgiu pela primeira vez em novembro de 2002 na Província de Guangdong, no sul da China, antes de se espalhar para o Canadá, Cingapura e Vietnã por viajantes vindos de Hong Kong em fevereiro e março de 20031 .
A Síndrome Respiratória Aguda Grave do Coronavírus 2 (SARS-CoV-2) é um novo tipo de coronavírus (COVID-19) que leva a uma doença infecciosa emergente com notável envolvimento pulmonar e surgiu na China, em dezembro de 2019 e, desde então vem se espalhando por vários países do mundo, tornando-se uma pandemia2 .
Tanto a SARS-CoV-1 quanto a SARS-CoV-2 são transmitidas por gotículas respiratórias infectadas, aerossóis virais, e contato com superfícies contaminadas. Os sintomas clínicos são febre, tosse, dispneia e pneumonia3 .
As mulheres grávidas são particularmente suscetíveis aos patógenos respiratórios e pneumonias graves devido às alterações imunológicas e adaptações fisiológicas durante a gestação, como a elevação do diafragma, aumento do consumo de oxigênio e edema da mucosa do trato respiratório4 . Portanto, as mulheres grávidas são grupo de risco para a morbidade e mortalidade pelo coronavírus5 , 6 .
A pandemia de SARS-CoV-2 produziu estresse e ansiedade nas mulheres grávidas em diferentes partes do mundo. Preocupação e estresse na gravidez estão associados a efeitos colaterais como pré-eclâmpsia, depressão, aumento de náuseas e vômitos, trabalho de parto prematuro, baixo Apgar e peso ao nascer do bebê7 , 8 .
As preocupações das mulheres grávidas ou puérperas durante a pandemia estão relacionadas ao risco de exposição ao coronavírus desde o trajeto às unidades de saúde até os procedimentos pré, intra e pós-parto. Algumas desejam o término precoce da gestação com cesárea eletiva e outras têm dúvidas sobre o pós-parto, como transmissão do coronavírus durante amamentação e cuidados neonatais9 .
O COVID-19 possui similaridade genômica de cerca de 80% com o Coronavírus 1 e, portanto, a patogênese da infecção por COVID-19 pode ser semelhante à da SARS-CoV-1, assim como o baixo risco de transmissão vertical10 . Dada à semelhança genômica em ambos os vírus, iremos apresentar nesse estudo os principais desfechos clínicos maternos, fetais e neonatais de mulheres grávidas que tiveram SARS-CoV-1 e SARS-CoV-2 durante a gestação.
Ainda não há resposta se o SARS-CoV-2 pode ser transmitido de uma mulher grávida ao feto. Estudos sobre transmissão materno-fetal, como no caso do SARS-CoV-2, são especialmente relevantes dadas as histórias recentes de transmissão vertical de infecções virais emergentes, como o Zika vírus, vírus Ebola, vírus de Marburg e outros agentes que podem ameaçar a saúde e sobrevivência das mães e fetos infectados11 .
Poucos estudos demonstram os desfechos clínicos do COVID-19 durante gravidez e parto. Portanto, é muito importante identificar sintomas clínicos da infecção por COVID-19 nas mulheres grávidas afetadas em comparação com as não grávidas e avaliar seu impacto durante a gestação e na saúde do recém-nascido, tendo em vista a emergência global decorrente da infeção pelo vírus e a necessidade de evidência para tomada de decisões terapêuticas e de precaução.
Assim, o presente estudo objetivou descrever os desfechos clínicos durante a gestação em mulheres que tiveram SARS-CoV-1 e SARS-CoV-2 e seu impacto na saúde fetal e do recém-nascido.
MATERIAIS E MÉTODOS
A revisão bibliográfica sistemática foi realizada no mês de março de 2020, de forma dupla cego independente por dois pesquisadores experientes e, incluiu publicações, no período de 01 de janeiro de 2003 a 31 de março de 2020. Em caso de desacordo entre os pesquisadores para a inclusão ou exclusão de um estudo, buscou-se o consenso entre eles.
A questão norteadora foi: Quais são os desfechos clínicos maternos e dos recém-nascidos de mulheres que tiveram SARS-CoV-1 e SARS-CoV-2 durante a gestação?
A busca bibliográfica foi realizada utilizando os seguintes descritores em inglês: Coronaviru s, COVID- 19, Severe Acute Respiratory Syndrome (SARS), Pregnancy , unindo os mesmos com operador boleano “and”. Foram verificadas as fontes de busca Scientific Electronic Library Online (SciELO), Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde (LILACS), Periódicos CAPES, PubMed e Google Acadêmico.
Os critérios de inclusão foram: artigos publicados em periódicos indexados nas fontes de busca citadas acima; trabalhos disponíveis na íntegra, eletronicamente; publicados no idioma inglês; trabalhos descritivos; experimentais; observacionais; retrospectivos; casos-controles, estudos de casos e cartas ao editor, que continham pelo menos dois descritores no título ou resumo e que atendessem à pergunta norteadora.
Foram incluídos artigos de acordo com os Principais Itens para Análises Sistemáticas e Meta-análises ( PRISMA Statement )12 . Estudos que continham pelo menos sete itens do check list do instrumento fizeram parte da revisão sistemática, desde que atendessem aos critérios já elencados13 .
Foram excluídos trabalhos em duplicatas; textos não disponíveis na íntegra; trabalhos em outros idiomas a não ser inglês; revisões bibliográficas; estudos de metanálises; dissertações; trabalhos que não se adequaram à temática e aqueles que não atenderam à delimitação temporal.
A fim de organizar os dados coletados através da revisão bibliográfica foi elaborado um formulário, contendo as seguintes informações: ano, autor, tipo de estudo, país de origem do estudo, tipo de infecção (SARS-CoV-1 e SARS-CoV-2), principais achados clínicos maternos e feto/neonatais.
Em relação às gestantes, o formulário também continha os seguintes parâmetros: idade, período gestacional, internação em Unidade de Terapia Intensiva (UTI), tipo de parto (cesárea ou vaginal), óbitos maternos e medicamentos utilizados no tratamento da SARS-CoV-1 e SARS-CoV-2.
Em relação aos recém-nascidos, o formulário ainda continha o escore de Apgar, peso ao nascer (baixo peso < 2.500 gramas), prematuridade (nascimento < 37 semanas).
Após a leitura das pesquisas selecionadas na íntegra, prosseguiu-se com a análise e organização das temáticas: Desfechos clínicos de mulheres grávidas com SARS-CoV-1 e SARS-CoV-2 e Desfechos clínicos de recém-nascidos de mães com SARS-CoV-1 e SARS-CoV- 2.
RESULTADOS
Foram selecionados 27 artigos, sendo provenientes das fontes de busca Google Acadêmico (n= 15), Periódicos CAPES (n= 5), LILACS (n= 1) e PubMed (n= 6) ( Figura 1 ).
Os artigos selecionados e os desfechos clínicos em mulheres grávidas com SARS-CoV-1 e SARS-CoV-2 estão listados na Tabela 1 .
Autor/Ano/ Tipo de Estudo | País do Estudo | Amostra (n) | Idade/Faixa Etária (anos) | Período Gestacio-nal (semanas ou trimestres) | Sintomas na Admissão | Tipo de Corona-vírus | UTI | Medicamen-tos | Tipo de Parto | Óbi-tos |
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Shek et al .30 Estudo de Caso 2003 | China | 05 | 26-34 | 27ª a 32ª semana | Trombocitopenia (n=2) | SARS- CoV-1 | 2 | Antibióticos (n= 1) Antivirais (n= 5) | Cesárea (n= 5) | 2 |
Robetertson et al. 34 Estudo de Caso 2004 | Estados Unidos | 01 | 36 | 19ª semana | Linfopenia (n=1) | SARS- CoV-1 | 0 | Antibióticos | Cesárea | 0 |
Lam et al .28 Caso-Controle 2004 | China | 10 gestantes e 40 não-grávidas | Média de 31,6 gestantes Média de 31,5 não gestantes | 1ª trimestre (n= 5) 2ª trimestre (26ª -32ª semana) (n= 5) | Febre (n= 10); mialgia (n= 10) linfopenia (n= 10); mal-estar (n= 9); tosse (n= 7); cefaleia (n= 6); dispneia (n= 3); trombocitopenia (n= 3); falência renal (n= 3); choque séptico (n= 3); diarreia (n=1) | SARS- CoV-1 | 6 | Antibióticos (n= 50) Antivirais (N.I.) | N.I. | 3 |
Stockman et al .31 Estudo de Caso 2004 | Estados Unidos | 01 | 38 | 7ª semana | Febre; cefaleia; mialgia; tosse; diarreia | SARS- CoV-1 | 0 | Antibióticos | Cesárea | 0 |
Wong et al .29 Retrospectivo 2004 | China | 12 | 24-44 | 4ª a 27ª semana | Mialgia (n= 12); mal-estar (n= 11); tosse (n= 9); linfopenia (n= 8); cefaleia (n= 6); dispneia (n= 4); trombocitopenia (n= 4); diarreia (n= 2); choque séptico (n= 2) | SARS- CoV-1 | 6 | Antibióticos Antivirais | Cesárea (n= 5) | 5 |
Chen et al .4 Retrospectivo 2020 | China | 9 | 26-40 | 36ª a 39ª semana | Febre (n= 8); trombocitopenia (n= 5); tosse (n= 4) | SARS-CoV-2 | 0 | Antibióticos (n= 9) Antivirais (n= 6) | Cesárea (n= 9) | 0 |
Chen et al .14 Retrospectivo 2020 | China | 17 | Média de 29 | < 37 (n= 3) ≥ 37 (n=14) | Linfopenia (n= 5); febre (n= 4); tosse (n= 4) | SARS-CoV-2 | 3 | Antibióticos (N.I.) Antivirais (N.I.) | Cesárea (n= 17) | 0 |
Chen et al .19 Retrospectivo 2020 | China | 5 | 25-31 | 38ª | Tosse (n= 1); coriza (n= 1) | SARS-CoV-2 | 0 | Antivirais (n= 5) | Cesárea (n= 2) Vaginal (n= 3) | 0 |
Chen Y et al .15 Estudo de Caso 2020 | China | 4 | 23-41 | 3º trimestre | Febre (n= 3); tosse (n= 3); dispneia (n= 3); mialgia (n= 2); linfopenia (n= 2) | SARS-CoV-2 | 1 | N.I. | Cesárea (n= 3) Vaginal (n= 1) | 0 |
Liu et al .23 Retrospectivo 2020 | China | 15 | 23-40 | 12ª a 40ª semana | Febre (n= 13); linfopenia (n= 12); tosse (n= 9); mialgia (n= 6); dispneia (n= 2); diarreia (n= 2) | SARS-CoV-2 | 0 | Antibióticos (n=11) Antivirais (n=11) | Cesárea (n= 11) Vaginal (n= 1) Permaneceram grávidas ao término do estudo (n= 4) | 0 |
Liu et al .22 Retrospectivo 2020 | China | 59, sendo: grávidas (n= 41), com 19 internadas e 22 em ambulatório; adultos não-grávidos (n= 11) e crianças (n= 4) | Média de 30 (grávidas) | 22ª a 40ª semana | Febre (n= 7) em grávidas testadas para SARS-CoV-2 em laboratório Febre (n= 9) em grávidas confirmadas para SARS-CoV-clinicamente | SARS-CoV-2 | 0 | Antivirais em gestantes (n= 14) Antivirais não gestantes (n= 6) | N.I. | 0 |
Liu et al .35 Retrospectivo 2020 | China | 3 | 30-34 | 37ª a 40ª | Febre (n= 2); tosse (n= 2) | SARS-CoV-2 | 0 | Antibióticos (n= 2) Antivirais (n= 3) | Cesárea (n= 2) Vaginal (n= 1) | 0 |
Liu et al .16 Retrospectivo 2020 | China | 13 | 22-36 | < 28ª semana (n=2) 3º trimestre (n=11) | Febre (n= 10); dispneia (n= 2) | SARS-CoV-2 | 1 | N.I. | Cesárea (n= 10) Vaginal (n= 3) | 0 |
Li et al. 20 Estudo de Caso 2020 | China | 1 | 30 | 35ª semana | Febre; tosse | SARS-CoV-2 | 0 | Antibióticos (N.I) Antivirais | Cesárea | 0 |
Li et al. 17 Caso-Controle 2020 | China | 34 Pacientes confirmadas (n= 16) Pacientes suspeitas (n= 18) | Média de 30,9 (confirmadas) Média de 29,8 (suspeitas) | 33ª semana | Febre (n= 4) em pacientes confirmadas Febre (n= 1) em pacientes suspeitas | SARS-CoV-2 | 9 | Confirmadas: Antibióticos (n= 16) Antivirais (n= 1) Suspeitas Antibióticos (n= 18) | Confirmadas Cesárea (n= 14) Suspeitas Cesárea (n= 18) | 0 |
Zhu et al .24 Retrospectivo 2020 | China | 9 | 30 | 31ª a 38ª | Febre (n= 8); tosse (n= 4); diarreia (n= 1) | SARS-CoV-2 | 0 | Antivirais (n= 9) | Cesárea (n= 3) Vaginal (n= 1) | 0 |
Dong et al .43 Estudo de Caso 2020 | China | 1 | 29 | 34ª semana | Febre; congestão nasal; dificuldade respiratória | SARS-CoV-2 | 0 | Antibióticos Antivirais | Cesárea | 0 |
Dong et al. 32 Retrospectivo 2020 | China | 103 Pacientes confirmadas (n= 81) Pacientes suspeitas (n= 22) | 31 (14-72) | N.I. | Casos críticos: Total: n=2 Confirmadas: n=2 Suspeitas: n=2 Casos graves Total: n= 12 Confirmadas: 11 Suspeitas: 1 | SARS-CoV-2 | Antibióticos: N.I. Antivirais: N.I. | N.I. | 2 | |
Yue et al .36 Caso-Controle 2020 | China | 30 Pacientes confirmadas (n= 14) Pacientes suspeitas (n= 16) | Média de 30,1 (confirmadas) 29,8 (suspeitas) | 38ª semana | Confirmadas: Febre (n= 4) Suspeitas: Febre (n= 1) Tosse (n= 1) Dispneia (n= 1) | SARS-CoV-2 | 0 | N.I. | Confirmadas Cesárea (n= 14) Suspeitas Cesárea (n= 16) | 0 |
Wang et al. 18 Estudo de Caso 2020 | China | 1 | 28 | 30ª semana | Linfopenia; hipotensão; dificuldade respiratória | SARS-CoV-2 | 1 | Antibióticos Antivirais | Cesárea | 0 |
Fan et al .37 Estudo de Caso 2020 | China | 2 | 29-34 | 36ª a 37ª semana | Febre (n= 2); linfopenia (n= 2); dor de garganta (n= 1); congestão nasal (n= 1) | SARS-CoV-2 | 0 | Antibióticos (n= 2) Antivirais (n= 2) | Cesárea (n= 2) | 0 |
Yu et al .25 Retrospectivo 2020 | China | 7 | Média 32 (29-34) | 37ª a 41ª semana | Febre (n= 6) ; linfopenia (n= 5); tosse (n= 1); dificuldade respiratória (n= 1); diarreia (n= 1) | SARS-CoV-2 | 0 | Antibióticos (n= 7) Antivirais (n= 7) | Cesárea (n= 7) | 0 |
Nie et al .41 Retrospectivo 2020 | China | 33 | Média de 30,5 (24-36) | 1º trimestre (n= 3) 2º trimestre (n= 30) | Febre (n= 21); tosse (n= 13); fadiga (n= 7); diarreia (n= 6) | SARS-CoV-2 | 0 | Antibióticos (n= 29) Antivirais (n= 33) | Cesárea (n= 22) Vaginal (n= 5) Permaneceram grávidas ao término do estudo (n= 5) Aborto (n=1) | 0 |
Lee et al. 38 Estudo de Caso 2020 | Coréia | 1 | 28 | 36ª semana | Febre; tosse; dor de garganta | SARS-CoV-2 | 0 | N.I. | Cesárea | 0 |
Zeng et al .40 Retrospectivo 2020 | China | 33 | N.I. | 31ª a 40ª semana | Tosse (n= 10); febre (n= 8) | SARS-CoV-2 | 0 | Informou o uso de antibióticos em apenas uma grávida, cujo bebê foi testado positivo para SARS-CoV-2 | Cesárea (n= 26) Vaginal (n= 7) | 0 |
Khan et al .39 Estudo de Caso 2020 | China | 3 | 27-33 | 36ª a 39ª semana | Febre (n= 3); tosse (n= 3); | SARS-CoV-2 | 0 | Antivirais (n= 1) | Cesárea (n= 3) | 0 |
Zambrano et al .27 Estudo de Caso 2020 | Honduras | 1 | 41 | 31ª semana | Sem febre; frequência respiratória normal e hiperemia conjuntival bilateral | SARS-CoV-2 | 0 | N.I. | Gestação em andamento ao término do estudo. | 0 |
N.I.: Não Informado
UTI: Unidade de Terapia Intensiva
Os resultados encontrados pelos autores foram apresentados por estatística descritiva, com números absolutos e porcentagens. Um total de 399 grávidas foram incluídas neste estudo. Os sintomas mais comuns na admissão hospitalar foram febre (43,58%) e tosse (21,62%). Os medicamentos mais utilizados foram antibióticos e antivirais, dando-se preferência aos antivirais após o parto. O número de óbitos entre as grávidas foi de 12, sendo 10 por SARS-CoV-1 e 2 por SARS-CoV-2. A taxa de admissão em UTI devido às complicações por pneumonia foi de 7,26% entre as gestantes com SARS-CoV-1 e SARS-CoV-2.
O número de abortos, parto pré-termo e a termo bem como peso corporal, escore de Apgar, condições clínicas e testagem para coronavírus nos recém-nascidos foram listados na Tabela 2 .
Autor/Ano/ Tipo de Estudo | Aborto | Pré-termo | A termo | Morte neonatal | Peso corporal (gramas) | Apgar no 1º e 5º minuto | Condições Clínicas | Teste SARS-CoV |
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Shek et al .30 Estudo de Caso 2003 | 1 | 4 | 1 | 0 | 0,975-1.985 | Caso 1: 5 e 9 Caso 2: 5 e 7 Caso 3: 5 e 9 Caso 4: 9 e 10 Caso 5: 9 e 10 | Síndrome do Desconforto Respiratório (n= 2) Distensão abdominal (n= 2) Enterocolite necrosante (n= 1) Perfuração intestinal (n=2) Febre (n= 1) | Negativo |
Robetertson et al. 34 Estudo de Caso 2004 | 0 | 0 | 1 | 0 | 3.145 | 9 e 9 | N.I. | Negativo |
Lam et al .28 Caso-Controle 2004 | 4 | 4 | 2 | 0 | N.I. | N.I. | Aborto espontâneo no 3º trimestre (n= 4). | Negativo |
Stockman et al .31 Estudo de Caso 2004 | 0 | 1 | 0 | 0 | 1.150 | 7 e 8 | Sem anormalidades ou malformações congênitas. | Negativo |
Wong et al .29 Retrospectivo 2004 | Espontâneo (n= 5) Induzido (n= 2) | 5 | 0 | 0 | 0,975 a 1.985 | N.I. | Síndrome do Desconforto Respiratório (n= 2) Retardo do crescimento intrauterino (n= 2) Enterocolite necrosante e perfuração intestinal (n= 1) Ducto arterioso patente (n= 1) | Negativo |
Chen et al .4 Retrospectivo 2020 | 0 | 4 | 5 | 0 | < 2.500 (n= 2) > 2500 (n= 7) | Sem morte fetal ou neonatal. Somente um recém-nascido com baixo peso ao nascer, cuja mãe tinha pré-eclâmpsia. | Negativo | |
Chen et al .14 Retrospectivo 2020 | 0 | 3 | 14 | 0 | > 2.500 | 9 e 10 | Apesar de 3 bebês nascerem prematuros, nenhum tinha peso inferior a 2.550g. | Negativo |
Chen et al .19 Retrospectivo 2020 | 0 | 0 | 5 | 0 | > 3200 | 5º min: 10 10º min: 10 | Todos recém-nascidos saudáveis. Apenas um feto apresentou taquicardia e, portanto, foi realizada cesárea de emergência. | Negativo |
Chen Y et al .15 Estudo de Caso 2020 | 0 | 4 | 4 | 0 | > 3.000 | N.I. | 02 recém-nascidos com erupções cutâneas de origem desconhecida 01 com ulcerações faciais 01 taquipneia | Negativo (n= 3) Pais não deram consentimento para o exame (n= 1) |
Liu et al .23 Retrospectivo 2020 | 0 | N.I. | N.I. | 0 | N.I. | 8 e 9 | Estudo não descreveu com detalhes os desfechos clínicos dos recém-nascidos. Os partos aconteceram entre a 23ª a 40ª semana. Nenhum caso de asfixia ou morte neonatal. | Negativo |
Liu et al .22 Retrospectivo 2020 | N.I. | N.I. | N.I. | N.I. | N.I. | N.I. | Todos os bebês nasceram saudáveis. O estudo enfocou mais sobre tomografias computadorizadas do tórax em casos de SARS-CoV-2 com e sem gravidez. | Negativo |
Liu et al .35 Retrospectivo 2020 | 0 | 0 | 3 | 0 | > 3.000 | 8 e 9 | Um caso de sofrimento fetal e corioamnionite | Negativo |
Liu et al .16 Retrospectivo 2020 | 0 | 6 | 6 | 1 | N.I. | 1º min: N.I. 5º min: 10 | 3 casos de sofrimento fetal dentre 6 neonatos prematuros. 1 natimorto de mãe com falência múltipla de órgãos. | Negativo |
Li et al. 20 Estudo de Caso 2020 | 0 | 1 | 0 | 0 | N.I. | N.I. | Sem complicações. | Negativo |
Li et al. 17 Caso-Controle 2020 | 0 | 2 | 15 | 0 | Média de 3.078 | Média de 9,6 e 10 | 15 gravidezes únicas 1 gravidez gemelar Baixo peso corporal (n= 3) Sofrimento fetal (n= 1) | Negativo |
Zhu et al .24 Retrospectivo 2020 | 0 | 6 | 4 | 1 | < 2500 (n= 7) > 3000 (n= 2) | 10 e 10 (n= 1) 9 e 10 (n= 5) 8 e 9 (n= 2) 8 e 8 (n= 1) 7 e 8 (n= 1) | 1 óbito neonatal 01 gravidez gemelar Sofrimento fetal (n= 6) | Negativo |
Dong et al .43 Estudo de Caso 2020 | 0 | 1 | 0 | 0 | 3.120 | 9 e 10 | Duas horas após o nascimento, IgG foi de 140,32 UA/mL e IgM de 45,83 UA/mL. | Negativo |
Dong et al. 32 Retrospectivo 2020 | N.I. | N.I. | N.I. | N.I. | N.I. | N.I. | Estudo não abordou características clínicas dos recém-nascidos. | Negativo |
Yue et al .36 Caso-Controle 2020 | 0 | 6 | 24 | 0 | < 2.500 (n= 5) > 2.500 (n= 25) | Média 9,6 e 10 | Baixo peso corporal ao nascimento (n= 5) | |
Wang et al. 18 Estudo de Caso 2020 | 0 | 1 | 0 | 0 | 1.830 | 9 e 10 | Cesárea de emergência com 30ª semana de gestação, devido diminuição dos movimentos e frequência cardíaca fetal. | Negativo |
Fan et al .37 Estudo de Caso 2020 | 0 | 1 | 1 | 0 | 2.890 e 3.400 | 9 e 10 (n= 2) | Febre baixa, distensão abdominal, pneumonia e linfopenia | Negativo |
Yu et al .25 Retrospectivo 2020 | 0 | 1 | 6 | 0 | ≥ 3.000 | 8 e 9 | Infecção pulmonar em um recém-nascido, o qual foi medicado com antibióticos e se recuperou. | Negativo |
Nie et al .41 Retrospectivo 2020 | 1 | 10 | 18 | 0 | Média de 2.988 < 2.500 (n=5) | Média de 8,9 e 9,7 | Sofrimento fetal (n= 4) O recém-nascido testado positivo para SARS-CoV-2 não teve contato com a mãe e familiares após o nascimento. | Negativo (n= 25) Não testados (n= 2) Positivo (n= 1) |
Lee et al. 38 Estudo de Caso 2020 | 0 | 1 | 0 | 0 | 3.120 | 9 e 10 | Recém-nascido sem complicações. | Negativo |
Zeng et al .40 Retrospectivo 2020 | 0 | 4 | 29 | 0 | Para os 3 recém-nascidos com SARS-CoV-2, os pesos corporais foram: 1.580, 3.250 e 3.360. | Para os 3 recém-nascidos com SARS-CoV-2, os escores foram 3, 4, e 5, no 1º min e 5 no 10º min. | Falta de ar (n= 4) 2 com SARS-CoV-2 apresentaram letargia e febre. 1 com SARS-CoV-2 era prematuro (31ª semana), teve sofrimento fetal e foi ressuscitado. | Negativo (n= 30) Positivo (n= 3) |
Khan et al .39 Estudo de Caso 2020 | 0 | 1 | 2 | 0 | 2.890 3.500 3.730 | 8 e 9 9 e 10 9 e 10 | O estresse devido à patologia causou parto prematuro (36ª semana) em mãe sem doença preexistente | Negativo |
Zambrano et al .27 Estudo de Caso 2020 | 0 | 0 | 0 | 0 | N.I. | N.I. | Feto com rim direito displásico e multicístico. Gravidez em andamento ao término do estudo. | N.I. |
N.I.: Não Informado.
Um total de cinco estudos abordou SARS-CoV-1 e 22 tiveram como foco SARS-CoV-2 na gestação ( Tabela 1 ). Nos estudos sobre SARS-CoV-1 foram incluídos 18 recém-nascidos, nove abortos espontâneos e dois abortos induzidos por questões sociais. Em relação ao número de recém-nascidos de gestantes que tiveram SARS-CoV-2, três estudos não foram incluídos, um porque a gestação estava em andamento e outros dois porque não informaram o número de nascimentos. Assim, contabilizou-se 188 neonatos, um natimorto, um óbito neonatal e um aborto espontâneo.
Os achados mais comuns entre os recém-nascidos de gestantes com coronavírus foram a prematuridade (n= 65; 34,5%), baixo peso ao nascer (n= 32; 17,0%) e frequência cardíaca não tranquilizadora (n= 9; 4,8%). Em menor número houve outras condições clínicas, tais como, testagem positiva para coronavírus, falta de ar, síndrome do desconforto respiratório, sendo cada um com quatro casos (2,1%); perfuração intestinal (n= 3; 1,6%), enterocolite necrosante, erupções cutâneas e altas taxas de IgM, cada um com dois casos (1,2%) e descompasso cardíaco, como taquicardia (n= 1) e bradicardia (n= 1).
DISCUSSÃO
Desfechos clínicos de mulheres grávidas com SARS-CoV-1 e SARS-CoV-2
As características clínicas da infecção por SARS-CoV-2 compartilham algumas semelhanças com relatos anteriores de SARS-CoV-13 . A maioria das grávidas com SARS-CoV-2 apresentaram febre, tosse seca, dispneia e pacientes com doença grave desenvolveram síndrome do desconforto respiratório agudo e foram admitidas em Unidade de Terapia Intensiva (UTI) para ventilação mecânica14 - 18 .
Contudo, nem sempre as grávidas com SARS-CoV-2 apresentaram febre na admissão hospitalar, podendo ter esse sintoma somente após o parto, como demonstrado por Li et al 17 e Chen et al 19 e. O primeiro estudo foi realizado com cinco e o segundo com 16 gestantes com SARS-CoV-2. Neste, somente quatro (25%) tinham febre na admissão.
As manifestações clínicas das pacientes grávidas com COVID-19 podem variar desde casos assintomáticos até caso mais graves, com necessidade de ventilação mecânica, falência de órgãos e sepse16 . O estudo de caso de Li et al 20 detectou sintomas leves, como tosse, calafrios e febre na paciente, contudo, identificou infiltrados pulmonares. Aproximadamente 80% das infecções do COVID-19 são leves ou assintomáticas, 15% são graves e requerem oxigênio suplementar e 5% são críticas, exigindo ventilação mecânica21 .
A tomografia computadorizada de tórax (TCT) apresenta-se muito útil para a detecção clínica da SARS-CoV-2, inclusive em mulheres grávidas. A opacidade em vidro fosco com consolidação parcial ou completa foi um achado mais comum em gestantes com SARS-CoV-2 do que em pacientes não gestantes com a mesma doença. No entanto, a TCT realizada em crianças com SARS-CoV-2 revelou desde aparência normal dos pulmões até casos de opacidade em vidro fosco22 .
Um estudo realizado na China, em fevereiro de 2020, com 17 parturientes com COVID-19 mostrou dois casos de desconforto torácico e apenas um caso com dispneia. Nove das parturientes não apresentaram sintomas típicos, como febre e tosse, em vez disso, mostraram apenas anormalidades na tomografia computadorizada de tórax. Essas nove pacientes tiveram apenas sintomas leves ou eram assintomáticas14 .
Algumas grávidas com COVID-19 apresentaram sinais e sintomas gastrointestinais, como diarreia23 - 25 . Isso demonstra que o COVID-19 também pode comprometer o sistema digestório26 . Ainda, o COVID-19 pode causar hiperemia conjuntival, como detectado em mulher grávida de 31ª semana27 .
A literatura demonstrou que os problemas respiratórios e taxa de mortalidade são mais pronunciados nas gestantes com SARS-CoV-1 do que em mulheres não gestantes com a mesma infecção. No estudo de Lam et al 28 , quarenta por cento das pacientes do grupo gestante necessitou de suporte ventilatório mecânico, enquanto 12,5% das mulheres não gestantes necessitaram de ventilação mecânica. As gestantes precisaram de maior tempo de internação (27,0 dias) quando comparadas às não gestantes (17,3 dias) e ainda três óbitos aconteceram entre as primeiras.
O estudo de Wong et al 29 avaliou 12 grávidas com SARS-CoV-1 e demonstrou que três mães morreram durante a gravidez (taxa de mortalidade de 25%), quatro tiveram aborto espontâneo (33%) no primeiro trimestre e cinco bebês nasceram prematuramente. Ademais, as taxas de admissão em UTI (50%) e necessidade de ventilação mecânica (33%) foram maiores em comparação com a população adulta não gestante (20% na UTI).
Ainda, segundo Wong et al 29 , esse desfecho ruim pode ser atribuído às alterações fisiológicas da função pulmonar durante o final da gravidez. O útero gravídico eleva o diafragma em até quatro centímetros no terceiro trimestre, enquanto o consumo de oxigênio aumenta em 20% na gravidez e a capacidade residual funcional diminui, tornando a gestante intolerante à hipóxia.
Estudos demonstraram que a antecipação do parto foi necessária para gestantes infectadas por SARS-CoV-1. No entanto, não há evidências de transmissão vertical ou anticorpos no leite materno 12 a 30 dias pós-parto30 , 31 .
Ainda, a insuficiência renal e coagulopatia intravascular disseminada se desenvolveram mais frequentemente em pacientes grávidas com SARS-CoV-1 quando em comparação com o grupo SARS-CoV-1 não gestante28 . No estudo de Wong et al 29 , vinte e cinco por cento das grávidas com SARS-CoV-1 apresentaram insuficiência renal, coagulopatia intravascular e vilosidades avasculares e infarto na placenta.
Foi confirmado que o COVID-19 danifica os leucócitos e pode prejudicar múltiplos órgãos, juntamente com o sistema respiratório. Estudos apontaram para casos de linfopenia em gestantes com SARS-CoV-2 14 , 15 , 18 , 23 , 25 .
Apesar do SARS-CoV-2 ter 80% de similaridade de sequência genômica com SARS-CoV-110 , os desfechos clínicos, como pneumonia e óbitos, são maiores em grávidas que tiveram infecção por SARS-CoV-128 - 30 . Além disso, as mulheres grávidas com COVID-19 apresentaram pior desfecho clínico do que mulheres grávidas sem a doença32 .
O estudo de Dong et al 32 avaliou 103 grávidas, sendo 81 confirmadas e 22 suspeitas para SARS-CoV-2. A maior parte proveniente da província de Hubei, na China, local onde começou a epidemia da doença. Foram detectados 11,65% de casos severos e 1,94% de casos críticos. A taxa de mortalidade foi de 1,94% (n=2), sendo um caso de mulher de 39 anos e outro de idosa de 72 anos que realizou fertilização in vitro .
Na atualidade, os princípios de manejo do COVID-19 na gravidez incluem isolamento precoce, procedimentos de controle de infecções, oxigenoterapia, prevenção de sobrecarga de fluidos, controle empírico por antibióticos (secundários ao risco de infecção bacteriana), monitoramento da contração uterina, ventilação mecânica precoce em casos de falência respiratória progressiva, plano de parto individualizado, atendimento clínico por equipe multidisciplinar e testes de infecção do recém-nascido por SARS-CoV-233 .
Ainda, é necessário estar atento para a possibilidade da infecção por COVID-19 seguir a mesma tendência que a SARS-CoV-1 em mulheres grávidas e se agravar para pneumonia. Entretanto, por se tratar de uma nova infecção, as amostras, até então estudadas, são pequenas e poucas têm grupo controle de mulheres não grávidas23 , carecendo de mais estudos sobre a temática.
Desfechos clínicos de recém-nascidos de mães com SARS-CoV-1 e SARS-CoV-2
Apesar de o coronavírus sobreviver por semanas no organismo materno, conforme demonstrado no estudo de Stockman et al 31 , esse vírus parece não atravessar a membrana uteroplacentária.
Não houve na literatura confirmação da transmissão intrauterina da SARS-CoV-128 , 30 , 31 , 34 e da SARS-CoV-2 da mãe para o feto 3 , 4 , 14 , 15 , 17 , 19 , 22 - 25 , 31 , 35 - 39 .
Amostras de líquido amniótico, sangue do cordão umbilical, esfregaços vaginais maternos, leite materno e nasofaringe de recém-nascidos também se mostraram negativas para SARS-CoV-218 , 37 .
Um estudo com 33 recém-nascidos de mães com SARS-CoV-2 mostrou três casos positivos para a doença, inclusive um deles apresentou baixo peso corporal ao nascer (1.580 gramas), asfixia e precisou de reanimação cardiopulmonar40 .
Outro recém-nascido foi positivo para SARS-CoV-2. O neonato não teve nenhum contato com sua mãe ou outros membros da família e foi isolado imediatamente após o nascimento. Uma radiografia realizada no tórax do recém-nascido indicou infecção pulmonar41 .
Nesses casos, devem-se considerar outras vias de transmissão do coronavírus para o recém-nascido, como aerossóis produzidos pela tosse da mãe, parentes ou profissionais de saúde ou outras fontes no ambiente hospitalar11 .
Curiosamente, anticorpos foram encontrados em amostras de recém-nascidos de mães com SARS-CoV-2. Zeng et al 42 revelaram que as concentrações de IgG estavam elevadas em cinco crianças (125,50; 113,91; 75,49; 73,19 e 51,38 UA/mL) e, IgM, em duas (39,6 e 16,25 UA/mL), considerando o valor de referência < 10 UA/mL para ambos os anticorpos.
Estudo de caso de um recém-nascido, cuja mãe foi infectada por SARS-CoV-2 vinte e três dias antes do parto, apontou concentrações elevadas de IgM (45,83 UA/mL) e IgG (140,32 UA/mL) no sangue do bebê após duas horas do nascimento43 .
Esses autores justificaram que o IgG é transferido passivamente através da placenta da mãe para o feto, iniciando no final do segundo trimestre e atingindo altos níveis no momento do nascimento. No entanto, o IgM, geralmente, não é transferida da mãe para o feto por causa de sua estrutura macromolecular maior. Portanto, os níveis elevados de anticorpos IgM sugerem que os neonatos foram infectados no útero, pois os anticorpos IgM geralmente aparecem de três a sete dias após a infecção. Assim, mais estudos são necessários para compreender melhor esses achados42 , 43 .
A SARS-CoV-1 durante a gravidez está associada a altas incidências de aborto espontâneo, parto prematuro e restrição de crescimento intrauterino29 . De fato a insuficiência respiratória materna grave e hipoxemia em gestantes com SARS podem causar distúrbios uterinos e do fluxo placentário, causando aborto. Cinquenta e sete por cento das pacientes do estudo de Wong et al 29 tiveram aborto espontâneo.
Inclusive, o estresse de gestantes com SARS-CoV-2, devido às incertezas da própria doença frente à saúde materna e fetal, contribui para o nascimento prematuro, conforme observado no estudo de Khan et al 39 , no qual uma grávida com COVID-19 e sem patologia preexistente entrou em trabalho de parto na 36ª semana de gestação.
Um estudo que comparou o desfecho adverso mais comum entre grávidas com COVID-19 (n=41), MERS (n=12) e SARS (n=26) detectou nascimento prematuro em 41,1% das gestantes com COVID-19 e morte perinatal de 7%3 .
A infecção por SARS-CoV-2 durante a gravidez pode ter efeitos adversos nos fetos, como taquicardia e frequência cardíaca não tranquilizadora19 e nos recém-nascidos, como dificuldade respiratória, trombocitopenia acompanhada de função hepática anormal e até a morte neonatal24 . Além disso, dois recém-nascidos de mães que tiveram SARS-CoV-2 apresentaram pneumonia e linfopenia37 .
Dois neonatos nasceram com complicações gastrointestinais no estudo de Shek et al 30 , sendo um com enterocolite necrosante com perfuração ileal e outro com perfuração de 0,5 centímetros no jejuno. Além disso, outra pesquisa demonstrou que dois neonatos prematuros de mães que tiveram SARS-CoV-1 apresentaram síndrome do desconforto respiratório e, um, enterocolite necrosante, perfuração intestinal e ducto arterioso patente29 .
Shek et al 30 justificam os achados devido às mães doentes com hipotensão e hipoxemia, o que poderia prejudicar o suprimento sanguíneo da placenta e o fornecimento de oxigênio aos bebês, predispondo à enterocolite necrosante e perfuração intestinal.
Outros achados foram encontrados em recém-nascidos de mães com SARS-CoV-2 durante a gestação, como erupções cutâneas transitórias15 . Esses autores atribuíram as erupções às toxinas inflamatórias maternas e sugerem que mais estudos precisam ser realizados para justificar tais achados.
Dos trabalhos enfocando mulheres grávidas com SARS-CoV-2 foi relatado um natimorto16 . Um estudo em Hong Kong, em 2004, mostrou que a SARS-CoV-1 durante a gravidez está associada a altas taxas de abortos espontâneos, partos prematuros e retardo do crescimento intrauterino28 . O estudo de Yue et al 36 que avaliou 30 mulheres grávidas, 14 confirmadas e 16 suspeitas para SARS-CoV-2 detectou 20% de baixo peso corporal dos filhos das mães com a doença confirmada.
O tratamento medicamentoso das grávidas com SARS foi o uso de antibióticos antes do parto e, antivirais, preferencialmente no puerpério. Em 2003, um dos medicamentos mais utilizados para tratar grávidas com SARS-CoV-1 foi a ribavirina. Contudo, esse medicamento tem efeito embriocida em camundongos44 e isso pode ter causado aborto espontâneo no estudo de Wong et al. 29 .
Assim, mais estudos são necessários para o melhor entendimento das condições clínicas de recém-nascidos de mães que tiveram SARS-CoV-2 durante a gestação, sobretudo, no primeiro trimestre gestacional devido ao período de organogênese do embrião/feto.
CONCLUSÕES
A literatura apontou desfechos clínicos mais graves para grávidas com SARS-CoV-1, como aborto espontâneo e morte materna. No entanto, o COVID-19, devido ao potencial patogênico, pode causar efeitos adversos, como pneumonia, falência respiratória, falência múltipla de órgãos e até a morte materna, além de promover retardo do crescimento intrauterino, frequência cardíaca não tranquilizadora, baixo peso ao nascimento, descompasso cardíaco (taquicardia e bradicardia) e problemas respiratórios nos recém-nascidos.
Mais estudos precisam ser realizados a fim de verificar se de fato o coronavírus atravessa a membrana placentária, pois, os achados de níveis elevados de imunoglobulinas M no sangue de recém-nascidos de mães infectadas podem ser indicativos da transmissão vertical do vírus. Além disso, os achados clínicos fetais e neonatais precisam ser mais bem estudados a fim de saber se a principal causa deve-se à hipóxia/hipoxemia materna ou efeitos do coronavírus na saúde do feto/neonato. Ademais, outros estudos com amostras maiores de gestantes com SARS-CoV-2 precisam ser conduzidos a fim de verificar as condições clínicas dessas pacientes e compará-las com grupos de mulheres não grávidas e grávidas sem a infecção.
Portanto, recomenda-se que as gestantes e recém-nascidos sejam considerados população de risco para transmissão do COVID-19, com medidas de precaução incentivadas, como o isolamento social, triagem sistemática de qualquer suspeita de infecção por SARS-CoV-2 durante a gravidez e o acompanhamento intensivo de mães com essa doença e seus recém-nascidos. Ademais, condições de biossegurança e assepsia precisam ser reforçadas no momento do parto de mulheres com SARS-CoV-2 a fim de evitar a transmissão do coronavírus para o recém-nascido, como o uso de máscara pela parturiente; luvas, óculos de proteção, máscaras N95 e jalecos descartáveis pela equipe de saúde e descontaminação de superfícies e do ar interior das salas de cirurgia.