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Acta Agronómica

Print version ISSN 0120-2812

Acta Agron. vol.56 no.2 Palmira Apr./June 2007

 

Especies frutíferas do centro-sul do Estado de Rondônia, Amazônia brasileira

Fruit species of Rondônia State center-south, Brazilian Amazon

1. Santina Rodrigues, 2. Diego G. Caetano N., 3. Creucí Maria Caetano

1-2. Faculdade de Ciências Biomédicas de Cacoal, Av. Curaba 3087, Cacoal, Rondônia Brasil. Autor para correspondência: santi@capitaldocafe.com.br;
3. Facultad de Ciencias Agropecuarias, Universidad Nacional de Colombia, AA 237. Palmira, Valle del Cauca, Colombia. cmcaetano@palmira.unal.edu.co

REC: FEBRERO 21 / 07. ACEP: MAYO 14 / 07


RESUMEN

Este trabalho se constitui no primeiro levantamento de espécies frutíferas do Estado de Rondônia, na Amazônia brasileira. Iniciado em 2005, até o momento foram catalogadas 22 espécies, distribuídas em 13 famílias botânicas. Entre as famílias destaca-se Palmae e Sterculiaceae, cada uma com cinco espécies descritas. Algumas espécies não fazem parte do conhecimento popular, sendo consumidas principalmente pela fauna silvestre, como Diospyros brasiliensis Mart. (caqui-do-mato), Bellucia grossularioides (L.) Triana (jambinho) e Maclura tinctoria (L.) Engl. (amoreira). Além do uso alimentício, há espécies que apresentam novos potenciais, caso do açaí Euterpe oleracea Mart., cujas sementes são utilizadas na fabricação de biojóias.

Palavras-chave: Amazônia, frutos comestíveis, Palmae, Sterculiaceae.


ABSTRACT

This work constitutes the first survey of fruitful species of Rondônia State, in the Brazilian Amazon. This started in 2005, until now 22 species had been catalogued, distributed in 13 botanical families. Among the families Palmae and Sterculiaceae have been distinguished, each one with five described species. Some species are not part of the popular knowledge, being consumed mainly for the wild fauna, as Diospyros brasiliensis Mart. (caqui-do-mato), Bellucia grossularioides (L.) Triana (jambinho) and Maclura tinctoria (L.) Engl. (amoreira). Beyond the nourishing use, some species present new potentials, case of açaí Euterpe oleracea Mart., whose seeds are used in the manufacture of “bio-jewels”.

Key words: Brazilian Amazon, edible fruits, Palmae, Sterculiaceae.


INTRODUÇÃO

O termo Amazônia define uma região com aproximadamente 6.000.000 km2, dos quais mais de 60% encontra-se em território brasileiro, com uma área limitada pelo paralelo 16º S em Mato Grosso, 13º S, em Goiás (Tocantins), e pelo meridiano 44º W de Greenwich, no Maranhão (Guarim Neto, 1994).

Para Di Stasi e Hiruma-Lima (2002) a importância da Amazônia não se restringe apenas às espécies animais e vegetais, mas também à riqueza do conhecimento popular acerca do uso de plantas, que se origina tanto da necessidade de uma terapêutica alternativa pelo baixo poder aquisitivo e pelo difícil acesso à assistência médica, como da grande influência cultural indígena da região.

Poucos trabalhos foram realizados sobre as espécies frutíferas na região amazônica brasileira, entre eles os de Cavalcante (1991) e Guarim Neto (1985; 1994). Ambos ressaltam que é considerável o número de espécies da flora amazônica com frutos comestíveis, portanto podem fazer parte da segurança alimentar das populações locais.

No que concerne ao Estado de Rondônia, este se encontra inserido na região amazônica e está dividido fitofisionomicamente em floresta tropical úmida, floresta pluvial, matas de galeria e algumas áreas típicas de cerrado. O potencial econômico de sua flora é diversificado, considerando as espécies de utilização madeireira, medicinal, frutífera e aquelas que apresentam potencial ornamental. Para as que apresentam frutos comestíveis, não existe nenhum levantamento completo.

Deste modo, este estudo objetiva inventariar, entre as espécies botânicas presentes na região centro-sul deste Estado, as que são tipicamente frutíferas, bem como determinar alguns aspectos etnobotânicos como nomes regionais e usos atuais ou potenciais, como forma de conservação desta diversidade.

MATERIAIS E MÉTODOS

Este estudo foi iniciado em 2005, tendo sido observadas e catalogadas as espécies frutíferas dos municípios da região centro-sul do Estado de Rondônia, Brasil, que são aproveitados pela população e/ou pela fauna silvestre. Esta zona apresenta um alto grau de intervenção antrópica, existindo algumas áreas de vegetação nativa em especial nas margens de rios e igarapés.

Foram realizadas excursões para coleta e reconhecimento de material botânico nos municípios de Cacoal, Novo Horizonte D'Oeste, Pimenta Bueno, Presidente Médici e Rolim de Moura. Os locais de amostragem foram determinados em função da presença das espécies, de forma nativa ou cultivada. Paralelamente foram aplicados questionários e entrevistas para o levantamento etnobotânico, junto aos moradores destas localidades.

Os dados das fichas de coleta foram confrontados com os etnobotânicos, gerando para cada espécie uma descrição baseada em especial em hábito e fenologia (época de frutificação) e o uso dado pela população.

Os especímenes, consistindo de ramas completas (em estado reprodutivo), foram coletados em triplicata, prensados e organizados segundo as metodologias convencionais (Guia do UFMT, Herbário Central, 1998). Estes se encontram depositados no Laboratório de Botânica da Faculdade de Ciências Biomédicas de Cacoal (FACIMED).

As espécies vegetais foram apresentadas por ordem alfabética de seus nomes vernaculares, seguindo-se do nome científico e da família botânica, assim como as considerações gerais e respectivos usos.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Até o momento foram compiladas 22 espécies distribuídas em 13 famílias botânicas. Dentre as famílias, as mais representativas em número, com cinco espécies cada, foram Sterculiaceae com Theobroma cacao L. (Figura 1a), T. speciosum Willd., T. grandiflorum (Willd. ex. Spreng.) K. Schum. (Figura 1b), Guazuma tomentosa HBK e G. ulmifolia Lam.) e Palmae (Euterpe oleracea Mart., Mauritia flexuosa L. (Figura 1c), Bactris gasipaes Kunth., B. dahlgreniana Glasman e Astrocaryum aculeatum G. Mey). Para as demais famílias se registraram uma espécie cada. Segue a descrição de algumas características de cada recurso genético estudado. A Figura 1 mostra algumas das espécies de frutíferas mais comuns na região.

1. Açaí, açaizeiro, palmito-açaí. Euterpe oleracea Mart. (Palmae). Esta espécie é muito difundida na região, ocorrendo com tronco entouceirado. Cultivada para consumo dos frutos que são apreciados pela população para preparo de sucos, licores e sorvetes. Suas sementes são muito procuradas para fabricação de biojóias. Maturação dos frutos entre julho a dezembro (Yuyama et al., 2002).

2. Araçá, araçá-boi. Eugenia stipitata McVaugh. (Myrtaceae). Ocorre com porte arbustivo. Esta planta é muito difundida na região devido à sua polpa, apesar de muito ácido, é apreciadíssima no preparo de sucos, além de fornecer um delicioso creme preparado com leite condensado, servido gelado. Muito cultivada em quintais de residências. Eventualmente os frutos imaturos desta espécie são atacados por fungos. Este ataque é observado em alguns indivíduos, provavelmente devido à alta umidade durante a estação chuvosa. Valeria um estudo mais detalhado por parte de micologistas ou até mesmo agrônomos, uma vez que os frutos alcançam preços consideráveis nos mercados. Encontrado com intensa frutificação nos meses de dezembro, janeiro e fevereiro (Figura 1d).

3. Biribá. Rollinia mucosa (Jacq.) Baill. (Annonaceae). Árvore com frutos de polpa suculenta de ótimo sabor, cultivada em vários pomares e quintais domésticos. Seus frutos são vendidos nas feiras locais. Quando maduros, também são apreciados pela fauna, especialmente aves. Observada com frutos em fevereiro e março.

4. Buriti, coqueiro-buriti. Mauritia flexuosa L. (Palmae). Frutos muito consumidos por diversos animais silvestres. Os indígenas os consomem cozido em água com sal. A frutificação ocorre durante os meses de abril, maio e junho.

5. Cacau. Theobroma cacao L. (Sterculiaceae). Árvore de pequeno porte, apresentando caulifloria. A polpa é utilizada para o preparo de sucos, licores e sorvetes. As sementes são utilizadas na fabricação de chocolates. Observada com frutos quase o ano todo.

6. Cacauí. Theobroma speciosum Willd. (Sterculiaceae). Árvore de pequeno porte, de ocorrência em matas. Seus frutos são muito procurados por macacos, devido o arilo de sabor agradável. Consumidos ao natural por moradores da região. Frutos quase o ano todo.

7. Caqui-do-mato. Diospyros brasiliensis Mart. (Ebenaceae). Frutos tipo baga de cor amarelo e sabor adstringente, muito procurado por aves, especialmente psitacídeas, que proporcionam sua dispersão. Apesar de saborosos, os frutos não são consumidos pelos moradores por falta de conhecimento de suas propriedades. Encontrada com alguns frutos em maio.

8. Castanha-do-pará, castanheira. Bertholletia excelsa Humb. & Bonpl. (Lecythidaceae). Os índios amazônicos têm usado suas castanhas por séculos como base da sua alimentação. Na região é comum a comercialização de suas sementes. Igualmente, apresenta bom mercado tanto no país como no exterior. Na medicina popular a infusão de suas sementes é utilizada para problemas estomacais (Lorenzi, 2000). Observada com frutos em julho (Figura 1e).

9. Chico-magro, mutamba. Guazuma tomentosa HBK. (Sterculiaceae). Árvore, às vezes arbusto. Pouco conhecida pelos habitantes. Os frutos quando maduros são consumidos ao natural, embora sejam um tanto insípidos. Freqüente em solos arenosos. Frutificação em outubro.

10. Chico-magro, mutamba. Guazuma ulmifolia Lam. (Sterculiaceae). Espécie de hábito arbóreo. Frutos coriáceos, muito procurados por aves. Em Alto Alegre, encontrou-se exemplares desta espécie com frutificação intensa, e um grande número de papagaios, periquitos e maritacas alimentando-se de seus frutos. Segundo Pott & Pott (1994), a casca do fruto é indicada para emagrecer. Frutifica no mês de maio.

11. Cupuaçu. Theobroma grandiflorum (Willd. ex. Spreng.) K. Schum. (Sterculiaceae). É uma das frutas mais apreciadas por toda a população. O costume de seu uso é uma herança indígena amazônica. Encontrada em florestas, e também em quintais e pequenos cultivos. Os frutos são grandes e de olor intenso, comercializados nas feiras. Da polpa preparam- se refrescos, geléias, vitaminas e cremes. A maturação ocorre nos meses de janeiro a abril.

12. Guaraná. Paullinia cupana HBK. (Sapindaceae). Arbusto trepador, desde longas décadas o guaraná tem sido usado pelas populações indígenas e hoje passa ser difundido também entre as populações contemporâneas, devido sua propriedade medicinal, especialmente como energético. Cultivado na região para comercialização de seus frutos (sementes) para o preparo do pó ou do extrato de guaraná. A bebida produzida a partir do guaraná é altamente refrescante. Encontrado com flores no mês de julho, e frutos maduros em setembro.

13. Ingá-cipó, ingá-de-macaco. Inga edulis Mart. (Leguminosae-Mimosoideae). Árvore frondosa de porte elevado, típica da região. Frutos alongados (legume), com várias sementes, cujo arilo esbranquiçado e doce é muito apreciado pela fauna silvestre, principalmente aves e macacos, mas também consumido pelas populações locais. Ocorre em matas. Encontra-se ainda em forma cultivada, em quintais.

14. Jambinho. Bellucia grossularioides (L.) Triana (Melastomataceae). Planta de hábito arbóreo. Frutos tipo baga, de polpa suculenta de sabor cítrico agradável. Constitui fonte nutricional para pacas, cutias, entre outras espécies animais, que o procuram especialmente em épocas de escassez de alimento. Frutifica no mês de maio.

15. Jurubeba. Solanum paniculatum L. (Solanaceae). Planta de hábito arbustivo, comum em capoeiras e beiras de estradas. Os frutos em conservas são vendidos nas feiras locais, sendo indicados para problemas hepáticos. Frutos no primeiro semestre do ano.

16. Jatobá. Hymenaea courbaril L. (Leguminosae-Caesalpinoideae). Arvore de grande porte, comum de nossas matas, cujos frutos, subcilíndricos, apresentam sementes cobertas por polpa farinácea e seca, adocicada. Do arilo das sementes prepara-se uma nutritiva bebida com leite. Alimento natural, consumindo uma colher da polpa do fruto, uma vez ao dia, no período da manhã (Panizza, 1997). Frutos no segundo semestre do ano.

17. Maracujá do mato, maracujazinho. Passiflora riparia Mart. ex Mast. (Passifloraceae). Planta trepadora encontrada especialmente em bordas de matas. Polpa de sabor muito agradável, semelhante ao “maracujá doce” (P. alata Dryand.). Os frutos são consumidos por aves, mamíferos e também pelas comunidades locais. Frutificação mais intensa entre dezembro a janeiro, podendo ocorrer outras menores e mais esparsas.

18. Marmelada-bola. Alibertia edulis (L.L. Rich.) A. C. Rich. (Rubiaceae). Arbusto de até 3 metros de altura, encontrado em áreas de cerrados. Frutos tipo bagas redondas, alimento da fauna, principalmente aves. Consumidos ao natural, ou preparado em forma de geléia e doces (Silva et al., 1994; Almeida, 1998).

19. Moreira. Maclura tinctoria (L.) Engl. (Moraceae). Os frutos desta espécie são doces e consumidos ao natural, mas não difundidos entre a população. Apreciados especialmente pelas aves, que contribuem com a dispersão de suas sementes. Comum em matas secundárias e capoeiras. Observada com frutos no segundo semestre.

20. Pupunha. Bactris gasipaes H.B.K. (Palmae). Palmeira muito freqüente na região, nativa ou sob a forma de cultivo. Seus frutos, de coloração amarelo- avermelhada, são procurados e apreciados pelas populações. Consumidos cozidos com sal, ou batidos com leite. Diversas espécies silvestres também o utilizam como fonte alimentar. Muito comercializados nas feiras locais, sejam os frutos ou o palmito extraído da palmeira. Frutos no primeiro semestre do ano.

21. Pupunha. Bactris dahlgreniana Glasman (Palmae). Frutos de cor amarelada muito freqüente na região em forma de cultivo. A polpa é consumida cozida e batida com leite. Apreciadíssimo pela população. Vendidos nas feiras locais. Frutos nos meses de fevereiro e março.

22. Tucumã. Astrocaryum aculeatum G. Mey (Palmae). Palmeira de tronco coberto por espinhos. Fruto com polpa amarela, carnosa e muito oleosa, constitui fonte nutritiva para diversas populações que os consomem ao natural ou com farinha. Seu amarelo vivo atrai muitas aves especialmente araras, papagaios e maritacas. Frutos maduros no mês de maio.

A Tabela 1 apresenta, de forma resumida e em ordem alfabética, cada espécie estudada com seu nome vernacular e os usos gerais.

Os resultados deste período de trabalho mostram o potencial de algumas das muitas espécies amazônicas nativas, que podem garantir a segurança alimentar em das populações locais, bem como constituir-se em alternativas econômicas para a região. Além disso, são importantes fontes alimentícias para a fauna silvestre, o que ao mesmo tempo contribui significativamente com a dispersão de suas sementes. O conhecimento e a valorização, neste caso, são estratégias para a conservação destes recursos fitogenéticos.

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