INTRODUÇÃO
A Atenção Primária à Saúde (APS) é compreendida como porta de entrada e organizadora do cuidado, no contexto de redes de atenção do Sistema Único de Saúde (SUS). A organização efetiva do processo de trabalho na APS mostra-se essencial para que os diversos profissionais possam avançar na garantia da universalidade do acesso e integralidade da atenção, com melhorias no cuidado ao usuário e no próprio trabalho em equipe1,2.
Nessa perspectiva, o sistema de saúde em esfera federal, implantou a Estratégia Saúde da Família (ESF) como modelo preferencial para os municípios, no sentido de reorientar as práticas de saúde na APS a partir do conceito ampliado de saúde da família e do indivíduo. O processo de trabalho é baseado nos conhecimentos da realidade geográfica, econômica e sociopolítica da área3.
Os ambientes de trabalho, em especial na área da saúde, oferecem riscos para seus trabalhadores, uma vez que, frequentemente, os expõem a condições que podem resultar em acidentes e processos patológicos, quando medidas de proteção individual e coletiva não são adotadas. Dessa forma, para o desenvolvimento de práticas seguras nos ambientes de trabalho em saúde, é de suma importância que sejam aplicadas as normas de biossegurança, as quais abrangem um conjunto de ações tomadas para prevenir, minimizar ou eliminar riscos inerentes ao processo de trabalho4,5.
Práticas de biossegurança em saúde são fundamentais para promover o bem estar e proteger a vida. Na APS constata-se a importância do seu uso de forma adequada, para minimizar os riscos à saúde dos profissionais e de seus usuários. Entretanto, observa-se, com frequência, a resistência à adoção dessas práticas nos serviços, mostrando que é necessária a implementação dessa cultura.
Nesse sentido, o estímulo à adoção de novas práticas, depende de um processo de aprendizagem que deve ser regulado e direcionado da melhor forma possível, sendo que, tecnologias que possibilitem a informação e comunicação, podem ser adotadas, contribuindo para práticas pedagógicas interativas e democratizantes. Estas são estimulantes, não verticalizadas, consideram o pluralismo humano, almejando a valorização das experiências e expectativas diante de novos conhecimentos, facilitando uma recontextualização do processo educativo6.
As Tecnologias Educacionais (TE) podem colaborar para planejar, implementar e avaliar o processo de aprendizagem, no que concerne aos seu objetivos específicos, de forma a torná-lo mais efetivo. Representam um conjunto de ferramentas e aplicações que permitem a inclusão e o fortalecimento de novas estratégias de ensino, muitas das quais foram definidas em novas estruturas curriculares, nas últimas duas décadas7,8.
Para que as TE alcancem os objetivos propostos em sua construção é necessário que passem pelo processo de validação, para mensurar a confiabilidade de seu conteúdo e forma. A validação de tecnologias educacionais apresenta-se como uma estratégia que permite construir ou adequar uma nova intervenção ou instrumento, a partir da utilização de forma sistemática dos conhecimentos disponíveis9.
Considerando que o uso de tecnologias educacionais é importante estratégia de informação e sensibilização para os variados grupos sociais, entende-se que é relevante sua validação como ferramenta de educação em saúde no contexto local, contribuindo para ampliar o acesso à informação, neste caso, referentes à biossegurança10.
Na área da educação em saúde, poucos são os estudos que abordam os processos de validação. Isso se constatou em levantamento realizado nas bases de dados Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde (LILACS), Bases de Dados de Enfermagem (BDENF) e Scientific Electronic Library Online (SCIELO). Considerou-se artigos publicados no período 2013 a 2017, em português, inglês e espanhol, disponíveis na integra. Utilizou-se os descritores: Estudo de Validação, Tecnologia Educacional, Contenção de Riscos Biológicos, Atenção Primária à Saúde e suas respectivas combinações.
Identificou-se 81 artigos que contemplavam os critérios de inclusão. Fez-se a seleção com a exclusão dos artigos em duplicidade nas bases e aqueles cujos temas não correspondiam ao objeto de estudo, embora contemplassem alguns descritores.
Ao final da leitura, obteve-se 5 artigos que versavam sobre educação no contexto da vigilância em saúde, saberes e práticas de trabalhadores de enfermagem sobre riscos ocupacionais na APS, sendo que, apenas um artigo, aproximou-se deste estudo, pois versava sobre a saúde do trabalhador em ambiente com exposição a material biológico, enfatizando a produção de uma tecnologia.
Dessa forma, definiu-se para este estudo a seguinte questão de pesquisa: uma tecnologia educacional validada é instrumento apropriado para uso dos profissionais de saúde na prática da biossegurança? E como objetivo: Validar uma tecnologia educacional sobre biossegurança para utilização prática pelos profissionais de saúde da atenção primária à saúde.
MATERIAL E MÉTODOS
Desenvolveu-se uma pesquisa metodológica quantitativa descritiva de validação de tecnologia educativa. Este tipo de pesquisa busca o desenvolvimento, avaliação e aperfeiçoamento de instrumentos e estratégias metodológicas11.
A tecnologia validada neste estudo foi produto de projeto desenvolvido no âmbito do Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica da Universidade do Estado do Pará, Brasil, (PIBIC/CNPq), edital nº 030/2016, intitulado Saberes e práticas de profissionais de saúde sobre biossegurança na atenção primária em saúde: elaboração conjunta de tecnologia educacional12.
Para sua elaboração, no primeiro projeto, os pesquisadores desenvolveram estudo qualitativo utilizando a técnica de grupo focal, com a realização de quatro encontros, sendo um por semana. Utilizou-se um roteiro guia que permitiu encaminhar a discussão sobre os saberes e práticas dos profissionais a respeito de biossegurança, até chegar à elaboração da tecnologia educacional, cujo tipo, forma e conteúdo foram escolhidos em parceria com eles.
A tecnologia, um aplicativo para celular, foi elaborada em conjunto pelos pesquisadores e 12 profissionais de saúde, incluindo 9 agentes comunitários de saúde, 1 enfermeira e 2 técnicos de enfermagem que compunham uma equipe da Estratégia Saúde da Família do município de Benfica no estado do Pará, Brasil.
O aplicativo apresenta 20 páginas digitais. Inicia com a página de apresentação trazendo explicações sobre seu conteúdo, forma de elaboração e autores, além do menu de acesso às opções de temas. Seguem-se as demais páginas contendo conceitos e informações gerais sobre biossegurança, assepsia, antissepsia, descontaminação, esterilização, limpeza e equipamentos de proteção individual e coletiva. O conteúdo é apresentado em textos breves e ilustrado por uma figura relacionada a cada tema.
O processo de validação, objetivo deste estudo, foi desenvolvido em três etapas: Na primeira, em janeiro/2018, a tecnologia foi avaliada por juízes especialistas. Na segunda, realizada no período de março a abril/2018, foi avaliada pelo público-alvo, neste caso, profissionais da saúde pertencentes à equipes da ESF do município de Belém no estado do Pará, Brasil. Na terceira etapa, os dados obtidos foram organizados e analisados quantitativamente por meio de procedimentos estatísticos.
Os 11 juízes especialistas foram selecionados mediante a técnica de bola de neve, tipo de amostragem não probabilística, que possibilita a escolha dos participantes por indicação e criação de uma rede de especialistas em um determinado assunto13. Para a definição desse número considerou-se recomendação da literatura14e os primeiros profissionais que aceitaram o convite em um prazo de 20 dias, por conta do período de coleta de dados. O público-alvo foi constituído por 13 profissionais a saber: 3 agentes comunitários de saúde, 4 enfermeiros, 3 médicos e 3 técnicos de enfermagem, quantitativo de profissionais atuantes naquele momento na ESF.
A partir da indicação dos juízes consultou-se o Curriculum Lattes para verificar adequação aos critérios de inclusão definidos para o estudo: profissionais de saúde atuando na atenção primária em saúde, profissionais com amplo conhecimento sobre o tema biossegurança e/ou educação em saúde/tecnologias educacionais atuando como docentes e/ou pesquisadores.
O instrumento utilizado com juízes especialistas e público-alvo para avaliação da tecnologia foi a escala Likert, adaptada para este estudo a partir de sua aplicação em pesquisa de validação15, entendendo-se a necessidade da utilização de instrumento sistematizado capaz de mensurar respostas de maneira apropriada16.
A escala Likert é uma lista de classificação composta por itens que expressam avaliação positiva ou negativa sobre um determinado tópico. A avaliação foi feita de acordo com um ranking de respostas que variaram com valores numéricos e sua avaliação. Assim o valor 1 (totalmente adequado) e 2 (adequado) indicavam alta aceitabilidade, os valores 3 (parcialmente adequado) e 4 (inadequado) indicavam média e baixa aceitabilidade.
A escala para os juízes foi composta por 17 itens divididos em 3 blocos e a do público-alvo por 20 itens em 5 blocos. Os blocos referentes à avaliação dos juízes estavam organizados em Objetivo, Estrutura/Apresentação e Relevância. A do público-alvo em Objetivo, Organização, Aparência, Estilo de escrita e Motivação.
O bloco Objetivo trazia perguntas referentes aos propósitos e metas a atingir com a utilização da tecnologia. Os blocos Estrutura/Apresentação/Organização relacionaram-se à forma de apresentar as orientações, incluindo a organização geral, estrutura, estratégia de apresentação, coerência e formatação. A Relevância tratava das características que avaliam o grau de significação do material. Aparência dizia respeito à clareza do conteúdo em relação à forma como se apresenta. O estilo de escrita considerou as características linguísticas, compreensão e estilo e a Motivação referiu-se à capacidade do material em causar impacto e/ou interesse a quem se destina.
No instrumento havia espaço para sugestões e os participantes foram orientados a contribuir com recomendações que julgassem necessárias, de acordo com seus conhecimentos e experiências.
Os dados foram analisados estatisticamente de forma descritiva por meio do software Statistical Package for the Social Sciense (SSPS) versão 24.0 e da aplicação dos testes Alpha de Cronbach e ANOVA. O teste ANOVA foi utilizado para verificar se as respostas do público-alvo e juízes especialistas provinham de médias iguais ou significativamente diferentes, e o teste Alpha de Cronbach analisou a consistência das respostas, no sentido de investigar a confiabilidade do instrumento utilizado.
Considerou-se os preceitos éticos da Resolução 466/2012 do Conselho Nacional de Saúde do Brasil.O estudo foi aprovado no Comitê de Ética em Pesquisa do Curso de Enfermagem da Universidade do Estado do Pará sob o código de aprovação 2.397.389. Obteve a autorização institucional da Secretaria Municipal de Saúde de Belém-Pará sob o protocolo 1.733.438 e todos os participantes assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido para manifestar sua anuência por escrito.
RESULTADOS
No perfil dos juízes, a idade variou de 23 a 62 anos com predominância da faixa etária de 38 a 47 anos (6/54,55%). Predominou o sexo feminino com 9 participantes (81.82%). Na categoria profissional foram 5 (45,45%) enfermeiros, 2 (18,18%) médicos, 1 (9,09%) fisioterapeuta, 1 (9,09%) professor de Português, 1 (9,09%), Pedagogo e 1 (9,09%) comunicador social. Para o tempo de exercício profissional, 100% referiram atuação acima de 3 anos. Em relação a pós- graduação, 9 juízes (81.82%) referiram nível lato sensu com especialização em variadas áreas. Na titulação scricto sensu, 7 (63,63%) referiram mestrado.
Para o público-alvo, a idade variou de 25 a 54 anos com 3 (23,08%) na faixa etária de 25 a 29 anos e 7 (53.85%) na de 35 a 44 anos. Também predominou o sexo feminino (11/84,62%).
Nas Tabelas 1 e 2 apresenta-se a validação de conteúdo da tecnologia educacional por juízes e público-alvo, respectivamente.
Fatores/Conceito | Blocos | Total | Acumulado (%) | ||||||||||
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Objetivo | Estrutura e Apresentação | Relevância | |||||||||||
Qtd | % | Qtd | % | Qtd | % | ||||||||
Alta Aceitabilidade | Totalmente adequado | 5 | 47.7 | 5 | 46.6 | 5 | 47.3 | 5 | 47.2 | 85.7 | |||
Adequado | 5 | 40.9 | 4 | 36.4 | 4 | 38.2 | 4 | 38.5 | |||||
Média e Baixa Aceitabilidade | Parcialmente adequado | 1 | 4.5 | 1 | 6.8 | 1 | 9.1 | 1 | 6.8 | 14.3 | |||
Inadequado | 1 | 6.8 | 1 | 10.2 | 1 | 5.5 | 1 | 7.5 |
P-Valor = 0.0001 Teste Qui-quadrado de Pearson para tendência (p-valor <0.05) ** Valores Altamente significativos; *Valores Significativos; NS Valores Não Significativos. H1: Existe tendência significativa na distribuição das variáveis (p<0.05).
Fatores/Conceito | Blocos | Total | Acumulado (%) | |||||||||||
Objetivo | Organização | Estilo da Escrita | Aparência | Motivação | ||||||||||
Qtd | % | Qtd | % | Qtd | % | Qtd | % | Qtd | % | |||||
Alta Aceitabilidade | Totalmente Adequado | 8 | 61.54 | 8 | 60.00 | 9 | 69.23 | 10 | 76.92 | 8 | 63.08 | 9 | 66.15 | 92.46 |
Adequado | 4 | 30.77 | 4 | 27.69 | 3 | 23.08 | 3 | 19.23 | 4 | 30.77 | 3 | 26.31 | ||
Média e Baixa Aceitabilidade | Parcialmente Adequado | 0 | 0.00 | 0 | 3.08 | 0 | 0.00 | 0 | 1.92 | 0 | 1.54 | 0 | 1.31 | 7.54 |
Inadequado | 1 | 7.69 | 1 | 9.23 | 1 | 7.69 | 0 | 1.92 | 1 | 4.62 | 1 | 6.23 |
P-Valor = 0.0001** Teste Qui-quadrado de Pearson para tendência (p-valor <0.05) ** Valores Altamente significativos; *Valores Significativos; NS Valores Não Significativos. H1: Existe tendência significativa na distribuição das variáveis (p<0.05).
A avaliação dos juízes revelou valores de alta aceitabilidade para todos os itens dos três blocos, de modo que 85.7% das avaliações foram sinalizadas nas respostas do tipo totalmente adequado (47.2%) e adequado (38.5%). Nesse sentido, pode-se afirmar que a maioria significativa deles reconhece que a tecnologia educacional proposta é satisfatória quanto ao que se propõe (Tabela1).
Observa-se que em todos os blocos a resposta predominante foi o valor 1 (totalmente adequado). Contudo, verifica-se que no bloco estrutura e apresentação, apesar da frequência de respostas de valor 1 ter apresentado maior proporção (46.6%), a frequência das respostas para inadequado (10.2%) foi mais elevada do que nos demais blocos.
Ressalta-se que, as frequências de respostas para cada conceito por bloco de itens, tiveram que ser somadas e divididas pelo número de itens que compõem cada bloco, o que resultou em um número contínuo, sendo arredondado para apontar quantos juízes optaram por cada conceito.
Para o público-alvo observou-se que, com exceção do bloco referente à organização da tecnologia, em todos os outros a resposta predominante foi o valor 1 (totalmente adequado), com destaque para os blocos aparência e estilo de escrita, nos quais o percentual de totalmente adequado foi de 76.92% e 69.23%, respectivamente (Tabela 2).
Verifica-se ainda, que nos blocos objetivo, organização e motivação, apesar da frequência de respostas de valor 1 (totalmente adequado) apresentar menor proporção, 61.54%, 60% e 63.08%, respectivamente, a maioria das respostas concentrou-se no grupo de alta aceitabilidade, considerando-se que, no geral, 66.15% delas foram para o item 1 (totalmente adequado) e 26.31% foram para o item 2 (adequado), perfazendo um total de 92,46% das avaliações neste bloco, demonstrando que a avaliação do público-alvo também revelou valores de alta aceitabilidade para todos os itens dos cinco blocos, afirmando-se que a maioria deles reconhece que a tecnologia é satisfatória ao que se propõe.
Para análise do coeficiente de consistência interna do instrumento de coleta de dados foi aplicado o Alpha de Cronbach (Tabela 3), cujos valores obtidos foram de 0,971 e 0,934, para juízes e público-alvo, respectivamente. Estes valores são considerados confiáveis já que estão acima de 0,7 e quanto mais próximo de 1 este valor, maior a confiabilidade do instrumento a ser utilizado17,18.
Cronbach's Alpha | Cronbach's Alpha com base em itens padronizados | N (itens) | ||
---|---|---|---|---|
Juízes Especialistas | 0,971 | 0,971 | 17 | |
Público Alvo | 0,934 | 0,934 | 20 |
Utilizou-se o teste de análise de variância ANOVA para amostras independentes, que possibilitou testar as seguintes hipóteses:
H0 = não há diferença significativa na avaliação dos juízes especialistas em relação ao uso da tecnologia educacional proposta: Teste de Fisher. F = 0;
H1 = há diferença significativa na avaliação dos juízes especialistas em relação ao uso da tecnologia educacional proposta: Teste de Fisher. F ≠ 0;
H0= não há diferença significativa na avaliação do público-alvo em relação ao uso da tecnologia educacional proposta: Teste de Fisher. F = 0;
H1= há diferença significativa na avaliação do público-alvo em relação ao uso da tecnologia educacional proposta: Teste de Fisher. F ≠ 0; nível de significância α = 0,05
Entre os juízes, a estatística de teste (F) mostrou um p-valor igual a 0,982 e para o público-alvo 0,967 (Tabela 4). Como esses valores são maiores do que α = 0.05, a decisão é aceitar H0 para os dois grupos.Conclui-se que não existe diferença nos escores apresentados pelos participantes juízes e público-alvo, indicando alto grau de concordância intergrupo em torno das respostas mais frequentes, que foram 1 (totalmente adequado) e 2 (adequado).
Resumo do Teste de Hipótese | ||||||
---|---|---|---|---|---|---|
Hipótese nula (H0) | Teste | Sig. (p-valor) | Decisão | |||
juízes especialistas | Não há diferença significativa na avaliação dos juízes em relação ao uso da tecnologia educacional proposta | Teste ANOVA F = 0.18 | 0,982 | Não rejeitar a hipótese nula (H0). | ||
público-alvo | Não há diferença significativa na avaliação do público-alvo em relação ao uso da tecnologia educacional proposta | Teste ANOVA F = 0.49 | 0,967 | Não rejeitar a hipótese nula (H0). |
O nível de significância é p-valor<0,05.
DISCUSSÃO
A iniciativa de validação da tecnologia educacional sobre biossegurança na Atenção Primária em Saúde originou-se da necessidade de adoção de saberes científicos para fundamentar a prática dos profissionais no serviço. O processo de validação da tecnologia é imprescindível, tendo em vista a responsabilidade que cada pesquisador tem de disseminar informação de forma correta e com a maior cobertura possível19.
Na validação, as respostas dos juízes e público-alvo foram analisadas quantitativamente por meio dos itens do instrumento de coleta contidos em blocos de análise, com opções de resposta classificadas em quatro níveis: totalmente adequado; adequado; parcialmente adequado; inadequado. Ao realizar a análise estatística desses itens buscou-se o rigor recomendado no processo de validação, verificando a congruência entre as respostas e o atendimento dos objetivos propostos na tecnologia, conforme recomendado na literatura20.
Os resultados mostraram, predominantemente, valores de alta aceitabilidade nos itens propostos. Embora identificada pequena diferença nos escores apresentados pelos juízes (85,7%) e público-alvo (92,46%), entendeu-se que indicaram alto grau de concordância intergrupo em torno das respostas mais frequentes, que foram totalmente adequada e adequada na escala de avaliação. Resultados semelhantes foram identificados em estudo que, validou uma tecnologia educacional sobre fototerapia para orientação de familiares de neonatos com icterícia, no qual também foi obtida aceitação da tecnologia pelo público-alvo21.
A utilização do teste estatístico Alpha de Cronbach possibilitou analisar o coeficiente de consistência interna do instrumento de coleta de dados, mostrando sua validade e confiabilidade, além de assegurar o rigor metodológico aplicável e necessário em estudos dessa natureza22.
É importante destacar que, no julgamento dos juízes, a tecnologia educacional atende aos objetivos propostos, apresenta estrutura e organização adequadas. Os resultados com o público-alvo demonstraram concordância quanto aos objetivos, organização, estilo da escrita e aparência, além de motivar no que se propõe com sua aplicação. Este é um aspecto altamente relevante para assegurar a eficácia da ferramenta que se pretende utilizar para auxiliar esses profissionais no cotidiano dos serviços de forma rápida, segura e tecnicamente correta.
Validar a tecnologia simultaneamente com juízes e público-alvo foi de suma importância, pois, além de propiciar o seu reconhecimento como adequada ao que se propõe, possibilitou reunir diferentes saberes profissionais e aperfeiçoá-la como instrumento válido para uso no contexto da APS. Nesse sentido, o estudo reiterou que a união das contribuições dos especialistas e público-alvo pode elevar a credibilidade e a aceitação do material20.
Especialistas e público-alvo fizeram sugestões para melhor qualificar a tecnologia, considerando os aspectos com os quais fizeram concordância parcial ou discordância. Todas as sugestões foram consideradas pertinentes e incorporadas à versão final da tecnologia considerando que, ao serem selecionados para participar deste estudo, confiava-se em sua expertise no tema.
Vale destacar que, mesmo frente à inúmeras dificuldades na execução da pesquisa, a exemplo de conflitos de horários de funcionamento das unidades e agenda de trabalho dos profissionais, os pesquisadores conseguiram ultrapassá-las e fazer a validação com o rigor metodológico exigido, o que resultou em ferramenta com alta aceitação pelo público-alvo e possível aplicação nos serviços da APS em nível regional e nacional, por se tratar de tema comum e de suma importância para toda a área da saúde.
Isso foi possível verificar no momento de realização da devolutiva da pesquisa em que os pesquisadores apresentaram o produto para os profissionais que dela participaram, compondo o público-alvo.
Embora o estudo apresente esse pontos fortes, entende-se que há uma limitação no que diz respeito à reduzida possibilidade de discussão e interlocução com outros estudos, já que há pouca produção atualizada sobre validação de tecnologia.
CONCLUSÕES
O uso de tecnologias validadas pode conferir maior ênfase ao processo ensino-aprendizagem e na comunicação. Dessa forma, conclui-se que a tecnologia educacional validada, com êxito neste estudo, é um instrumento apropriado para utilização, pelos profissionais de saúde, nas práticas cotidianas, com o requisito da biossegurança na APS.
A avaliação detalhada dos juízes especialistas mostrou-se fundamental para evitar imprecisões técnicas. Além disso, a participação de um conjunto multiprofissional como público-alvo, possibilitou interdisciplinaridade na avaliação, trazendo os diversos saberes e experiências para o contexto da tecnologia.
Tanto especialistas como público-alvo avaliaram a tecnologia com altos percentuais, reconhecendo a clareza e pertinência das informações, considerando-a totalmente adequada e com fácil alcance dos objetivos propostos para sua utilização. Com isso, alcançou-se o objetivo definido para este estudo e espera-se que o mesmo possa promover conhecimento acerca da biossegurança, prevenindo e eliminando riscos no processo de trabalho.