Introdução
A avicultura possui grande relevância para o agronegócio brasileiro sendo atualmente o principal exportador de carne de frango do mundo, com 4,3 milhões de toneladas exportadas no ano de 2015, sendo que o país também é o segundo maior produtor, ficando atrás apenas dos da China, produzindo 13,146 milhões de toneladas e apresentando um consumo per capita de 43,25 kg por ano (ABPA, 2016).
Aproximadamente 70% dos custos de produção de frangos de corte está relacionado a alimentação das aves e neste contexto há a necessidade de promover o uso de ingredientes alternativos aos comumente utilizados nas dietas para animais. Entre os ingredientes possíveis de serem utilizados se encontra o mexilhão dourado, o qual quando transformado em farinha pode ser usado como fonte do mineral Cálcio (Ca) em dietas de animais não ruminantes.
O mexilhão dourado (Limnoperna fortunei) é um molusco que está invadindo grande parte dos rios da América do Sul (DARRIGRAN, 2010), estando também instalado nos rios brasileiros, sobretudo na represa da usina hidrelétrica de ITAIPU (PESTANA et al., 2008). Este molusco tem sido responsável por gerar prejuízos ao se incrustar em cascos de embarcações, tanques redes e também povoar grande parte da superfície do alagado da represa.
Não é possível eliminar este invasor dos rios nos quais está instalado e de acordo com o descrito por DARRIGRAN e DAMBORENEA (2006), o que se procura nestes casos é encontrar alternativas de controle para o invasor, portanto possíveis utilizações deste molusco em atividades produtivas se tornam de grande valia.
Estes organismos aquáticos podem gerar contaminações aos animais presentes no ecossistema no qual se encontram, pelo fato de possuir hábito filtrador e por isso podem possuir em seu organismo, alguns contaminantes presentes na água, os quais podem ser inseridos nas dietas dos outros animais por meio da cadeia trófica. Entre os contaminantes presentes, pode - se destacar os metais tóxicos como cádmio (Cd) e chumbo (Pb) (MARENGONI et al., 2013). Muitas vezes o mexilhão presente nos rios encontra-se contaminado por Cd e Pb, metais tóxicos conhecidamente causadores de problemas de ordem oncológica entre outros. Assim, para a utilização deste molusco em rações para animais, é necessário avaliar se os mesmos quando contaminados com metais pesados tóxicos podem ocasionar danos à saúde do animal bem como deixar resíduos nos produtos gerados.
Desta forma o presente trabalho tem por objetivo fazer uma revisão de literatura sobre a possibilidade de utilização do mexilhão dourado como fonte de cálcio na alimentação de frangos de corte.
Material e métodos
A metodologia utilizada neste trabalho consistiu na realização de pesquisa bibliográfica para a avaliação da possibilidade do uso de Mexilhão Dourado contaminado com metais tóxicos em dietas para frangos de corte. Esta revisão bibliográfica foi realizada através da consulta de livros, teses de doutorado, artigos científicos e resumos de congressos científicos.
Mexilhão dourado. O mexilhão dourado (Limnoperna fortunei) é um molusco bivalve filtrador de água doce pertencente à família Mytilidae. Caracteriza-se por ser uma espécie de caráter invasor e exótica, sendo originária da China e sudeste asiático (XU et al., 2015; DARRIGRAN e EZCURRA de DRAGO, 2000).
Na América do Sul o mexilhão dourado é a espécie invasora que está mais amplamente distribuída pelo território (BOLTOVSKOY et al., 2006). O molusco chegou no continente provavelmente na água de lastro de navios (PASTORINO et al., 1993) e a chegada do mesmo no continente foi constatada em 1991 e inicialmente se espalhou pela bacia do Rio Prata, sendo que em menos de dez anos este molusco já havia se espalhado a uma distância de 2500 quilômetros (DARRIGRAN e MANSUR, 2006; OLIVEIRA et al., 2006) e assim colonizou boa parte dos rios do continente (DARRIGRAN, 2010) e também a maioria dos rios brasileiros.
O mexilhão dourado é encontrado em toda a extensão do reservatório da usina hidrelétrica de ITAIPU (PESTANA et al., 2008), o qual é considerado o maior reservatório de água de usina hidrelétrica do mundo. De acordo com Darrigran (2002) este molusco pode ser encontrado em outras usinas e reservatórios pertencentes a bacia do Rio Paraná, responsável por causar diversos prejuízos de ordem econômica e ecológica e segundo Calazans et al. (2013), o mexilhão já se propagou até a fronteira norte do Pantanal e apresenta riscos de chegar até o Rio Amazonas e representa séria ameaça para a biodiversidade aquática dos rios.
De acordo com SIMONE (2006), os mexilhões medem em torno de três a quatro centímetros de comprimento quando adultos. Apresentam crescimento populacional elevado, devido às características do ciclo reprodutivo e à alta capacidade de adaptação às mais diferenciadas condições ambientais (DARRIGRAN e EZCURRA de DRAGO, 2000).
As características desta espécie como fixação aos mais variados tipos de substratos e superfícies, alta fecundidade, adaptação às variações climáticas, fazem com que o Limnoperna fortunei colonize novos ambientes e se distribuamos mais diversos ecossistemas aquáticos (LUMMATO et al., 2013). Este invasor mostra muita semelhança com os membros marinhos da família Mytilidae (DARRIGRAN et al., 2007).
Impactos ambientais causados pelo mexilhão dourado
O controle das populações do mexilhão dourado e sua eliminação dos rios é considerado impossível (CALAZANS et al., 2013), e segundo DARRIGRAN e DAMBORENEA (2006), o que se busca no caso é apenas o controle da invasão da espécie afim de diminuir o impacto ambiental, pois este invasor já se estabeleceu na América do Sul. O mexilhão dourado é responsável pela causa de graves impactos sobre o ambiente, provocando alterações na biodiversidade nativa, desestruturação do ecossistema, causando perdas naturais e econômicas nas regiões infestadas (DARRIGRAN et al., 2012).
Esta espécie tem causado muitos problemas devido a sua incrustação em cascos de embarcações e tanques rede, ocorrendo também a entrada deste molusco nos dutos das turbinas nas usinas hidroelétricas, gerando assim gastos com a limpeza e manutenção destes locais e equipamentos (DARRIGRAN, 2010).
Segundo SILVA (2006), a colonização dos ambientes pelo mexilhão dourado pode ser considerada prejudicial, por reduzir a biomassa e modificar a comunidade fitoplanctônica. Estes moluscos podem causar danos à fauna bentônica e aos peixes (MAROÑAS et al., 2003). De acordo com GIORDANI et al. (2005), a presença destes organismos pode acarretar uma redução na quantidade de sólidos suspensos da água aumentando a penetração da luz na coluna d’água.
A infestação com mexilhão dourado é a causa de um problema relevante no reservatório da usina hidroelétrica de ITAIPU, devido ao alto grau de infestação e à dificuldade que o controle do mesmo tem ocasionado (CANZI et al., 2014).
Estes moluscos fazem parte da dieta de várias espécies de peixes que compõem a fauna aquática da área onde ocorrem, sendo que os peixes são os maiores responsáveis pela predação deste invasor, porém apesar dos peixes conseguirem predar boa parte do mexilhão dourado a atividade dos mesmos não é suficiente para controlar a infestação em corpos hídricos pelo invasor (BARTSCH et al., 2005).
LOZANO et al. (2001) relataram que os peixes planctíveros podem ser prejudicados pela infestação do molusco em questão, pois os mesmos são responsáveis pela diminuição de fitoplâncton e zooplâncton que servem como alimento dessas espécies, e também pelo fato de que com a diminuição planctônica consequentemente há diminuição na transparência da água, aumentando assim a predação incidente sobre as larvas e alevinos de peixes.
Potencial de utilização de mexilhão dourado em dietas para animais
A agropecuária tem se consolidado como o setor mais produtivo no Brasil, estando em constante desenvolvimento, sendo cada vez mais observado um aumento na produtividade animal e para dar suporte ao crescimento nacional da produção pecuária, os custos de produção devem ser reduzidos. De acordo com MATHIAS et al. (2015), atualmente os custos de alimentação para a alimentação são responsáveis por representar o maior percentual dos custos totais com a produção animal, cerca de 70% destes, por isso a comunidade científica tem se voltado a pesquisar sobre a inclusão de alimentos alternativos nas dietas para animais, visando reduzir os custos com a alimentação destes (CANCHERINI et al., 2005).
O mexilhão dourado é um produto de origem animal, assim não podendo ser utilizado na alimentação de ruminantes devido à legislação vigente (BRASIL, 2004) a qual foi criada com a finalidade de evitar a transmissão da encefalopatia espongiforme entre os ruminantes, assim proibindo o uso de produtos de origem animal na alimentação dos mesmos, podendo assim ser utilizado apenas em dietas para animais não ruminantes.
Em estudo com a utilização de mexilhão dourado na dieta de frangos de corte BAYERLE et al. (2017) substituiu o calcário calcítico por farinha de mexilhão dourado e não obteve contaminação dos animais por Cd e Pb e os autores salientaram que este produto se destaca por não apresentar custos.
Importância do cálcio na alimentação animal
Os minerais para a nutrição animal são divididos em duas classes, a dos microminerais, ou como também podem ser chamado, minerais traços; e a dos macrominerais, os quais são exigidos em maior quantidade pelos animais, sendo que o cálcio pertence à classe dos macrominerais devido à sua importância e exigência na nutrição dos animais (SAKOMURA et al., 2014).
O Ca é o mineral mais abundante no organismo dos animais e cerca de 99% deste elemento é encontrado na forma de hidroxiapatita [3Ca3(PO4)2Ca(OH)2]. Sabe-se que o Ca participa como o principal constituinte de ossos e dentes. Uma pequena parte e não menos importante de 1% do Ca está distribuído nos tecidos moles, onde possui papel essencial na regulação das funções nervosas e musculares, atua no processo de coagulação sanguínea através da ativação da protrombina em trombina. O Ca também atua na ativação de diversas enzimas, sendo necessário para a manutenção da permeabilidade de membrana. Além disso, está envolvido no controle das contrações musculares e transmissão de impulsos nervosos (UNDERWOOD, 2010).
Os níveis sanguíneos de Ca são mantidos pela ação dos hormônios calcitonina, paratormônio e estrógeno. O mecanismo de controle e absorção de Ca é realizado por dois hormônios, o paratormônio é responsável pela ativação da calbindina que é a proteína responsável pelo transporte de cálcio no organismo, sendo também responsável pela ativação dos osteoclastos que são responsáveis pela reabsorção óssea de Ca e redução da eliminação renal, processo esse antagônico ao realizado pela calcitonina que diminui a ativação de osteoclastos e aumenta eliminação renal de Ca (SAKOMURA et al., 2014). Já os estrógenos são responsáveis por incrementar os níveis séricos de Ca durante o processo de maturação sexual e vida adulta das aves, devido à alta necessidade deste elemento na formação da casca de ovos e consequentemente na reprodução (WHITEHEAD, 1995).
Deve-se destacar a importância do papel exercido pela vitamina D no metabolismo e regulação do Ca para o organismo dos animais. A forma 1,25 dihidroxicolecalciferol [1,25-(OH)2-D3] atua na regulação do metabolismo do Ca, fazendo com que aumente a absorção de Ca nos intestinos, aumentando as concentrações do mineral no sangue e diminuindo a excreção deste (SAKOMURA et al., 2014).
Os animais podem produzir a vitamina D, isto ocorre pela ação da radiação solar sobre o 7- dehidrocolesterol e isto ocorre no tecido epitelial (NELSON e COX, 2012). Em animais de produção que em muitos casos são criados confinados e com baixa radiação solar aliado ao rápido crescimento e alta metabolização de Ca, necessitam de suplementação de vitamina D na dieta. A vitamina D pode ser fornecida para os animais sob duas formas, a D3 (origem animal) e a D2 (origem vegetal), porém as aves têm a particularidade de absorver apenas a vitamina na a forma D3 (SAKOMURA et al., 2014).
Presença de contaminantes no mexilhão dourado
A grande quantidade de Ca presente nas “conchas” do mexilhão dourado é o fator principal no interesse da utilização deste na alimentação animal, porém o principal empecilho da utilização destes em dietas para animais é o fato de estes moluscos serem pertencentes à espécie filtradora, pois segundo MARENGONI et al. (2013), o mexilhão tem como característica bioacumular em seus tecidos os contaminantes presentes nos corpos hídricos nos quais estão instalados os metais tóxicos, agrotóxicos e toxinas.
O fato deste molusco apresentar em muitos casos presença de contaminantes prejudiciais aos animais quando presentes na dieta pode causar um entrave na utilização do mexilhão dourado na alimentação animal (ALMEIDA et al., 2006).
Para utilizar o mexilhão na alimentação animal é necessário se ater a legislação existente, que estabelece o conceito de boas práticas de fabricação, sendo regularizado pela lei n° 6198, de 26 de dezembro de 1974 modificada pelo decreto 6296 de 2007 (BRASIL, 2007), onde se estabelece as normas gerais sobre inspeção e fiscalização da produção, comércio e do uso de produtos destinados à alimentação animal, a qual diz respeito aos procedimentos higiênicos, sanitários e operacionais usados durante todo o processo de produção, desde a obtenção da matéria-prima até a distribuição do produto final.
Os produtos de origem animal também estão sujeitos à contaminação microbiana, podendo ameaçar a saúde e a conservação dos alimentos, além de deteriorar e diminuir a qualidade nutricional dos ingredientes.
Legislação referente ao controle de metais pesados tóxicos em dietas e contaminação de produtos de origem animal
A presença de contaminantes no mexilhão dourado e em especial dos metais pesados tóxicos Cd e Pb pode ser o principal fator limitante da utilização dos mesmos. Existe regulamentação quanto às quantidades permitidas de metais pesados tóxicos nas dietas administradas para animais, sendo que atualmente as indústrias brasileiras se baseiam na Diretiva 2005/87/CE da união europeia, relativa às substâncias indesejáveis nos alimentos para animais, em especial Pb, flúor e Cd.
Já para as concentrações de Cd e Pb nos produtos de origem animal a ANVISA, por meio do decreto nº55.871 de 1965 (BRASIL, 1965), permite concentrações de até 1 mg kg-1 de Cd nos alimentos em geral, de 0,5 mg kg-1de Pb em carnes e de 0,2 mg kg-1 em carnes de aves.
Chumbo (Pb)
Este metal é descrito pela Organização Mundial da Saúde (OMS) como prejudicial à saúde humana (MARTINS et al., 2003), pois quando o Pb atinge concentrações elevadas, em animais e nos seres humanos, causa problemas de toxicidade, também sendo responsável por causar doenças como o câncer, que podem levar à morte.
O Pb é amplamente distribuído no meio ambiente, possuindo como principais fontes as erupções vulcânicas, porém são as atividades antropogênicas, como no caso da mineração, produção de baterias, fundição, fungicidas e pigmentos, considerados os maiores responsáveis por promover a contaminação do meio ambiente através da presença desse metal tóxico (FATMA, 1999).
O Pb ainda é utilizado em projéteis de armamentos, solda de equipamentos eletrônicos e como lastro de embarcações (GOYER e CHERIAN, 1995). HOET (2005) e HILL (2010) relataram que este metal possui ótimas propriedades, as quais justificam seu uso há milhares de anos estendendo-se até o momento, porém este fato fez com que este contaminante se distribuísse amplamente no ecossistema. No ambiente, o Pb está geralmente associado a algum elemento químico ou a uma substância.
Segundo HOET (2005), durante décadas ocorreu a adição de Pb tetraetila na gasolina com a finalidade de aumentar a octanagem, e esta aplicação gerou grande contaminação ambiental. Atualmente esta substância foi substituída por outras menos poluentes.
Em seres humanos expostos à contaminação por Pb, podem haver inúmeros problemas graves de saúde, sendo a toxicidade do Pb conhecida ha séculos. Os sintomas da exposição crônica a este elemento são: fadiga, desconfortos, irritabilidade, anemias e problemas no desenvolvimento intelectual (WHO, 1995). Segundo HOET (2005), o Pb é absorvido geralmente pela ingestão e no interior do organismo se associa aos tecidos ósseo, renal e sanguíneo. No sangue, está geralmente associado às hemoglobinas, sendo que quando há exposição a altas concentrações deste metal podem ocorrer problemas que afetam a produção de hemoglobinas, causando danos aos sistemas nervosos, nefropatia e problemas vasculares.
Em humanos, o Pb ataca o sistema nervoso central, afetando principalmente crianças em desenvolvimento, sendo responsável pela diminuição da capacidade de aprendizado. Já em adultos, causam dor nas articulações, problemas musculares, problemas renais que acarretam em acúmulo de ácido úrico no sangue e degeneração do sistema nervoso, que leva a ocorrência de problemas mentais (MARECEK, 1986).
Cádmio (Cd)
O Cd é um dos elementos químicos que apresenta maior toxidade aos seres vivos, apresentando assim um grande potencial impactante ao meio ambiente e é responsável por causar grande número de enfermidades em seres humanos (ATSDR, 2012).
O Cd é classificado como cancerígeno, sendo que os principais sintomas associados a este elemento são câncer de próstata, de pulmão e testículos (ATSDR, 2012). Nas células, o Cd afeta a proliferação, diferenciação e pode causar destruição celular, além de estar associado a danos renais, desde pequenas disfunções a insuficiências graves, também sendo apontado como causador de anemias, hipertensão e disfunções gástricas (FRIBERG, 1984).
As concentrações deste elemento nos meios aquáticos fazem com que haja perigo a diversos seres vivos, e isso ocorre principalmente nos que se encontram no topo da cadeia alimentar. Este metal, assim como os demais, é acumulado em vários níveis da cadeia trófica (LIMA e LOPES, 2007). Os principais locais de acumulação em organismos de seres vivos são nas estruturas ricas em Ca, como ossos e conchas. Nos ossos, este elemento tóxico é responsabilizado por causar aumento de porosidade e de inibição do mecanismo de reparo ósseo (BRAGA, 2002). Também de acordo com GOYER e CHERIAN (1995), este metal tóxico possui efeitos carcinogênicos, de nefrotoxicidade e prejudica os sistemas endócrino e reprodutivo. Segundo HIGGING (1975), o Cd embora apresente toxidade similar à do mercúrio (Hg), se destaca por apresentar maior diversidade de efeitos deletérios aos animais.
Nos seres humanos, o cádmio apresenta alto índice de contaminação em fumantes, onde é absorvido pelas vias respiratórias, mas a alimentação é o principal vetor de contaminação. Se especula que o ser humano absorva entre 3 e 7% do Cd presente na dieta apenas, tendo como principal sítio de absorção o duodeno, o qual apresenta pH alcalino (ATSDR, 2012).
Este elemento tóxico não apresenta papel fisiológico conhecido no organismo dos animais e humanos e apresenta toxidade à maioria dos seres vivos (FARIA et al 2008). Em seres humanos, este elemento se caracteriza por atingir os rins, ossos e pulmões, esse último ocorre principalmente por contaminação pela via aérea (DELLA ROSA e GOMES, 1988).
O organismo animal apresenta como principal defesa à contaminação uma proteína composta por 30% do aminoácido cisteína, chamada de metalotioneína. Esta possui baixo peso molecular e capacidade de se ligar com até sete átomos de Cd, os quais são transformados em forma biologicamente inativa e acumulados no organismo. Atualmente, esta proteína é o principal mecanismo de defesa dos animais em relação ao Cd (CHEN et al., 2006).
Este elemento tóxico é um componente natural de solos, rios e mares, porém a expansão da sua utilização ocorre por parte das indústrias onde é componente na produção de pigmentos para tintas, indústria de plásticos e ligas metálicas (RAMIREZ, 2002), porém de acordo com HILL (2010), a maior utilização deste metal é na fabricação de baterias recarregáveis à base de níquel e Cd, atividade que é responsável pela utilização de mais de 80% do Cd utilizado na indústria. Estas utilizações fazem com que a emissão deste contaminante no meio ambiente seja bastante aumentada em relação à emissão por fontes naturais (MARECEK et al., 1986).
Este metal é adicionado ao ambiente por meio da deposição de lixos industriais e urbano, esgoto e fertilizantes fosfatados entre outros, sendo facilmente absorvido e translocado pelos animais, apresentando assim grande potencial de adentrar a cadeia alimentar humana, podendo acarretar problemas de saúde (RAMIREZ, 2002).
Os principais fatores que afetam a absorção de Cd pelo organismo humano são semelhantes nas outras espécies animais, como pela presença de outros elementos que possuam efeito antagônico, forma química em que o elemento se encontra, idade e composição da dieta (HILL, 2010; SATARUG et al., 2010).
Considerações finais
O mexilhão dourado pode passar de invasor a potencial fonte mineral a ser utilizada na produção animal, pois o mesmo possui altos teores de cálcio e grande abundância nos ecossistemas aquáticos da América do Sul.
Para que este seja utilizado como alimento para os frangos de corte devem ser realizadas pesquisas visando detectar possíveis contaminantes que ocorram nestes como metais pesados tóxicos e entre estes principalmente o Cd e o Pb e devem ser realizadas pesquisas para determinar qual a digestibilidade do Ca presente no mexilhão e inclusão dos mesmos nas dietas para as aves.