Introdução
O leite humano é considerado o melhor alimento para o recém-nascido, com comprovada superioridade em estudos nacionais e internacionais 1-4. Uma menor incidência de infecções do trato respiratório, sepse tardia, enterocolite necrosante e retinopatia da prematuridade está associada às altas doses de leite materno, o qual ainda diminui a morbimortalidade e aumenta a sobrevida em recém-nascidos prematuros 1-3. Por sua vez, o aumento da natalidade no Brasil tem tornado a demanda de leite humano cada vez maior, fazendo com que sejam necessários esforços destinados às estratégias para a promoção da sua doação 4,5.
Toda mulher tem capacidade de amamentar e, em alguns casos, é capaz de produzir mais leite do que o bebê necessita receber. Contudo, existem fatores históricos, socioeconómicos, culturais e individuais que podem interferir na produção do leite e na amamentação, como a falta de informação, o uso de medicamentos incompatíveis com a amamentação, doenças como o vírus da imunodeficiência humana (HIV), entre outros 6, fazendo com que seja necessário recorrer a outros métodos para o aporte nutricional; nesse contexto, destacam-se os bancos de leite humano.
Um banco de leite humano consiste em uma unidade especializada ligada à unidade de cuidados intensivos prestados ao neonato e seu principal objetivo é estimular a doação de leite materno para alimentar recém-nascidos hospitalizados em risco, cujas mães, por fatores diversos, não estão aptas a amamentar. Essas unidades são responsáveis pela pasteurização e distribuição de leite humano, a fim de suprir as necessidades do público-alvo, bem como cumprir com o que é preconizado pela Academia Americana de Pediatria e pela Organização Mundial da Saúde (OMS) quanto ao aleitamento materno como primeira opção até os seis meses de vida 7-10.
No Brasil, a Rede Global de Bancos de Leite Humano é considerada, pela OMS, a maior e mais complexa do mundo 11. Durante o ano de 2019, foram coletados 222 mil litros de leite, oriundos de 188 mil doadoras, que entregaram seu leite nos mais de 200 postos de coleta distribuídos pelo país 11. O perfil das doadoras segue critérios estabelecidos em legislação específica, e a coleta do leite, feita através da ordenha, é segura para ser realizada em casa ou nos bancos de leite humano 11,12. Antes de chegar ao recém-nascido, o leite doado é pasteurizado a fim de eliminar agentes patógenos e prevenir a transmissão do HIV, do citomegalovírus, entre outros 13.
Entre as principais motivações para a doação de leite para os bancos de leite humano, destacam-se: a crença nos benefícios da amamentação; o altruísmo, em que as doadoras acreditam que alguém faria o mesmo por elas, caso precisem; ter excelente leite e ter acesso a informações relativas ao processo de doação 14. No que diz respeito aos fatores que influenciam negativamente a alimentação dos bancos de leite humano, evidenciam-se como mais importantes a redução de leite pelo processo de amamentação em si, a falta de conhecimento sobre a existência de tais instituições e a distância entre elas e a residência da doadora 14.
A manutenção dos bancos de leite humano requer grande demanda de recursos humanos e materiais, o que resulta em custos elevados associados aos testes de segurança e à logística de funcionamento, o que constitui fator limitante para a expansão deles 15. Tal fato impõe que os governos, junto aos profissionais da saúde, desenvolvam estratégias para aumentar o número de mães que amamentam e doam leite, bem como a quantidade e qualidade dos bancos de leite 15.
Observa-se, portanto, a necessidade de os sistemas de saúde nacionais e locais empreenderem esforços para a maior captação de doadoras de leite, investindo, para tanto, na educação das mães durante a gravidez. Além disso, para romper as barreiras da doação de leite, é preciso disponibilizar orientação adequada para sensibilizar essas mães e capacitar os profissionais de saúde sobre a temática 16.
Dessa forma, objetivou-se, com esta pesquisa, relacionar o desejo de doar leite materno com os aspectos sociodemográficos, clínicos e obstétricos das doadoras.
Materiais e métodos
Trata-se de um estudo transversal e analítico, com abordagem quantitativa, realizado no período de dezembro de 2016 a junho de 2018, em um hospital de referência localizado em um município do estado do Piauí, Brasil, com população de 73.414 mil habitantes. Segundo os dados da Secretaria de Saúde do Estado do Piauí, o estado registrou, até o mês de outubro de 2016, um total de 46.674 nascidos vivos 17.
Para fins de coleta de dados, recorreu-se à vigilância epidemiológica do município para acessar os registros de nascidos vivos ocorridos no hospital pesquisado, com um total de 10.975 nascidos vivos notificados no município entre 2012 e 2016, com uma média anual de 2.195 nascimentos. Para o cálculo amostral, utilizou-se a fórmula para a determinação com base na estimativa da proporção populacional para populações finitas, em que "N" é o tamanho da população (2.195), referente à média anual de nascidos vivos; "p" é a prevalência presumida da ocorrência do evento (desejo de doar leite materno), em que se utilizou a prevalência de 90 % apontada em estudo realizado em Campo Grande 18; "q" é a prevalência complementar representada por 1-p; "Z" é o ponto crítico da curva normal associado ao intervalo de confiança determinado de 95 % (1,96); "e" o erro amostral máximo da estimativa (4 %). Assim, a amostra mínima necessária para o estudo foi de 196 participantes, à qual se acrescentou um percentual de 15 % para possíveis perdas e recusas, com um total 226 puérperas a serem entrevistadas.
A população do estudo foi constituída por puérperas e seus recém-nascidos (bebês de até 28 dias de vida), que atenderam aos seguintes critérios de inclusão: ser puérpera, ter filho(s) recém-nascido(s) vivo(s). Foram excluídas as que não apresentassem condições físicas, psicológicas ou cognitivas para responderem aos formulários da pesquisa.
Durante a operacionalização do estudo, quando houve recusa de alguma participante selecionada, uma nova mulher foi incluída, repetindo-se o processo até que o quantitativo mínimo necessário tivesse sido atingido.
Utilizou-se um formulário para a entrevista, e as puérperas eram entrevistadas com base em um formulário, no período pós-parto; na ala obstétrica, durante o alojamento conjunto; na ala pediátrica, caso o recém-nascido estivesse internado com alguma intercorrência.
Os dados foram digitados em dupla planilha do Microsoft Excel®, para a validação e verificação de possíveis erros de digitação, e transportados para o software International Business Machines (IBM®) e para o Statistical Package for the Social Sciences (SPSS®), versão 23.0. Na estatística descritiva, foram calculados média, desvio-padrão, valores mínimos e máximos para as variáveis quantitativas, além de frequências absolutas e relativas para as variáveis qualitativas.
Na estatística analítica, primeiramente, foi avaliada a normalidade dos dados pelo teste de Kolmogorov-Smirnov. Em seguida, foram utilizados os testes Qui-quadrado de Pearson e Razão de verossimilhança, para investigar a associação entre variáveis qualitativas, e o teste t-Student para comparar as médias de duas amostras independentes. Utilizou-se p < 0,05 como valor de referência para a significância estatística.
A pesquisa foi aprovada pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Federal do Piauí, com o Certificado de Apresentação para Apreciação Ética número 61398316.5.0000.5214, e desenvolvida conforme os requisitos propostos pela Resolução 466/2012 do Conselho Nacional de Saúde, que trata dos aspectos éticos e legais das pesquisas que envolvem seres humanos.
As participantes foram informadas quanto aos objetivos, metodologia, riscos e benefícios da pesquisa, e assinaram o termo de consentimento livre e esclarecido e o termo de assentimento, concordando em participar da pesquisa.
Resultados
A Tabela 1 corresponde à análise dos aspectos sociodemográficos relacionados ao desejo de doar leite materno, em que a escolaridade demonstrou relação significativa. Nas demais variáveis analisadas, observou-se que mulheres com maior renda familiar e maior idade demonstraram mais interesse em doar seu leite.
* t-Student para amostras independentes.
** Razão de verossimilhança.
*** Qui-quadrado de Pearson.
Fonte: dados da pesquisa.
Nota-se que as participantes eram em sua maioria casadas (n = 165; 73 %), pardas (n = 145; 64,1 % ), 150 (n = 66,3) desempregadas, 33 (14,6 % ) estudantes e 79 (34,9 % ) praticavam atividade física. Das entrevistadas, 78,3 % (n = 177) desejavam ser doadoras de leite materno, o que apresentou relação significativa com os anos de estudo (p = 0,038).
Na Tabela 2, reportam-se os dados sobre a análise dos aspectos clínicos e gineco-obstétricos relacionados ao desejo de doar leite materno. A orientação no pré-natal sobre a doação de leite teve relação estatisticamente significante, em que 91,9 % (n = 34) das entrevistadas que receberam orientação durante o pré-natal afirmaram ter o desejo de doar leite materno (p = 0,028).
* Razão de verossimilhança.
** Qui-quadrado de Pearson.
*** t-Student para amostras independentes.
Fonte: dados da pesquisa.
Após a apresentação dos resultados, é possível traçar um perfil das nutrizes. Em geral, têm idade entre 20 e 29 anos, de cor parda, casadas, costumam trabalhar ou estudar, católicas e com uma renda média menor que um salário-mínimo. Semelhantemente, em estudo realizado em um hospital universitário na Coreia, investigaram-se as características entre doadoras e receptores, em que 37,7 %, de um total de 916 doadoras, trabalhavam e estudavam 15. A faixa etária compreendida entre 21 e 30 anos pode ser explicada como a mais comum entre as doadoras, por ser considerada como um período reprodutivo ótimo, em que há menor risco perinatal 19, o que é um estímulo à gestação para essas mulheres.
O notório fato de as mães trabalharem é reflexo do que a sociedade contemporânea propõe como forma de buscar melhores condições de vida para si e seus filhos. Por sua vez, essa prática pode interferir no tempo que elas têm para cuidar do bebê e da amamentação 20.
No que tange à escolaridade das entrevistadas, tinham em média 12,5 anos de estudo, o que demonstra uma associação significativa ao desejo de doar leite. A educação tem sido referida como fator facilitador para que ocorra a doação para bancos de leite 16, e o maior grau de escolaridade apresenta associação com a regularidade nas doações 7.
Visto que a falta de informações se configura como dificuldade para as lactantes tomarem a iniciativa de doar leite 4, ressalta-se a importância do papel do enfermeiro. Presente durante todo o pré-natal, compete a esse profissional prestar assistência integral à gestante, fornecendo orientações e todo o suporte necessário para que ela compreenda a dimensão social desse ato e sinta-se motivada a doar.
A respeito da atividade física durante a gestação, evidenciou-se que 34,9 % (n = 79) das nutrizes realizavam algum exercício físico. No entanto, em outro estudo realizado em clínicas e academias da cidade de Feira de Santana, Bahia, Brasil, a prevalência de mulheres ativas fisicamente foi de 55,3 %; em comparação às sedentárias, concluiu-se que o exercício físico influencia positivamente na qualidade de vida das gestantes 21. Essa prática, desde que devidamente orientada por profissional de saúde capacitado, consegue trazer inúmeros benefícios para o corpo materno e para o feto, tais como a estabilização dos níveis glicêmicos e a prevenção do diabetes mellitus, bem como a melhor captação, utilização e transporte de oxigênio 22, fundamentais para a manutenção da vida saudável.
Neste estudo, a maioria das entrevistadas teve apenas uma gestação até o momento (50,9 %), nenhum aborto (90,3 %) e realizou um parto cesáreo (46,0 %). Outra pesquisa verificou que, de 218 gestantes acompanhadas em uma Unidade Obstétrica de Divinópolis, Minas Gerais, Brasil, 73,1 % relataram não haver tido aborto prévio, e 59,6 % já realizaram parto cesáreo 23.
Quanto à paridade e à doação de leite, o aumento no número de filhos se comporta de forma inversamente proporcional ao de doadoras, enquanto experiências passadas com dificuldade para amamentar o bebê funcionam como motivação para que a mãe doe seu leite 4,16. Nesse sentido, é notável que o altruísmo exerce considerável influência quanto à decisão de doar o leite e ajudar outros bebês 4,16,24.
Além disso, o número médio de consultas pré-natais da amostra foi de 7,3 ± 2,3, adequado ao que o Ministério da Saúde do Brasil preconiza como mínimo. O desenvolvimento saudável do bebê requer, indispensavelmente, o acompanhamento por meio da realização do pré-natal, ocasião pertinente à discussão de aspectos importantes do cuidado infantil, como o fornecimento de informações essenciais para a promoção do aleitamento materno 25.
Das que tiveram filhos anteriores, o tempo médio de amamentação foi de 16,1 ± 11,3 meses, sendo que o motivo mais frequente associado à não realização dessa prática foi não ter leite suficiente (38,5 %). De forma discordante, outro estudo 26 demonstrou que 57,3 % das crianças foram amamentadas durante um período maior que 24 meses, resultado bem superior ao encontrado nesta investigação.
Um estudo realizado na China aplicou um questionário sobre conhecimento e atitude sobre a doação de leite humano com 200 mães hospitalizadas, revelando que, entre os fatores que afetam a decisão pela doação de leite, o estado conjugal interfere significativamente. Mães solteiras tiveram maior tendência à doação quando comparadas às mães casadas. Ademais, a atitude para a doação de leite materno também foi afetada pela renda familiar e pela proximidade das lactantes do local onde se encontrava o banco de leite 27,28.
Estratégias de educação em saúde voltadas para gestantes, parceiros, familiares e comunidade em geral possuem destaque no contexto, pois é a partir da informação que os sujeitos podem melhorar suas práticas de saúde e estilo de vida.
Quanto às orientações recebidas no pré-natal, 77,4 % referiram haver recebido informações sobre aleitamento materno e apenas 16,4 %, sobre a doação de leite. Em outra pesquisa, obteve-se que a principal fonte de informação e motivação, para 76 % das participantes, no que se refere à doação de leite materno, foi a internet 15, o que revela a insuficiência da atuação dos profissionais de saúde quanto ao incentivo à doação, assim como de ações de promoção ao aleitamento materno que devem ser instituídas desde o pré-natal, a fim de evitar sentimentos de impotência que podem levar ao desmame precoce 27,29.
Assim, existe a necessidade urgente de que sejam tomadas medidas que possam favorecer a prática do aleitamento materno exclusivo até os seis meses de idade e, de forma complementar, até os dois anos de vida 30.
Os profissionais de saúde devem conhecer as particularidades de cada mulher e sua realidade social, para que possam, por meio de escuta qualificada e assistência individualizada e humanizada, estimulá-las ao autocuidado, bem como ao cuidado do recém-nascido, o que se refletirá em seu bem-estar físico e emocional. O apoio de pessoas próximas, como o(a) cônjuge ou familiares e o suporte institucional agem positivamente para a decisão do ato de amamentar e de doar 31.
Contudo, embora uma rede de apoio sólido seja importante para incentivar o aleitamento, nota-se que profissionais de saúde atuantes em bancos de leite possuem deficiência no conhecimento sobre os direitos legais da proteção do aleitamento materno, o que resulta em assistir essas mulheres restringindo-se à função biológica do ato de amamentar e negligenciando informações importantes para seu empoderamento 32. É fundamental que tanto eles quanto os formuladores de políticas públicas estimulem a amamentação eficaz e despertem, nos serviços de saúde e na população em geral, a consciência sobre a importância da doação de leite para os bancos de leite humano 33.
Mesmo sem haver um posto de coleta de leite humano na região, 2,2 % das nutrizes deste estudo afirmaram, por motivos diversos, ter realizado essa prática: necessidade do filho, ajudar alguém da família/conhecido ou excesso de leite materno. De fato, a prática de doação de leite está na maioria das vezes ligada a questões sentimentais, no sentido de ajudar outras mães incapazes de nutrir seus filhos, bem como ao alívio do ingurgitamento decorrente do excesso de produção láctea; fatores que devem ser enfatizados durante as orientações do pré-natal 34.
Além do mais, 78,3 % descreveram o desejo em doar leite materno, o que revela a existência real de potenciais doadoras, a partir do momento em que o serviço for ofertado. O desejo de doar leite teve relação positiva e estatisticamente significante com a escolaridade (p = 0,038) e com as orientações pré-natais sobre o assunto (p = 0,028). Em outro estudo, ajudar a amamentar e ensinar a mãe a realizar a expressão do leite esteve associado a duas e três vezes, respectivamente, mais doações 15.
Bebês prematuros, especialmente aqueles com peso inferior a 1.500 gramas ao nascer, constituem o mais importante grupo receptor do leite doado, uma vez que a prematuridade diminui o período de lactogênese, o que impede a mãe de fornecer leite em quantidade suficiente 3,24. Considerando os benefícios do leite materno para prematuros, estes se tornam substancialmente dependentes de doações para garantir uma adequada maturação, desenvolvimento e diminuição dos riscos de infecção, doenças cardiovasculares e distúrbios metabólicos 35.
A ingestão de altas doses de leite materno durante a hospitalização em unidade de terapia intensiva reduz a incidência, severidade e risco de morbidades como enterocolite necrosante, sepse tardia, doença pulmonar obstrutiva crônica, retinopatia da prematuridade e problemas no neurodesenvolvimento 3,10.
Os bancos de leite humano exercem importante contribuição para o sucesso e manutenção da amamentação. São eficazes em resolver, de forma transitória, o problema alimentar de recém-nascidos cujas mães, por fatores diversos, não são capazes de alimentá-los ao seio. O grande valor do leite materno justifica os esforços e o estudo de técnicas para manter a amamentação 36.
Embora bastante difundidos os atributos do leite materno, sua composição é influenciada pela idade gestacional e cronológica da criança, estágio de lactação e estado de saúde do binômio mãe-filho. Os componentes imunológicos presentes no alimento materno atuam na integridade da barreira intestinal e na colonização microbiana, com primazia na prevenção de enterocolite necrosante, quando comparado à alimentação com fórmula comercial 2.
O tempo em que uma mulher lactante é elegível para doar seu leite a um banco de leite é variável em todo o mundo. Alguns bancos excluem doadores até seis meses após o parto, enquanto outros não estabelecem limites na duração da doação 37. Por exemplo, o colostro, em relação ao leite maduro, apresenta maior teor de lactoferrina, segunda proteína predominante no leite humano e que possui atividade antimicrobiana. Por sua vez, com um declínio contínuo na concentração de lactoferrina, leites recolhidos após dois meses de nascimento e congelados por três meses podem ter sua concentração drasticamente reduzida 3.
Durante o ciclo gravídico-puerperal, o enfermeiro representa, dentre a equipe multiprofissional, aquele que constrói laços mais íntimos junto à gestante. A humanização da assistência prestada durante o pré-natal reverbera, dentro dos serviços de saúde, como ação de saúde pública dado o impacto para a redução da morbidade e mortalidade materno-infantil. Para tanto, é elementar conhecer o perfil de mães que podem tornar-se doadoras de leite materno, com a orientação de estratégias que visem aprimorar o processo de assistir e educar a gestante, a fim de gerar desejo e segurança para a doação.
Dada a magnitude da relação entre conhecimento e boas práticas de saúde, sugere-se que a educação permanente em saúde, voltada aos profissionais atuantes na área, associada à educação em saúde direcionada às mulheres e suas famílias, seja prioridade no planejamento e execução de políticas públicas em saúde. Dessa forma, viabiliza-se a disseminação de informações que gerem maiores possibilidades para a doação de leite materno.
Este achado exerce grande relevância acadêmica e social ao passo que amplia e aprofunda a produção científica sobre a doação de leite materno e os aspectos existentes entre as mulheres que desejam ser doadoras e os bancos de leite humano. Além disso, fornece maiores evidências sobre a importância dessa prática de maneira organizada, com orientação profissional e apoio familiar, com vistas à sua popularização nos sistemas de saúde. Considera-se que tais resultados se apresentem como estímulo e embasamento teórico-científico à estruturação de novas unidades coletoras, tornando oportuna a doação do leite pelas nutrizes e, por consequência, a melhoria das perspectivas de desenvolvimento de recém-nascidos.
Conclusões
Observou-se um número expressivo de nutrizes interessadas em doar o seu leite, principalmente motivadas pela sensibilização em saber que poderiam ajudar outra criança, com relação estatisticamente significativa entre o desejo de doar leite materno e os aspectos sociodemográficos de maior escolaridade da mulher, bem como com as orientações recebidas no pré-natal sobre o assunto, o que demonstra a relevância da educação e da educação em saúde dentro do contexto.
Correlacionar as características maternas com o desejo de doar leite permitiu conhecer o perfil dessas mulheres, o que pode servir de ferramenta útil na elaboração de estratégias para captar novas doadoras, especialmente mediante a intensificação das orientações fornecidas acerca da doação de leite materno não só à gestante, mas também à família e ao seu círculo social como forma de suporte a essa prática.
Tendo em vista os benefícios do leite materno doado para o bebê, faz-se necessária, primordialmente, a capacitação dos profissionais de saúde que lidam com esse público a fim de habilitá-los a proverem uma assistência integral, com conhecimento das vulnerabilidades da situação socioeconômica e potencialidades de cada mulher.
Por fim, ressalta-se que a coleta de dados ocorrida em apenas um local e o tamanho da amostra constituem fatores limitantes deste estudo. Portanto, sugere-se a realização de novas investigações que permitam ampliar o conhecimento sobre as possíveis doadoras de leite materno, de maneira multicêntrica.