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Avances en Enfermería

Print version ISSN 0121-4500

av.enferm. vol.33 no.2 Bogotá May/Aug. 2015

https://doi.org/10.15446/av.enferm.v33n2.35817 

http://dx.doi.org/10.15446/av.enferm.v33n2.35817

Teoria do autocuidado na assistência às mulheres que vivem com AIDS: utilidade da teoria

Teoría del autocuidado en la asistencia a las mujeres que viven con sida: utilidad de la teoría

Theory of self-care assistance in a women living with AIDS: utility of the theory

Emeline Moura Lopes1 , Julyana Gomes Freitas2 , Marli Teresinha Gimeniz Galvão3 Marcos Venícius de Oliveira Lopes4

1 Doutora em Enfermagem. Enfermeira, Maternidade Assis Chateaubriand, Universidade Federal do Ceará. Ceará, Brasil. E-mail: emelinepet@yahoo.com.br

2 Doutora em Enfermagem. Professora Auxiliar, Centro de Ciências da Saúde, Universidade de Fortaleza. Ceará, Brasil.

3 Doutor em Enfermagem. Professor Associado, Departamento de Enfermagem, Universidade Federal do Ceará. Ceará, Brasil.

4 Doutora em Doenças Tropicais. Professora Associada, Departamento de Enfermagem, Universidade Federal do Ceará. Ceará, Brasil.

Recibido: 06/12/2012 Aprobado: 15/06/2015


Resumo

Objetivo: Objetivou-se analisar a utilidade da Teoria do autocuidado para a assistência de enfermagem as mulheres com AIDS, sob o modelo de Meleis.

Metodologia: Estudo de revisão integrativa, com busca nas bases de dados LILACS, MEDLINE, SciELO, Scopus, CINAHL, Cochrane e PubMed. Após verificação dos critérios de inclusão, foram identificados três artigos referentes à temática. Na análise dos estudos, focou-se o componente utilidade da teoria de Meleis.

Resultados: A análise dos estudos, segundo a utilidade, evidenciou que a Teoria do autocuidado foi fundamental para analisar a capacidade e os déficits de mulheres com HIV/AIDS quanto ao autocuidado.Com a análise crítica de Meleis, foi possível verificar a utilidade da Teoria do autocuidado para a assistência de enfermagem a mulheres com infecção pelo HIV/AIDS. Evidenciaram-se, ainda, diversos cenários e abordagens de aplicação da teoria, identificado sua utilização voltada a vários objetivos do autocuidado de mulheres com HIV.

Descritores: Teoria de Enfermagem; Autocuidado; Mulheres; HIV (fonte: DeCS BIREME).


Resumen

Objetivo: Este estudio tuvo como objetivo analizar la utilidad de la Teoría del autocuidado para la atención de enfermería para las mujeres con sida, conforme al modelo de Meleis.

Metodología: Estudio de revisión integradora, cuya búsqueda se realizó en las bases de datos LILACS, MEDLINE, SciELO, Scopus, CINAHL, Cochrane y pubMed. Después de comprobar los criterios de inclusión, se identificaron tres artículos relacionados con el tema. El análisis de los estudios se centró en el componente de Meleis de la utilidad de la teoría.

Resultados: El análisis de los estudios, de acuerdo con la utilidad, mostró que la Teoría del autocuidado es esencial para examinar la capacidad y los déficits en las mujeres con VIH/sida como el autocuidado. Con el análisis crítico de Meleis, pudimos comprobar la utilidad de la teoría del autocuidado para la atención de enfermería para las mujeres con VIH /sida. Se presentaron también diferentes escenarios y enfoques de la aplicación de la teoría, cuyo uso fue identificado para varios objetivos encaminados a la autoatención de las mujeres con VIH.

Descriptores: Teoría de Enfermería; Autocuidado; Mujeres; VIH (fuente: DeCS BIREME).


Abstract

Objective: This study aimed to analyze the usefulness of the Theory of Self-care for nursing care for women with AIDS, under the Meleis model.

Methodology: Study of integrative review, with database search in LILACS, MRDLINE, SciELO, Scopus, CINAHL, Cochrane and PubMed. After checking the inclusion criteria, were identified three articles related to the topic. The analysis of the studies was focused on the component of utility theory Meleis.

Results: Analysis of the studies, according to the utility, showed that the Theory of Self-care is essential to examine the ability and deficits in women with HIV/AIDS as self-care. With the critical analysis of Meleis, we could verify the usefulness of the Theory of Self-care for nursing care for women with HIV/AIDS. It was apparent also different scenarios and approaches to application of theory, its use identified several objectives aimed at self-care of women with HIV.

Descriptors: Nursing Theory; Self Care; Women; HIV (source: DeCS BIREME).


Introdução

No início da epidemia da AIDS as mulheres não eram incluídas em categorias de risco para a aquisição do vírus. Ao longo do tempo, tornaram-se vulneráveis e, especialmente, incluem a criança no contexto da epidemia da AIDS, em virtude da transmissão vertical (1,2). Deste modo, a ampliação da testagem do HIV , dos exames sorológicos da mãe e a carga viral são fundamentais, pois minimizam o risco da transmissão do HIV à criança. As mães-gestantes com o HIV podem evitar a infecção da criança, melhorar sua saúde, sua convivência com a doença, e preparar-se para receber seu filho e dar-lhe atenção, amor e cuidados necessários à sobrevivência (3,4).

No âmbito da família, a figura da mulher-mãe é a principal cuidadora e é implícita como principal responsável (5,6). Ações de capacitação e desenvolvimento de habilidades devem ser voltadas para a figura materna com fins de alcançar ótimo nível de saúde da criança, sobretudo na vigência do HIV da gestante (4).

Na enfermagem, para o desenvolvimento do cuidado integral e sistematizados das pessoas, há teorias que fundamentam o cuidado em saúde, cuja finalidade é descrever, explicar, prever ou prescrever o cuidado de enfermagem (7,8).

Na vigência do HIV essas teorias orientam soluções mediante as necessidades no contexto da prevenção e promoção da saúde. Ainda facilitam o esclarecimento de fenômenos relacionados ao cuidado com objetivo de orientar soluções que respondam interesse das pessoasenvolvidas e instrumentalizar o enfermeiro para proporcionar ajuda a cuidar de si (9).

Na busca de subsídios para aperfeiçoar a assistência à saúde, é preciso aplicar modelos e teorias,assim,contribuirparaa reduçãoda transmissão do HIV. Neste âmbito, em função de a maior parte das mulheres serem mães é essencial o desenvolvimento do autocuidado (4). Quando as pessoas apreendem as orientações e estas são seguidas, há manutenção da integridade estrutural e do funcionamento humano, situações que contribuem para o desenvolvimento e recuperação da saúde (10).

Neste ínterim, entre os modelos e teorias de enfermagem com vistas aos cuidados em pessoas vivendo com HIV/AIDS, observa-se o uso da Teoria do autocuidado de Orem (9,11). Este modelo teórico pode ser recomendado como um instrumento para auxiliar o enfermeiro a promover a prática do cuidado, funcionando como uma proposta de sistematização da assistência de enfermagem (12).

O modelo de autocuidado é composto de três teorias inter-relacionadas: Teoria do autocuidado, Teoria do déficit de autocuidado e Teoria dos sistemas de enfermagem (10).Também são três os requisitos de autocuidado apresentados por Orem: universais, de desenvolvimento e de desvio de saúde (10).

Historicamente, o desenvolvimento e o uso de teorias fazem parte da construção da enfermagem como ciência e arte, possibilitando aos profissionais descrever e explicar aspectos da realidade assistencial (13).

Para corroborar com processo científico é necessário que a enfermagem utilize e avalie as teorias, para aprofundamento dos estudos subsidiados por avaliações utilizando Modelos de Análises, que respondem questionamentos sobre a pertinência ou não do uso de uma teoria, no contexto biopsicossocial e de saúde. Neste aspecto o presente estudo utilizará o Modelo de Análise de Teorias proposto por Meleis (7), procurando auxiliar no entendimento do uso da Teoria de autocuidado de Orem direcionado às mulheres com HIV.

Posto isso, esse estudo tem como objetivo analisar, sob o componente utilidade da Teoria de Meleis, a Teoria do autocuidado para a assistência de enfermagem junto às mulheres com AIDS.

Metodologia

Estudo de análise da utilidade da Teoria de Orem no contexto do modelo da Teoria de Meleis (7). O modelo engloba descrição, que pode ser feita por meio dos componentes estruturais e funcionais; análise, definida como um processo de identificação de partes e componentes; crítica, que é um exame ou estimativa de uma situação; teste teórico, o qual se refere a uma avaliação para a utilidade da teoria, e o teste de apoio, que verifica alternativas de validação, em congruência com a natureza da disciplina (7). Neste estudo, optou-se entre os componentes do item "crítica" da teoria de Meleis: utilidade da teoria. Com vistas a realizar a análise da teoria, foi realizada revisão integrativa de estudos sobre o assunto para seguir as etapas de análise.

A revisão integrativa inclui estudos experimentais e não-experimentais, dados da literatura teórica e empírica, para uma compreensão do fenômeno analisado. Em conjunto com a multiplicidade de propostas, deve gerar um panorama consistente e compreensível de conceitos complexos, teorias ou problemas de saúde relevantes para a enfermagem (14).

Para a elaboração da revisão integrativa, as seguintes etapas foram percorridas: estabelecimento da hipótese e objetivos; estabelecimento de critérios de inclusão e exclusão de artigos —seleção da amostra—; definição das informações a serem extraídas dos artigos selecionados; análise dos resultados; discussão e apresentação dos resultados e a apresentação da revisão, última etapa.

Os critérios de inclusão foram: artigos publicados em português, inglês e espanhol, artigos na íntegra que retratassem a temática concernente à revisão integrativa e indexados nos referidos bancos sem limite de período, em virtude de se tratar de um assunto incipiente nesta área da enfermagem. Foram excluídos os editoriais, teses, dissertações, cartas ao editor, estudos reflexivos, revisões sistemáticas e integrativas.

Procedeu-se uma busca na Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde (LILACS) e Medical Literature Analysis and Retrieval Sistem on-line (MEDLINE), utilizando-se os descritores indexados Autocuidado AND HIV AND Mulheres. Obtiveram-se três resumos relacionados à temática em discussão, entretanto, apenas um estava disponível na íntegra. Posteriormente, trabalhou-se com os descritores Saúde da Mulher and HIV and Autocuidado.

Foram encontradas três publicações, uma repetida e duas excluídas por não terem o artigo na íntegra. Adicionou-se, em novo cruzamento, o descritor não controlado Orem and Mulheres and HIV, mas não se obteve publicação. Desta forma, nestes bancos de dados fez-se com a última busca adicionando o descritor controlado Teoria de Enfermagem AND Autocuidado AND HIV. Embora tenham sido encontrados dois artigos na íntegra, relacionavam-se ao autocuidado no contexto geral de pacientes com HIV/AIDS .

A segunda pesquisa foi realizada mediante os bancos de dados: Scientific Eletronic Library Online (SciELO), Scopus, Cumulative Index to Nursing and Allied Health Literature (CINAHL), Cochrane e National Library of Medicine and National Institutes of Health (PubMed), com os descritores controlados Self Care AND HIV, AND Women. Foram encontradas 542 publicações. Apenas uma se relacionava à temática e estava disponível na íntegra, mas não abordava a aplicabilidade da Teoria de Orem. Logo, foi excluída. Entre as demais, uma estava repetida e as outras não possuíam artigo na íntegra ou não se adequavam ao objetivo proposto.

Posteriormente, fez-se novo cruzamento com os descritores controlados Women's Health and HIV , and Self Care. Obtiveram-se 69 publicações e nenhuma relacionou-se à temática. Adicionou-se, então, a palavra-chave Orem e, assim procedeu-se o cruzamento com Women and HIV. Foram obtidas seis publicações, entre as quais uma era repetida; uma tratava da aplicabilidade da Teoria de Orem em mulheres com HIV,/AIDS e as demais não eram pertinentes à temática. A última busca utilizou os descritores controlados Nursing Theory and Self Care and HIV. Foram encontradas 28 publicações, entretanto quatro diziam respeito ao autocuidado no contexto geral de pacientes com HIV/AIDS, uma era repetida, uma estava relacionada à temática e as demais não possuíam congruência ao objetivo proposto.

Desta forma, três artigos apresentaram como marco teórico a mencionada teoria e conteúdo suficiente para a análise pretendida, além de responder aos critérios de inclusão.

Por se tratar se artigo de revisão, cujos conteúdos dos trabalhos estão disponibilizados por meio eletrônico e de domínio público, não houve necessidade de anuência à pesquisa.

Resultados

O quadro sinóptico com os aspectos pertinentes elencados: Autores/Ano; Objetivo do Estudo; Requisitos de Autocuidado; Amostra e Utilidade da Teoria (ver Tabela 1).

O Tabela 1 descreve os artigos mediante a utilidade da Teoria de Orem em mulheres que vivem com HIV/AIDS. O primeiro artigo analisado intitula-se Gestantes/puérperas com HIV/AIDS: conhecendo os déficits e os fatores que contribuem no engajamento para o autocuidado. Conforme o artigo descreve, por meio da estratégia metodológica de análise de conteúdo, as gestantes/puérperas com HIV apresentam déficits de autocuidado relacionados com a alimentação, ingesta hídrica, sono e repouso, vida sexual, lazer e recreação e interação social. Convivem tanto com fatores que contribuem para o engajamento no autocuidado quanto com fatores que o dificultam. Embora com dificuldades, as gestantes/puérperas têm conseguido sobreviver ao isolamento e ao preconceito graças ao apoio familiar e da equipe de saúde, em especial das enfermeiras (11, 15).

Inicialmente aponta-se para a feminilização do HIV e as repercussões dessa mudança. O crescimento da AIDS entre mulheres tem um impacto social maior do que em outros segmentos da população, porquanto, nos dias de hoje, elas ainda assumem culturalmente o papel de "agregadoras e cuidadoras" dos núcleos familiares (16). Diante do tempo do ciclo vital da família, é instintivamente definido que a mulher é a provedora dos cuidados (5,6,17).

Desse modo, o confronto entre essas realidades, a de prestar cuidados e a de receber cuidados, é fator determinante para a realização de práticas do autocuidado. Enquanto a mulher é cobrada socialmente para cuidar, a realidade da doença não pode permitir-lhe estar aquém daquilo que lhe é solicitado. E, ao cuidar dos demais, esquece o cuidar de si mesma. Quando esse cuidar de si mesma é deixado em segundo plano e associa-se à negação, evidenciam-se os déficits do autocuidado. Posto isso, as práticas de autocuidado, que são o foco da Teoria de Orem, são essenciais para melhoria das funções mentais e a autopercepção de saúde (4,10).

O segundo artigo intitulado Autocuidado de uma mulher com AIDS: um modelo de cuidar em Enfermagem, destaca a importância dos indivíduos com AIDS serem incentivados à prática do autocuidado, no intuito de colaborar com a manutenção da sua saúde. Com esta finalidade, os pacientes devem comparecer periodicamente às consultas médicas para avaliação do estado de saúde e recebimento da prescrição do tratamento medicamentoso (antirretrovirais), como também serem acompanhados na consulta de enfermagem, que deve ser centrada nas alterações do estilo de vida, enfatizando a avaliação clínica, psicológica e social do paciente (18).

O referido artigo justifica a escolha de uma mulher para ser o objeto de estudo, pelo fato dela desempenhar com mais frequência na nossa sociedade as diferentes formas de cuidar. Além disso, esta mulher selecionada deveria estar com AIDS e não apenas viver com HIV, pois o intuito da investigação é traçar uma assistência para que a mulher promova o autocuidado diante dos sintomas da doença, e estes estão presentes quando se desenvolve a síndrome. Ainda conforme a justificativa deste estudo, o cuidado pessoal é indispensável à mulher com AIDS, no dia-a-dia, para garantir o desenvolvimento em benefício da vida, saúde e bem-estar (18).

Neste prisma, enfatizou-se a relevância da aplicação do processo de enfermagem proposta no modelo teórico de Orem (19), mediante a possibilidade de capacitar a mulher que vive com HIV/AIDS como agente de autocuidado.

Na Tabela 1, as fases são descritas de acordo com o processo de enfermagem e aplicabilidade da teoria. Após o levantamento de dados, com vistas a identificar os diagnósticos e intervenções de enfermagem, executou-se inicialmente a avaliação de comportamentos de autocuidado, considerando os requisitos de desvio de saúde do modelo de Orem (10). Depois da etapa de avaliação dos comportamentos de autocuidado, passou-se à elaboração de diagnósticos de enfermagem.

Para dispensar atendimento ao paciente com HIV/AIDS, elaborou-se um plano de cuidados de enfermagem com os diagnósticos identificados e as intervenções a serem realizadas. Segundo se observou, a paciente necessitava do sistema de enfermagem apoio-educação, constante no planejamento dos sistemas de enfermagem. Assim, todas as intervenções foram realizadas com o objetivo de promover a prática do autocuidado pela mulher (18).

Constatou-se, então, a importância do apoio do enfermeiro no processo de educação e sensibilização do indivíduo para promoção e manutenção da saúde nos diversos contextos demandados pelo HIV/AIDS.

Ressalta-se o sistema de enfermagem de apoio-educação que ocorre quando o indivíduo consegue executar, ou pode e deve aprender a executar medidas de autocuidado terapêutico, regula o exercício e desenvolvimento de suas atividades de autocuidado, e o enfermeiro vai promover esse indivíduo a um agente capaz de se autocuidar (18).

O terceiro artigo, intitulado The Relationship Between Social Support, Self-Care Agency, and Self-Care Practices of African American Women Who are HIV-Positive, objetivou examinar a relação entre apoio social e seu impacto sobre a capacidade de mulheres africano-americanas HIV-positivas para realizar práticas de autocuidado (20).

No mencionado estudo, os autores descrevem a existência de dez fatores condicionantes básicos: idade, gênero, o estado de desenvolvimento, o estado de saúde, padrão de vida, fatores de saúde de cuidados do sistema, fatores do sistema familiar, orientação sociocultural, a disponibilidade de recursos e ambiente externo fatores ambientais. Entre esses fatores, cinco foram considerados condicionantes básicos, a saber: idade, fatores do sistema familiar, orientação sociocultural, o estado de saúde e padrão de vida. Esses fatores são necessários para que os indivíduos sejam capazes de cuidar de si mesmos. Estes cinco fatores tem maior potencial para influenciar as práticas de autocuidado em indivíduos com doenças crônicas (20).

No referente ao fator idade, observou-se no artigo o número crescente de mulheres em idade reprodutiva vulnerabilizadas à infecção pelo HIV/AIDS. Vários estudos desenvolvidos no Brasil corroboram estes dados ao evidenciar a feminilização da epidemia na faixa etária fértil (4, 5, 21).

Quando analisado o fator relativo a sistema familiar, o estudo ressalta a família como o principal fator condicionante básico. Segundo Orem, o apoio social —funcional, rede e perda— é identificado como um fator condicionante básico sob a égide do sistema familiar (19).

Orem refere-se às famílias como unidades de várias pessoas. As crianças são componentes de uma família que podem positiva ou negativamente receber gerências de práticas de autocuidados e apoio terapêutico (19).

Acerca dos componentes básicos da orientação sociocultural, Orem identifica o nível de educação, renda e estado civil. Assim, é de se supor que um maior nível de educação dos participantes teria um impacto positivo na sua capacidade de reconhecer uma necessidade de autocuidado e para implementação da prática de autocuidado apropriado (19). A condição financeira é a situação que mais interfere na qualidade de vida de mulheres infectadas pelo HIV e sobremodo pode dificultar o autocuidado e o tratamento específico (4).

Quanto ao estado de saúde, é definido a partir da sua perspectiva. De acordo com Orem, uma visão individualista do próprio estado de saúde é determinada pela idade, educação, sentimentos, atitudes e experiências, bem como seu ambiente bio-psico-social (19). Essa percepção influencia a prática de gerir o autocuidado e o autoatendimento do indivíduo.

Discussão

Verifica-se a utilidade da Teoria do autocuidado na promoção do autocuidado junto a mulheres com HIV. Como ser mulher implica ser referência na prestação do cuidado, a infecção por um vírus causador de doenças ainda sem cura a faz susceptível a receber cuidados, pois a mulher prestadora de cuidado não se permite estar na necessidade de ser cuidada.

O uso da Teoria do autocuidado permitiu, no primeiro estudo, verificar os déficits apresentados por gestantes/puérperas, bem como fatores contribuintes para execução de prática do autocuidado. Nesse prisma, é possível, com a utilização da Teoria do autocuidado, que o enfermeiro planeje e promova a implementação de ações destinadas a estimular a prática do autocuidado no referente aos déficits e fortalecer as práticas já implementadas.

A Teoria do autocuidado de Orem permitiu ainda ver que os déficits eram decorrentes e tinham agravantes em consequência das condições contextuais em que viviam as gestantes/puérperas por causa do HIV e também pela própria condição no tocante à idade, capacidade mental, estado emocional, situação econômica e social, e diversidade cultural e social, bem como à aceitação do seu estado soropositivo (16).

Ressalta-se o enfermeiro é detentor de todos os elementos necessários para cuidar do outro (22). Autores afirmam ainda que toda ação de enfermagem que vise recuperar o autocuidado pleno do indivíduo poderá remontar a importância dos pressupostos, métodos e metas da teoria do déficit de autocuidado proposta por Orem (23).

Deste modo, o enfermeiro é ator social na transformação destas mulheres em agentes de autocuidado. As trocas de experiências verificadas nas entrevistas entre enfermeira e gestante/puérpera e no grupo focal tornaram oportuna a incorporação de medidas de autocuidado. Tal situação resultou na obtenção de mais estratégias para engajamento no autocuidado a partir do apoio profissional e foi vital para conhecer outras experiências que possibilitaram rever conceitos, condutas e déficits de autocuidado na perspectiva de ampliar os conhecimentos sobre o HIV/AIDS e as representações no cotidiano de cada uma (11).

Como proposto, o sistema de enfermagem planejado pelo profissional está baseado nas necessidades de autocuidado e na capacidade do paciente para a execução de atividades de autocuidado (17). Segundo a Teoria do autocuidado, nesse momento a enfermeira pode lançar mão de métodos de ajuda, proporcionando ambiente e estratégias promotoras do desenvolvimento pessoal, tornando a pessoa capaz de satisfazer suas demandas atuais e futuras (19).

No segundo estudo, a Teoria do autocuidado permitiu ênfase ao planejamento de intervenções para promoção do autocuidado e mostrou, novamente, a importância do enfermeiro no cuidados a essa população.

No último estudo, a teoria teve sua relevância na identificação dos fatores que interferem nas relações sociais e a análise destes para a promoção dessas ações. Contudo, o reconhecimento da importância do paciente é essencial ao alcance dos objetivos, visto que este necessita adquirir conhecimentos e habilidades e incorporá-los em seu sistema de cuidado (24, 25).

Assim, percebem-se as várias perspectivas da utilização desta teoria e suas possibilidades de análise da construção ou mudança de uma realidade, cujo objetivo é a apreensão de atitudes de ações que promovam a autonomia e, desse modo, propicie uma melhor relação com o outro, com o social e com o meio.

Conclusão

Com a aplicação do modelo de análise crítica da Teoria de Meleis, pode-se verificar a utilidade da Teoria do autocuidado de Orem para a prática, pesquisa, educação e administração voltada a pessoas que vivem HIV/AIDS .

Verificam-se, ainda, diversos cenários e diversas abordagens nos quais a teoria pode ser aplicada, com sua utilização voltada a vários objetivos do autocuidado de mulheres com HIV .

O estudo propiciou a aplicação do modelo de análise de Meleis, que se apresenta como um direcionamento eficaz para o pesquisador conhecer e avaliar a utilidade da teoria relacionada à questão norteadora proposta.

A reflexão sobre a aplicabilidade de teorias de enfermagem permite validar e construir novas formas de atuar na assistência de enfermagem, sobretudo ao identificar limites e relações entre profissionais e indivíduos necessitados de cuidados.

Desta forma, o cuidado de enfermagem prestado requer embasamento científico, prática baseada em evidências, aplicabilidade e utilidade de teorias com vistas a sustentar uma prática assistencial holística, capaz de provocar transformação social destes indivíduos, em prol de ações de saúde catalisadoras da manutenção do bem-estar.

Contudo, a assistência de enfermagem direcionada para o autocuidado a mulheres com HIV/AIDS é escassa. Diante desta escassez, sugere-se mais investigações sobre esta temática para ampliar o conhecimento científico quanto ao assunto.


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