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Universitas Humanística
versão impressa ISSN 0120-4807
univ.humanist. no.79 Bogotá jan./jun. 2015
APRESENTAÇÁO
o número 79 da Revista Universitas Humanística surgiu da convocatória monográfica que fizemos para o número 78 sobre Feminismos Dissidentes. Para aquela chamada recebemos um número significativo de contribuições, muitas das quais não tratavam diretamente o tema em questão, senão que referiam-se a assuntos relativos a estudos de género ou estudos sobre mulheres na sua diversidade (mulheres indígenas por exemplo, mulheres jovens, mulheres vítimas de violência). Com isso em mente, a equipe editorial juntamente com as editoras convidadas para o número 78, decidiu conformar un novo material que coletasse tais discussões e permitisse dar conta das múltiplas reflexões que estão a ser feitas sobre a teoria social e as problemáticas contemporâneas desde perspectivas feministas clássicas, mas também desde a incorporação da pergunta pelo género para estudos de outra índole, por exemplo relacionados com questões étnicas, relativas à sexualidade e mesmo à discussão teórica sobre o género em si próprio como categoria útil para a teoria social.
Em relação com este último ponto, iniciamos este monográfico com algumas reflexões teóricas na seção Controversia. Para empezar temos o trabalho de Alexánder Hincapié García aonde expõem-se alguns enfoques desde os que poderia se explicar a questão do gênero. Tomando como referência o trabalho "O género: uma categoria útil para a análise histórica» escrito por Joan Scott, o autor expõe três teorias: Orígenes do patriarcado, Orígenes do marxismo e do feminismo, e a teoria psicanalítica. Na parte final do trabalho expõe-se a teoria pós-estruturalista de Judith Butler. A continuação temos o trabalho de Alejandra del Rocio Bello Urrego que trata sobre as narrações em relação com a categoria Terceiro Mundo defendidas por mulheres e homens migrantes e autóctones na Europa.
A nossa seção Horizontes é composta por três artigos de pesquisa que apresentam resultados de indagações nos que a categoria de género foi central. Em primeiro lugar temos o trabalho de Silvana Sciortino no que é abordada a experiência de mulheres indígenas na Argentina e sua relação com as principais demandas dos feminismos desse país, mediante pesquisa de tipo etnográfico. Em diálogo com este trabalho, o artigo de Natalia Castelnuovo Biraben descreve a incorporação das mulheres guaranis do norte argentino nos processos de participação política e de acesso à liderança. Para isso Castelnuovo aborda o papel que tiveram organizações não governamentais -através de oficinas e capacitações- no conhecimento dos direitos e as transformações no papel da mulher guarani a nível histórico. O último artigo desta seção é a contribuição de Karina Fulladosa-Leal, quem apresenta uma experiência de produção do conhecimento particular através de uma metodologia ativista feminista.
A seção Otras Voces é composta por duas reflexões em português. Por um lado está o trabalho de Luciana Gruppelli Loponte no que a autora faz recorrido geral pelo tratamento teórico das artes visuais, feminismo e educação, focando de modo particular no caso do Brasil. Por outro lado temos o artigo de Jacicarla Souza da Silva no que destaca-se a Cecilia Meireles e Gabriela Mistral como autoras latinoamericanas e suas contribuições à configuração de certas vozes próprias da região.
Para fechar o monográfico a seção Investigación Joven é composta de dois trabalhos. O primeiro deles é o artigo de Tomás Henriquez Murgas onde é tratada uma performance de selo político-conceitual relacionado com o aborto no Chile e se coloca uma discussão que estabelece conexões teóricas entre esta performance e o campo do ativismo artístico, com-preendendo-o como ficção política capaz de gerar pensamento crítico contra certos esquemas normativos de socialização. Por fim, está o artigo de Alexandra Chocontá Piraquive no que argumenta - se que o yaoi, produto cultural de origem japonês que contem histórias relativas a personagens masculinos envolvidos em relações homoeróticas, permite a suas jovens aficionadas se apropriar de e reinterpretar sua própria sexualidade em jeitos que desafiam os padrões normalizados impostos à sexualidade feminina hoje.
Juntamente com estes nove artigos que compõem o nosso espaço monográfico sobre estudos de gênero, este número 79 de Universitas Humanística traz também uma resenha de Marisa Ruiz Trejo sobre o livro "Interseções: corpos e sexualidades na encruzilhada" de Raquel (Lucas) Platero e um artigo na seção Espaço Aberto que retoma as discussões do nosso número 76 sobre Perspectivas Situadas dos Estudos Sociais da Ciência e Tecnologia. Trata-se da contribuição de María Fernanda Olarte Sierra, Adriana Diaz del Castillo, Natalia Pulido Ronchaquira, Nathalia Cabrera Villota e Roberto Suárez Montañes. Este trabalho coletivo apresenta uma temática muito nova para os estudos de ciência e tecnologia (ESCT): a produção de conhecimento sobre práticas genocidas e os mecanismos pelos quais estas práticas produzem memória coletiva. Dado que na América Latina existe abundante bibliografia sobre práticas da memória, mas poucos trabalhos que utilizam uma abordagem dos ESCT, o objeto e o enfoque do trabalho são de por si valiosos.
Como sempre, este esforço editorial está hoje nas suas mãos, esperamos vocês curtirem, aproveitarem, discutirem e pôr em circulação.
Tania Pérez-Bustos
Editora