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Revista Latinoamericana de Bioética

Print version ISSN 1657-4702

rev.latinoam.bioet. vol.14 no.2 Bogotá July/Dec. 2014

 

EDITORIAL

BIOÉTICA: ENTRE A ÉTICA DO CUIDADO, A SOLIDARIEDADE E A DIGNIDADE

JUAN MARÍA CUEVAS SILVA


Nas últimas décadas, o discurso sobre a moral e a ética tem ficado matizado e dinamizado, assim como influenciado e definido pelas forças culturais que se desenvolveram devido ao sistema sócio-político, socioeconômico e político-econômico homogeneizador da cultura ocidental, hibridizado pela cultura latino-americana. Mas no meio de todas estas dinâmicas o homem deve arriscar sua vida, seja ocidental, ocidentalizada, asiática, africana, ou de qualquer parte do mundo onde esteja presente a síndrome ocidentalizador da vida humana.

Pensar na vida a partir de outros sistemas que não sejam os ocidentais é quase impossível pela mesma história que tem sido tecida em torno desse fenômeno. Para esta edição da nossa Revista Latino-Americana de Bioética trata-se de resgatar o sentido de alguns elementos ocidentais, que possivelmente podem não ser exclusivos desta cultura, mas que foram-se aconchegando nas culturas occidento- dependentes; estes elementos são a ética do cuidado, a solidariedade e a dignidade humana, aspectos que fazem parte do estudo, o avance e a pesquisa Bioética no contexto do século XXI.

A ética do cuidado não é entendida aqui exclusivamente como cuidado com paliativos no caso de doença, mas esta ética vai além, vai desde o cuidado da vida individual até a vida coletiva, desde o início e a gestação da vida até seu mesmo desenvolvimento (fato que pode-se conferir no que desenvolve no seu artigo Amparo Zárate sobre o aborto). Mas isso não se pode limitar apenas ao processo da vida humana; reduzir a ética do cuidado a um conceito antropocêntrico seria ratificar e validar ações que vão contra a natureza e tudo aquilo que é vida e que não é considerado humano. A ética do cuidado é do cuidado do planeta, ou seja, que a tarefa da Bioética não se limita somente ao médico e jurídico, mas que se deve encarregar pela promoção de uma ética do cuidado focado no combate às ameaças das crises sociais e ecológicas que acompanham ao mundo contemporâneo, que como tem-lo planteado Carlos Parra e Harold Muñoz, no contexto das dinâmicas de mercado que é necessária e urgente estabelecer "a responsabilidade social empresarial ambiental". A este respeito, é primordial uma ética (¿Bioética?) do cuidado das crianças, dos idosos, do reino animal, mineral e vegetal, tudo o que significa vida e que possa fornecer o que for necessário para preservar a vida; em outras palavras, é o que alguns autores e teóricos chamam de "ética planetária" ou o que planteia José Arlés Gómez ao respeito da "ecoética". Mas, como conseguir isto? É uma tarefa que deve ser abordada com todos, saltar de uma ética da individualidade e da preservação das classes sociais, a uma ética da solidariedade e a cooperação.

A solidariedade e a cooperação são valores abusados pelo sistema de mercado capitalista esmagador, pela influência do conceito de "qualidade de vida baseado na individualidade" no que cada um se preocupa com seu bem-estar, sem se importar do desconforto causados par a outro, ao outro, para o outro. A primeira tarefa é o reconhecimento predominante do outro como ser vivo que traz para a vida, como o ser do que se necessita e necessita do outro e daquilo outro, quer dizer, de sua espécie e da natureza. Esta na hora de desanexar a solidariedade da concepção axiológica antropológicocentrista, que libera da tributação as empresas e as multinacionais, ou do conceito moralista ou religioso em que você tem que ajudar os outros, porque Deus tem-lo sugerido assim. A solidariedade é um princípio natural das espécies, que se protegem e se ajudam para preservar a vida e até tomam cuidado para não destruir totalmente o que lhes é dado para a sobrevivência; por isso é imperativo, a partir das abordagens de Carlos Abellan e Fabio Maluf: "apostamos por uma Bioética que atenda as necessidades da sociedade (...) com a solvência de quem sabe a verdade sobre o ser humano, sua vida e sua dignidade". Não é o suficiente com ser solidários e cooperativos no meio das provações e dificuldades da vida como um todo, é necessário destacar a importância da dignidade, de reconhecer para cada um e para qual pelo que é e significa, não só para o que serve e contribui -para os mecanismos do mercado capitalista.

A dignidade humana tem-se visto afetada pela pobreza; este aspecto, desde a proposta de Jorge Antonio Llamas, "tornou-se um tema mítico onde as doutrinas econômicas e sociais não têm sido capazes de defini-la nem medi-la de forma eficaz", mas sim foram capazes de aumentala significativamente. Mas, ¿por que começar com a dignidade humana? Simples: porque o homem é o ser que lhe tem quitado a dignidade aos outros seres, se a dignidade humana está em crise, de fato, se afeta a dignidade da natureza e dos animais, e por isso é importante, desde a postura da Esperanza Avella, Claudia Cordeiro e Germán Vélez, formar na ética para quem o cargo do cuidado da vida humana, como por exemplo no campo da medicina. Os discursos políticos têm elementos bio-políticos, que se podem aprofundar no artigo de Jorge E. Martinez e Yuri A. Guarín, de tal maneira que a sociedade de controle e o poder já não sejam executados desde as ideologias, mas se intrometeu no corpo como parte de um sistema sóciopolítico e sócio-econômico que em seus jogos de poder inclui a natureza em todas as suas dimensões, fato que altera o seu caráter de dignidade, a pesar da qualidade, a produtividade e o mercado. Isto exige romper com os ideais de modernidade, que a partir da posição de Julio Cabrera e Mercedes Salamano "a Modernidade foi construída em torno a três ideias: o sujeito como centro e fundamento, a ciência como critério único de verdade e o progresso e sua consequente tecnificação do mundo; haveria que liberar um espaço para outro tipo de criação que não exclua a técnica, mas que também não a enobreça a um ponto que o resto desapareça".

Ciência e tecnologia, mais economia, política e sociedade, a partir dos parâmetros das paradigmáticas democracias, as exigências dos mercados e ligado às crises sociais e ecológicas, exigem à Bioética promover de maneira teórica e prática a ética do cuidado, a solidariedade e o promover da dignidade da vida na sua totalidade. La Revista Latinoamericana de Bioética, em seu compromisso acadêmico, intelectual e de responsabilidade social, propõe-se publicar os trabalhos da pesquisa, reflexão ou revisão que visam a promulgar, defender, divulgar ou que sejam conhecidos os progressos nestas áreas importantes, não só para a ciência, mas sim também para a humanidade.