INTRODUÇÃO
A gestação é um processo caracterizado por intensas transformações fisiológicas, que visam adaptar os sistemas à nova condição. Essas mudanças se iniciam na primeira semana e se prolongam até o final da gravidez, quando, após o parto, se inicia o processo de retorno às condições pré-gravídicas 1 , 2 . Essas modificações, em sua maioria, ocorrem sem distorcias, sendo a gestação chamada de baixo risco, de risco habitual, ou fisiológico. Porém, uma parcela desenvolve intercorrências e complicações durante esse período, podendo resultar em sequelas tanto para a mãe quanto para o feto, sendo denominadas gestações de alto risco, as quais demandam uma maior atenção e acompanhamento 3 .
Dentre as complicações mais frequentes na gravidez, a Síndrome hipertensiva é a primeira causa de mortalidade materna no Brasil, sendo a maior responsável pelo elevado número de óbitos perinatais, além do aumento significativo de neonatos com sequelas. Além disso, é uma doença multissistêmica, caracterizada por manifestações clínicas como hipertensão e proteinúria, as quais se manifestam a partir da vigésima semana de gestação, denominando-se pré-eclâmpsia. Nas suas formas graves, em virtude da irritabilidade do sistema nervoso, instalam-se as convulsões e a doença é chamada eclampsia. O edema, outrora considerado forte indicador para esta patologia, entra atualmente como critério de risco e não de definição 4 .
Apesar da relevância para a saúde pública, a etiologia da Hipertenção Gestacional ainda permanece desconhecida 5 - 7 . Sabe-se, que para sua ocorrência, a presença da placenta é obrigatória, dado que um defeito da invasão trofoblástica nas arteríolas espiraladas maternas é o principal desencadeante 8 . Apesar disso, não é sabido se essa alteração é derivada de causas genéticas, imunológicas ou ambientais. Alguns fatores predisponentes são conhecidos, como os extremos da idade fértil (menor que 15 e maior que 35 anos), primíparas (primeiro parto), multíparas (a partir de quatro partos), raça negra, hipertensão crônica, baixo nível socioeconômico e familiares de primeiro grau com história de pré-eclâmpsia 3 .
A Síndrome hipertensiva gestacional pode repercutir em vários sistemas vitais da mulher, levando a alterações hepáticas, cerebrais, sanguíneas, hidroeletrolíticas e uteroplacentárias, e o prognóstico vincula-se à presença de crises convulsivas. Em relação à mortalidade, na eclâmpsia mostra-se elevada, enquanto que na pré-eclâmpsia é rara, exceto quando se incide a síndrome HELLP, que caracteriza-se por hemólise (H), aumento das enzimas hepáticas (EL) e plaquetopenia (LP). Já para o feto, advém o retardo no crescimento intrauterino, infartos placentários, descolamento prematuro da placenta, prematuridade e oligodrâmnia 5 .
Nesse sentido, urge a importância de uma equipe preparada para atender pacientes com tal desordem, sendo essencial a presença do Enfermeiro, que deve acolher e acompanhar a gestante com síndrome hipertensiva com dignidade e humanização, durante todo o trabalho de parto e nascimento, prestando também suporte emocional, já que esse é um período de extrema ansiedade e medo 2 .
A enfermagem é considerada a categoria profissional que desempenha um papel essencial para o atendimento ao ser humano em todas as suas dimensões, sendo que estabelece o primeiro vínculo, ao acolher essa gestante na instituição, e a acompanha no decorrer de todo o processo de parto e puerpério 3 . Assim, apontamos que a assistência de Enfermeiros à pacientes com Síndrome hipertensiva durante todo o processo de parto e nascimento é essencial para resguardar a saúde do binômio mãe-filho, prevenindo complicações e assistindo as intercorrências, refletindo na qualidade da assistência prestada e preservando a vida humana. Dessa forma, este estudo teve por objetivo analisar a assistência de enfermeiros às gestantes com síndrome hipertensiva gestacional em hospital de baixo risco obstétrico.
MATERIAIS E MÉTODOS
O presente estudo trata-se de uma pesquisa de campo descritiva, exploratória, com abordagem qualitativa. As pesquisas qualitativas se caracterizam pelo tratamento dado às informações coletadas e a sua organização e análise, que, tem como meta final a constatação de uma nova percepção do fenômeno em estudo, como foi o caso deste trabalho 9 . A pesquisa foi desenvolvida em uma Maternidade Municipal de uma cidade do interior da Bahia, Brasil, que é referência em saúde da mulher no Município e macrorregião. Salienta-se que no que tange a assistência obstétrica, este hospital é para baixo risco, sendo os casos mais graves transferidos para outro hospital em cidade vizinha. Os colaboradores incluídos na pesquisa foram aqueles que aceitaram contribuir com o presente estudo, sendo estes, enfermeiros inseridos na sala de parto, emergência e alojamento conjunto, abrangendo um total de nove participantes. Dois possíveis candidatos se recusaram a participar, sendo que um alegou desinteresse, e o outro não se sentiu à vontade.
A coleta de dados ocorreu em uma sala reservada do hospital, entre os meses de agosto e setembro de 2013 guiada através de um formulário semiestruturado, contendo seis questões abertas referentes ao objetivo proposto. As entrevistas foram gravadas, e seu conteúdo transcrito na íntegra. Para manter o rigor no estudo, todo o material transcrito ficou disponível para todos os participantes, a fim de verificarem se estavam contemplados na forma como os dados foram transcritos. Para tal estratégia, como ferramenta de apoio, atendeu-se aos critérios consolidados para o Reporting Pesquisa Qualitativa (COREQ). Essa etapa foi realizada por uma das autoras da pesquisa, na época graduanda, sob a supervisão da orientadora.
Cabe ressaltar que o início da coleta se deu após a devida aprovação pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade do Estado da Bahia, com parecer nº 332.764 e CAAE nº 14003113.2.0000.0057, tendo os colaboradores concordado com a participação, assinando o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido. Foram respeitados os aspectos éticos presentes na resolução 466/12 do Conselho Nacional de Saúde (CNS), e os princípios da beneficência, não maleficência, autonomia e confidencialidade. A identificação dos colaboradores foi através de siglas que descrevem o colaborador pela ordem em que foi entrevistado (P1, P2, P3...) e o setor que está inserido, abreviados como EME: Emergência, SP: Sala de Parto e AC: Alojamento Conjunto e berçário, ficando ao final identificados como: P1-EME, P2-SP, P3-AC, P4-SP, P5-EME, P6-SP, P7-AC, P8-SP e P9-SP. Ressalta-se que o Hospital x é a instituição de referência para alto risco materno e neonatal em toda a macrorregião, sendo que foi denominada desta forma para preservar o referido Nosocômio.
Os resultados foram organizados de acordo com a técnica de análise de conteúdo proposto por Bardin, o qual se trata de um conjunto de técnicas de análise de comunicação, que tem por objetivo ultrapassar as incertezas e enriquecer a leitura dos dados coletados. Para chegar a tal objetivo foram precedidas as seguintes etapas da técnica: Pré-análise, em que houve a organização do material a ser analisado; na segunda etapa os materiais foram explorados, com a definição de categorias, a saber: abordagem do enfermeiro às mulheres com síndrome hipertensiva gestacional; fatores que dificultam uma adequada assistência; atuação essencial do enfermeiro para preservação da vida do binômio mãe-filho, e, por fim, o tratamento dos resultados, orientado pela condensação e destacando as informações para análise 9 , 10 .
RESULTADOS E DISCUSSÃO
A partir da organização das falas dos enfermeiros participantes da pesquisa, houve a elaboração de categorias com o objetivo de dimensionar os resultados obtidos, que, por conseguinte, revelou novas subcategorias de grande valia para o saber científico relacionado à assistência de enfermeiros às gestantes com síndrome hipertensiva.
Foram entrevistados nove enfermeiros que atuam nos lócus de estudo, sendo dois alocados na emergência, duas no alojamento conjunto e cinco na sala de parto. Oito participantes foram mulheres e apenas um homem, o que reafirma a cultura da predominância das mulheres na Enfermagem. Seis dessas entrevistadas se autodeclararam brancas e outras três pardas; sete possuem pós-graduação Lato Sensu em obstetrícia, e duas estão em andamento no curso, sendo estas atuantes no alojamento conjunto. O tempo de formação variou de quatro a trinta e quatro anos, o que representou um diferencial expressivo de experiências vivenciadas por cada enfermeiro entrevistado. As falas obtidas foram organizadas em três categorias gerais, descritas a seguir.
Abordagem do enfermeiro às mulheres com síndrome hipertensiva gestacional
Esta categoria discorre sobre a abordagem dada pelo enfermeiro às mulheres em síndrome hipertensiva gestacional. Os enfermeiros atuantes na emergência foram considerados os encarregados de avaliar e estabilizar essas pacientes para, só após, realizar o devido encaminhamento. Esta divisão de condutas está explícita nas falas a seguir:
No Alojamento conjunto, não ficamos com essas pacientes. Caso seja necessário, encaminhamos para a Emergência, ou eles dão suporte para a gente (P3 AC).
Tem aquele olhar pra perceber de imediato, o que é essencial. Eu vejo que em locais que não tem enfermeiro, se perde muitas pacientes por causa disso, e tem que capacitar, tem que estar preparado. (P4 SP).
De primeiro momento a gente vai avaliar as queixas e os sinais vitais, uma vez a pressão alterada a gente já coleta a urina pra fazer o Labstix, isso imediatamente, por sonda [...] a gente também associa as queixas, se ta com cefaléia, a gente avalia o edema, a porcentagem do edema, e coleta também o histórico da paciente, olha o cartão da gestante pra ver se já faz uso de alguma medicação, faz toda uma anamnese [...] ao mesmo tempo, eu já tô solicitando a transferência dessa paciente para um serviço de referência, que não aqui. (P1 EME).
[...] Em alguns casos quando a pressão esta muito alta vai começar a fazer os medicamentos, sulfato de magnésio, a depender do valor se faz a hidralazina, de 20 em 20min [...] a paciente estando equilibrada a gente encaminha (P5 EME).
Nestas falas, os participantes foram categóricos ao explanar a sua atuação através da anamnese, a fim de coletar o histórico da paciente, e de um exame físico bem elaborado, os quais devem ser projetados de acordo com as necessidades de cada paciente, com o intuito de detectar sinais e sintomas. Essas condutas foram também desveladas por outros autores 11 .
Nesta conjuntura, a observação do edema foi um aspecto que emergiu. Salienta-se que este achado, na pré-Eclâmpsia, é derivado da maior permeabilidade capilar, que permite a passagem de fluidos do espaço intravascular para o intersticial, resultando em exagerada retenção de sal e água. Já a presença de proteínas na urina, a proteinúria, é detectada através de exame denominado Labstix, muito usado devido a sua grande praticidade (fitas reagentes). Consideram-se valores maiores ou correspondentes a 1+ suficientes para atestar a toxemia e a 3+ já indica um quadro grave, sendo ideal que a urina seja coletada através de uma sonda 5 , 10 .
Em outros setores, como a sala de parto e alojamento conjunto, foi referida a lógica da manuntenção e continuidade, assim como também de uma possível transferência.
[...] aí a gente vai dar sempre continuidade, e claro entra a parte da assistência, de continuar o sulfato de magnésio, as fases, e a avaliação que você tem que fazer periódica, a cada quatro horas, verificando os sinais, em função das atribuições e do que o sulfato de magnésio pode causar. (P3 AC).
Depois de feita a classificação como gravidez de risco, ela já é regulada pro Hospital X, elas não ficam aqui, é um caso ou outros mais leves. (P4 SP).
[...] a gente coloca numa cama, lateralizada, lado esquerdo, verifica a pressão, punciona uma veia, passa sonda e avisa ao médico [...]. (P6 SP).
Nota-se, sobretudo, que mesmo sem condições estruturais plenas de atender pacientes com toxemia (por não ser um serviço de alto risco), os enfermeiros buscam manter a estabilidade com o que lhes é oferecido, e que na maioria das vezes, a regulação para um serviço de alta complexidade é a conduta prioritária. A atuação ficou restrita à manutenção do controle e o monitoramento do risco iminente dessa gestação, e a partir disso, se ela seria mantida na maternidade ou transferida para assistência de alto risco.
O campo de atuação da Enfermagem na assistência ao parto é amplo, sendo constituído de competência técnica, humanizada e relacional. Esse conjunto de saberes forma o que é considerado Enfermeiro competente, sujeito considerado peça chave no processo do parto, por buscar exercer uma assistência eficiente, segura e com custos mais baixos, devido à redução das intervenções, centrada em ações humanísticas, buscando a preservação da vida de uma forma tranquila, acolhedora e sem traumas, tanto físicos quanto psicológicos 11 .
Nenhum dos participantes referiu nessa abordagem inicial à avaliação fetal, que foi referida apenas pelo enfermeiro P5 EME quando questionada sobre as repercussões advindas da síndrome hipertensiva para a mulher e o feto, sendo que, somente esse mesmo enfermeiro referiu algumas repercussões, pois os demais fugiram do foco central, respondendo repetidamente os sintomas da toxemia:
Dores gástricas, cefaléia, vômito, edema, proteinúria [...] e o sofrimento fetal. Nesse período de três anos que estou aqui só peguei um caso, onde estava se instalando a síndrome hellp [...]. (P5 EME).
Sabendo-se disso, cabe ressaltar, que é competência da enfermagem além de prestar uma assistência à saúde materna, incluir a avaliação da vitalidade fetal por meio do partograma e de exames complementares, estimulando o conforto e o bem estar através da diminuição da ansiedade e do medo, potencialização do poder vital da mulher, e a detecção precoce de intercorrências, o que contribui para um parto saudável e para a prevenção da morbimortalidade materna e perinatal 12 , 13 . Para isso, os seus conhecimentos técnico-científicos, atitude, ética e responsabilidade, são essenciais na assistência ao parto e nascimento 14 , 15 .
Fatores que dificultam uma adequada assistência
Esta categoria foi organizada em duas subcategorias, sendo a primeira denominada fatores institucionais, onde foi descrito fatores da própria unidade hospitalar que dificultam uma boa assistência à saúde da mãe e feto, e a segunda denominada fatores não institucionais que envolvem aspectos gerais, que não se relacionam necessariamente à instituição.
Fatores institucionais
Conforme foi relatado anteriormente, os fatores da instituição que dificultam uma assistência resolutiva a essas mulheres é justamente os que caracterizam a unidade como baixo risco. Prevaleceu nas falas dos enfermeiros que o intuito da assistência é estabilizar a paciente para um posterior encaminhamento a um Hospital referência, por não haver suporte adequado para atender essa mulher. Além disso, foi referido por outros a falta de uma bomba de infusão, dificultando assim, a efetividade na prestação dessa assistência.
Assim, a gente tenta tudo pra estabilizar essa mulher e ficar com ela se a pressão não aumentar, mas como a gente não é hospital de referência, sempre que dá encaminha. Manda para o Hospital X, que já tem UTI obstétrica e neonatal, mas a gente pretende, futuramente, ter tudo aqui. (P2 SP).
Aqui a gente não tem suporte adequado para estar com essa paciente, porque a gente sabe que sulfato deve correr em bomba de infusão, e aqui não tem bomba de infusão, se você não tem fica difícil controlar, ou vai a mais ou vai a menos. (P3 AC).
Aqui tem o suporte inicial [...] mas em uma complicação maior, ela vai precisar dar continuidade ao sulfato dentro de uma UTI obstétrica. (P8 SP).
Intrigante foi o fato de existirem as bombas de infusão, mas o seu uso não ocorre devido à falta de treinamento para tal, como descrito na seguinte fala:
[...] é importante dizer que a gente tem aqui a bomba de infusão, mas não teve o treinamento e é complicado o manuseio. (P2 SP).
Sabendo disso, percebe-se a necessidade de se investir em treinamento e orientação dos profissionais, o que ficou claro considerando a existência de um aparelho não conhecido por todos. Essa situação acaba por interferir na assistência, uma vez que o sulfato está sendo administrado sem a bomba de infusão, na tentativa de prestar uma assistência integral a essas pacientes. Porém quando nos embasamos na fala anterior do enfermeiro P2-SP, concluímos que essa alternativa é arriscada, e que pode provocar danos irreversíveis.
A principal escolha para tratamento e prevenção da Eclâmpsia é o Sulfato de Magnésio (MgSO4), benéfico na interrupção das convulsões e prevenção de recorrências, podendo este ser administrado por via endovenosa ou intramuscular. A principal limitação para o esquema endovenoso do Sulfato de Magnésio seria a necessidade de equipamentos (bomba de infusão) e treinamento da equipe, uma vez que infusões por gravidade, que consistem em frascos flexíveis suspensos por hastes, onde a pressão é controlada manualmente, podem acarretar em erros no volume infuso, principalmente quando são necessárias baixas vazões (menores que 50 ml/h), devido o volume infundido ser controlado visualmente e a pressão no equipo ser menor à medida que a coluna da solução do frasco diminui. Assim, uma administração equivocada pode provocar efeitos colaterais, materno-fetais, no caso de superdosagem, ou não prevenir/tratar as convulsões como desejado quando em quantidades inferiores à necessária 16 , 17 .
Fatores não institucionais
Esta subcategoria surgiu no decorrer da pesquisa, e de imediato destacou-se como alguns dos fatores que dificultam a assistência da enfermagem na prestação do cuidado à paciente com síndrome hipertensiva gestacional. São derivados de fontes externas à maternidade, partindo principalmente da atenção básica (falhas do acompanhamento no pré-natal) e também da importância de o profissional realizar uma assistência humanizada, o que remete a prevenção e orientação a essas pacientes.
Nas falas a seguir, é possível perceber a influência direta da assistência pré-natal nos atendimentos de pacientes que adentram a maternidade. Isso não somente para portadoras da toxemia, e sim, para todas.
[...] o que atrapalha é o tratamento dessa mulher durante o acompanhamento pré-natal, que muitas vezes não tá certo. Às vezes exame não chega, às vezes essa mulher não conseguiu nem a primeira consulta do alto risco e já vem parir, muitas vezes vem com orientações erradas, já vem com orientação de parto Cesário [...]. (P2 SP).
[...] as pessoas chegam desorientadas aqui, em relação a muitas coisas [...] (P2 SP).
[...] tudo que não foi feito antes (no pré-natal) a gente tem que fazer aqui, tanto o apoio psicológico como as orientações para o parto (P2 SP).
As vezes não é identificado. Acho que na unidade de saúde eles não tem de rotina proteinúria, o Labstix, e é fundamental pra identificar a pré-Eclâmpsia [...]. E identificando é alto risco, mas essa paciente tem que retornar, independente de ser alto risco, muitas vezes esquecem a paciente, e o acompanhamento deve ser dos dois, do enfermeiro e do alto risco. (P3 AC).
Muitas vezes a questão de instalação dos PSFs deixa a desejar, porque muitos profissionais que estão lá não tiveram essa vivência, e consequentemente acha que pressão 110x90 ou 120x90 é normal, por algo que comeu, e não é, pra uma gestante, primigesta, 120x90 já é algo a ser investigado. (P5 EME).
Conforme disposto nas falas, a participação dos profissionais da atenção básica está inteiramente relacionada a essa temática, pois conforme os depoimentos, as pacientes se apresentam desorientadas sobre o momento do parto, o que acaba acarretando em medo e ansiedade por parte das parturientes, podendo assim haver um desequilíbrio ainda maior no seu estado geral; e ainda a falta de preparo para o diagnóstico de uma gravidez de risco iminente, o que sugere a falta de educação continuada por parte desses profissionais ou a falta de uma assistência adequada.
É característica de um pré-natal de qualidade, a abordagem de temas essenciais para a educação em saúde dessas gestantes, através da consulta de Enfermagem e de atividades em grupo, onde os diversos temas serão explanados, como o desconforto próprio do período e maneiras de aliviá-lo, aspectos emocionais, nutrição adequada e ganho ponderal, sexualidade, aleitamento materno, desenvolvimento fetal, movimento do feto e contrações, sinais de bem-estar fetal, trabalho de parto e execução do parto, a conduta a ser adotada pela cliente, hospitalização, puerpério, retorno da mulher e seu filho para casa, relacionamento familiar e planejamento familiar. Assim, o enfermeiro estará prevenindo riscos e promovendo a saúde da mulher e do neonato 14 .
Foi citado ainda, e pode ser fixado até como forma de enriquecimento da assistência pré-natal, a falta do Labstix na atenção básica, sendo este descrito como de importância fundamental no diagnóstico e controle da toxemia. Assim, tais situações perpassam no cotidiano, o que demonstra que os pré-natais podem estar sendo de baixa qualidade, dificultando a resolutividade da assistência ao parto.
Sobrepõe-se a essa lógica cabível aos profissionais, a participação da paciente no autocuidado, pois sem esta, os fins desejados se tornam difíceis de serem atingidos, como foi acrescentado:
[...] a questão não é só o profissional, deve ter também a participação e colaboração da paciente, deve haver uma parceria entre o profissional e a paciente. (P5 EME).
Tal opinião remete ainda às questões anteriormente discutidas, pois se essa paciente fosse criteriosamente orientada dificilmente ela não participaria ativamente no momento do parto. Ressalta-se ainda, a importância do autocuidado, essencial na preservação e manutenção da vida, uma vez que é uma atividade que os indivíduos praticam em seu benefício para manter a vida, a saúde e o bem estar. Deste modo, além de garantir proteção em prol da sua própria saúde, a paciente ainda colabora e facilita o trabalho da equipe, caminhando em conjunto para a garantia da saúde 15 .
Foi demonstrado também que a humanização muitas vezes não está presente no contexto da assistência, e que ela é indispensável, na busca por um equilíbrio emocional da paciente.
[...] é essencial o nosso trabalho, que tenha paciência, o domínio, que a gente consiga estabilizar, deixar essa paciente calma, que tenha confiança, que olhe nos olhos, e explique que vai conseguir, que é capaz, que confie na equipe, por que durante todo o tempo que a gente trabalha com o ser humano a gente vê cada vez mais que segurar na mão e olhar nos olhos são medidas muito pequenas que fazem com que a pessoa passe a ter segurança e confiança no que a gente ta falando. (P2 SP).
O que eu observo, é que se vê muito a parte clinica, técnica, e esquece da parte emocional da paciente. Isso é muito importante, ela fica muitas vezes perdida, como medo, e não se foca a questão de explicar, de ser mais claro com ela. (P4 SP).
[...] ser humilde, se identificar, pois a gente tem muitos colegas que não chegam nem perto de paciente, e na obstetrícia tem que ter isso, tem que chegar junto, dançar junto, se baixar junto, é parto humanizado, a gente tem que ter consciência que tem que ajudar (P6 SP).
O parto humanizado é preconizado nesta maternidade, e pode-se perceber que isso é considerado de grande valia para o bem estar da paciente. Porém, conforme os relatos, nem todos os profissionais agem dessa maneira, o que acaba interferindo na integralidade da assistência. Com a humanização busca-se uma visualização holística do individuo, ou seja, avaliá-lo como um todo e individualmente, nos aspectos físicos, sociais e emocionais.
Esta ação, quando direcionada ao setor saúde, é considerada uma forma de resgatar o respeito no atendimento ao cliente, sem focar somente a doença, mas a pessoa como um todo. O processo de humanização é indispensável em qualquer situação na assistência a saúde, e particularmente importante no cuidado com as parturientes, pois quando há o respeito das individualidades das mulheres, valorizando suas crenças e diversidade de opiniões, a qualidade nessa assistência é refletida no alívio da dor, no conforto físico e emocional, na liberdade de escolher como deseja ter bebê, dando suporte para que a mãe, filho e acompanhante vivenciem o momento do parto de forma tranquila e feliz 18 , 19 .
Atuação essencial do enfermeiro para preservação da vida do binômio mãe-filho
Quando questionados sobre a importância da sua atuação na preservação da vida, todos os enfermeiros consideraram essencial seu desempenho para essa finalidade, sendo ressaltadas características que justificam essa qualidade de assistência.
Considero importante o enfermeiro, porque desde o momento que ela chega a abordagem pra essa paciente gestante ela tem que ser eficaz, segura, dinâmica e resolutiva, então eu acho que tudo isso é o meu papel aqui, é o que eu faço. (P1 EME).
[...] Basicamente eu acho que pra uma boa assistência não tem que ser apenas o enfermeiro, e sim da equipe multidisciplinar toda, desde a parte que ela da entrada na unidade ate a saída dela, então eu acho que é um conjunto que a gente não pode trabalhar independente, vai desde nutrição, higienização e assistente social, então eu acho que quando todos estão engajados a gente tem um melhor aproveitamento de dar uma boa assistência a esse binômio. (P7 AC).
A atuação do enfermeiro é superimportante porque às vezes um técnico de enfermagem não identifica certas coisas que a gente já identifica, quando eles veem uma P.A. elevada imediatamente eles já comunicam, e a gente que vai avaliar, examinar (P8 SP).
Pode-se avaliar vários pontos citados como diferenciais que os enfermeiros possuem e que são efetivos na característica da assistência. De imediato, percebe-se o olhar crítico e o poder resolutivo, e que muitas vezes é o que vai diferenciar dos outros profissionais técnicos, bem como a autonomia que o profissional enfermeiro desempenha. Além de possuir uma imagem multifacetada, para ele próprio, para a equipe e para a sociedade, onde procura realizar atividades que incluem além dos sentimentos humanos, como solidariedade e empatia, a ética, a competência técnica e científica, a postura crítica e transformadora, a cidadania e a autonomia 20 .
Por conseguinte, o trabalho em equipe também é considerado essencial, sendo que este é avaliado como uma estratégia para redesenhar o trabalho e promover a qualidade do serviço. Isso se dá através do planejamento, do estabelecimento de prioridades, da redução de intervenções desnecessárias pela falta de comunicação entre os profissionais. Como resultado, é possível diminuir os custos e prestar uma assistência integral e compartilhada, sustentada em teoria disciplinar, através da multidisciplinaridade, ampliação dos olhares atentos e dos saberes 21 , 22 . Então, conjuga-se que a participação do enfermeiro é indispensável, sendo que a presença de uma equipe reunida e direcionada a um objetivo comum é um fator respeitável que deve estar presente para garantir um cuidado de qualidade e resolutivo.
CONCLUSÕES
Esta pesquisa possibilitou analisar a assistência de enfermeiros às gestantes com síndrome hipertensiva, sendo essa atenção essencial na preservação e manutenção da vida da mulher e do feto/neonato, pois este profissional possui diferencial, como autonomia e senso crítico, além do conhecimento técnico-científico, que quando somados a uma equipe multiprofissional torna o trabalho dinâmico e resolutivo.
Contudo, perceberam-se fatores que interferem na qualidade dessa assistência, como a falta da avaliação fetal, de um pré-natal de qualidade na atenção básica, falta de humanização, deficiência de conhecimentos relacionados ao manuseio de equipamentos.
Tais fatores estão interligados entre atenção básica e a maternidade, sendo que os resultados conduzem a uma reflexão de que os profissionais podem estar desatualizados, e isso é reforçado quando percebe-se enfermeiros que possuem 34 anos de formação. Sendo assim, acredita-se que o processo de educação permanente, de todos os enfermeiros envolvidos na atenção ao pré-natal, parto e puerpério, fundamentada na capacitação profissional e conscientização da importância de cada elemento no processo de gestar, irá contribuir grandemente para uma assistência eficaz e direcionada a preservação da vida humana.
As limitações do estudo se referem ao mesmo ser aplicado apenas em realidades semelhantes, ou seja, em instituição de baixo risco obstétrico, que possua a mesma lógica de atendimento.