1. Introdução
Hoje, mais do que nunca, entende-se a necessidade do acesso a informação. Contudo, preocupa-se, de que forma acontece esse acesso, visto que trabalhar com a informação não é simplesmente disponibilizá-la; muitas vezes é imprescindível algum agente mediador. O acesso só acontece com entendimento e apropriação, em muitos casos não existe conhecimento suficiente para entender e apropriar, quando existe essa distância entre o sujeito e a informação, se faz importante um processo comunicacional que na Ciência da Informação é conhecido como Mediação da Informação.
A Mediação da Informação estudada neste âmbito tem como preocupação a forma como uma pessoa tem acesso à informação, ou seja, a intervenção no momento da aquisição, da recepção e da apropriação da informação. A Mediação da informação neste conceito comunicacional de interação entre indivíduos e percepção simbólica, gera outro entendimento acerca desse termo, que é a Mediação como uma prática.
Há, no entanto na CI pensamentos distintos, porém focalizados em um mesmo ponto, a transmissão do conhecimento que gera uma mudança drástica no papel do profissional da informação. Para Silva (2010): Paul Otlet e Ranganathan inauguram essa visão de que a biblioteca não é apenas um local de guarda de materiais físicos do conhecimento. Que o profissional ali atuante necessita se conectar com a comunidade e disseminar os seus conteúdos.
Ainda segundo Silva (2010), um dos primeiros a perceber a Mediação como papel do profissional é Ortega y Gasset, porém a visão do filósofo espanhol não é a de mediador como disseminador, mas de censor.
Ortega y Gasset percebia o bibliotecário como um policial do livro: “O livro aparecia-lhe como fonte de conflito e implicava, consequentemente, uma mudança de postura, uma aposta mediadora radical, de afrontamento do problema e de acção.” (Silva, 2010, p. 20).
Esses pensamentos mesmo que distintos, são caracterizados pelo seu período. Falar que os três pensadores são produtos de seu tempo é truísmo, pois são contemporâneos, viveram a sociedade pós-industrial e se aproximavam da ideia de sociedade em rede. Portanto, não padeciam da rigorosidade, percebiam as mudanças na função do bibliotecário, sabiam que o suporte físico não era o limite de seu labor.
Hodiernamente sabe-se que a principal função do bibliotecário é servir de processador e filtro, sendo uma função perigosa, pois é necessário que seja consciente e coerente com as necessidades do usuário (Valentim, 2000). Não servir de policial como queria Ortega y Gasset, mas sim de intermédio entre o conhecimento e o usuário.
O conceito de Mediação tem sua interpretação vinculada aos diversos exercícios e práticas que fazem parte da Biblioteconomia, porque foi por muito tempo, vinculada ao Serviço de Referência, porém percebe-se que a CI tem-se ocupado do assunto, encarregando-se da discussão conceitual do termo.
Assim como a Ciência da Informação tem dificuldade em se conceituar, devido a diferentes visões e escopos permitidos, a Mediação no âmbito da Ciência da Informação também é problemática quanto a sua definição conceitual. A interdisciplinaridade da área permite o trânsito entre as fronteiras epistemológicas, fazendo assim que o conceito de Mediação flane por diversos métodos.
Para Almeida (2008), a falta de discussão dos pesquisadores da área acaba por transformar o conceito em algo amorfo e pouco caracterizado. Para ele não é necessário que se discuta a ponto de definir o conceito Mediação, mas é necessário que se estabeleça determinantes próprias, para que Mediação não se torne uma confusão semântica. “Como em muitos casos os textos sobre o tema - ou que, de alguma maneira, o abordam - consideram seu conceito intuitivamente assimilado, apreendido e compreendido.” (Almeida Júnior, 2009, p. 91).
A heterogeneidade é característica da pós-modernidade, e segundo Harvey (2008, p. 97), é um desligamento do pensamento moderno, muito próximo do positivismo. Nesse cenário que a fragmentação, indeterminação e a “[...] intensa desconfiança de todos os discursos universais ou totalizantes [...]” é que se percebe que a Mediação está inserida nas discussões da CI.
A ideia utópica de que o termo possa ser praticado pelos pesquisadores de forma semelhante não é real. Davallon (2007) entende que as diferentes formas de se trabalhar o termo é para se abarcar todas as possibilidades interdisciplinares. As relações da Mediação na Ciência da Informação compreendem: Linguística, Ciências Sociais, História, Semiótica, Pedagogia, Artes entre outras.
Pensar como e de que forma utilizar a Mediação é um processo real de estudo (Almeida, 2008). Tem-se que exercitar a realidade e as suas redes de relações, com o fazer científico. Para Capra (1996) as inter-relações são a propulsão do mundo, nenhuma parte é fundamental, todas são eventos oriundos dessas relações, portanto a Mediação se apoiar em diferentes teorias e conceitos pode ser resultado de uma consolidação estrutural da área.
Capra (1996) argumenta que a ciência não está mais baseada no método cartesiano, sendo assim, o observador é fundamental no entendimento do todo, antes se entendia o acontecimento como um processo independente. A Mediação então é cheia de diferentes visões, pois epistemologicamente ela não é analisada sobre o mesmo critério. Diferentes posições epistemológicas produzem diferentes manifestações científicas.
Morin e Wulf (2003) atentam para esse fato da inter-relação, avaliam que o mundo é inter-relacionado, sendo assim o fazer científico tem que responder essa característica. E para que o conhecimento seja pertinente, é necessário que exista uma contextualização. Não se pode pensar e produzir conhecimentos em fatos isolados fechados em sua própria característica.
Dentro do exposto, questiona-se: qual é o conceito e as relações de Mediação da Informação para os pesquisadores brasileiros em Ciência da Informação?
2. Mediação da Informação: Definições e Usos
A Mediação da informação é um conceito que, apesar de muito trabalhado na Ciência da Informação, ainda não exibe uma discussão mais aprofundada, deixando-a assim com dificuldades de demonstrar seus limites e paradoxos (Almeida, 2008). Esse problema de conceituação acontece concomitantemente à busca da CI em se definir. Em cada região do mundo a CI é caracterizada de uma forma, portanto é natural que conceitos distintos também sejam criados conforme o interesse da área (Silva, 2010). No Brasil a CI é fundamentada nas produções estadunidense, produções essas que são voltadas para a concepção tecnológica e organizacional da CI.
Assim, pensar o processo de conceituação da Mediação no Brasil está intrinsicamente relacionado a transpor o aspecto de organização e representação, e partir para as características sociais da CI. Perceber a dificuldade desse procedimento é incluir o conceito que alguns pesquisadores brasileiros estão se pautando nos serviços de unidades de informação. Muitas vezes o conceito de Mediação está aproximado com o setor de referência, no entanto, não é apenas ali seu espaço de atuação (Almeida Júnior, 2009). Mediação não precisa ser institucionalizada como um serviço.
Jean Davallon (2007) afirma que a conceituação de Mediação encontra-se diversas vezes definida em textos da Ciência da Informação e da Comunicação. Tornar um conceito em algo científico é um trabalho que necessita estudo e embasamento teórico, mas, mais do que isso, de um corpus teórico; sendo que a dificuldade está em a Mediação ser mais prática que teórica, por isso, muitas vezes o termo estar ligado ao setor de referência, ou seja, um serviço, pois a utilidade prática e a forma de execução, sua ação, não faz com que o pesquisador a pense cientificamente, e se volte para o caráter tecnocrático e tecnológico da CI.
Encontram-se também definições científicas de Mediação informacional como um processo a partir do qual os atores, “[...] situados em campos histórico-culturais de conflito e contradição, negociam, disputam e confrontam sentidos simbólicos destinados à leitura, apreensão e nomeação do real.” (Martins, 2010, p. 209). Sendo assim, não muito distante do conceito do senso comum, mas em que se percebe a situação dos sujeitos, não sendo apenas uma troca, mas sim uma interferência consciente das situações de ambos.
A relação entre mediação e informação tem caráter dialético, portanto, é necessária a consideração de diversos aspectos, entre eles: um aspecto histórico, já que os sujeitos e suas técnicas estão inseridos em determinadas circunstâncias sócio temporais, em uma interação de produção de sentidos; um aspecto totalizante, porque inclui um movimento sucessivo e encadeado a outros, de modo a compor-se em um todo, não sendo possível analisá-los separadamente; e, uma tensionalidade, que, imanente à sociedade, assinala as relações e práticas sociais, além da produção de sentido subjacente às realidades de cada indivíduo (Cardoso, 1994).
A Mediação e a Filosofia são correlatas, o tratamento simbólico que se utiliza na Mediação é formulado nas práticas filosóficas. A cultura é um produto das relações antropológicas dos sujeitos, suas relações comunicacionais e midiáticas são objetos da Antropologia, porém o entendimento que os sujeitos retiram dessa relação é simbólica, o sujeito precisa conhecer os métodos simbólicos utilizados para se comunicar. A tradução simbólica é chamada de Mediação, não pelo entendimento do símbolo, mas pelo fato de estar embasada na vivência pessoal e na realidade. O simbólico é um fator cultural totalizante, porém a consciência é um desvio que não se recompõe na ordem simbólica (Davallon, 2007).
Nesse sentido, Almeida (2012) entende que a Mediação é uma atividade de característica semiótica. Pois, a Mediação é um “[...] processo que leva em conta a interação de sujeitos com o objetivo de aproximar universos simbólicos para permitir que a informação circule entre os interaturantes.”. Se a comunicação é um processo de significação, logo
[...] não poderá existir comunicação sem signos. Como o processo de comunicação requer a circulação de signos (verbais e não verbais) podemos entendê-lo, obviamente, como um processo semiótico, e por sua vez, traducional na medida em que procura aproximar realidades distantes. (Almeida, 2012).
Silva (2010) apresenta a língua como a primeira Mediação. Segundo ele é a forma que os indivíduos constroem o real percebido. É a criação do significado que apresenta a primeira forma de Mediação. Todavia, tem-se a Mediação pelo signo linguístico, a palavra obviamente é o que move qualquer tipo de Mediação, mas existe a preocupação com a oralidade como uma maneira de Mediação.
Bortolin e Almeida Júnior (2011) chamam o mediador oral de “[...] leitor-narrador, que é, [...] o indivíduo que medeia o encontro do leitor com diferentes textos (de origem escrita ou oral), utilizando o seu suporte vocal para ler ou narrar.” Dessa maneira, o mediador oral tem uma ligação muito próxima com literatura ou a contação de história.
Em trabalho apresentado para o Encontro Nacional de Pesquisa em Ciência da Informação (ENANCIB), Crippa (2012) aborda o papel da literatura e cinema para a Mediação de questões relacionadas a CI. Ela não discute o livro ou filme como mediador, mas sim, a própria narrativa como agente da mediação. A autora afirma que as representações analisadas por ela, são capazes de estabelecer a operação simbólica, para que o leitor entenda o funcionamento de aspectos da CI, como a leitura, a biblioteca, entre outros.
Para este texto entende-se que, a Mediação acontece em diferentes âmbitos, entre eles: “[...] do usuário, do profissional da informação, do suporte informacional, do produtor da informação, das mídias, dos meios, dos equipamentos informacionais, etc.” (Almeida Júnior, 2009, p. 99), não se restringindo a determinados espaços. Porém, a necessidade de utilização da Mediação, como instrumento de análise de processos distintos, faz com que ela receba diferentes concepções.
Mediação é um termo amplo e a sua utilização prá-tica o limita, pois todas as formas de Mediação listadas por Davallon (2007) podem ser entendidas como pontos de uma disciplina.
Araújo (2012) a entende como o ponto de intersecção das áreas de Biblioteconomia, Arquivologia e Museologia. Para ele as instituições de interesse de cada área exerce a mesma função, dessa forma esse conceito é o elo entre essas disciplinas, servindo como escopo da CI.
O entendimento integralizado de Araújo é muito próximo do pensamento de Silva, que propõe a Mediação pós-custodial. A respeito dessa mediação ele argumenta:
O paradigma custodial e patrimonialista desenvolveu-se, sobretudo, a partir de uma formação localizada e centrada no locus profissional (Arquivos, Bibliotecas e Museus), com suas tarefas e exigências práticas que se sobrepunham a eventuais preocupações teóricas e reflexivas. (Silva, 2010, p. 11).
Para ele a produção humana é grande, por isso, que é necessário se preocupar com a forma geradora da informação, essa produção se manifesta virtualmente, e os profissionais da informação precisam estar atentos ao trabalho em rede, pois a internet,
[...] está a revolucionar e a instaurar o reordenamento possível para os serviços de informação e para os comportamentos de mediadores - arquivistas, bibliotecários, documentalistas, gestores de informação, designers de conteúdos multimédia, etc. - e de utilizadores, em especial, os info-incluídos e os born digital ou nativos da internet. (Silva, 2010, p. 23).
A world wide web, ou rede, se transformou em um espaço democrático e de fácil acesso. Tornando-se um novo espaço de cultura patrimonial. Não que os arquivos, museus e bibliotecas tenham perdido seu espaço na cultura contemporânea, mas os mesmos perderam sua característica de instrumentos do Estado. E a rede permitiu a coexistência em suportes distintos, assim, “[...] a informação sobressai como a ‘substância’ a ‘destacar’ e, a seguir, porquanto continuará sendo reproduzida e posta, sem limites, a ‘circular’. E isto é, obviamente, o oposto de [...] guardar, de fechar, de esconder.” (Silva, 2010, p. 13).
Portanto, a Mediação pode ser um processo que ajuda o indivíduo no momento de acessar a informação institucional. Não se deve pensar instituição apenas como um processo burocrático do Estado, mas também como espaço social, estrutura organizada por regras e por convenções. “Que implica um conjunto de operações e decisões que demandam, além da capacidade técnica dos mediadores, sensibilidade cultural e certo grau de habilidades criativas.” (Crippa; Almeida, 2011, p. 193). Estes espaços são fundamentais no processo de armazenamento e disseminação da informação baseada no viés da Documentação. Onde o pensamento institucional não era limitador,
[...] seu objetivo não era juntar uma coleção, guardar um estoque numa determinada instituição [arquivo, biblioteca ou museu], mas sim promover um serviço transversal, cooperativo entre as diferentes instituições (e entre os diferentes tipos de instituições, também). (Araújo, 2012).
Essa visão dinâmica entre instituições se aproxima do posicionamento de Almeida Júnior (2006, p. 262) para a função do profissional, que é:
Mediação da informação é toda ação de interferência - realizada pelo profissional da informação -, direta ou indireta; consciente ou inconsciente; individual ou coletiva; que propicia a apropriação de informação que satisfaça, plena ou parcialmente, uma necessidade informacional.
Nessa conceituação tem-se a possibilidade de diferentes áreas de atuação e uma dinâmica que não se prende a instituições e nem fazeres, mas sim na preocupação do resultado final, que é a apropriação.
3. Procedimentos Metodológicos
Este trabalho tem origem no Projeto de Pesquisa “A Oralidade na Mediação da Informação, da Literatura e da Memória”, com um recorte teórico que segundo a categorização de Demo (2000) é classificada dessa forma quando se procura estudar teorias e conceitos. De natureza básica, pois não resultou em nenhum tipo de produto, mas que será utilizada para o avanço científico.
Do ponto de vista de seus objetivos é uma pesquisa exploratória, pois pretendeu “[...] facilitar a delimitação do tema da pesquisa, descobrir um novo tipo de enfoque para o assunto.” (Prodanov; Freitas, 2013, p. 52).
Apresenta como universo, os pesquisadores que tiveram trabalhos aceitos no Grupo de Trabalho (GT) 3, na área de Mediação, Circulação e Apropriação da Informação, nos três últimos anos do Encontro Nacional de Pesquisa em Ciência da Informação (ENANCIB) que fossem vinculados a alguma Instituição de Ensino Superior (IES).
O instrumento metodológico utilizado foi o Método Delphi, que é uma metodologia apesar de antiga, muito pouco utilizada. O método surge na década de 1950 e é nomeado pelo filósofo alemão Abraham Kaplan (Kairalla, 1984, p. 12). O Delphi lida com prospecções de diversos sujeitos participantes, para que esses interajam e cheguem a um ponto em comum em suas definições e conceitos. A técnica propõe que a intuição é uma fonte vital para percepção de conhecimento, sem a necessidade do contato físico com o pesquisador, o método Delphi foi criado pela Rand Corporation (Kairalla, 1984).
O Delphi é possível, pois a metodologia das Ciências Sociais Aplicadas não necessariamente necessita da comprovação numérica, assim como exigem as Ciências Biológicas e Exatas. Mesmo sendo a palavra Delphi relacionada ao Oráculo de Delfos com características de adivinhação do futuro, o método serve para amparar conceitos que não estão claramente definidos (Cunha, 1984). Um dos pontos positivos da pesquisa está no fato do anonimato; essa característica da metodologia reduz a influência de fatores psicológicos, como: a persuasão, a dominância de grupos e opiniões e a relutância em abandonar posições (Wright; Giovinazzo, 2000). O resultado pretendido com o método Delphi foi reunir as percepções dos principais teóricos da Ciência da Informação, e como proposições não se tratam de saberes fechados.
A metodologia foi realizada em três rodadas, como ela permite encaminhar as mesmas perguntas em rodadas diferentes ou, se o pesquisador achar pertinente, acrescentar novas a fim de melhorar a qualidade da pesquisa, no decorrer da investigação optou-se pelo segundo formato.
A escolha dos participantes, na metodologia chamados de painelistas, foi levado em consideração a importância dos mesmos para o tema proposto. Como para essa pesquisa o número de participantes e a sua importância, além dos critérios de escolha foi decidido previamente, esse caráter não é relevante (Wright; Giovinazzo, 2000).
Chegou-se a 12 nomes e após a localização dos e-mails desses sujeitos enviou-se um convite, com as explicações da pesquisa e o cronograma do envio das respostas. O e-mail foi enviado com cópia oculta para que os sujeitos não soubessem quem eram os participantes.
Obtiveram-se quatro respostas positivas de participação e uma negativa, conforme foi solicitado no e-mail convite, isto porque caso o e-mail não fosse respondido existiria a possibilidade de reenvio do convite. Porém, para a primeira rodada apenas quatro participantes responderam, obtendo 33,3% entre o universo delimitado, como o número foi superior a 20% decidiu-se continuar com o estudo.
A partir desse panorama, foi elaborado um questionário com perguntas abertas, que foi aplicado aos participantes, a fim de conseguir compreender empiricamente a forma como o pesquisador de Ciência da Informação entende e usa um conceito pouco definido como é a Mediação.
Para Marconi e Lakatos (2010, p. 184), “[...] questionário é um instrumento de coleta de dados constituído por uma série ordenada de perguntas, que devem ser respondidas por escrito e sem a presença do entrevistador.” A elaboração do questionário requer atenção para aumentar a eficácia e a validade das respostas. É necessário conhecer bem o sujeito e a situação em que ele se encontra, e evitar perguntas que sua resposta seja inválida ou subjetiva (Marconi; Lakatos, 2010, p. 185). Ainda segundo Marconi e Lakatos (2010), uma das desvantagens do questionário é a baixa porcentagem de questionários devolvidos e não possibilidade de ser utilizado em analfabetos. A entrevista quando bem elaborada consegue resultados mais significativos que outros métodos (Marconi; Lakatos, 2010).
Feito os primeiros contatos de apresentação do estudo e a concordância com as regras (como: prazo de entrega das respostas), o estudo iniciou-se com o envio das questões da primeira rodada. A primeira rodada é a mais extensa, pois a partir dela é que as outras rodadas serão baseadas (Kairalla, 1984). Normalmente há uma abstenção de 50% a 30% na primeira rodada, e de 30% a 20% na segunda (Wright; Giovinazzo, 2000).
Após a compilação e análise das respostas, decidiu-se sobre a necessidade de agregar novas perguntas, iniciou-se a segunda rodada. Nela foram fornecidas as respostas dadas no momento anterior, para que dessa forma os pontos convergentes e divergentes ficassem evidentes.
O objetivo desse procedimento era que o participante questionasse seu ponto de vista ao extremo e possibilitasse o pensamento crítico que necessário ao se trabalhar com conceitos e saberes distintos.
Após as considerações feitas e a devolução da segunda rodada, houve uma nova compilação com as alterações e um novo questionário foi criado, agiuse dessa forma, para perceber mudanças e aproximações nas respostas.
4. Análise e Apresentação dos Resultados
As perguntas propostas aos painelistas foram concebidas preocupando-se em percorrer a extensão do problema levantado, que é: qual é o conceito e relações de Mediação da Informação para os pesquisadores brasileiros? Para a apresentação dos resultados e uma melhor visualização e interpretação, as respostas foram transformadas em um diagrama gráfico.
Dessa forma, pretendeu-se mostrar qual é o conceito de Mediação da Informação utilizado pelos pesquisadores brasileiros, e se esse conceito é uniforme entre eles.
É importante evidenciar que no início da primeira rodada apenas três pesquisadores haviam confirmado a participação, porém no final da primeira rodada, início da segunda, um participante respondeu o e-mail convite, entrando assim na segunda rodada. Foi aceita a participação desse pesquisador devido a importância de mais uma opinião, já que o número de participantes era pequeno. Contudo, na segunda rodada um participante não respondeu, continuando assim com 33,3% de contribuição.
Ainda durante a segunda rodada, foram acrescentadas três perguntas, pois se percebeu que as perguntas da primeira rodada não foram suficientes para se construir um painel conceitual edificante para a pesquisa. Como o método prevê a inserção de novas perguntas, desde que elas sejam relacionadas às perguntas anteriores e o foco não se descaracterize, assim procedeu-se.
Para a terceira rodada não se propôs novas perguntas, visando perceber se os participantes teriam convergido a um mesmo ponto na elaboração do conceito. Avaliou-se que a inserção de novas questões traria uma preocupação maior entre eles de responder a pergunta inédita, e não em refletir quanto à influência das questões anteriores no pensamento deles.
A seguir incluímos o quadro criado a partir das respostas dadas.
Os participantes entendem Mediação da Informação, em uma das respostas, como um processo de intervenção na produção e uso de informação. Acrescentou-se o aspecto institucional como também um mediador, não apenas o profissional. Contudo não existe a possibilidade de associar essa afirmação com o termo Mediação Institucional de Davallon (2007), que para o autor está vinculada a Mediação Social, isto é, a Mediação Institucional é o mecanismo utilizado para se estabelecer a ligação social.
Outra resposta traz a ideia de interferência. Mas não a relaciona com instituições como sendo mediadoras. Fala de forma direta e indireta, que pode se relacionar com a Mediação explícita e implícita, e da apropriação como forma de entendimento do processo de Mediação. Usa a palavra satisfação, pouco utilizada em aspectos comunicacionais, devido a dificuldade de medição, portanto, sendo muito raro o uso desse termo.
Em outra resposta o participante percebe a Mediação como um processo informacional, assim como indexação e classificação, fazendo essa comparação ele aproxima a Mediação de um caráter mais técnico, porém voltada para a disseminação da informação, seria, portanto a visão de que o espaço da Mediação é no Serviço de Referência. Contudo ele também aproxima da área cultural, numa posição semelhante de Teixeira Coelho (2004, p. 248), quando afirma que Mediação são “processos de diferente natureza cuja meta é promover a aproximação entre indivíduos ou coletividades e obras de cultura e arte”, assim, uma atividade que não necessita a exclusividade de formação da Biblioteconomia, Arquivologia ou Museologia.
Portanto, a interferência é uma característica na prática do profissional de informação, sua Mediação depende de escolhas próprias, e essa seleção das atitudes, da interferência é o motivo da Mediação.
Existe uma separação do entendimento de Mediação da Ciência da Informação e das áreas de Arquivologia, Biblioteconomia e Museologia. Para os respondentes a Ciência da Informação é quem fica encarregada de pensar o conceito, ao passo que as três áreas executam atividades em que o conceito é empregado.
Araújo (2012) aponta a Mediação como uma temática de aproximação entre as três áreas. Assim como Silva (2010) defende a ideia de Mediação pós-custodial, em que área de atuação não é relevante, mas a ideia de acesso e apropriação, e a dinamização do papel do profissional. Almeida Júnior (2006) também fala na interferência do profissional no acesso para a apropriação da informação pelo usuário. Logo, essas três opiniões corroboram pela ideia de que Mediação está presente na Ciência da Informação e permeia pela Biblioteconomia, Arquivologia e Museologia. Um participante traz a relação com a Comunicação, que segundo Davallon (2007) é uma das áreas onde se faz a discussão científica do conceito. Silva (2010) também percebe essa aproximação devido ao fato do constante uso de Martin-Barbero nos textos sobre o assunto, contudo para Silva a preocupação de Martin-Barbero não é com a Mediação da Informação e sim com a Mediação feita pela Sociologia. A resposta vai ao encontro do aspecto semiótico levantado por Davallon (2007) e Almeida (2012), sendo o processo comunicacional um processo de tradução simbólica, portanto há relação com Filosofia e Semiótica.
A resposta do participante A traz a discussão do empréstimo do termo de um teórico que não é da Ciência da Informação. Segundo A, o termo nasce de Martin-Barbero, retomando a discussão do uso de um teórico preocupado com o processo comunicacional, com as discussões de produção da informação, cultura de massas entre outras, apoiado na Escola de Frankfurt (Silva, 2010). Contudo, deve-se lembrar do exposto na introdução deste trabalho de que o termo surge antes, sendo Otlet, Ranganathan e Ortega y Gasset que iniciaram essa discussão. Vale destacar que o empréstimo de Martín-Barbero foi fundamental para a discussão do conceito, mas que o foco da discussão dele não é o mesmo que o dos pesquisadores de CI (Silva, 2010).
Nenhum dos participantes entende a Mediação como um paradigma da Ciência da Informação. Para um dos autores ainda está se consolidando perante as discussões científicas. Outro acredita que o con- 130 Rev. Interam. Bibliot. Medellín (Colombia) Vol. 39, número 2/mayo-agosto 2016 pp. 121-132 ISSN 0120-0976 [ Sueli Bortolin-Fernando Cruz Lopes ] ceito é trabalhado dentro de Apropriação da Informação, portanto Apropriação seria um paradigma. E outro defende a mudança do objeto da Ciência da Informação para o conceito de Mediação.
Assim como dito anteriormente, a discussão conceitual da área não produziu um corpus teórico suficiente para se considerar o conceito um paradigma. Pensando na definição de Kuhn, estariam às discussões em uma fase pré-paradigmática.
Para Kuhn (1978, p. 220) “[...] paradigma é aquilo que os membros de uma comunidade partilham e, inversamente, uma comunidade científica consiste em homens que partilham um paradigma.” O surgimento do paradigma está intrinsecamente relacionado com a ideia de metanarrativa, a ciência não vive uma história linear, portanto:
[...] a aparição de enigmas não resolvidos, de anomalias, provoca crises de repetição que se amplificam até que um paradigma rival se apresente como alternativa, por sua capacidade de resolver os problemas colocados. Nesse momento, segundo Kuhn, ele é adotado pela comunidade científica. (DOSSE, 2003, p. 115).
A discussão quanto a mudança do objeto da Ciência da Informação é feita por diversos autores: Monteiro (2006) que discute a mudança para conhecimento, em vez de informação, assim como Zins (2011). Almeida Júnior (2009) defende que a Mediação deve ser o objeto, pois compreende os aspectos efêmeros, diferentemente da informação enquanto objeto, que apenas permite o aspecto registrado, o físico, o material. Contudo, nem a discussão enquanto objeto, e nem a discussão conceitual atingiram o grau de paradigmas. Para se tornarem paradigmas, precisam produzir um número maior de textos científicos que discutam um mesmo ponto, e não é isso que se percebe, tem-se muito uso do conceito, mas cada uso tende para um tipo de entendimento.
5. Considerações Finais
Ao iniciar as leituras do material bibliográfico da área fica evidente que os conceitos são muito distantes, que a produção brasileira é díspar.
Foi necessário buscar um ponto de intersecção entre o pensamento produzido, mas percebeu-se que muitos conceitos estão baseados em autores internacionais, e que, além disso, são de áreas diferentes da CI, o que leva a conclusão de que a Mediação está sendo tratada de maneira positivista. As Ciências Sociais permitem um aporte mais teórico, porém pouco se produziu em Mediação em sua teoria e gênese.
Esse tratamento positivista é entendido como um resgate, de conceitos e paradigmas, de outras Ciências e acomodando-os na Ciência da Informação. Esse tipo de atitude não é benéfico para o crescimento e discussão da área. Essa maneira de lidar com teoria acaba por não permitir a construção de aportes teóricos enraizados na própria CI.
A proposta por um estudo em que um dos objetivos era construir consenso foi fundamental para amadurecimento pessoal nas pesquisas em Mediação da Informação. Para que as pesquisas futuras possam estar embasadas em um delimitador, mesmo que parta apenas deste pesquisador.
A metodologia Delphi é pouco utilizada, isso foi um fator negativo na pesquisa, devido a falta de conhecimento da mesma, a participação foi ínfima. Quando foram enviadas as perguntas da terceira rodada, alguns deles questionaram se deveriam responder novamente. Tanto que apenas um respondeu a última rodada, talvez fosse necessário deixar mais evidente para cada um deles como funciona o método, para que houvesse pouca desistência.
Porém não foi um fator de influência no resultado da pesquisa. Com as duas primeiras rodadas foi possível perceber o posicionamento de cada participante, além disso na finalização das rodadas foi notado que criar consenso em Mediação é algo muito complexo, que necessitaria de um número maior de participantes, e que preferencialmente as discussões fossem ao vivo, uma espécie de grupo focal, com intuito de legitimar o conceito e se possível criar um paradigma na área.
As respostas, porém foram elucidativas quanto ao posicionamento de cada participante em relação ao conceito e foi importante perceber que a dificuldade em se conceituar Mediação está no seu aporte interdisciplinar, pois como cada um retira o que lhe interessa de um local distinto, no final, o sujeito não percebe em que ponto está baseado esse julgamento e talvez o pesquisador também.
Pensar a Mediação enquanto conceito é fundamental para que os pesquisadores passem a se preocupar com o corpus. Cabe aos pesquisadores se preocupem mais com essas questões epistemológicas. A produção bibliográfica continua sendo feita, e os conceitos sendo utilizados de maneira indiscriminada. Faz-se necessário continuar com os questionamentos da investigação, para que se consolidem as pesquisas em Mediação da Informação. Discussão de conceitos é feita demasiadamente na Ciência da Informação, e muitas delas infrutíferas, porém quando existe é necessário prestar atenção em seus benefícios e na sua consolidação para a área.