O Brasil, a exemplo de outros países em desenvolvimento vem passando por uma transição demográfica com diminuição das taxas de fecundidade e de mortalidade. O consequente aumento da longevidade gera novas demandas sociais, com maior consumo de medicamentos e procura por serviços de saúde 1. Associado a esta transição demográfica, ocorreu uma transição epidemiológica com prevalência de doenças crônico-degenerativas, entre elas a hipertensão arterial e Diabetes mellitus tipo 2 (DM 2) 2-4. Muitas vezes com causa desconhecida, estas enfermidades se desenvolvem de maneira silenciosa, são irreversíveis, mas quando detectadas a tempo são controláveis 4. Em decorrência de todos esses fatores associados e com aumento do número de comorbidades e alterações fisiológicas próprias do envelhecimento, os idosos representam a classe que mais consome medicamentos e, consequentemente, apresentam maiores chances de reações negativas a medicamentos 5.
A DM 2 decorre de um distúrbio na ação ou secreção de insulina, resultando em anormalidades no metabolismo de carboidratos, lipídios e proteínas 6. Esta doença acomete 7,6% da população brasileira entre 30 a 69 anos e está associada a maior prevalência de patologias cardiovasculares 7. Segundo Diógenes e colaboradores 8 a prevalência da dm 2 vem se intensificando, devido principalmente ao envelhecimento da população, ao ritmo acelerado da urbanização, da obesidade e aumento da sobrevida dos portadores de DM 2.
Dados da Sociedade Brasileira de Diabetes (SBD) 9 indicam que a doença atinge mais de 383 milhões de pessoas no mundo e até 2035 a previsão é que esse número chegue a 592 milhões, sendo que o Brasil ocupará a 4a posição do ranking, com 11,9 milhões de diabéticos, perdendo apenas para China, Índia e Estados Unidos.
A DM tipo 2 juntamente com a hipertensão arterial são as principais patologias associadas com o aumento da polimedicação ou polifarmácia e aos riscos associados ao uso crônico de medicamentos 3. O termo polifar-mácia foi discutido pela primeira vez em 1959 e, a partir daí surgiram várias definições e estudos relacionados a essa questão. Segundo Flores e Mengue 10 considera-se polimedicação ou polifarmácia o uso de cinco ou mais medicamentos concomitantes num período igual ou superior a uma semana.
Neste sentido, estudos apontam que os idosos chegam a fazer uso de 3,5 medicamentos simultaneamente 5. Ao se pensar na realidade do idoso diabético o número de fármacos utilizados aumenta significativamente, sendo que estudos realizados por Nascimento e colaboradores 7 demonstraram que 75% dos pacientes diabéticos fazem uso diário de 5 a 8 medicamentos e o restante da amostra chega a utilizar 8 medicamentos/dia ou mais.
A polifarmácia favorece o descumprimento das prescrições, resultando em problemas relacionados com a segurança dos medicamentos, reações adversas graves, interações medicamentosas, aumento do uso de medicamentos inadequados e o surgimento de iatrogenias. A prescrição inadequada pode ocasionar reações adversas, e para minimizar estes sintomas são prescritos mais medicamentos, configurando desta forma a cascata iatrogênica 2,11. De acordo com Secoli 2, as interações medicamentosas acontecem em 13% para os idosos que usam dois medicamentos, 58% para aqueles que recebem cinco, podendo chegar a 82% quando o consumo excede a sete fármacos.
Baseado no exposto infere-se que a terapia medicamentosa nessa faixa etária requer cuidados especiais e conhecimento a respeito das reações adversas que os medicamentos podem provocar, neste sentido é essencial a educação em saúde, o acompanhamento farmacoterapêutico durante a dispensação, com orientações acerca da prática de automedicação, dos riscos de interrupção, troca ou substituição de medicamentos. Dessa forma, objetivou-se analisar os fatores associados à polimedicação e a utilização de medicamentos potencialmente inapropriados em idosos diabéticos.
METODOLOGIA
Realizou-se um estudo descritivo transversal, com abordagem quantitativa. A população do estudo foi constituída por idosos com 60 anos ou mais, com diagnóstico de diabetes mellitus tipo 2, residentes na cidade de Frederico Westphalen/RS. O município de Frederico Westphalen possui uma população total estimada em 30.251 habitantes, com área territorial de 264,976 Km2, situado na região Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul 12. A população idosa do município compreende 3 767 indivíduos, sendo 1.656 do sexo masculino (43,97%) e 2 111 do sexo feminino (56,04%).
Para a constituição da amostra, inicialmente foi realizada uma pesquisa no banco de dados da Unidade Básica de Saúde Central de Frederico Westphalen/RS e selecionados todos os sujeitos que atendiam aos seguintes critérios de inclusão: indivíduos com idade igual ou superior a 60 anos, portadores de DM 2 em qualquer fase da doença e que foram encontrados em seu domicílio em até três tentativas de visitas previamente agendadas. Indivíduos com limitações auditivas e visuais foram incluídos no estudo. Foram excluídos da amostra os indivíduos que após três visitas consecutivas não se encontravam nos endereços cadastrados ou que não concordaram em participar do estudo.
Em um segundo momento, cada sujeito foi contatado e esclarecido acerca dos objetivos e procedimentos do estudo e, concordando em participar, foi agendado o dia e horário para a visita domiciliar para a realização da coleta de dados. A partir dessas condições a amostra foi constituída por 127 idosos.
Para avaliação do perfil sociodemográfico foi utilizado o questionário de Classificação Econômica da Associação Brasileira de Empresas de Pesquisa (ABEP) 13. Esses critérios são baseados em um instrumento de segmentação econômica que utiliza o levantamento de características domiciliares (presença e quantidade de alguns itens de conforto e grau escolaridade do chefe de família) para diferenciar a população em diferentes classes econômicas pelo poder de compra dos indivíduos e famílias. Para esta análise, os sujeitos foram agrupados nas seguintes classes: A1 e A2 (alta), B1, B2, C1 e C2 (média) e D e E (baixa). Para avaliação das condições de saúde, uso de medicamentos, polimedicação e outros, utilizou-se o questionário adaptado de Morais 14. Foi considerado polimedicado o idoso que consumia cinco ou mais medicamentos simultâneos de acordo com Flores e Mengue 10, sem período determinado. Os medicamentos utilizados foram classificados de acordo com o Anatomical-Therapeutical-Chemical Classification.
A coleta de dados foi realizada pela própria pesquisadora, no período de outubro de 2013 a fevereiro de 2014. Em dia e horário previamente agendados, cada sujeito foi entrevistado em visita domiciliar, posteriormente a assinatura do termo de consentimento livre e esclarecido concordando em tomar parte do estudo. Para a entrevista, cada idoso foi orientado a responder o instrumento de pesquisa sem auxílio de familiares ou amigos e apresentar todos os medicamentos que estava utilizando no momento da pesquisa.
Para análise dos dados foi utilizada a estatística descritiva (média e desvio padrão) e para a análise das associações entre as variáveis utilizou-se o teste de Qui-quadrado de Pearson ou Exato de Fischer, quando pertinentes. Para todas as análises utilizou-se o pacote estatístico, o SPSS® - Statiscal Package for the Social Sciences (versão 20.0). O valor de significância para α foi estabelecido, a priori, em 5%.
O projeto de pesquisa foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa Envolvendo Seres Humanos da Universidade Comunitária da Região de Chapecó (Unochapecó), protocolo n° 135/13.
RESULTADOS
Este estudo avaliou o uso de medicamentos e a polifarmácia em 127 idosos diabéticos, sendo 41 do sexo masculino (idade = 69,9 ± 6,9 anos) e 86 do sexo feminino (idade=71,1 ± 7,7 anos). As características socioeconômicas dos idosos em função do sexo (Tabela 1), evidenciou que o estado civil e a aposentadoria foram associados significativamente (p <0,005) com o sexo. A condição de estar vivendo sozinho foi mais comum entre as mulheres (45,3%) que entre os homens (5,0%), enquanto que ser casado ou viver com companheiro foi uma condição mais comum entre os homens que entre as mulheres (95,0 e 54,7%, respectivamente).
# Diferença estatisticamente significante (p < 0,05); 1 Teste Exato de Fischer; 2 Teste de Qui-quadrado de Pearson
Em relação a aposentadoria, 15,7% das mulheres não estavam aposentadas, comparado a apenas 2,4% dos homens (Tabela 1). A aposentadoria por tempo de serviço foi mais frequente para o sexo masculino (58,5%) que para o feminino (32,5%), para o qual a aposentadoria por idade é mais frequente em mulheres (50,6%) que entre os homens (26,8%). Aposentadoria por invalidez foi pouco frequente entre as mulheres em relação aos homens (1,2% e 12,2%, respectivamente). Não foram evidenciadas associações estatisticamente significativas (p>0,05) entre o sexo e alfabetização (se lê e escreve) e condição socioeconômica (Tabela 1).
O estado de saúde, o uso ou não de medicamentos e o número de medicamentos consumidos (2 a 4 medicamentos/dia ou 5 ou mais medicamentos/dia) não presentou associação estatisticamente significante com o sexo. A maioria, tanto de homens quanto de mulheres, avaliou sua saúde como regular (58,5 e 55,8%, respectivamente). Dos idosos que referiram uma condição de saúde boa ou ótima, 22,1% eram do sexo feminino e 29,3% do masculino.(Tabela 2)
# Diferença estatisticamente significante (p < 0,05); 1 Teste de Qui-quadrado de Pearson; 2 Teste Exato de Fischer
Outro dado relevante deste estudo foi o fato de que todos os sujeitos que compuseram a amostra faziam uso de pelo menos um medicamento, sendo que o consumo médio foi de 5,8 fármacos por idoso. Considerando o uso de cinco ou mais fármacos 9, a prevalência total de polifarmácia entre os idosos estudados foi de 85,8% sendo de 78% no grupo masculino (IC 95% = 0,63 a 0,88) e 89,5% no grupo feminino (IC 95% = 0,81 a 0,94), com o consumo de medicamentos variando de dois a 14, com a maior proporção relacionada com uso de seis ou mais medicamentos simultâneos. (Tabela 3)
Com relação aos fármacos utilizados para o controle da DM2, a metformina foi o fármaco mais utilizado (n=99), seguido pela glibenclamida (n=2), sitagliptina (n=2), pioglitazona (n=1), glimeprida (n=1) e vildagliptina + metformina (n=1). Além disso, 20 pacientes estavam em tratamento com insulina.
A análise do uso de polimedicação em função da cor da pele, estado civil, alfabetização (se lê e escreve), aposentadoria, condição econômica e condição familiar é apresentada na Tabela 4. Não foram observadas associações estatisticamente significantes (p>0,05) entre uso de polimedicação e cor da pele, estado civil, alfabetização (se lê e escreve), aposentadoria, condição econômica e condição familiar.
# Diferença estatisticamente significante (p < 0,05); 1 Teste Exato de Fischer; 2 Teste de Qui-quadrado de Pearson
Com relação à presença de outras patologias ou comorbidades associadas a DM2, a análise dos dados evidenciou que 100% dos idosos diabéticos relataram ter ao menos uma doença associada. As patologias mais prevalentes foram: hipertensão arterial (92,8%), problemas cardíacos (70,8%), circulatórios (40,8%) e problemas osteoarticulares (44,5%). Uma das complicações crônicas da DM, a catarata, esteve presente em 23,2% dos idosos. Como esperado, a obesidade (49,6%) e problemas com insônia (33,5%) também foram relatados pelos idosos.
Na Tabela 5 pode-se verificar que de acordo com os critérios estabelecidos na lista de Beers-Fick, 12 fármacos utilizados pelos idosos do presente estudo foram considerados potencialmente inapropriados e nove pelos critérios estabelecidos na lista de PRISCUS. Dos 127 indivíduos do estudo, sessenta (47,2%) deles fizeram uso de MPIs, o que demonstra a necessidade de critérios pré-estabelecidos para a prescrição correta de fármacos. Entre os medicamentos considerados inapropriados os mais consumidos foram os benzodiazepínicos, antidepressivos, anti-hipertensivos e anti-histamínicos (Tabela 5).
DISCUSSÃO
Os dados do presente estudo evidenciaram uma alta prevalência de polimedicação na população de idosos diabéticos (85%), sendo que o consumo médio foi de 5,8 fármacos por idoso. Esse fato é bastante preocupante, pois de acordo com Secoli e colaboradores 2, o uso simultâneo de seis ou mais medicamentos pode elevar o risco de interações medicamentosas em 100% e ocasionar graves efeitos adversos, desencadeando quadros de confusão mental, risco de quedas e fraturas e intoxicações.
A polimedicação pode acarretar várias consequências aos idosos, pois conforme aumenta a complexidade do tratamento farmacológico, aumentam os fatores associados à não adesão, redução da qualidade de vida, efeitos colaterais, interação medicamentosa, hospitalizações, com consequente, aumento dos custos da atenção 15,16.
Dados similares foram descritos por Nascimento e colaboradores 7 em um estudo sobre medicação e complicações crônicas em população de idosos portadores de DM2. Os autores evidenciaram que 75% da amostra faziam uso diário de 5 a 8 medicamentos e 12,5% de 8 medicamentos/dia ou mais.
Dados do projeto Bambuí revelou que a prevalência do uso de medicamentos foi de 85,7%; destes 70,4% consumiam dois ou mais medicamentos, 44,8% haviam consumido de 2 a 4 medicamentos e 25,5% consumiam cinco ou mais medicamentos 17.
Galato e colaboradores 4 demonstraram que a média de medicamentos consumidos por idosos foi de 3,5 (DP= 2,58), sendo que o número de medicamentos variou de zero a 11. Quanto ao uso de polimedicação, esses autores evidenciaram que 51,9% dos idosos faziam uso de polimedicação menor (de dois a quatro medicamentos) e 28,8% faziam uso de polimedicação maior (uso de cinco ou mais). Esses achados são contrastantes, visto que em nosso estudo observou-se que 85,0% dos idosos faziam uso de polimedicação maior. Sugere-se que este fato possa estar relacionado à presença de DM2 na população alvo deste estudo, o que representa um fator predisponente para o uso da polifarmácia. Entretanto, é de extrema relevância ressaltar que o uso de medicamentos em pacientes diabéticos deve ser feito somente em casos onde não se consegue controlar os níveis glicêmicos após o uso de medidas dietéticas, perda de peso, prática de exercício físico regular e da suspensão do tabagismo, fatores que evitariam a necessidade do uso de polimedicação.
Ressalta-se desta maneira a necessidade de políticas públicas que visem promover o uso racional de medicamentos, principalmente em idosos diabéticos, tais como a realização de cursos ou programas educativos, práticas de atividade física, acompanhamento nutricional e subsídios para que cuidadores, familiares e o próprio idoso possam utilizar os medicamentos de maneira mais segura.
A prevalência do número de mulheres em relação aos homens na amostra estudada (67,7% e 32,3% respectivamente), corrobora os cálculos de projeções para população idosa 12, os quais referem que 55,7% da população idosa brasileira é do sexo feminino. De fato, o envelhecimento está associado ao gênero, já que apresenta um contingente feminino expressivo.
Similarmente, estudo realizado por Flores e Mengue 10 também foi encontrado uma maior proporção de mulheres (66%), podendo refletir desta maneira a maior longevidade relacionada ao sexo feminino. De acordo com Lloyd-Sherlock 18 as maiores taxas de mortalidade masculina estão associadas a violência, acidentes de trânsito e doenças crônicas. Já as mulheres apresentam maiores taxas de morbidade relacionadas a doenças crônicas não fatais. Além disso, acredita-se que as mulheres apresentam uma postura diferente em relação às doenças e ao conceito de saúde, procurando assistência de forma mais frequente e rápida, fator que pode estar associado a maior prevalência de mulheres nas populações com idades mais avançadas.
Em relação ao estado civil, os dados encontrados são similares a outros estudos, os quais demonstram que a parcela de indivíduos viúvos ou sem companheiros é bastante expressiva e está associada a diferenças significativas entre os sexos. De fato, a transição demográfica e epidemiológica ocorrida no Brasil, evidencia um aumento desproporcional das faixas etárias mais elevadas com predominância de mulheres viúvas 19.
Os dados relacionados à aposentadoria são similares a um estudo realizado em Porto Alegre/RS, onde 83,6% dos idosos eram aposentados ou pensionistas, havendo maior proporção de homens quando comparados às mulheres 20. Estudos de Lebrão e Laurenti 21 demonstram que a principal fonte de renda dos idosos brasileiros está vinculada a aposentadoria e pensões. Além disso, as fontes de renda predominantes entre os homens idosos são a aposentadoria por idade e tempo de serviço.
Em relação ao estado de saúde autorreferido, evidenciou-se que tanto homens quanto mulheres avaliaram sua saúde como regular (58,5 e 55,8%, respectivamente). Dos idosos que referiram uma condição de saúde boa ou ótima, 22,1% eram do sexo feminino e 29,2% do masculino. Esses dados sugerem que apesar das limitações impostas pelo processo de envelhecimento e pelas doenças, os idosos possuem uma visão positiva em relação a sua saúde.
Em relação as doenças mais prevalentes entre os idosos entrevistados, a doença cardiovascular é a principal responsável pela redução da sobrevida de diabéticos, sendo a causa mais frequente de mortalidade. Matsumoto e colaboradores 22 descrevem a diabetes mellitus, juntamente com a hipertensão arterial, como as primeiras e principais causas de mortalidade, de hospitalização e de amputações de membros inferiores.
Neste sentido, o surgimento de comorbidades associadas a doenças crônicas podem gerar um grande potencial para o aumento do consumo de medicamentos 23,24. Associado com as alterações provocadas pelo envelhecimento, gerando assim, condições favoráveis para reações adversas e interações medicamentosas, problemas na adesão ao tratamento e iatrogenias 25.
Além do elevado consumo de medicamentos, neste estudo evidenciou-se a utilização de medicamentos considerados potencialmente inapropriados para idosos, o que demonstra a necessidade de critérios pré-estabelecidos para a prescrição correta de fármacos. A falta de conhecimento dos MPIS para idosos poderia ser prevenida na etapa inicial da prescrição com o uso de listas de fácil manuseio. Essas listas contêm fármacos com riscos de provocar graves efeitos colaterais, superiores aos seus benefícios. As listas como a de Beers-Fick 26 e PRISCUS são auxiliares na prática clínica para a ação preventiva 27.
Segundo Oliveira e colaboradores 28, a evidência de alternativa igual ou mais efetiva, com menor risco de tratar a mesma condição, deveria ser levada em conta para a adequada prescrição. Salienta-se que não existe no Brasil uma lista adequada com todos os fármacos disponíveis no mercado e que a elaboração de listas específicas deveria ser uma medida imediata para minimizar os efeitos negativos aos medicamentos na população idosa. Entretanto, o uso de listas elaboradas em outros países é útil na prevenção do uso de MPI.
Ao compararem a lista da Relação de Medicamentos Essenciais (RENAME) de 2010 e a lista de medicamentos contidos no componente básico da Assistência Farmacêutica com os critérios de Beers-Fick, Oliveira e colaboradores 28 demonstraram que 9% dos medicamentos contidos na RENAME e 19,7% da relação de medicamentos da Assistência Farmacêutica Básica (AFB) são considerados potencialmente inapropriados para idosos. Isso demonstra que uma parte representativa da população brasileira em condições de pobreza, que somente tem acesso aos medicamentos disponíveis na rede pública estão vulneráveis aos riscos associados à farmacoterapêutica.
De modo geral, este estudo instigou novas formas de pensar a Assistência Farmacêutica, como uma prática vista sob a ótica integral e não pensada apenas como compra e dispensação de medicamentos. Os profissionais da área da saúde precisam estar mais qualificados para selecionar os medicamentos mais seguros, eficazes e custo-efetivos, atuar na promoção do uso racional dos medicamentos, através de ações que disciplinem a prescrição, a dispensação e o consumo de medicamentos, obtendo a melhor resposta terapêutica possível.
O presente estudo apresenta limitações por se tratar de um estudo transversal, razão pela qual não se pode estabelecer a temporalidade dos fatores associados ♦