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Revista de Estudios Sociales

versão impressa ISSN 0123-885X

Resumo

URZUA-MARTINEZ, Sergio  e  GONZALEZ FRANZANI, Macarena. Protestar e peregrinar em Santiago do Chile. O caso da animita de Mauricio Fredes durante a virada chilena. rev.estud.soc. [online]. 2022, n.82, pp.101-118.  Epub 03-Nov-2022. ISSN 0123-885X.  https://doi.org/10.7440/res82.2022.06.

Os cenotáfios são artefatos próprios de uma prática religioso-popular presente no Chile e em outros lugares do mundo andino. São construídas onde alguém encontra a morte, longe de seu lar e da companhia dos seus entes queridos, e são associadas geralmente a decessos trágicos, sangrentos ou violentos, assim como ocorreu em Santiago do Chile durante a revolta social com Mauricio Fredes, jovem manifestante que faleceu no centro da capital devido à repressão policial. O cenotáfio de Mauricio Fredes foi construída e experimentou um rápido crescimento graças a centenas de pessoas que chegaram diariamente a cumprimentar, cantar, entregar algum objeto ou alimento ou somente a observar silenciosa e contemplativamente. A partir do cenotáfio de Mauricio Fredes, perguntamo-nos se esses cenotáfios populares são simples imagens mortuárias destinadas a determinar o lugar da morte de uma pessoa ou se elas são experimentadas - por seus executores ou praticantes - como um corpo vivo e presente. Sob uma abordagem etnográfica, analisamos o cenotáfio de Mauricio Fredes considerando a materialidade, espacialidade e corporalidade dessa prática religioso-popular, e concluímos que esses lugares são experimentados por seus executores e praticantes como corpo vivo, cujo crescimento e desenvolvimento está baseado na crença recíproca em que seus devotos se apoiam. Também constatamos que, embora não seja dos cenotáfios se oporem às instituições, a de Mauricio Fredes se transformou numa imagem desconfortável, pois deu presença corpórea a uma vítima de uma “morte ruim”, consequência da ação de agentes do Estado e, por isso mesmo, tornou patente a força dessa prática religioso-popular no Chile, o que permitiu que o cenotáfio de Mauricio Fredes crescesse e persistisse, apesar das forças destrutivas que caíram sistematicamente sobre ele.

Palavras-chave : cenotáfio; corpo; erupção social chilena; etnografia; prática religioso-popular.

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