Introdução
Estima-se que há 1,8 bilhão de pessoas no mundo entre 10 e 24 anos de idade. Historicamente, é a maior população de adolescentes (de 10 a 19 anos) e dejovens (de 15 a 24 anos) 1. Esse segmento está crescendo rapidamente e, se as tendências atuais se mantiverem, o número de adolescentes com idades entre 10 e 19 anos aumentará para mais de 1,3 bilhão até 2030, um acréscimo de 8 % em relação à de hoje 2.
Os adolescentes são reconhecidos como indivíduos em transição entre infância e idade adulta, com modificações de aspectos corporais, devido ao início da puberdade, e comportamentais, em razão da formação de caráter e de personalidade e da reorganização no modo de pensar 3. Diante das descobertas e da busca por autonomia, apresentam-se como grupo propenso à situação de riscos, influenciados pela realidade objetiva e subjetiva do seu universo 4. De modo geral, tornam-se mais vulneráveis às circunstâncias que põem a saúde em risco, entre as quais se destacam os comportamentos 5, as infecções 6 e os agravos 7.
Estudo desenvolvido em diferentes países evidencia a precocidade da relação sexual relacionada ao sexo desprotegido e ao maior número de parceiros ao longo da vida 8. O sexo desprotegido é um dos fatores que mais contribuem para aumentar o número de anos de vida perdidos por incapacidade em adolescentes 9. O não uso ou o uso inadequado de preservativo pode acarretar diversos agravos e prejuízos à saúde 10.
O consumo de substâncias psicoativas, por exemplo, álcool, tabaco e drogas ilícitas, vem crescendo também entre os adolescentes 11, sendo encarado como um problema de saúde pública pelos danos a ele associados 12. Estudo realizado em 32 escolas de ensino médio federais das zonas geopolíticas da Nigéria identificou que o álcool é a substância mais amplamente disponível entre os alunos, visto que 33,6 % dos adolescentes que participaram da pesquisa beberam álcool pelo menos uma vez na vida. O tabagismo é relevado por cerca de 5,1 % dos participantes da pesquisa, ao contrário das drogas ilícitas que foi o dobro 13.
Contudo, as causas externas ainda continuam sendo o basilar motivo de morbimortalidade em adolescentes, com estimativa de mais de 7,26 milhões de mortes em todo o mundo 14. O fenômeno da violência configura-se como um dos principais, com desfechos desfavoráveis e decorrências físicas e psicossociais devastadoras, o que traz consequências para a qualidade de vida, além de resultar em incapacidades e transtornos psíquicos 15. Estudo desenvolvido em escolas públicas de áreas urbanas e rurais no Irã evidenciou a prevalência de eventos de violência entre os adolescentes, sendo a ofensa verbal o meio de agressão mais frequente, seguido da força física e do uso de armas entre ambos os sexos 16.
Ao conhecer a complexidade da adolescência e a situação de vulnerabilidade, apreende-se que a qualidade da saúde dos adolescentes pode estar relacionada à propriedade de saberes que eles têm acerca dos problemas e agravos. Além disso, pode estar associada à sua capacidade de compreensão dessas informações, à incorporação delas no repertório de comportamento e, finalmente, ao interesse de transformar essas práticas em intervenções protetoras 17.
Nesse contexto, destaca-se a importância da educação em saúde como um processo pedagógico que demanda o desenvolvimento de um pensamento crítico-reflexivo entre os participantes. A partir disso, a realidade pode ser desvendada de forma coletiva, e a emancipação e a autonomia dos sujeitos podem ser viabilizadas em sua trajetória de vida, além de serem capacitados para a tomada de decisões de saúde para o autocuidado 18.
No entanto, em decorrência da necessidade de superar concepções tradicionais e incorporar novas estratégias educacionais, tem se tornado urgente inovar as ações de educação em saúde em prol de uma educação transformadora. Acredita-se que essas ações respondem às necessidades intrínsecas e favorecem a participação dos indivíduos, especialmente os adolescentes, que têm se mostrado como público cada vez mais desafiador.
Desse modo, verifica-se o uso de tecnologias nas ações de educação em saúde como estratégia político-pedagógica que supera o modelo tradicional, pois tem o foco na autonomia individual e na construção de saberes, tornando os adolescentes protagonistas durante o processo educativo 19. Essa estratégia tem viabilizado a promoção da saúde ao permitir de forma ordenada a elaboração, a organização ou a utilização de ferramentas e a manipulação por meio de processos interativos e dinâmicos. Além disso, tem possibilitado o desenvolvimento de técnicas orientadas por equipamentos ou o uso de materiais eletrônicos para auxiliar no cenário da saúde 20.
Por esse ângulo e tendo em vista a complexidade do adolescer, os profissionais de saúde que prestam cuidado por meio de ações gerenciais, assistenciais, educacionais e de âmbito individual e coletivo em diferentes espaços de atuação têm se deparado constantemente com tecnologias e sido desafiados a desenvolvê-las e aplicá-las a fim de facilitar o processo educacional com os adolescentes.
No entanto, ressalta-se que, na busca em bases de dados nacionais e internacionais, não se encontraram estudos de revisão que abordassem os diferentes tipos de tecnologias elaboradas para a educação em saúde com adolescentes. Nesse contexto, este estudo surge da necessidade de preencher essa lacuna na produção do conhecimento científico.
Para tanto, faz-se necessário o aprofundamento acerca da temática na literatura científica. Nesse sentido, a prática baseada em evidências tem se mostrado valiosa, por utilizar resultados de pesquisas de atenção à saúde. Desse modo, utilizou-se da revisão integrativa da literatura por ter o escopo de agrupar e resumir de forma sistemática resultados de investigações sobre determinada temática ou questão 21.
Assim, objetivou-se identificar, na literatura nacional e internacional, as tecnologias para a educação em saúde com adolescentes.
Este estudo se apresenta como uma alternativa para contribuir para a área do conhecimento da saúde do adolescente. Além disso, fortalece evidências acerca das ferramentas desenvolvidas como recurso capaz de mediar ações educativas, sintonizadas na emancipação do público adolescente em questões de saúde.
Materiais e métodos
Trata-se de uma revisão integrativa da literatura, caracterizada como método de pesquisa que permite realizar a busca, a avaliação crítica e a síntese de resultados de múltiplos estudos 22. Esse tipo de revisão tem contribuído para o avanço do conhecimento e a implementação de intervenções efetivas na área da saúde, especialmente no tocante às práticas dos profissionais de saúde.
Para tanto, adotaram-se seis etapas: I. identificação do tema e seleção da questão de pesquisa; II. estabelecimento de critérios de inclusão e exclusão; m. identificação dos estudos pré-selecionados e selecionados; IV. categorização das pesquisas elegidas; V. análise e interpretação dos resultados obtidos; VI. apresentação das informações 22.
Além disso, elaborou-se, para esta investigação, a seguinte pergunta: quais tecnologias estão sendo desenvolvidas ou utilizadas como estratégia de educação em saúde para adolescentes? Para a construção dela, utilizou-se da estratégia mnemônica Pico (população: adolescentes; interesse: tecnologias; contexto: educação em saúde).
Para a operacionalização desta análise, realizou-se uma consulta na página eletrônica dos Descritores em Ciências da Saúde (DecS) e do Medical Subject Headings (MeSH), com vistas a identificar terminologias universais pertinentes à temática da pesquisa. Desse modo, selecionaram-se descritores controlados nos idiomas em português, inglês e espanhol, apresentados a seguir: educação em saúde/health education/educación en salud; adolescente/teenagers/ adolescente, tecnologia/technology/tecnología. Estes foram combinados de diferentes maneiras para garantir uma busca ampla e associados ao operador booleano AND para acessar os artigos que apresentavam intersecção entre os diferentes descritores.
De forma ordenada, realizou-se o levantamento bibliográfico entre abril e junho de 2019 em quatro sítios eletrônicos, a saber: Medical Literature Analysis and Retrieval System Online (MEDLINE); Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde (LILACS) e Base de Dados Específica da Enfermagem (BDEnf), consultadas por meio da Biblioteca Virtual em Saúde (BVS) e do Scientific Electronic Library Online (SCÍELO).
Como critérios de inclusão, aplicaram-se artigos disponíveis eletronicamente e publicados nos idiomas português, inglês e espanhol. Não foram estabelecidos critérios quanto ao limite temporal, com o intuito de abranger o maior número de artigos possível. Considera-se que, mesmo com o avanço crescente de recursos educacionais na área da saúde, é reconhecido que as ferramentas mais antigas ainda demonstram contribuição no campo da educação e da promoção da saúde.
Quanto aos critérios de exclusão, não se adotaram manuscritos duplicados, monografias, dissertações, teses, editoriais, matérias jornalísticas, análise conjuntural, discussão teórica de conceitos, artigos não originais (nota prévia, resenhas, comentários), manuscritos com amostras de outros grupos que não são adolescentes e estudos secundários (revisão bibliométrica, bibliográfica, integrativa e sistemática).
Para a seleção dos estudos incluídos na revisão, verificou-se a adequação aos critérios de inclusão e exclusão da pesquisa, avaliaram-se os títulos, os resumos e as palavras-chave de todas as publicações identificadas pela estratégia de busca, e, ao final, realizou-se uma leitura criteriosa dos manuscritos completos na íntegra, selecionando os artigos que apresentavam aproximação com o objetivo do estudo. As etapas da busca e da seleção dos estudos da revisão estão resumidas na Figura 1, que foi elaborada a partir do instrumento do Preferred Reporting Items for Systematic Review and Meta-Analyses (Prisma) 23.
Após a leitura minuciosa dos documentos na íntegra, documentaram-se e sumarizaram-se o título das produções, os autores, o ano, o periódico das publicações, o cenário do estudo (cidade/país), o objetivo das investigações, a quantidade de participantes, a metodologia, a mensuração de variáveis, os métodos de análise, a teoria ou o conceito, os principais resultados e as conclusões dos artigos selecionados na etapa anterior, a partir de um instrumento elaborado pelos próprios autores para a extração de algumas informações.
Na análise e na interpretação dos dados, buscou-se situar a relação entre os achados e a questão da pesquisa. Para a apresentação da revisão integrativa, realizou-se uma síntese de elementos enriquecedores e relevantes da temática, e utilizaram-se quadros e tabelas para facilitar a compreensão dos leitores.
Resultados
Com base na análise dos estudos 24-50, realizou-se a caracterização dos artigos a partir dos autores, do ano de publicação, do título, do objetivo, do país e do método (Quadro 1). Sete artigos foram redigidos por enfermeiros; quatro, por enfermeiros em parceria com pedagogos, psicólogos, médicos ou nutricionistas; três, por outros profissionais da saúde e áreas afins. Em treze publicações, não foi possível identificar a categoria profissional dos autores.
O período de publicação dos estudos foi entre 1999 e 2018, sendo prevalente o ano de 2016 com quatro, seguido de 2009, 2012, 2015, 2017 e 2018 com três em cada ano. Os estudos apresentaram diversidade no que se refere aos países em que foram desenvolvidos, sendo a maioria proveniente do Brasil. Quanto ao delineamento metodológico, a maioria dos estudos foi classificada como qualitativo e metodológico. Em oito artigos, não se encontrou o método ou o tipo de estudo.
Identificou-se uma diversidade de tecnologias desenvolvidas como estratégia de educação em saúde para os adolescentes. A utilização dessas tecnologias tem proporcionado mudanças de paradigmas para promover a saúde e prevenir agravos. Além disso, tem propiciado a construção de saberes, a troca de experiências e a incorporação de novas formas de cuidado (Quadro 2).
N.° | Tecnologias | Principais resultados |
---|---|---|
A01 | ZiG-ZAiDS 24 | Inteligente e apropriado, fornece informações de uma forma lúdica, criativa e inovadora. É divertido, diminuiu confusões e permite perguntas aprofundadas sobre as temáticas. |
A02 | Jogo da onda 25 | Capaz de informar, promover reflexão e estimular debate acerca de várias situações do cotidiano. Apresenta-se de forma informativa e interativa, reconhece a opinião de colegas, viabiliza a expressão plena de opiniões e auxilia na compreensão das temáticas. |
A03 | Smoking prevention interactive experience26 | Entre os não fumantes na linha de base, as taxas de iniciação ao tabagismo foram significativamente mais baixas na condição do uso da ferramenta. Os estudantes que receberam o material demonstraram um equilíbrio decisivo maior contra o tabagismo e diminuíram as tentações de fumar. |
A04 | Tecnologia educacional 27 | Propicia espaço de discussão e reflexão, evadindo o modelo educação bancária para o emancipatório, desfazendo não só conceitos errôneos e preconceituosos sobre as temáticas abordadas, como também medos, mitos e tabus. |
A05 | Tecnologias educativas 28 | Supera o modelo tradicional para focar na produção de saber e autonomia, tornando os adolescentes centrais no espaço educativo. Essas tecnologias possibilitaram a aquisição de conhecimentos sobre as temáticas, promovendo repensar práticas e atitudes para o futuro. |
A06 | Amor e sexo: mitos, verdades e fantasias 29 | Favorece o diálogo participativo sobre informações que auxiliam na compreensão de fatores envolvidos nas escolhas, suas repercussões e riscos. Estimula o raciocínio e a capacidade de analisar informações e proceder escolhas, de acordo com a própria vontade, o interesse e a necessidade. |
A07 | Atividades educativas do Museu da Vida 30 | Oferta troca de significados importantes para compreender conteúdos relativos à ciência, à saúde e ao ambiente. Estabeleceu uma relação com os temas, fator que auxiliou a ampliar as concepções sobre saúde trazidas anteriormente. |
A08 | Papo irado 31 | Estimula experiências de vida saudáveis por meio do empoderamento dos jovens com base no incentivo à sua participação autônoma. Fomenta a produção e a apropriação de saberes a todos os sujeitos envolvidos no processo, com contribuições para o âmbito pedagógico com vistas a reflexões sobre propostas inovadoras. |
A09 | Multimídia SÍHLE HIV 32 | Os participantes que receberam a ferramenta demonstram aumento no conhecimento sobre as infecções e do número de vezes do uso de preservativos durante os atos sexuais. Esse dispositivo tem eficácia como intervenção para prevenir as infecções em nível de grupo de jovens mulheres afro-americanas. |
A10 | Saúde na adolescência 33 | Possibilita discussão com maior aprofundamento e engajamento dos escolares. Estes se sentiram incitados em participar longe da presença de colegas e da equipe da pesquisa. A ferramenta no espaço escolar propiciou um ambiente mais favorável às variadas formas de expressão e comunicação. |
A11 | Cybertutor em saúde vocal 34 | Permite o contato com a teoria de conceitos e a aplicabilidade para o cotidiano da realidade de escolares, professores e população em geral. Viabiliza discussões para solucionar dúvidas, para que, dessa forma, os alunos estejam preparados para o papel de agentes multiplicadores. |
A12 | Programa educativo em saúde bucal 35 | A higiene bucal dos adolescentes na instituição educacional melhorou progressivamente durante a aplicação do programa. O nível de conhecimento dos adolescentes aumentou aos 180 dias da aplicação, tendo uma alta porcentagem de escolares com elevado nível de conhecimento. |
A13 | Growing up strong36 | A participação das adolescentes no desenvolvimento do material permitiu um rápido design que aprimorou a usabilidade, atraiu o uso pelo próprio público-alvo e resultou em um programa que teve um impacto significativo no consumo de frutas e verduras em curto prazo. |
A14 | Manual de prevenção de IST/ Hiv/aids 37 | Facilita a interação entre aluno e professor, e incentiva o intercâmbio participativo, combinando técnicas e conhecimentos de maneira divertida e instrutiva. Possibilita entre os pares comunicação horizontal fácil, com linguagem e comunhão de interesses. |
A15 | Moodle 2.0 e Mahara 38 | Otimiza o trabalho individual, ajuda a atender à diversidade dos conteúdos e motiva os alunos a se relacionarem com o conteúdo ensinado. Permite aos professores a possibilidade de oferecer maior variedade de materiais para a aprendizagem de uma disciplina. |
A16 | Tecnologias de Informação e Comunicação 39 | Capaz de abrir interfaces entre realidades e identidades que geralmente têm baixa permeabilidade. Permitiu a exploração de novas capacidades expressivas e emoções não apenas entre crianças e jovens, mas por todos os envolvidos, incluindo os profissionais de saúde e pesquisadores. |
A17 | Web rádio Associação dos Jovens do Irajá 40 | Favorece o incentivo ao aprendizado e estímulo à expressão, por meio da linguagem da comunicação e da informação digital caracterizada por perguntas de forma on-line. Contagiou e despertou o interesse para o conhecimento, abrindo espaço para o diálogo e contribuindo para a reflexão crítica acerca das temáticas. |
A18 | Tecnologia de cuidado em Enfermagem 41 | Fornece proximidade entre adolescentes com problemas crônicos de saúde e cria oportunidade de saída da enfermaria a outro espaço para o diálogo. Revela-se como estratégia de educação em saúde e valorização dos conhecimentos e experiências dos participantes. |
Smokerface42 | Estratégia inovadora de integrar a "foto envelhecimento" na prevenção do tabaco nas escolas, considerando os preditores do tabagismo de acordo com a teoria do comportamento. O material é divertido, motiva a não fumar e viabiliza a construção de saberes sobre os benefícios de não ser fumante. | |
A20 | Celular 43 | Enquanto se divertem com o material, os adolescentes desconectam de seus problemas e preocupações. Viabiliza sentimento de controle e poder sobre a própria vida, e auxilia a solucionar dúvidas, encontrar respostas e aprender sobre hábitos saudáveis. |
East Los High44 | Os telespectadores demonstravam altos níveis de envolvimento, aprenderam o uso correto do preservativo, pílulas, exibiram níveis mais altos de intenções comportamentais e apreço pelos recursos abrangentes. O programa mostra-se atraente, educacional e transformador. | |
A22 | Quem não joga, não mama 45 | Obteve uma avaliação satisfatória, revelando-se como ferramenta que se enquadra ao construto do jogo que se desejava avaliar. Durante o ciclo gravídico-puerperal, facilita a prática da enfermagem, por se constituir em material capaz de atender às principais dúvidas de mães adolescentes. |
A23 | Síndrome metabólica: como me prevenir 46 | Logrou uma avaliação satisfatória com média de escores atribuídos pelos juízes. O nível de concordância das respostas positivas dadas pelos adolescentes foi de 88,4 %. Mostrou-se como instrumento válido e confiável para ser utilizado a fim de promover a saúde dos adolescentes. |
A24 | Contando bem que mal tem? 47 | Alcançou excelentes valores para cada item avaliado e geral, corroborado pela consistência interna apresentada pelos coeficientes do teste binominal e de alfa de Cronbach. Após a comprovação da validade, o material final está apto a ser utilizado nas práticas educativas sobre a sexualidade. |
A25 | Teatro e dinâmica "Verdade ou mito" 48 | Viabilizou a interação e a participação das participantes para os esclarecimentos de dúvidas em relação a temas. Sinalizou equívocos relacionados à vacina contra a doença, identificando ainda o baixo nível de conhecimento de adolescentes em relação à temática. |
A26 | Jogo "Papo reto" 49 | Possibilita a simulação de personagem e compartilha ideias e vivências, sem forçar ou coagir o participante. A imprevisibilidade das respostas e a possibilidade de experimentar livremente situações potencializam o jogo para que os adolescentes se arrisquem por novos caminhos e se tornem ativos. |
A27 | Educação no trânsito para adolescentes 50 | Abordagem inovadora para atividades de educação em saúde que motiva os adolescentes a comportamentos seguros no trânsito. Mostra-se como ferramenta relevante e de suporte para uso nas práticas educativas desenvolvidas por enfermeiros e outros profissionais. |
Fonte: elaboração própria, 2019.
A maioria dos estudos utilizou mais de um tipo de tecnologia educativa para realizar ações de educação em saúde com os adolescentes, contudo as ferramentas eletrônicas mostraram-se mais prevalentes em 14 estudos, seguidas de matérias impressas em 10 e das oficinas educativas em 8.
As temáticas abordadas nos estudos mediante o uso das tecnologias, em sua maioria, foram sexualidade (onze), infecções sexualmente transmissíveis (sete), vírus da imunodeficiência humana (sete) e síndrome da imunodeficiência adquirida (sete), conforme apresenta-se na Tabela 1.
Discussão
Caracterização da produção científica selecionada no estudo
O enfermeiro se apresentou como profissional predominantemente engajado na realização de estudos acerca do desenvolvimento de tecnologias direcionadas à saúde da população adolescente. Contextualizar esse fenômeno significa compreender a sociologia das profissões e entender que a área da Enfermagem como ciência está em processo de construção hodierna, emergindo a partir de saberes específicos e totais para a fundamentação de sua prática 51. Esse desafio emergente não é, portanto, do seu ponto de partida, mas da expansão ante as demandas da globalização determinadas pela ciência, pela tecnologia e pela inovação 52.
Embora se saiba das iniquidades presentes entre as profissões que compõem o campo da saúde de origem histórica e social 53, constatou-se a existência de diferentes profissionais de saúde e de áreas afins envolvidos na operacionalização da produção científica e tecnológica quanto à saúde dos adolescentes. Isto é, perceberam-se profissões com aspectos teórico-práticos assimétricos em processo de trabalho para um objetivo em comum 54.
De fato, o trabalho cooperativo não é uma prática recente, porém passou a ter maior visibilidade à medida que a colaboração ganhou destaque no cenário acadêmico 54. Essa colaboração tem sido caracterizada como um processo social e interativo de ação humana que pode ocorrer em diferentes níveis, formas e causas 55. A participação de colaboradores de diversas áreas na equipe de estudos tem se apresentado como estratégia importante e promissora para o surgimento de novas abordagens, o compartilhamento de saberes, as formas de reflexão e a ampliação das maneiras de solucionar os problemas 54.
Da análise temporal das publicações, encontrou-se o registro de estudos sobre tecnologias direcionadas para os adolescentes ao fim do século XX e observou-se uma tendência ao aumento do número de estudos a partir do ano de 2008, apresentando oscilação entre os anos. Isso indica que a produção científica vem ganhando importância crescente como fator de impulsão da ciência, tecnologia e inovação. E, de fato, desde a década de 1980, vem aumentando o número de programas de pós-graduação, os quais são responsáveis pela crescente quantidade e qualidade da produção de conhecimentos e/ou tecnologias, bem como de revistas científicas que possibilitaram e ampliaram sua divulgação 56.
A ascensão do número de estudos sobre o adolescente evidenciado ao fim do século XX para o início do século XXI está relacionada com o avanço em termos de dimensões históricas e políticas que configuram o contexto da atenção à saúde integral dessa população. Até meados do século XIX, não existia uma concepção acerca da adolescência, contudo, após as transformações econômicas e políticas geradas pela Revolução Industrial, percebeu-se a necessidade da construção dessa identidade na sociedade moderna 57.
Quanto ao cenário das produções científicas, encontrou-se uma diversidade de locais onde foram desenvolvidos os estudos, por exemplo, Estados Unidos da América, Espanha, Cuba, Peru e Alemanha. O Brasil se destaca na realização da maioria dos estudos. De fato, considera-se que, nas últimas décadas, o país tem avançado de forma exponencial, reflexo dos investimentos perenes realizados nos últimos 50 anos pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior e pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico 58.
Embora o Brasil seja reconhecido na produção científica mundial, sua presença no mercado de patentes está ainda muito abaixo do esperado 59. A discrepância que existe entre os aspectos científico e tecnológico indica que o país pode estar dissipando oportunidades geradas pelo acúmulo do conhecimento 60. Desse modo, falta avançar no sentido de transformar esses dados de produção em indicadores de desenvolvimento tecnológico e inovação 61.
Com relação ao delineamento das pesquisas, identificou-se o predomínio de estudos qualitativos e metodológicos, a partir da indicação registrada nos métodos dos manuscritos. Embora a pesquisa de abordagem qualitativa apresente o nível de evidência IV 62, com possibilidade de falhas, perda de confiança e questionamento nos resultados 63, ela tem deparado, de modo crescente, com interesses e realizações no campo da saúde 64. Já a pesquisa metodológica se apresenta de maneira acentuada entre os enfermeiros pesquisadores associada aos resultados sólidos, aos testes rigorosos de intervenções e aos procedimentos sofisticados, o que possibilita a obtenção de dados confiáveis entre as pesquisas 65.
Impacto das tecnologias educativas nas ações de educação em saúde
Observa-se, de forma demasiada e progressiva, a inclusão e a influência das tecnologias no cotidiano das pessoas. Com o processo acelerado da modernização na sociedade contemporânea, as tecnologias têm se tornado cada vez mais robustas e apresentado configurações peculiares que atendem às reais necessidades dos usuários e que garantem o progresso das inovações tecnológicas.
Quando direcionadas aos adolescentes, as tecnologias têm se manifestado de maneira dinâmica e lúdica para estimular o interesse e assegurar a participação desse público-alvo que se revela atualmente tão desafiador. Analisou-se que a aplicação de materiais educativos nas intervenções programáticas, direcionadas à promoção da saúde e à prevenção de agravos sob estratégias criativas e inovadoras, tem sido bem acolhida e apreciada pelo grupo de adolescentes 66.
O emprego de tecnologias como fontes educativas possibilita o maior interesse de aprendizado e de participação dos adolescentes. Elas se tornam um modelo inovador de promoção de debates associados à saúde e ao bem-estar, uma vez que o uso desses recursos prende a atenção do usuário de forma didática e dinâmica 67. Desse modo, o processo formativo por meio de inovações tecnológicas proporciona o aprendizado de forma diferenciada, potencializa o conhecimento do público-alvo e desperta o interesse do aprendiz, o que favorece a construção de espaços para a difusão de conteúdos que se revelam importantes para a vida 68.
Além disso, para superar as expectativas e viabilizar a participação nas intervenções, tem se tornado necessário aperfeiçoar e adequar as configurações para envolver os adolescentes. Assim, em alguns estudos 24-29, foram elaborados materiais educativos que simulavam um mundo virtual com características semelhantes ao do mundo real. O participante testava várias alternativas factíveis disponíveis e simulava realidades se distanciando da ordem do imaginário e se aproximando da ordem do vivido. Desse modo, por um lado, a simulação reinventa maneiras de lidar com questões do cotidiano e, por outro, favorece o encontro com temas por meio da vivência sem consequências.
Entende-se que ferramentas com esse arcabouço trazem possibilidades para o participante simular um personagem e compartilhar experiências, sem se sentir coagido ou forçado para o cumprimento da ação educativa. As situações possibilitam ao adolescente experimentar livremente uma realidade educativa dura e arriscar-se por novos caminhos na produção de discursos acerca de temáticas inerentes à etapa da adolescência 24.
Verificou-se que as tecnologias 24-50 oportunizaram o protagonismo dos adolescentes nos espaços das atividades por meio de uma participação emancipatória e estimularam a se tornarem atores ativos e reflexivos na experiência do ensino-aprendizagem, e não apenas meros espectadores. Por meio de uma comunicação verbal e não verbal, os adolescentes tinham total liberdade de expressar percepções, sentimentos e emoções acerca das temáticas abordadas, superando as relações assimétricas e a persistência dos padrões hegemônicos de desvalorização.
De fato, o uso de tecnologias em intervenções em saúde tem se revelado primordial para a realização de processos educativos, pois elas promovem a autonomia e a emancipação do sujeito, aproximando-se das concepções da pedagogia libertadora de Paulo Freire 69. Inicialmente, realiza-se a alfabetização dos participantes e, posteriormente efetua-se a promoção da saúde. A prática pedagógica libertadora e problematizadora ultrapassa os limites da educação tradicional vigente e passa a ser compreendida como uma forma de reconhecer o mundo, refletir sobre os aspectos apreendidos, e permite recontá-la a partir de uma ação consciente.
Estudo realizado a partir da aplicação de tecnologia como estratégia educacional em saúde com adolescentes 28 evidenciou o uso como uma experiência exitosa que favorece executar a ação educativa mediante o consórcio entre diálogos, reflexões, empatias e participações. Os pesquisadores, de forma intencional, estimularam o emprego de tecnologias educativas para a realização de atividades interativas, reflexivas e participativas. Isso, portanto, facilitava o desenvolvimento do processo, chamava a atenção do público-alvo e possibilitava o concurso de todos os envolvidos 19. Desse modo, na prática educativa em saúde, a tecnologia é compreendida em uma perspectiva crítica e transformadora, e empregada para favorecer a participação dos indivíduos nas atividades educativas, o que contribui para a construção da cidadania e o aumento da autonomia dos indivíduos.
Todavia, o seu uso não se restringe a apenas permitir a participação enérgica dos componentes do grupo e a desenvolver as atividades de maneira dinâmica nas ações de educação em saúde. Acrescenta-se que a oportunidade de o adolescente se manifestar tem possibilitado a troca de saberes e o compartilhamento de experiências, de acordo com as necessidades oriundas da realidade em que estão inseridos. Logo, essa configuração está de acordo com a concepção do fim da década de 1970 e a do início da década de 1980, quando começou a surgir uma visão mais crítica e ampla acerca da tecnologia. Esta passou a apresentar uma compreensão não apenas da utilização de meios, mas também de si como instrumento facilitador entre indivíduo, espaço e educação, ao proporcionar ao educando/sujeito conhecimentos que favorecem a (re)construção de saberes 70.
Destaca-se que essa relação dinâmica de troca mútua mediada por um processo horizontal contribui para a emancipação dos adolescentes. Além disso, viabiliza a desconstrução de mitos e tabus construídos ao longo da vida e a (re)produção de conhecimento do encontro com o outro, conferindo novas formas de pensar, sentir e agir ante questões de riscos.
Desse modo, as tecnologias como estratégia educacional têm possibilitado o encontro com a aprendizagem significativa e o reconhecimento da importância de habilidades para cuidados com a saúde, estimulando comportamentos saudáveis no enfrentamento do processo saúde-doença que demandam mudanças temporárias ou permanentes. Embora não gerem uma mudança de comportamento imediata, favorecem um repensar de práticas e atitudes para o futuro 28.
Observou-se que as tecnologias foram implementadas em diferentes cenários inerentes ao universo da população adolescente, sendo predominante o ambiente escolar 24-29,31,33-35,38,40,42,43,46-48, seguido dos espaços públicos 24,30,31,34,36 e dos serviços de saúde 24,32,39. Entre os estudos, não se identificou a aplicação no ambiente familiar.
É bem verdade que escola, ao longo do tempo, tem se configurado em espaço de desenvolvimento de habilidades para o crescimento saudável de crianças e adolescentes 71, além de ser um ambiente favorável e privilegiado para a execução de ações de promoção da saúde em razão de sua abrangência e capilaridade. Nesse sentido, estudo evidencia que não há como realizar política com adolescente que não seja nesse espaço 72. No entanto, reconhecer que as intervenções em saúde direcionadas ao adolescente tenham como campo prioritário a escola pode ser um fator limitante para a atuação dos profissionais de saúde em outros contextos sociais e políticos.
Reconhece-se que as ações de promoção da saúde em diferentes ambientes têm intensas repercussões sobre a vida da população 73, como é o caso dos espaços públicos, que, por favorecerem a interação social mútua entre diferentes grupos de pessoas, se apresentam como cenários de exercício ao diálogo e ao respeito à cultura 74. Nesses locais, a exemplo, de parques, praças e clubes, os adolescentes encontram os amigos, divertem-se e fazem desporto, e onde podem estar sozinhos 75. Logo, nesses ambientes, desenvolvem competências sociais, experimentam papéis, definem sua identidade, discutem e aprendem uns com os outros. Por tudo isso, acredita-se que os espaços públicos são mais valorizados do que outros pelos adolescentes e, consecutivamente, propícios para a implementação de ações educativas mediadas por tecnologias.
No entanto, assevera-se que ainda há uma fragilização nesses espaços no sentido de produzir encontros que favoreçam o reconhecimento de vulnerabilidades e a mudança de interesses coletivos inerentes ao processo de desenvolvimento e crescimento. Outrossim, identifica-se a deficiência na elaboração de estratégias eficazes para a construção da autonomia com monitoramento gradual do adolescente para que possa refletir sobre suas escolhas, principalmente diante dos potenciais riscos de saúde 76.
Desse modo, destaca-se a relevância das Unidades de Atenção Primária à Saúde como espaços estruturados que regulamentam ações direcionadas à promoção, à prevenção, à proteção e à recuperação da saúde dos indivíduos. Essas ações assistenciais têm aderido às tecnologias como parte integrante do modelo de atenção à saúde tanto no âmbito individual como no coletivo, como se pode observar neste estudo. Apesar da inclusão das tecnologias no sistema de saúde como forma de acompanhar os interesses da população quanto à modernização e assegurar as inovações tecnológica nas intervenções em saúde, ressalta-se a limitação para efetivar essa prática relacionada à participação do próprio grupo nos serviços de saúde.
Destaca-se que os adolescentes mantêm certo distanciamento dos serviços de saúde, especialmente daqueles que prestam cuidados primários 77. E, quando eles procuram, pouco utilizam a unidade para a promoção da saúde e a prevenção de agravos, mas sim para ações curativas 78. Todavia, estudo realizado em uma região metropolitana do Brasil aponta que a maioria dos adolescentes esteve presente na atenção primária nos últimos 12 meses. Houve ainda diferenças marcantes a respeito do acesso às ações de prevenção de agravos 79. Por um lado, isso demostra um panorama diferente da realidade encontrada em alguns países em desenvolvimento e, por outro, a importância de intensificar as ações educativas por meio dessas tecnologias para fomentar a promoção da saúde dessa população.
A inexistência de tecnologias para o ambiente familiar evidenciada também nesta revisão vem confirmar a necessidade da construção, da validação e da avaliação desses materiais direcionados aos adolescentes com os familiares, como estratégia de oportunizar o diálogo e a (re)produção de saberes entre ambas as partes. Sabe-se que a abordagem das temáticas pertencentes à etapa da adolescência entre filhos e pais ainda é insuficiente, falha e imprecisa, além de quase não existir. Todavia, quando existe, não contempla a abordagem da temática completa, sendo realizada de maneira superficial às necessidades intrínsecas dos adolescentes. As maiores dificuldades dos pais são reconhecer quando iniciar, o que abordar no diálogo entre os pares e se as informações transmitidas estavam corretas 80.
Tipos de tecnologias educativas utilizadas nas ações de educação em saúde
Evidenciou-se que todos os estudos incluíram um tipo ou mais de tecnologia como estratégia de subsidiar o cuidado educativo com os adolescentes. Os recursos eletrônicos apresentaram-se como os mais desenvolvidos e/ou usados, e, entre eles, destacaram-se programa de computador 26,32-34,36,38,39, multimídia 29,35, música 27, filme 27, web40, aplicativo 42, smartphone43, série on-line44 e jogo eletrônico 49.
Nesse contexto, reconhece-se que a produção de materiais educativos digitais tem se manifestado fundamental para atender às demandas existentes e às necessidades dos usuários. Estes se têm destacado pela portabilidade e programação possível de fornecer elementos em tempo real, quando houver maior probabilidade de serem necessários e eficazes. Além disso, pela capacidade de fornecer feedback imediato, dicas e estratégias pontuais para a solução de problemas em torno de gatilhos e barreiras, demonstra aumento na pontualidade e na precisão do auto monitoramento, bem como relevância e eficácia gerais da intervenção 36. Deste modo, é uma área que está se construindo rapidamente e exigindo mais reflexões sobre a concepção dos produtos e a avaliação de seus resultados 29.
Entre a população adolescente, verifica-se que o uso destas tecnologias está aumentando constantemente em todos os países do mundo 42, desempenhando papel cada vez mais importante na vida social 36 e tornando-se ferramenta promissora para o desenvolvimento de intervenções eficazes 36, inclusive para as atividades educativas 36,42. Todavia, para que se possa ampliar a efetividade das intervenções em saúde com esses materiais, torna-se ainda necessário ponderar as diferenças existentes entre o perfil de adolescentes nas regiões do mundo, como no caso da África, da Ásia, da América Latina e Caribe e da Europa, pois a desigualdade socioeconómica 81 é uma realidade que pode interferir no acesso e deve ser considerada no planejamento das tecnologias.
Apesar dos inúmeros benefícios dessas tecnologias em atividades educativas para a promoção da saúde do adolescente evidenciados pela literatura científica nacional 82 e internacional 26,32,35,36,38,39,42-44, ressalta-se que o emprego de forma negligente pode assumir significados e efeitos que merecem atenção. Estudo apresenta que o uso crescente e precoce dos materiais eletrônicos entre esse grupo tem preocupado profissionais de saúde e de outras áreas, sobretudo no que diz respeito ao impacto que as tecnologias podem provocar nos aspectos biológicos, psicológicos e sociais durante o período de desenvolvimento e crescimento, além dos riscos de doenças ou agravos durante a fase da vida adulta 83.
Outros estudos 24,25,27,28,31,37,45,46,48-50 reportaram o material impresso como estratégia para subsidiar as práticas educativas com grupo de adolescentes. Considera-se que a produção desses recursos abre novas possibilidades para efetuar a promoção da saúde por ser uma ferramenta palpável, em que todas as informações contidas podem ser facilmente visualizadas de forma que aprimore a assimilação do conteúdo, se comparadas às orientações verbais avulsas 50.
Nesse sentido, em dois estudos 46,50, identificou-se a cartilha como proposta de trabalho que favorece o desenvolvimento da educação em saúde e instrumento pelo qual se deve ensinar sobre assuntos e sensibilizar o leitor quanto a assumir responsabilidade por si próprio 46. Esse recurso, portanto, é considerado relevante no uso nas práticas educacionais realizadas por enfermeiros e outros profissionais como material de apoio 50. Outros 24,25,45,49 apostaram no modelo de jogos educativos por se apresentarem como ferramenta de processo educativo que favorece o debate coletivo, a troca de experiências e a participação, sob a perspectiva crítica com relação à educação tradicional.
Identificou-se ainda a confecção de tais materiais pelo próprio grupo de adolescentes, levando em consideração conhecimentos e habilidades adquiridos durante as intervenções em saúde. Estudos 28-31 motivaram os participantes para a construção de materiais artísticos de maneira coletiva, como cartazes 28,27 e quadros 31, a fim de possibilitar o altruísmo dos adolescentes na expressão de ideias e no envolvimento na discussão 27,31, a avaliação dos participantes sobre as repercussões das atividades e o resgate aos temas abordados nos encontros anteriores 28. Assim, a estratégia tradicional de educação na qual o profissional é o detentor do saber-fazer não é mais cabível, e a criação desses materiais a partir de percepções, sentimentos e emoções torna-se prática nos encontros educativos 28.
No entanto, faz-se imperioso ainda intensificar a participação do público-alvo, no caso, os adolescentes, no processo da construção. Essa abordagem fornece a oportunidade aos indivíduos para o qual o material é desenvolvido a participar de todas as fases e auxilia na garantia de uma ferramenta adaptada a atender às reais necessidades daqueles para a qual foi projetada 36.
Os manuais disponibilizados por instituições de saúde apresentaram-se como outra forma de auxiliar os profissionais nos encontros educativos com adolescentes 28,37. Todavia, em um dos estudos 37, tornou-se ainda necessário realizar uma capacitação antecipada entre os professores para o desenvolvimento dos momentos com o grupo. Acredita-se que o treinamento facilita a interação aluno-professor e incentiva o intercâmbio participativo, combinando técnicas e conhecimentos de maneira divertida e instrutiva. Numa segunda intenção, facilita a educação entre pares, pois é muito mais fácil se comunicar entre iguais, com uma linguagem e comunhão de interesses.
Entre os materiais impressos identificou-se que alguns passaram pelo processo de validação, do qual obtiveram escores satisfatórios quanto aos aspectos do conteúdo, da linguagem e da aparência por parte de especialistas, e ao estilo de escrita, à apresentação e à compreensão, por parte da população-alvo 24,45,46,49. Outro trabalho 50 apresentou a não realização desta etapa como limitação do estudo, devido à necessidade de mobilizar recursos financeiros para prosseguir com o desenvolvimento. Os demais estudos se limitaram a citar a realização do seu uso 25,27,28,31,37,48.
Desse modo, torna-se relevante desprender esforços para a validação das tecnologias educativas direcionadas a esse público 49. O processo de validação indica confiabilidade do material, respaldando a tecnologia para seu uso durante práticas educativas 68. A enfermagem vem produzindo as tecnologias, porém a validação desses materiais ainda se encontra em quantitativo reduzido, apontando a necessidade de realizá-la com as ferramentas elaboradas 84. Essa realidade remete às lacunas na produção do cuidado de enfermagem em atuar junto aos adolescentes 47.
Outro aspecto observado entre os estudos foi o uso de oficinas educativas por meio de atividades grupais 27,28,41,48, peças teatrais 31,48, paródias 31, workshops35, palestras expositivas 35 e exposição de museu 30, com vistas à construção do conhecimento entre o grupo de adolescentes. Em realidade, as oficinas grupais são caracterizadas como espaço para trocas mútuas de valores e ideias sobre determinado assunto, proporcionando ponderação sobre as questões de saúde e a necessária ruptura do indivíduo com aspectos deletérios do ambiente social que perpassa a condição individual 85.
No entanto, destaca-se atenção para as ações na forma de palestras, que apresentam desfechos desfavoráveis, especialmente no que se refere à mudança de comportamento com relação aos fatores de risco, à dificuldade na retenção de informações e à mudança de comportamento 86. Logo, para experiências educacionais exitosas, é necessário selecionar recursos educativos com atributos que correspondam às expectativas do público a que se destina 87.
Temáticas abordadas nas tecnologias para as ações de educação em saúde
Quanto aos conteúdos abordados nas tecnologias, observou-se a predominância de temáticas inerentes ao processo de crescimento e desenvolvimento do adolescente, em que se destacou a sexualidade, compreendida como algo natural do ciclo de vida de qualquer ser humano. Nesse contexto, a sexualidade envolve desejos e comportamentos ligados à afetividade, à satisfação, ao prazer, aos sentimentos, ao exercício da liberdade e à saúde 88.
Os adolescentes têm vivenciado de múltiplas maneiras práticas sexuais desprotegidas 12, devido à deficiência de informação 6,12, à ausência de comunicação com familiares 6,12 e à presença de alguns mitos ou mesmo ao medo de assumir a própria sexualidade 6,12. Desse modo, a curiosidade existente e a procura por novas experiências 6,12 somadas à carência de orientações sobre as mudanças pelas quais estão passando 6,12 tornam os adolescentes vulneráveis a diversas situações, por exemplo, ao risco de infecções sexualmente transmissíveis, como o HIV 6,12, que foi mencionado também de forma ascendente entre os estudos desta revisão.
Isso, portanto, vem confirmar a importância do desenvolvimento desses materiais destinados às ações em saúde como estratégia educativa para a construção de saberes e o compartilhamento de experiências. Além disso, há urgência na implementação de forma contínua das intervenções educativas mediadas por essas ferramentas, como forma de assegurar a promoção da saúde e a prevenção de agravos da população adolescente.
Salienta-se que as limitações do estudo estão vinculadas às escolhas metodológicas adotadas, por exemplo, a escolha dos bancos de dados e dos descritores controlados utilizados que pode ter interferido na possibilidade de ampliação dos resultados obtidos. No entanto, isso não inviabiliza os resultados evidenciados por meio desta revisão, uma vez que a diversidade de tecnologias encontradas se apresenta como ponto forte e estratégia potente para mediar as ações de educação em saúde com os adolescentes.
Conclusões
As tecnologias têm crescido de forma acelerada e acentuada no cenário mundial, sendo as de configuração educativa bem-aceitas por todos como estratégia de subsidiar a produção do cuidado. Entre os profissionais que compõem a área da saúde, destacaram-se com grande influência na produção desses materiais os enfermeiros para o desenvolvimento de ações educativas com adolescentes.
As intervenções em formato de oficina, sob o uso de materiais impressos e especialmente de ferramentas eletrônicas, têm se reportado como estratégia pedagógica potencializadora para o processo de ensino-aprendizagem. Além disso, viabilizam a abordagem de questões complexas inerentes ao adolescer, tornando os indivíduos protagonistas para o reconhecimento de suas vulnerabilidades em saúde.
Outrossim, considera-se que há necessidade do desenvolvimento desses materiais no ambiente familiar, uma vez que ainda se apresentam escassos para fomentar espaço de discussão dos adolescentes com os membros da família. Essa estratégia oportuniza o diálogo e a (re)produção de saberes entre ambas as partes, fornecendo, assim, esclarecimentos, aconselhamentos e troca de ideias sobre temas ainda poucos explorados.