A vinculação aos pares e autoestima
A existência de um sistema comportamental de estabelecimento de vínculos afetivos e os fatores a ele inerentes, inicialmente estudados por John Bowlby e Mary Ainsworth, têm despertado interesse em diversas investigações (e.g. Ainsworth, 1967; Bowlby, 1969/1982; Peixoto, 2004; Taylor, 2010). A vinculação concetualiza assim a capacidade intrínseca que o ser humano possui para procurar e estabelecer ligações de afetividade privilegiadas com alguém capaz de lhe proporcionar sentimentos de segurança e proteção (Bowlby, 1969/1982; 1988). É a responsividade da figura prestadora de cuidados que possibilita à criança internalização de sentimentos de confiança e segurança relativos ao cuidador. Os sentimentos de segurança criados a partir das relações de vinculação com as figuras parentais permitem ao adolescente a continuação da construção de modelos internos seguros e positivos sobre si e sobre os outros. São estes modelos que posteriormente facilitarão a relação com os pares por meio de comportamentos mais ajustados, assim como o desenvolvimento salutar da sua autoestima (e.g. Bowlby, 1969/1982; Klomek et al., 2016; Mota, & Matos, 2009; Peixoto, 2004; Taylor, 2010; Tomé, Camacho, Matos, & Diniz, 2011; Weber, Stasiak, & Brandenburg, 2003).
Os laços vinculativos com as figuras primárias de vinculação permanecem ao longo de todo o desenvolvimento (Bowlby 1969/1982) no entanto, e com o decorrer do mesmo, o adolescente estabelece contacto com diversos contextos, o que lhe permite estender as suas relações afetivas e posteriormente estabelecer relações de vinculação para além do ambiente familiar (Bronfenbrenner, 1987). É na fase da adolescência que a procura por autonomia e independência das figuras parentais promove no individuo um sentido de exploração que, geralmente, gera uma aproximação ao grupo de pares (e.g. Furman, Shaffer, & Bouchey, 2002; Mounts, 2001; Ribeiro, Medeiros, Coutinho, & Carolino, 2012; Mota, & Rocha, 2012). Por conseguinte, também a escolha dos pares significativos se associa às estruturas internas criadas previamente através do estabelecimento de laços vinculativos com as figuras parentais. Ao longo do desenvolvimento, os modelos internos dinâmicos vão sendo sistematicamente atualizados, conduzindo o individuo na realização de escolhas pessoais. Os adolescentes tendem assim a estabelecer relações de afetividade com outros significativos, promovidas pela similitude de características e vivências, identificando-os como portos seguros (Holmes, 2001; Mota, & Rocha, 2012). Deste modo, assume-se a possibilidade de que as funções de vinculação procuradas nas relações com as figuras parentais passem gradualmente a ser procuradas em outros significativos, mais comumente os pares, sendo essa transferência facilitada quando as figuras primárias de vinculação constituem uma base segura para o adolescente. Embora esteja presente a possibilidade da transferência de todas as funções de vinculação de pais para pares significativos, são as funções de porto seguro as mais procuradas nos pares. Estes são capazes de fornecer apoio e proteção perante a presença de inseguranças e desafios a nível relational, permanecendo as figuras parentais como base segura para o adolescente (Castellanos, Delgado, Fourtoul, & Sánchez, 2009; Fraley, & Davis, 1997; Hazan, & Zeifnan, 1994; Mayseless, 2004; Meeus, Oosterwegel, & Vollebergh, 2002; Nickerson, & Nagle, 2005).
Neste sentido, os adolescentes passam de relações caraterizadas por uma assimetria de poder com os seus pais para relações onde esse desequilíbrio se esbate e onde lhes é permitido cuidar e ser cuidado (Furman et al., 2002; Mota, & Rocha, 2012). Os pares passam assim a desempenhar um papel fundamental na vida do adolescente como fonte de afetividade e proteção, potenciando o desenvolvimento mais saudável do self (Ribeiro et al., 2012).
Os estudos indicam ainda diferenças na qualidade de vinculação de acordo com o sexo. Adolescentes do sexo feminino apresentam melhores níveis de confiança e comunicação para com os pares, promovendo o estabelecimento de vínculos de qualidade com os mesmos. Por outro lado, os adolescentes do sexo masculino são geralmente caraterizados por apresentar mais sentimentos de alienação, mostrando-se o estabelecimento de vínculos com os pares mais fragilizado (e.g. Gorrese, & Ruggieri, 2012; Gullone, & Robinson, 2005; Pace, Martini, & Zavattini, 2011). Deste modo, a vinculação aos pares, e a qualidade da mesma permite ao adolescente um melhor controlo sobre as suas emoções, proporcionando um desenvolvimento salutar das suas funções psicológicas e sociais assim como a aquisição de comportamentos ajustados, tais como o menor envolvimento em comportamentos de vitimização e agressão escolar (Bruyin, Cillessen, & Wissink, 2010; Burton, Florel, & Wygant, 2010; Gorrese, & Ruggieri, 2012; Kokkinos, 2007; Laible, Carlo, & Raffaelli, 2000; Nikiforou, Georgiou, & Stavrinides, 2013; Rosário, & Duarte, 2010; Simões, Ferreira, Braga, & Vicente, 2015; Tambelli, Laghi, Odorisio, & Notari, 2012; You, Lee, Lee, & Kim, 2015). Ainda neste sentido, e assumindo a existência de um processo de transferência das funções de vinculação das figuras primárias para outros significativos, espera-se que, tal como acontece com as figuras parentais, as relações de vinculação estabelecidas com os pares se constituam como um contributo para o desenvolvimento saudável da autoestima (Armsden, & Greenberg, 1987; Barbosa, Matos, & Costa, 2011; Fass, & Tubman, 2002; Guarnieri, Ponti, & Tani, 2010; Laible, Carlo, & Roesch, 2004; Wilkinson, 2004, 2010).
A autoestima resulta da avaliação que o individuo faz de si tendo por base crenças acerca dos seus atributos assim como da capacidade para executar as tarefas a que se propõe, sendo que esta pode ser positiva ou negativa (Baumeister, Smart, & Boden, 1996; Serra, 1988). Indivíduos com uma autoestima positiva desenvolvem sentimentos de confiança, valorização e eficácia que lhes permitem perceber-se como capazes de ultrapassar os desafios e vicissitudes com que se deparam. Paralelamente, e sentindo-se merecedores de apreço por parte de quem os rodeia, desenvolvem capacidades facilitadoras do estabelecimento relações interpessoais. Por sua vez, indivíduos com uma baixa autoestima tendem a desenvolver sentimentos negativos acerca de si. São estes sentimentos que associados a uma baixa autoconfiança, potenciam o isolamento e retraimento perante os outros, condicionando o estabelecimento e manutenção de relações interpessoais (Heatherton, & Wyland, 2003; Josephs, Markus, & Tafarodi, 1992; Schultheisz, & Aprile, 2013).
Rosenberg, Schooler, Schoenbach e Rosenberg (1995) destacam a importância da diferenciação de autoestima global da autoestima específica, referindo-se a primeira ao bem-estar psicológico e a segunda a uma área comportamental especifica.1 Apesar da generalidade da literatura apontar o sexo masculino como mantendo elevados níveis de autoestima (Quatman, & Watson, 2001), também alguma aponta para a ausência de diferenças entre sexos (Hutz, & Zanon, 2011; Ruiz, López, Pérez, & Ochoa, 2009; Sbicigo, Bandeira, & Dell'Aglio, 2010). As diferenças de autoestima face ao sexo mostram-se assim mais percetíveis aquando a avaliação de domínios específicos da autoestima (Gentile, Grabe, Dolan-Pascoe, & Wells, 2009). Na continuidade, o sentimento de pertença ao grupo de pares e o estatuto conseguido dentro do mesmo assume na adolescência contributos positivos e significativos no desenvolvimento da autoestima (Barbosa et al., 2011; Birkeland, Breivik, & Wold, 2014). Por outro lado, a marginalização por parte do grupo de pares, assim como, a dificuldade em estabelecer relações com os demais acarreta muitas vezes o desenvolvimento de sentimentos negativos acerca de si, conduzindo assim a uma diminuição da autoestima (e.g. Sandstrom, 2004). Se por um lado relações pouco positivas com os pares provocam danos na autoestima, por outro, estes danos são passíveis de dificultar o estabelecimento de relações posteriores de qualidade (Ribeiro et al., 2012). O estabelecimento de relações seguras com o grupo de pares apresenta-se assim como contributo indispensável para o desenvolvimento de uma avaliação positiva do self, dos outros e do mundo (Armsden, & Greenberg, 1987; Mota, & Matos, 2013; Wilkinson, 2004; 2010).
A autoestima e os comportamentos de bullying
A relação existente entre a construção da autoestima e as relações estabelecidas com os pares adota um carater bidirecional. Se por um lado a qualidade dos laços afetivos se mostra indissociável do desenvolvimento da autoestima (e.g. Wilkinson, 2004; 2010), também uma elevada autoestima se encontra associada ao bom relacionamento que os adolescentes mantêm no grupo de pares (Marriel, Assis, Avanci, & Oliveira, 2006; Rocha, Mota, & Matos, 2011).
Sendo a escola o contexto privilegiado para o estabelecimento de vínculos afetivos com os pares, é também neste contexto que os adolescentes vão desenvolvendo a sua identidade e também a sua autoestima. Por conseguinte, a escola torna-se um contexto propício ao envolvimento em comportamentos impróprios para com os pares, tais como o envolvimento em condutas de bullying.
A conceptualização de bullying, refere-se a um tipo de violência presente entre pares, exercida sistematicamente sobre alguém percebido como mais fraco em ambiente escolar. O bullying pode ser perpetrado de forma direta, causando mau estar imediato na vítima, e de forma indireta, através de comportamentos agressivos cuja consequência é a exclusão social (Olweus, 1993). Neste sentido, os comportamentos violentos podem assumir um carater verbal, psicológico, sexual e cyberbullying (Almeida, Silva, & Campos, 2008; Carvalhosa, Lima, & Matos, 2002; Silva, 2010) desempenhando os adolescentes papéis de vítima, agressor, vitima/ agressor e observador ou não envolvido (Martins, & Castro, 2010; Sousa, Pereira, & Lourenço, 2011). É no sexo feminino que se verifica uma maior prevalência de comportamentos de natureza verbal e de vitimização, ao invés do sexo masculino onde a prevalência é mais elevada para comportamentos de natureza física e de agressão (Bandeira, & Hutz, 2012; Beckman, Hagquist, & Hellstrom, 2013; Erginoz et. al., 2013; Freire, Simão, & Ferreira, 2006; Marées e Peterman, 2013; Seixas, 2005; 2006; Silva, Pereira, Mendonça, Nunes, & Oliveira, 2013).
A associação existente entre autoestima e adoção de comportamentos agressivos é frequentemente abordada e estudada em diversas investigações (e.g Idemudia, 2013). No entanto, também a relação entre autoestima e comportamentos de vitimização começa a ser alvo de estudo por parte de diversos investigadores (e.g., Brito, & Oliveira, 2013; Powel & Jenson, 2010). A baixa autoestima surge assim associada a dificuldades de relacionamento interpessoal (Heatherton, & Wyland, 2003), facilitando o distanciamento do grupo de pares e consequentemente a exposição a comportamentos de violência (Leary, Tweng, & Quinlivan, 2006, Marriel et al., 2006; Nansel, et al., 2001; Ortega, & Mora-Merchán, 2008; Salmivalli, & Issacs, 2005, Yubero, Ovejero, & Larrañaga, 2010). Por outro lado, e consequência do deficitário relacionamento com os pares adolescentes com baixa autoestima tendem a perpetrar comportamentos violentos (e.g. Fanti, & Henrich, 2014). A agressão surge assim como forma de demarcar uma posição perante os outros (Baumeister et al., 1996; Fanti, & Henrich, 2014; Ruiz et al., 2009).
Idemudia (2013) realizou uma investigação com 500 estudantes cujas idades estavam compreendidas entre os 14 e os 20 anos através da qual concluiu que um elevado envolvimento em comportamentos de agressão escolar (Bullie) apresentava baixos níveis de autoestima. Também Rigby e Cox (1996), num estudo com 763 estudantes, com idades compreendidas entre os 13 e os 17 anos, constataram que participantes do sexo feminino (n= 411) perpetradores de agressões demonstravam níveis de autoestima significativamente baixos.
Por outro lado, Powel e Jenson (2010) realizaram um estudo com 150 estudantes do sexo feminino, com uma média de idades de 13,5 anos cujo objetivo principal era a compreensão dos fatores associados a condutas de vitimização em contexto de pares. Os autores verificaram, tal como esperado, que níveis baixos de autoestima constituem-se como fortes preditores de situações de vitimização.
Comparando adolescentes envolvidos em comportamentos de bullying e adolescentes isentos de qualquer tipo de envolvimento, O'Moore e Kirkham (2001) encontraram a evidência, num estudo com 8249 crianças e adolescentes com idades compreendidas entre os 8 e os 18 anos de idade, de que adolescentes envolvidos em situações de bullying, sendo agressores ou vítimas, relatam níveis baixos de autoestima quando comparados com os jovens não envolvidos em situações deste tipo. Os autores destacam ainda os níveis de autoestima encontrados no grupo de adolescentes que eram vítima e agressor em simultâneo, afirmando-os inferiores quando comparados com os dos adolescentes que têm outros tipos de envolvimento no bullying.
Tendo em conta o que tem vindo a ser dito, o estabelecimento de vínculos afetivos com os pares, potenciadores do desenvolvimento de sentimentos de segurança, confiança e autoestima positiva, surge como um fator protetor no que refere ao envolvimento dos adolescentes em comportamentos de bullying (Simões et al., 2015). Neste seguimento, e embora a literatura se mostre ambígua no que refere à prática de comportamentos agressivos, poderá verificar-se ainda que os jovens com um desenvolvimento positivo da autoestima poderão ter menor suscetibilidade ao envolvimento em situações de violência escolar.
Vinculação aos pares e bullying na adolescência parecem associar-se, mostrando-se possível que a autoestima desempenhe um papel mediador nesta associação. Como tal, torna-se pertinente uma melhor compreensão acerca dos processos que conduzem às práticas de bullying e consequentemente prevenir o envolvimento dos adolescentes em situações de agressão e vitimização.
Objetivos e hipóteses
O principal objetivo da presente investigação centra-se testagem dos mecanismos de predição da vinculação aos pares nos diversos comportamentos de bullying, assim como, na análise do papel mediador da autoestima na associação anterior. Deste modo, aguarda-se que uma qualidade de vinculação mais elevada aos pares seja um preditor significativo do não envolvimento dos adolescentes quer em comportamentos de agressão quer em comportamentos de vitimização, tendo a autoestima um papel mediador na associação referida.
Método
Participantes
A amostra foi constituída por 351 adolescentes com idades compreendidas entre os 12 e os 17 anos de idade (M = 13.55, DF = 1.08), dos quais 144 (41 %) são do sexo masculino e 207 (59 %) do sexo feminino. Os participantes frequentavam o 3° ciclo de escolaridade (M = 8.12, DF = .80) em escolas do norte de Portugal, sendo que 94 (26.8 %) frequentavam o 7° ano de escolaridade, 122 (34.8 %) o 8° ano de escolaridade e 135 (38.5 %) o 9° ano de escolaridade. Relativamente às figuras parentais, as idades dos pais eram compreendidas entre os 32 e os 70 anos de idade (M = 45.13, DF =6.36) enquanto as idades das mães se encontravam entre os 30 e os 66 anos de idade (M = 43.16, DF = 5.69).
Instrumentos
Questionário sociodemográfico - Este instrumento foi construído para efeitos do presente estudo de modo a facultar informações demográficas relativas à idade e sexo dos adolescentes assim como ao grau de escolaridade dos pais e estatuto marital, entre outras.
Rosenberg's Self-Esteem Scale/Escala de Auto-estima de Rosenberg - Esta escala foi desenvolvida por Rosenberg em 1965 e adaptada posteriormente por Rocha e Matos (2003 citado em Rocha, 2008). A Escala de Autoestima de Rosenberg é um instrumento unidimensional que avalia a autoestima global do indivíduo. Neste estudo optou-se por uma escala de resposta em quatro pontos de 1 (Discordo fortemente) a 4 (Concordo fortemente) de forma a uniformizar e facilitar o seu preenchimento. A análise de consistência interna realizada na presente investigação revela valores de alpha de Cronbach de .85. As análises fatoriais confirmatórias verificaram que a Escala de Autoestima de Rosenberg apresenta índices de ajustamento adequados, de acordo com uma solução em dois fatores de 1a ordem e um de 2a (consulte-se Shahani, Dipboye, & Phillips, 1990) (SRMR = 0.05, CFI = 0.97, RMSEA = .07, Χ 2(32) = 81.08, P = .00, Χ 2/GL = 2.53).
Inventory of Parent and Peer attachment - IPPA - O presente inventário foi construído por Armsden e Greenberg (1987) e traduzido para a língua Portuguesa por Ferreira e Costa (1998, cit. in Ferreira, 1998). Este é um instrumento multifatorial de autorrelato que pretende avaliar a qualidade da vinculação aos pais e aos pares. No presente estudo utilizou-se apenas a versão pares, sendo que os itens constituintes da mesma estão distribuídos ao longo de três dimensões denominadas Confiança (coNF), Comunicação (COM) e Alienação (AL). O formato de resposta é do tipo Likert tendo sido utilizada uma escala de cinco pontos neste estudo, variando entre 1 (Nunca) e 5 (Sempre). A análise de consistência interna realizada revelou valores de alpha de Cronbach de .84 para a dimensão CONF, .83 para a dimensão COM e, por fim, .81 para a dimensão AL. As análises fatoriais confirmatórias verificaram que o IPPA apresenta índices de ajustamento adequados à exceção do valor RMSEA e do Rácio que se encontram um pouco acima do esperado (SRMR =.08, CFI = .95, RMSEA = .12, Χ 2 (19) = 122.518, p = .00, Χ 2 /gl = 6.45).
Questionário de exclusão social e violência escolar -QEVE- O questionário de exclusão social e violência escolar resulta de uma adaptação de um instrumento elaborado por Diaz-Aguado, Arias e Seoane (2004) realizada por Martins (2009). Trata-se de um questionário de autorrelato constituído por três subescalas principais que visam avaliar o envolvimento do respondente no fenómeno bullying, quer como vítima, como agressor e/ou como observador. A subescala relativa à vitimização é constituída por dois fatores referentes à exclusão social e agressão verbal (ESAVV) e à agressão física (AFV). O mesmo acontece na subescala relativa às práticas de agressão, composta também esta por dois fatores relativos à exclusão social e agressão verbal (ESAVA) e à agressão física (AFA). Embora as três subescalas sejam constituídas pelo mesmo número de itens, o bloco de itens relativos à observação de comportamentos de agressão/vitimização é composto por três fatores: Violência com agressão menor (VAMO), exclusão social e agressão verbal (ESAVO) e violência com agressão grave (VAGO). O formato de resposta contempla uma escala do tipo Likert que varia entre 1 (Nunca) a 4 (Quase sempre).
A análise de consistência interna realizada para as diferentes subescalas apontou para valores de alpha de .85 para a subescala relativa à vítima, .86 para a subescala relativa ao agressor e .93 para a subescala relativa ao observador. As análises fatoriais confirmatórias para a presente amostra indicaram que o QEVE apresenta índices de ajustamento adequados ao modelo (SRMR = .05, CFI = .93, RMSEA = .08, Χ 2 (168) = 589.65, p = .00, Χ 2 /gl = 3.51).
Procedimento
Após a elaboração do protocolo de investigação, procedeu-se à adequação da componente formal e semântica do instrumento, determinando-se ainda o tempo de administração provável na amostra efetiva.
A recolha da amostra direcionou-se para alunos do 3° Ciclo do ensino público pertencentes a estabelecimentos de ensino localizados nos distritos de Vila Real, Viseu e Porto. Foram dirigidos pedidos de autorização para a aplicação do protocolo de investigação aos Diretores do Concelho Executivo de cada estabelecimento de ensino através de carta e de email. Posteriormente foi efetuada uma exposição presencial do protocolo e dadas as informações relativas ao mesmo. Obtidas as autorizações de recolha, e tendo presente a idade da população alvo, foram elaborados e entregues aos alunos consentimentos informados. Os consentimentos informados, preenchidos pelos encarregados de educação foram recolhidos em cooperação com os diretores de turma. A fase posterior foi a aplicação do protocolo de investigação, tendo sido entregues as instruções standard da aplicação aos mesmos, sendo facultadas aos alunos as instruções de preenchimento, assim como as indicações relativas ao seu carater voluntário e confidencial do estudo.
Análise dos dados
Com o objetivo de proceder à avaliação dos mecanismos de predição da vinculação aos pares nos comportamentos de agressão e vitimização assim como o efeito mediador da autoestima na associação anterior, recorreu-se à elaboração de Modelos de Equações Estruturais combinando modelos de path analysis com variáveis latentes, com recurso ao programa AMOS na versão 23.0 (Maroco, 2007, 2010; Pallant, 2005). Numa primeira fase foi testado o efeito direto das variáveis de comportamento de bullying e na autoestima. Posteriormente a variável autoestima, enquanto mediadora foi introduzida de forma conjunta, testando efeitos diretos, indiretos e mediadores no modelo.
Resultados
De forma a perceber o efeito preditor da vinculação aos pares no comportamento de bullying e o papel mediador que a autoestima desempenha nesta associação, procedeu-se à realização de um modelo de equações estruturais resultante de uma combinação de modelos de path analyses com variáveis latentes.
Os resultados permitem observar a existência de um efeito preditor negativo da vinculação aos pares nos comportamentos de bullying referentes à vitimização - exclusão social e agressão verbal (β = -.37, p < .001) e agressão física (β = -.14, p = .001). De ressaltar que, no que refere à predição de comportamentos de agressão, apenas se observa um efeito preditor negativo da vinculação aos pares nos comportamentos de exclusão social e agressão verbal (β = -.20, p < .001). A vinculação aos pares exerce ainda um efeito preditor positivo na autoestima (β = .12, p = .039). Verificou-se ainda um efeito preditor negativo da autoestima nos comportamentos de vitimização - exclusão social e agressão verbal (β = -.22, p = .044) e agressão física (β = -.18, p = .001) - assim como nos comportamentos de agressão relativos à exclusão social e agressão verbal (β = -.12, p = .021) (videfigura 1).
Após a introdução da variável mediadora (autoestima), e com recurso ao procedimento de Boots-traping, observa-se que o efeito direto inicial da vinculação aos pares sobre comportamentos de vitimização relativos à agressão física (β = -.14, p= .001) perde magnitude e significância (β = -.07, p> .005) o que revela a existência de uma mediação total (β = -.048; IC 90% [-0.092; -0.023]). Ainda neste modelo, observa-se que o efeito inicial da vinculação aos pares nos comportamentos de vitimização relativos à exclusão social e agressão verbal (β = -.37, p<.001) perde magnitude de efeito aquando da introdução da variável mediadora (β = -.31, p>.005), comprovando a existência de uma mediação parcial (β = -.031; IC 90% [-0.063; -0.004]) (videfigura 1).
No que respeita aos índices de ajustamento do modelo final, estes encontram-se adequados à exceção do RMSEA2 e do Rácio3 = (X 2/gl) que se encontram um pouco elevados para o que seria esperado (X 2 (9) = 69.921, p =.000, Rácio = 7. 77, CFI = .93, GFI =.95, RMR =.04, RMSEA =.13) (videfigura 1).
Discussão
O presente estudo teve como objetivos a testagem do efeito preditor da vinculação aos pares nos diversos comportamentos de bullying, assim como, a análise do papel mediador da autoestima na associação anterior.
Os resultados permitem perceber a existência de um efeito preditor negativo da vinculação aos pares nos comportamentos de vitimização e também nos comportamentos de agressão, predizendo apenas comportamentos relativos à agressão por meio da exclusão social e agressão verbal. Desta forma, pode compreender-se que a qualidade dos vínculos afetivos estabelecidos com os pares, pautada por sentimentos de confiança e comunicação, permite ao adolescente envolver-se com menor frequência quer em comportamentos de vitimização, quer na perpetração de comportamentos agressivos por meio da exclusão social e agressão verbal.
A permanência de sentimentos de confiança nas relações com os pares permite ao adolescente encontrar nos outros significativos um porto seguro, ou seja, o outro é visto como fonte de apoio e proteção. É assim promovida a partilha de sentimentos relativos à sua intimidade assim como a permanência de sentimentos de ajuda ativa e complacência na interação pares-adolescente (e.g. Mota, & Matos, 2013; You et al., 2015). Deste modo, a capacidade de comunicação e partilha resultante dos sentimentos de confiança presentes, sugere a existência de vínculos afetivos de qualidade com os demais, dos quais provêm também sentimentos de segurança. Estas caraterísticas presentes nos laços afetivos construídos entre iguais parecem assim facilitar e promover o ajustamento e desenvolvimento do adolescente no contexto estudado na presente investigação, a escola. Vínculos seguros com os pares permitem assim que o adolescente elabore modelos internos dinâmicos acerca de si, dos outros e do mundo capazes de promover, não só a superação das tarefas desenvolvimentais caraterísticas desta fase do ciclo vital, mas também o ajustamento social por meio da regulação emocional e do relacionamento interpessoal de qualidade (e.g. Fass, & Tubman, 2002; Gorrese & Ruggieri, 2012; Laible et al., 2000; Ribeiro et al., 2012; Tambelli et al., 2012). Por outro lado, e como já referido, a presença de vínculos seguros sugere que os pares desempenhem com maior frequência as funções de porto seguro (e.g. Nickerson, & Nagle, 2004; Mayseless, 2004), onde imperam sentimentos de respeito e ajuda mútua, e onde os pares são capazes de proporcionar apoio e proteção não só a nível físico, como emocional e social. Esta reciprocidade permite assim ao adolescente vivenciar as suas relações afetivas de forma igualitária, recorrendo ao outro quando necessita e prestando cuidados quando necessário. Sendo o "desiquilíbrio de poder" entre o agressor e a vítima uma das caraterísticas apontadas por Olweus (1993) como fundamentais para a existência de situações de bullying, sugere-se que a presença de equitatividade e simetria nas relações com os pares (Furman et al., 2002) permite combater esses desequilíbrios e por conseguinte, proteger o adolescente de qualquer tipo de envolvimento no bullying. As relações afetivas de qualidade com os pares parecem ainda associar-se à internalização de sentimentos de pertença ao grupo. É esta integração e sentimento de pertença, juntamente com o equilíbrio emocional resultante do estabelecimento de laços afetivos de qualidade, que por um lado permite que o adolescente não sinta necessidade de se destacar no grupo de iguais e por outro se sinta mais apoiado para se defender de situações agressivas, fatores apontados pela literatura como fundamentais ao envolvimento do adolescente em situações de vitimização e agressão escolar (e.g. Bruyn et al., 2010; Erginoz et al., 2015; Ruiz et al., 2009; Yubero et al., 2011). O estabelecimento de laços vinculativos de qualidade com os pares surge, neste contexto, como um fator protetor e facilitador do não envolvimento do adolescente em condutas de vitimização, quer estas sejam relativas a agressões físicas ou agressões por meio de exclusão social e agressão verbal.
Apenas se encontrou um efeito preditivo da vinculação aos pares nas condutas de agressão por meio da exclusão social e agressão verbal. Tal resultado parece associar-se à forma como a agressão é perpetrada e ao sexo associado à mesma. De outro modo, o sexo feminino consistentemente apresenta associações com condutas de bullying indiretas e verbais, tais como a exclusão social e agressão verbal, ao invés do sexo masculino, mais associado a condutas de bullying direto, físico (e.g. Bandeira & Hutz, 2012). Deste modo, jovens que têm ligações menos pautadas por comunicação e confiança nos pares e assumem um maior cariz de alienação podem comprometer o desenvolvimento de condutas positivas para com o contexto, nomeadamente nas relações com os pares. Assim, as raparigas apresentam tendencialmente maior dependência da representação que os relacionamentos com os pares manifestam (e.g. Crosnoe & Elder, 2004; Cross & Madson, 1997), pelo que poderá verificar-se que os vínculos estabelecidos não só se associam à prática de condutas agressivas como exercem um efeito preditor sobre as mesmas, ao invés do que acontece com as condutas de índole física, mais observadas nos rapazes. Os resultados obtidos no presente estudo surgem assim corroborados por estudos nos quais se verifica a existência de um efeito preditor e protetor da vinculação aos pares nas condutas de vitimização e agressão em contexto escolar (Bruyn et al., 2010; Burton et al., 2013; Kokkinos, 2007; You et al., 2015; Yubero et al., 2011). Destaca-se o estudo realizado por Simões e colaboradores (2015), cujos resultados apontam na mesma direção, indicando que indivíduos que mantêm relações afetivas de qualidade com os seus pares se encontram menos expostos ao envolvimento em comportamentos de bullying, seja este como vítima ou como agressor.
Os resultados permitem ainda perceber a existência de um efeito preditor negativo da autoestima nos comportamentos de vitimização, podendo assim perceber-se que adolescentes detentores de níveis mais elevados de autoestima tendem a encontrar-se menos expostos a condutas de vitimização. Os resultados relativos a este efeito de predição são completamente esperados. Adolescentes cujo desenvolvimento da autoestima acontece de forma salutar, tendem a perceber o mundo de forma positiva, potenciando a sua autoconfiança, a autovalorização e a sua regulação emocional (Schultheisz, & Aprile, 2013; Serra, 1988). Por sua vez, o negativismo presente em jovens com baixa autoestima parece não só potenciar descompensações a nível emocional, como dificuldades relativas ao estabelecimento e gestão de relações interpessoais.
As dificuldades ao nível das habilidades sociais presentes em adolescentes com baixa autoestima, baseadas no afastamento e retraimento face aos pares, associadas à falta de autoconfiança, implementam no individuo sentimentos de inferioridade (e.g. Heatherton & Wyland, 2003; Serra, 1988), capazes de recriar sentimentos de incapacidade da autodefesa perante a perpetração de condutas agressivas. Por outro lado, as caraterísticas apresentadas em jovens com baixa autoestima tendem a pronunciar sentimentos de fragilidade potenciadores da criação de desequilíbrios de poder, neste caso emocionais. Deste modo, a baixa autoestima e todos os fatores que lhe estão associados, parecem contribuir para o acréscimo da vulnerabilidade do adolescente a comportamentos de vitimização, quer pela presença de disparidades emocionais entre pares quer pela escassez de apoio social e autoconfiança, fatores apontados pela literatura como fundamentais ao envolvimento em condutas de vitimização (e.g. Brito & Oliveira, 2013; Marriel et al., 2006; Olweus, 1993; Ortega & Mora-Merchán, 2008). As conclusões que são avançadas acerca da autoestima predizer negativamente os comportamentos de vitimização em contexto escolar encontram-se suportadas pela literatura (e.g. Powel & Jenson, 2010). Powel e Jenson (2010) encontraram no seu estudo evidências de que uma baixa autoestima constitui um fator de risco no que toca ao envolvimento dos participantes em situações de vitimização. Também O'Moore e Kirkham (2001) referem ao longo da sua investigação a presença de baixos níveis de autoestima em adolescentes que se encontravam envolvidos em situações de bullying, como agressores e como vítimas. Assim, jovens com uma imagem negativa de si parecem estar menos capazes de interagir com os pares, mostrar as suas ideias, desejos e opiniões, incorrendo em maior vulnerabilidade nas relações.
Por último, a análise do papel mediador da autoestima sugere a existência de uma mediação parcial negativa da autoestima na relação entre vinculação aos pares e comportamentos de vitimização relativos à exclusão social e agressão verbal. Deste modo, e de acordo com os resultados, é possível perceber que a qualidade relacional que os adolescentes mantêm com os pares exerce um efeito positivo sobre o desenvolvimento da autoestima, sendo que a interação entre as duas variáveis oferece um contributo para a redução de comportamentos de vitimização relativos à exclusão social e agressão verbal. Constata-se ainda a existência de uma mediação total negativa, verificando-se que a predição da vinculação aos pares nos comportamentos de vitimização relativos à agressão física é realizada integralmente através da autoestima.
Os presentes resultados fornecem dados empíricos de interesse, permitindo perceber a existência de contributos distintos da autoestima na relação existente entre as ligações afetivas construídas com os pares e o envolvimento que o adolescente mantém em situações de vitimização de carater mais direto - agressão física - e indireto - exclusão social e agressão verbal.
Os resultados sugerem assim que a interação entre o estabelecimento de vínculos afetivos de qualidade, baseados na confiança e comunicação e escassos em sentimentos de alienação, com níveis de autoestima elevados, permitem ao adolescente a aquisição de competências capazes de reduzir a vulnerabilidade a comportamentos de vitimização baseados na exclusão social e agressão verbal. Como referido anteriormente, a permanência de vínculos seguros aos pares potencia a presença de sentimentos de confiança capazes de reforçar a partilha de questões emocionais íntimas com o grupo de pares. Começam-se assim a desenvolver no adolescente sentimentos de compreensão mútua e pertença ao grupo (Mota & Matos, 2013; You et al., 2015). É a interação entre a confiança, a partilha e o lugar conseguido no grupo de pares que promove uma transmissão crescente de sentimentos de segurança capazes de internalizar no adolescente modelos positivos de si e dos outros, favorecendo o desenvolvimento salutar da autoestima (e.g. Armsden & Greenberg, 1987; Barbosa et al., 2011; Fass & Tubman, 2002; Guarnieri et al., 2010; Mota & Matos, 2009). Por sua vez, elevados níveis de autoestima promovem no adolescente sentimentos positivos e compensatórios a nível emocional capazes de promover a autoconfiança, a resolução de problemas de forma adaptativa e o relacionamento interpessoal de qualidade (e.g. Heatherton & Wyland, 2003; Serra, 1988; Schultheisz & Aprile, 2013). A presença de uma vinculação aos pares segura e a constância de níveis elevados de autoestima surgem assim como reforço na promoção de relações interpessoais de qualidade, permitindo que o adolescente não só encontre no seu grupo de pares portos seguros prestadores de apoio emocional, físico e social mas também uma fonte de confiança pessoal. Neste sentido, sugere-se que, perante a presença de vínculos seguros e níveis de autoestima positivos se verifique um decréscimo da exposição a comportamentos de vitimização. Deste modo, propõe-se assim que a interação entre o estabelecimento de vínculos de qualidade com os pares e uma autoestima positiva se mostrem como contributos fundamentais à proteção do envolvimento dos adolescentes em condutas de vitimização relativas à exclusão social e agressão verbal.
Por outro lado, o efeito de mediação total da autoestima na predição entre vinculação aos pares e comportamentos relativos à vitimização por meio de agressões físicas propõe que, mais do que no efeito de predição da vitimização por exclusão social e agressão verbal, é nos comportamentos de índole físico que o papel da autoestima ganha ainda mais preponderância. Deste modo, os resultados sugerem que mesmo em situações em que impere uma baixa qualidade de vinculação aos pares, o facto de persistir uma autoestima positiva parece proteger o adolescente, reduzindo a vulnerabilidade do mesmo a situações de vitimização por meio de agressões físicas.
Como exposto ao longo da presente discussão, a qualidade dos laços afetivos estabelecidos com os pares encontra-se intimamente ligada ao desenvolvimento salutar do self Sugere-se, portanto, que, mesmo na fase da adolescência onde as relações com os pares amigos ocupam um lugar de destaque, existem outros fatores passiveis de exercer um efeito sobre o desenvolvimento salutar da autoestima, tais como a qualidade dos vínculos afetivos estabelecidos com os pais (e.g. Peixoto, 2004; Rocha et al., 2011). Na continuidade, a autoestima positiva surge, neste contexto, como fator protetor à envolvência em comportamentos de vitimização por meio de agressões físicas, indicando que uma autoestima elevada poderá associar-se à diminuição da vulnerabilidade face ao risco.
A revisão de literatura de Lisboa, Braga e Ebert (2009), destaca a necessidade de promover habilidades de sociabilidade e superação de dificuldades e níveis de autoestima positivos, de modo a reduzir o envolvimento do adolescente em situações de violência escolar. Esta questão mostra-se assim em concordância com os resultados da presente investigação, já que se advoga que o desenvolvimento salutar da autoestima e das relações estabelecidas com os pares parece constituir um fator protetor face ao envolvimento do adolescente em situações de vitimização escolar. Os dados revelam assim a importância que a qualidade dos laços afetivos estabelecida com os pares no período da adolescência mantém na redução de comportamentos de vitimização, destacando o contributo fundamental da autoestima nesta associação.
Implicações práticas, limitações e pistas futuras
A presente investigação apresenta contributos práticos passiveis de conduzir a uma melhor compreensão da violência escolar, abordando alguns fatores inerentes ao envolvimento do adolescente em situações de vitimização e agressão escolar. Tal como seria esperado foi possível perceber que o estabelecimento de vínculos de qualidade com os pares potenciam o desenvolvimento positivo da autoestima. Todavia a presença de vínculos de qualidade com os pares parece exercer um fator protetor no envolvimento dos adolescentes em situações de vitimização e agressão escolar. Neste sentido a autoestima mostrou ser uma variável relevante enquanto mediadora na associação entre vinculação aos pares e comportamentos de vitimização, permitindo perceber que uma melhor qualidade relacional com os pares permite o desenvolvimento salutar da autoestima, reduzindo a interação entre estas variáveis a exposição dos adolescentes a condutas de vitimização.
A presente investigação apresenta algumas limitações. Primariamente ressalta-se o carater transversal do presente estudo, constituindo-se este como uma limitação dada a impossibilidade de constituir relações causais. A utilização de questionários de autorrelato assume também uma limitação do presente estudo dado o carater subjetivo da interpretação do mesmo por parte dos participantes. Aponta-se ainda uma outra limitação referente à faixa etária utilizada na amostra, sendo que abarca apenas adolescentes de um ciclo de estudos. Por fim, ressalta-se a limitação referente à avaliação das relações de vinculação, sendo que na presente investigação apenas foram avaliadas as relações de afetividade estabelecidas com os pares. Como tal, seria pertinente a realização futura de estudos longitudinais assim como uma análise mais abrangente contemplando vários ciclos de estudos. Sugere-se ainda a avaliação das componentes de vinculação às figuras parentais assim como a outras figuras de destaque na vida do adolescente (e.g. irmãos, avós, professores), constituindo esta um complemento à presente investigação. Algumas implicações práticas poderiam versar a implementação de ações de intervenção escolar junto dos jovens, de modo a prevenir comportamentos de violência entre pares e desenvolver estratégias de coping face às adversidades. Seria ainda relevante o desenvolvimento de equipas técnicas especializadas no contexto escolar, realizando a deteção precoce de situações de exclusão social, e encaminhamento para os cuidados de saúde.