Nas últimas décadas o ambiente laboral vem sofrendo mudanças consideráveis, até mesmo no âmbito da educação superior. O interesse pelo bem-estar e pela qualidade de vida no ambiente do trabalho é devido a estas recentes transformações, que as organizações e os setores de recursos humanos vêm sofrendo 1.
A qualidade de vida das pessoas está intimamente relacionada à sua atividade ocupacional, pois a Qualidade de Vida no Trabalho (QVT) e as reações obtidas neste contexto aparecem como uma ramificação ou indicador da qualidade de vida, inferindo-se que não há como dissociar o homem de seu ambiente de trabalho, sendo o inverso também verdadeiro 2.
A percepção do trabalhador sobre a QVT está relacionada à uma ampla execução de tarefas no ambiente de trabalho 3. Tradicionalmente, a QVT estava associada às questões salariais; entretanto, estudos da área da sociologia remontam a ideia, na atualidade, que também está associada às condições internas da organização, as quais podem provocar riscos ocupacionais 4. Vale ressaltar, que a QVT envolve: trabalho que cause entusiasmo; segurança no trabalho tanto em condições ambientais quanto na permanência do emprego; remuneração satisfatória; boa gestão e competência interpessoal; progressão na carreira e clima amistoso e harmonioso 5-6.
No setor da educação, o processo de reestruturação produtiva tem gerado novas demandas, que implicam em transformações na organização social do trabalho docente. A exigência de níveis cada vez mais elevados de escolarização desses profissionais para conseguirem se inserir no mercado de trabalho geralmente é desproporcional à qualidade das condições de trabalho vivenciadas. Em concorrência com o atendimento às novas demandas da organização mercadológica dos sistemas de produção, encontra-se o alto padrão de exigência de competências e habilidades diversificadas entre os profissionais docentes. No Brasil, o descompasso no desenvolvimento das atividades de ensino em contextos desestruturados gera uma sobrecarga de trabalho para esses profissionais 7.
Partindo desse pressuposto, compreende-se que o trabalho do docente universitário no Brasil é desgastante, permeado pelas extensas jornadas de trabalho e as demais atribuições que lhe são destinadas. Os professores universitários brasileiros precisam lidar com as novas tecnologias de ensino-aprendizagem, com as cobranças por alta produtividade acadêmica, o aprimoramento intelectual, a qualidade na educação e, ainda, colaborar para o melhor ranking no posicionamento das Instituições de Educação Superior 8-9.
Deste modo, supõe-se que as condições laborais dos docentes brasileiros não condizem com uma boa QVT. O trabalho deve oferecer uma expectativa de aprendizagem contínua, bem como autonomia para estimular a capacidade de decisão, desafios, reconhecimento e contribuição social para estimular o empenho de quem o realiza. Além disso, deve-se considerar, também, os fatores extrínsecos como: estabilidade, segurança e salário justo, que colaboram, de forma significativa, para a melhoria do desempenho organizacional e da QVT 10.
Diante da importância social do papel do docente para a sociedade, faz-se imprescindível o conhecimento dos elementos que podem contribuir para sua QVT. Por isso, indagou-se sobre quais seriam os fatores que influenciam na percepção da QVT dos docentes? Deste modo, ao considerar os reflexos da reestruturação produtiva e os crescentes problemas nas relações de trabalho, fato que tem alterado fortemente o contexto das Instituições de Ensino Superior no Brasil, justifica-se a realização deste estudo. Além disso, por ser um estudo realizado em diversos cursos disponíveis na universidade, apresentará fatores preditores que influenciam tal QVT no âmbito universitário.
Deste modo, o objetivo deste estudo foi analisar os fatores preditores associados à percepção dos docentes sobre sua Qualidade de Vida no Trabalho na universidade pública.
MÉTODO
Trata-se de um estudo descritivo-analítico, transversal de natureza quantitativa, realizado em uma Universidade Federal do sudoeste do estado de Goiás, Brasil. A universidade oferece 25 cursos de graduação distribuídos entre Unidade Acadêmica Especial das Ciências Agrárias, Ciências Exatas, Ciências Humanas e Letras, Ciências da Saúde, Ciências Biológicas, Ciências Sociais Aplicadas, Estudos Geográficos e Educação, além de cinco cursos de mestrado e um curso de doutorado.
O quantitativo de docentes da universidade em 2017 era 309 efetivos e 71 substitutos ou temporários. Destes, cerca de 95 professores efetivos estavam afastados no período da coleta por motivos de saúde, pessoal e qualificação totalizando, então, 214 docentes.
Foram considerados possíveis de participar e convidados para tal participação os 214 docentes efetivos que trabalham na instituição, por um tempo mínimo de 180 dias; entretanto, o número final de participantes foi constituído por 91 docentes, de diferentes áreas do conhecimento.
O período de coleta de dados foi de setembro a dezembro de 2017, durante a jornada de trabalho dos docentes. Como estratégia para a obtenção das informações, utilizou-se o momento das reuniões de colegiado dos cursos e o contato com as coordenações para sensibilização dos docentes e entrega de questionários. Esses foram respondidos pelo participante na presença do primeiro autor da pesquisa e recolhidos ao término do preenchimento. Foram aplicados em local privativo, onde os participantes foram informados sobre os objetivos, a finalidade e os procedimentos da pesquisa e assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido.
Na coleta de dados foram utilizados dois questionários. O primeiro trata-se de um instrumento de caracterização sócio demográfica e de atividades laborais da população do estudo. Cabe mencionar que, este questionário foi submetido ao processo de refinamento, com juízes especialistas na área da temática. Posteriormente, foi realizado um teste piloto, objetivando evidenciar a clareza e a eficiência das questões, para responder ao objetivo proposto do estudo.
O segundo instrumento utilizado trata-se do Total Quality of Work Life (TQWL-42), que significa Qualidade de Vida Total/Geral no Trabalho e o sufixo 42 representa o número de questões relacionadas à QVT. Este instrumento foi construído no Brasil em 2014 para avaliar a QVT de forma global. Para o seu desenvolvimento seguiu os moldes dos instrumentos de avaliação da World Health Organization instrument to evaluate Quality Of Life (WHOQOL) e foi alicerçado nos modelos teóricos clássicos de QVT, com direcionamento para a sociedade contemporânea brasileira. De suas 42 questões 5 são destinadas ao conhecimento da amostra. As outras são divididas igualmente em cinco grandes dimensões: Biológica/Fisiológica, Psicológica/Comportamental, Sociológica/Relacional, Econômica/Política e Ambiental/Organizacional 2.
Todas as questões do TQWL-42 são fechadas e empregam uma escala de respostas do tipo Likert, compostas por cinco elementos, variando entre 1 e 5. Esses extremos representam 0% e 100%, respectivamente o valor de 50 caracteriza o nível intermediário ou satisfatório, enquanto valores abaixo desse ponto central são caracterizados como insatisfatório, sendo que acima é considerado muito satisfatório. As escalas de respostas usadas são as recomendadas no instrumento WHOQOL, no qual a escala de respostas é invertida. No TQWL-42 utiliza-se também a conversão que objetiva padronizar as respostas de forma que quanto mais positiva ela for, deve se aproximar de 5 e quanto mais negativa, deve se aproximar de 1 2.
Os dados coletados foram digitados em uma planilha do Excel 14.0 (Office 2010), para elaboração do banco de dados; posteriormente, foi feita dupla digitação para evitar erros de transcrição. Para análise estatística descritiva e inferencial foi utilizado o programa STATA, versão 14.0.
Inicialmente, foi realizada análise descritiva das variáveis; as continuas foram apresentadas como médias e desvio-padrão e as categóricas como frequências absolutas e relativas. Além disso, para os dados relativos às escalas utilizadas, foram calculados intervalos de confiança de 95% (IC 95%) para a média.
Para estimar os fatores associados aos dados sócio demográficos e à qualidade de vida, foi realizada a análise de regressão linear. Inicialmente foi realizada a análise bivariada. O Teste t de student para amostras independentes ou análise de variância (ANOVA) foi utilizado para comparar médias entre as variáveis categóricas. A Correlação de Pearson foi usada para verificar associação entre a qualidade de vida e as variáveis contínuas.
Para a análise de consistência interna da escala foi utilizado o coeficiente Alfa de Cronbach, com valor aceitável acima de 0,7. Em todas as análises, foram consideradas estatisticamente significantes variáveis com p<0,05.
A pesquisa seguiu os dispostos da Resolução do Conselho Nacional de Saúde no 466/2012 (CNS2012), que regulamenta as diretrizes e normas para pesquisa envolvendo seres humanos. Foi aprovada por Comitê de Ética em Pesquisa recebendo o parecer n. 2.116.653.
RESULTADOS
Foram avaliados 91 docentes que se encontravam elegíveis para o estudo.
A Tabela 1 apresenta o perfil sócio demográfico e laboral desses docentes
Variáveis | n-91 | % |
---|---|---|
ldade (anos) | 41,4+7,9* | |
Renda (reais) | 11.116,00+4.913,40* | |
Número de dependentes | 2,2+1,63* | |
Tempo de trabalho na institui9ao (anos) | 7,7+5,7* | |
Tempo de docência (anos) | 13,3+6,8* | |
Sexo | 42 | 46,2 |
Masculino | 49 | 53,8 |
Feminino | ||
Estado marital | ||
Com parceiro(a) | 49 | 55,1 |
Sem parceiro(a) | 40 | 44,9 |
Estado de origem | ||
Goiás | 36 | 40,9 |
Outro | 52 | 59,1 |
Filhos | ||
Não | 36 | 41,4 |
Sim | 51 | 58,6 |
Unidade académica | ||
Ciências da saúde ou biológicas | 36 | 39,6 |
Ciências humanas, sociais aplicadas, educação, letras e geográficas | 31 | 34,1 |
Ciências exatas e agrárias | 24 | 26,4 |
Turno de trabalho | ||
Matutino ou vespertino | 5 | 5,5 |
Noturno | 1 | 1,1 |
Integral | 85 | 93,4 |
Jornada de trabalho (horas) | ||
20 | 5 | 5,6 |
40 | 84 | 94,4 |
Título de formação | ||
Especialização ou mestrado | 16 | 17,6 |
Doutorado | 75 | 82,4 |
Problema de saúde relacionada ao trabalho | ||
Não | 63 | 69,2 |
Sim | 28 | 30,8 |
Atividade física regular | ||
Não | 35 | 38,5 |
Sim | 56 | 61,5 |
Reserva tempo de lazer | ||
Não | 19 | 20,9 |
Sim | 72 | 79,1 |
Satisfeito com condi9ao física, psicológica e social | ||
Não | 47 | 51,6 |
Sim | 44 | 48,4 |
* Média e Desvio Padrão
A Tabela 2 apresenta a análise descritiva das dimensões e esferas do TQWL-42, visando identificar a percepção sobre a Qualidade de Vida Total/Geral no Trabalho dos docentes.
Dimensões/Esferas | Média + DP | IC 95% | Alfa |
---|---|---|---|
Esfera biológica e física | 50,1+9,6 | 48,1-52,1 | 0,253 |
Dimensão física e mental | 61,2+13,1 | 58,5-64,0 | |
Capacidade do para o trabalho | 67,8+19,4 | 63,8-71,9 | |
Serviços de saúde e assistência social | 22,6+24,0 | 17,6-27,6 | |
Tempo de repouso | 48,7+15,2 | 45,5-51,9 | |
Psicológico e comportamental | 65,3+12,4 | 62,7-67,9 | 0,675 |
Autoestima | 54,5+12,1 | 52,0-57,0 | |
Significância da tarefa | 79,1+17,2 | 75,5-82,7 | |
Feedback | 62,3+17,8 | 58,6-66,0 | |
Desenvolvimento pessoal e profissional | 65,2+23,1 | 60,4-70,0 | |
Sociológica e relacional | 58,4+12,9 | 55,7-61,1 | 0,698 |
Liberdade de expressão | 63,1+24,6 | 58,0-68,3 | |
Relações interpessoais | 45,3+11,5 | 42,9-47,7 | |
Autonomia | 69,2+17,5 | 65,5-72,8 | |
Tempo de lazer | 56,1+21,8 | 51,6-60,7 | |
Econômica e política | 52,3+12,1 | 49,8-54,9 | 0,672 |
Recursos financeiros | 57,4+23,3 | 52,5-62,2 | |
Benefícios extras | 44,2+20,0 | 40,0-48,4 | |
Jornada de trabalho | 61,5+11,6 | 59,1-63,9 | |
Segurança de emprego | 46,2+14,3 | 43,2-49,2 | |
Ambiental e organizacional | 58,4+9,3 | 56,4-60,3 | 0,475 |
Condições de trabalho | 47,9+18,3 | 44,1-51,7 | |
Oportunidade de crescimento | 65,1+18,7 | 61,1-69,0 | |
Variedade da tarefa | 47,6+12,6 | 45,0-50,2 | |
Identidade da tarefa | 72,9+14,8 | 69,8-76,0 | |
Autoavaliação da qualidade de vida no trabalho | 55,2+21,8 | 50,6-59,7 | 0,860 |
Geral | 56,8+9,2 | 54,9-58,7 | 0,882 |
DP - Desvio Padrão; IC - Intervalo de Confiança; Alfa de Cronbach.
Observa-se que a média para todas as dimensões/esferas avaliadas, não foram discrepantes; no entanto, a dimensão psicológico e comportamental obteve maior pontuação (65,3) e a biológica e física a menor (50,1). A Tabela 3 apresenta a identificação de potenciais fatores associados a QVT, em análise bivariada.
Verificou-se significância entre as seguintes variáveis com a QV: Título acadêmico (p=0,005), problema de saúde relacionado ao trabalho (p<0,001), reserva de tempo de lazer (p<0,001), satisfação com a condição física, psicológica e social (p<0,001) e idade (p=0,024).
Variáveis | Média + D P* | P* |
---|---|---|
Sexo | 0,787 | |
Masculino | 56,5+9,4 | |
Feminino | 57,1+9,2 | |
Estado marital | 0,172 | |
Com companheiro | 58,1+9,1 | |
Sem companheiro | 55,4+10,0 | |
Filhos | 0,589 | |
Não | 57,3+7,4 | |
Sim | 56,2+10,6 | |
Unidade acadêmica | 0,829 | |
Ciências da saúde ou biológicas | 57,4+10,5 | |
Ciências humanas, sociais aplicadas, educação, letras e geográficas | 56,0+9,6 | |
Ciências exatas e agrárias | 56,9+6,6 | |
Jornada de trabalho (horas) | 0,052 | |
20 | 49,0+8,3 | |
40 | 57,3+9,2 | |
Titulação acadêmica | 0,005 | |
Especialização ou mestrado | 51,0+12,5 | |
Doutorado | 58,0+7,9 | |
Problema de saúde relacionada ao trabalho | < 0,001 | |
Não | 59,8+7,5 | |
Sim | 50,0+9,3 | |
Atividade física regular | 0,717 | |
Não | 56,4+6,9 | |
Sim | 57,1+10,5 | |
Reserva tempo de lazer | < 0,001 | |
Não | 50,1+10,2 | |
Sim | 58,6+8,2 | |
Satisfeito com condição física, psicológica e social | ||
Não | 52,8+8,9 | < 0,001 |
Sim | 61,1+7,6 | |
R** | p-valor | |
Idade (anos) | -0,261 | 0,024 |
Renda (reais) | 0,028 | 0,805 |
Tempo de trabalho na instituição (anos) | -0,147 | 0,164 |
Tempo de docência (anos) | -0,122 | 0,251 |
*Teste t de student para amostras independentes ou correlação de Pearson;
*** Coeficiente de correlação de Pearson.
Na análise de regressão linear dos fatores sócio demográficos que foram associados à qualidade de vida geral, constatou-se que o tempo de trabalho na instituição pode ser considerado preditor decrescente para uma boa Qualidade de Vida Geral no Trabalho, no qual obteve valor de β = -0,15; p=-0,039, juntamente com os problemas de saúde relacionados ao trabalho que obtiveram valor de β =-0,44; p<0,001.
Os dados mostraram ainda que possuir doutorado (β =0,20; p=0,046) e a satisfação com sua condição física, psíquica e social (β =0,30; p<0,001) demonstraram contribuição para a predição de uma melhor qualidade de vida geral no trabalho. O modelo obteve r2: 0,462.
DISCUSSÃO
De acordo com os resultados dessa pesquisa, foi possível caracterizar alguns dos potenciais fatores preditores relacionados ao trabalho docente que podem desencadear influência sobre a QVT. Identificou-se predomínio do sexo feminino, titulação de doutor sobressaindo-se, também, a jornada de trabalho em tempo integral.
O docente é um profissional essencial para a construção da sociedade e fundamental para o desenvolvimento do país, porém o bom desempenho de suas habilidades depende de vários fatores, entre eles, uma satisfatória QVT. Quando se busca identificar os potenciais fatores relacionados a QVT, observa-se que a formação acadêmica, o tempo reservado para as atividades de lazer e os problemas de saúde originados pelo trabalho foram fatores potencialmente relacionados com a redução da percepção na QVT. Destaca-se também que aqueles docentes que possuíam formação acadêmica com título de doutor e estavam satisfeitos com a condição psicológica, física e social estavam predispostos a ter uma melhor QVT.
A literatura aponta que a qualificação dos docentes do ensino superior tem sido cada vez mais exigida nas universidades e no mercado de trabalho como mostra a pesquisa conduzida em uma universidade federal na região sul do Brasil, a qual apontou que os docentes com título de doutor relacionam a qualificação às maiores exigências e à sobrecarga de trabalho, pois eles são mais exigidos e destinados a tarefas ou cargos administrativos além das atividades de docência habituais 11. Possuir doutorado contribui para a maturidade profissional e teórica, aprimorando as percepções e senso investigativo do docente, levando também ao prestígio maior de seus pares, reconhecimento por parte de instituições públicas e, também, melhorias na remuneração salarial, estabelecendo uma visão otimista e um diferencial em sua formação 12.
Quando avaliada a QVT, dados apontam que os docentes estavam satisfeitos com sua condição de trabalho, apresentando um escore geral de 56,86 considerado resultado satisfatório com tendência neutra. Pesquisas apresentam escores próximos a este, sugerindo que, a satisfação referida pelos docentes pode estar relacionada aos fatores como condições de infraestrutura e laborais, plano de carreira e salário, bem como uma menor intensificação do trabalho 13. A docência é associada ao sentimento de gostar-se do que se faz, a realização de uma vocação, contribuindo na produção de conhecimento e objetivando transformar a realidade social 12.
Acredita-se que o docente faz da satisfação pessoal um elemento indispensável para que ele seja capaz de reestabelecer suas energias e conseguir suportar períodos de tensão, sem que lhe cause adoecimentos 14.
Em acréscimo, o tempo gasto com atividades de lazer também foi satisfatório, o que confirma que mesmo que estejam em regime de trabalho de tempo integral na universidade, eles têm conseguido programar o seu tempo, contribuindo para uma melhor QVT. Organizar as atividades de trabalho e reservar tempo para o descanso, vida social e familiar são fatores decisivos para que haja uma melhor QVT 15.
O lazer é considerado uma ferramenta capaz de contribuir positivamente em vários aspectos da vida das pessoas, além de gerar contentamento e qualidade de vida, estimula a criatividade do docente e favorece o seu relacionamento interpessoal. Inserir o lazer nas instituições de ensino tem sido considerada uma ferramenta plausível para o desenvolvimento do trabalho 16.
Apesar do contexto geral os docentes apresentarem um escore geral satisfatório; quando analisadas algumas das esferas dentro das dimensões pesquisadas, observa-se insatisfação em alguns aspectos em que se destaca, na dimensão biológica e física, o aspecto serviço de saúde e assistência social. No Brasil, os funcionários públicos federais possuem um plano de benefício que lhes dão o direito de escolha de obter ou não auxílio no custeio da assistência à saúde suplementar do servidor, de acordo com o Decreto N° 6.833, de 29 de abril de 2009 17.
Tendo em vista a dimensão dos potenciais problemas que acometem essa classe, de acordo com o decreto supracitado os docentes também contam com o apoio do Subsistema Integrado de Atenção à Saúde do Servidor (SIASS), que coordena e integra as ações e os programas nas áreas de assistência à saúde, perícia oficial, promoção, prevenção e acompanhamento da saúde dos servidores da administração federal direta, autárquica e fundacional, de acordo com a política de atenção à saúde e segurança do trabalho do servidor público federal, estabelecida pelo governo 18.
É essencial que cada instituição perceba a importância da promoção da qualidade de vida. Assim, torna-se importante que se desenvolvam ações objetivando a melhoraria da QVT e, consequentemente, a saúde desse trabalhador, originando motivação do seu trabalho, buscando somar a produtividade e a eficácia no serviço público 19.
Dentro da dimensão psicológico e comportamental, que avalia a autoestima, significância das tarefas, feedback e desenvolvimento pessoal e profissional, destaca-se o aspecto melhor pontuado pelos docentes que foi a significância da tarefa, reforçada pela esfera identidade da tarefa na dimensão ambiental e organizacional. Tais fatores podem estar relacionados pela importância do papel social que o trabalho docente exerce nas instituições de ensino superior 13.
Um dos aspectos que levam ao reconhecimento do trabalho docente é o fato dele gostar de trabalhar com os estudantes, podendo acompanhar seu desenvolvimento e amadurecimento. Isso leva-o ao sentimento de gratificação e significado ao seu trabalho percebendo a sua importância na vida de pessoas que estão sendo capacitadas para o mercado de trabalho 20.
Em outra perspectiva, o senso de realização profissional pode ser influenciado por diversos fatores decorrentes da rotina de trabalho, tais como: autoestima a participação na tomada de decisão e independência, entre outros. A satisfação no ponto de vista social e cognitivo, tem sido citada tanto por meio de aspectos afetivos, quanto cognitivos. É um estado emocional positivo resultante da avaliação que o docente faz das experiências do seu trabalho 21. Na dimensão sociológica e relacional, o aspecto relações interpessoais foi insatisfatório. Tal fato se explica pois no âmbito educacional existe falta de reconhecimento do profissional, aliado a uma tendência para relações competitivas e, em consequência, surgem relacionamentos pouco solidários 22. Estudo mostra que os docentes encontram dificuldades nas relações sociais entre os colegas de trabalho, devido às disputas para o acesso ao poder na instituição e os problemas com a falta de comunicação entre pessoas que recentemente ingressaram e aquelas com muito tempo de trabalho na instituição; estes fatores são considerados preocupantes, pois podem influenciar diretamente no rendimento do docente, causando uma perspectiva negativa na sua satisfação pessoal e na QVT 11.
A falta de integração gera impactos negativos nas relações interpessoais, levando ao enfraquecimento dos laços de solidariedade nas instituições, tornando-se evidente a necessidade de adoção de políticas de promoção e suporte à QVT que atuem contra as várias fontes de sofrimento, com objetivo de melhorar essas relações 23.
A pesquisa também evidenciou que há um baixo escore na dimensão econômica e política, especificamente na esfera de benefícios extras. Levando em consideração o fato da universidade pesquisada ser pública a remuneração dos docentes universitários em âmbito público é referente às qualificações como as especializações, mestrado e doutorado, não possuindo salários extras ou adicionais 24. Outro dado que merece ser discutido nessa pesquisa é que o tempo de trabalho docente prediz uma pior QVT, com isso, sugere-se que esses aspectos insatisfatórios podem, a longo prazo, desencadear descontentamento em outras esferas e dimensões.
O processo de intensificação do trabalho com o passar do tempo, acarreta impactos negativos no desenvolvimento e qualidade das atividades laborais desenvolvidas; as numerosas responsabilidades juntamente com a pressão para aumentar a sua produtividade, leva os docentes ao sofrimento, diminuição do seu rendimento e, consequentemente, ocasionando-lhes enfermidades 25.
Quando avaliada a questão problemas de saúde relacionados ao trabalho, em análise bivariada, observou-se que este foi um fator relacionado à QVT. Estudos apontam que o adoecimento e o sofrimento de professores universitários envolvem dimensões afetivas, éticas e políticas, destacando ainda que em muitas situações a doença psíquica não é facilmente aceita, nem tampouco diagnosticada e pode resultar, assim, no aparecimento de doenças crônicas 22. Para outro autor, o desgaste gerado pelo trabalho docente, evidencia os problemas de saúde de caráter depressivo, afetivo e de humor, culminando com a manifestação de doenças físicas 26.
O estresse também é pontuado um dos fatores que influenciam diretamente no rendimento do professor, assim como na sua QVT. Níveis elevados de estresse podem resultar em fadiga, tensão muscular e padrão de sono irregular 27. Estudo ressalta agravos à saúde do docente, fato que vem ao encontro dessa investigação, sugerindo que a promoção da saúde como abordagem grupal, promoção da interação social, projetos de atividade física entre outros, constituem possíveis elementos para amenizar o impacto dos problemas de saúde relacionados ao trabalho na QV do trabalhador 28.
Neste sentido, cabe chamar atenção para aqueles docentes da área da saúde, que além das atividades teóricas em salas, ainda acompanham estágios de seus alunos em instituições hospitalares, como é o caso dos docentes da enfermagem. Estes podem estar mais expostos aos fatores de riscos ocupacionais bem como a redução da qualidade de vida, devido ao ritmo intenso do processo de trabalho, que vai além das salas de aula.
Percebe-se que os efeitos do atual ambiente de trabalho acadêmico no nível superior, no Brasil, têm refletido diretamente na saúde de seus profissionais como as constantes exigências, mudanças e adaptações que resultam no adoecimento dos docentes, sendo fundamental um reposicionamento organizacional e pessoal para a promoção de estratégias visando o enfrentamento, o combate e a defesa destes fatores nas instituições de ensino superior 29.
Frente a esses achados, percebe-se a importância de promover-se ações de promoção de saúde dentro do contexto universitário. Assim, torna-se viável a adoção de políticas públicas que visem a saúde dos trabalhadores que atuam nas universidades públicas, com objetivo de melhorar sua QVT.
As limitações encontradas ao longo desta pesquisa deram-se em relação ao acesso aos docentes em decorrência das variadas atividades acadêmicas, bem como a demora na devolução dos questionários em tempo hábil, constatando de fato a sobrecarga em seu cotidiano.
Sugere-se que novas pesquisas sejam realizadas visando contribuir e fornecer subsídios para que governos, empresas, docentes e órgãos afins tomem ciência e possam oferecer, melhorias nas condições e ambiente de trabalho com consequente promoção na QVT de docentes universitários.
Todas as dimensões e esferas que avaliaram a QVT foram pontuadas como satisfatórias. O tempo de trabalho na instituição e os problemas de saúde relacionado ao trabalho foram fatores preditores decrescente para uma boa qualidade de vida geral no trabalho dos docentes, enquanto que ter título de doutor e a satisfação com a condição física, psíquica e social se mostraram como fatores preditores que contribuem para o crescimento da percepção da qualidade de vida no trabalho.
Além disso, alguns fatores estavam associados à Qualidade de Vida Geral no Trabalho dos docentes, como o título acadêmico, os problemas de saúde relacionados ao trabalho, a reserva de tempo de lazer, a satisfação com a condição física, psicológica e social e a idade. Estes apresentaram significância na análise bivariada, contudo, não contribuíram para o ajuste do modelo e predição da variável desfecho, o que nos leva a inferir que em um cenário com um número de participantes essas variáveis poderiam contribuir para a explicação.
Frente ao exposto, percebe-se a importância de promover ações de promoção de saúde dentro do contexto universitário. Assim, torna-se viável a adoção de políticas públicas que visem a saúde dos trabalhadores que atuam nas universidades públicas, com objetivo de melhorar sua qualidade de vida no trabalho ♠