Introdução
A orientação empreendedora (OE) está contextualizada no âmbito do empreendedorismo ao nível organizacional, no que se refere a comportamentos dos gestores e como estes são repassados para a organização em questão (Covin & Slevin, 1991; Miller, 1983; 2011). A OE procura facilitar a adaptação no ambiente, de forma a atuar positivamente na relação com o desempenho e auxiliar na descoberta de potenciais oportunidades, na diferenciação e na criação de vantagem competitiva (Covin & Wales, 2019; Lumpkin & Dess, 1996; McKenny et al, 2018; Miller, 1983; Wang et al, 2021).
Inicialmente, Miller (1983) apresentou três dimensões para a compreensão da OE: assunção de riscos, proatividade e inovatividade. Lumpkin e Dess (1996) entendem que se torna necessário o acréscimo de outros dois construtos: autonomia e agressividade competitiva. Outros autores, como McClelland (1962), Mello e Leão (2005) e Lazzarotti et al. (2015), sugerem a inserção de uma sexta dimensão, que seria a das redes de relação. Explorar essa sexta dimensão na discussão de OE se revela oportuno (Frare et al., 2019), e amplia as descobertas para novos contextos.
Percebe-se a importância da OE na gestão de diferentes ramos de atividade empresariais, como em cooperativas de crédito (Roncalio et al., 2017). Essas organizações de natureza financeira proporcionam soluções relativas às finanças e à geração de renda aos cooperados, ao fornecer mecanismos para intermediar financeiramente estes com o mercado (Silva & Moretto Neto, 2015). Em linhas gerais, explorar a relação da OE com o desempenho em ambientes que possuem princípios cooperativistas torna-se pertinente (Guzmán et al., 2020).
Apesar de alguns estudos relacionarem à OE com o desempenho das cooperativas de crédito (Lizote et al., 2012; Roncalio et al., 2017; Werlang et al., 2018), não foram encontradas pesquisas que investigassem a sexta dimensão da OE nas cooperativas de crédito, no entanto a rede de relações torna-se fundamental na gestão dos negócios, ao auxiliar no ingresso de novas oportunidades e mercados, e, sobretudo, para que a organização se mantenha competitiva (Basile, 2012; Covin & Miller, 2014; Lazzarotti et al., 2015).
Acerca da população das pesquisas no âmbito de cooperativas de crédito, verificou-se que nenhuma contempla o nível nacional e, consequentemente, impossibilita a noção do panorama a âmbito geral. Ademais, a necessidade de novos estudos que explorem a multidimensionalidade da OE em diferentes contextos figura de forma emergente e fundamental (Lee et al., 2019; Shah & Ahmad, 2019; Wales et al., 2020). Diante das lacunas evidenciadas, de acrescentar a dimensão de rede de relações na discussão da OE, contemplar cooperativas de crédito em âmbito nacional e explorar a multidimensionalidade da OE com relação ao desempenho, assume-se o objetivo de analisar como as dimensões da OE relacionam-se com o desempenho nas cooperativas de crédito do mercado brasileiro.
A importância do público em questão justifica-se porque o setor apresenta taxa de crescimento no número de cooperados, capital e participação de mercado (Carvalho et al., 2015; Paiva & Santos, 2017); dessa forma, a OE nas cooperativas de crédito proporciona um meio de estender os limites de suas capacidades de revigorar a gestão de seus recursos (Knight, 1997) e apresenta impacto no desempenho empresarial e torna-se importante fonte de vantagem competitiva (Covin & Slevin, 1991; Hernández-Perlines et al, 2021; Rua & Rodrigues, 2018; Basco et al., 2020).
A investigação contribui para a compreensão da OE e suas relações com o desempenho das cooperativas de crédito em âmbito nacional, de maneira a acrescentar a dimensão de rede de relações, a qual até então não fora encontrada em estudos correlatos com esse público. Ademais, corrobora a literatura de OE, que se encontra em pleno desenvolvimento (Covin & Lumpkin, 2011; Covin & Wales, 2019; Martens et al., 2016; Silveira & Silveira-Martins, 2016; Wales, 2016; Wang et al, 2021).
Teoricamente, o estudo também contribui ao analisar a multidimensionalidade da OE, com relação ao desempenho das cooperativas. A OE como perspectiva multidimensional encontra-se como necessidade emergente, no intento de compreender quais dimensões específicas estão associadas com o desempenho de diferentes tipos de organizações (Shah & Ahmad, 2019; Wales et al., 2020; Hernández-Perlines et al., 2021). Pelo viés de implicações práticas, os achados podem auxiliar os gestores das cooperativas de crédito, ante a identificação e a configuração de posturas de OE que estão associadas ao desempenho de tais organizações. Com esse realinhamento de OE, os gestores podem promover vantagem competitiva e maior eficácia gerencial nas cooperativas de créditos onde atuam (Miller, 1983; Lumpkin & Dess, 1996).
Este estudo encontra-se estruturado em cinco seções. Nesta primeira, introduz-se ao tema e as discussões relacionadas. Na sequência, aborda-se a revisão da literatura acerca da OE e das cooperativas de crédito. Na terceira seção, delimitam-se os métodos utilizados, seguido pela seção de análise e discussão dos dados; por último, as considerações finais, com as colocações acerca dos achados e as limitações deste estudo e as sugestões para futuras pesquisas.
Referencial teórico
Esta seção consiste em três subseções: a primeira expõe a discussão sobre a OE; na segunda, apresentam-se uma breve contextualização das características das cooperativas de crédito, o cenário de mercado destas e as demais questões no contexto cooperativista. A terceira subseção apresenta o desenvolvimento das hipóteses, considerando a literatura de OE e o contexto das cooperativas de crédito.
Orientação empreendedora
O ambiente onde as empresas estão inseridas caracterizase por ser dinâmico e competitivo; dessa forma, denota a pertinência da adoção de estratégias empreendedoras para manter-se no mercado (Davis et al, 2010; Hashimoto & Belê, 2014; Pekkola et al, 2016). Nessa perspectiva, a OE consiste em um conceito que merece destaque, uma vez que propicia a investigação do espírito empreendedor nas tomadas de decisões gerenciais e no desempenho organizacional (Rua & Rodrigues, 2018).
A contextualização da OE se permeia inicialmente pela identificação de comportamentos da organização, os quais podem possibilitar maiores ou menores intensidades na capacidade em empreender (Miller, 1983). Essa capacidade se reflete por meio dos processos, das práticas, das atitudes e das decisões tomadas, de maneira a constituir a configuração da OE da organização (Lumpkin & Dess, 1996; Miller, 1983).
O entendimento do conceito da OE deve entoar como dimensões (facetas) que permitem o alcance do desempenho almejado, sob a ótica das decisões a serem tomadas consonantemente a essa trajetória (García-Villaverde et al, 2013; Jiang et al, 2018). Alguns autores como Runyan et al. (2008) descrevem a OE como um recurso estratégico, pois visa à construção de ações e decisões organizacionais.
A OE refere-se à estratégia dos gestores no que concerne a algumas dimensões empreendedoras, como inovação, pro-atividade, assunção de riscos, autonomia e agressividade competitiva (Cools & Van de Broeck, 2007; Covin & Wales, 2012; Pearce et al, 2010). Essas dimensões se expressam no apoio de atividades e projetos, nos quais existem graus de incerteza para a obtenção dos resultados desejados (Zahra & Neubaum, 1998), além de figurarem como um pertinente meio para a sobrevivência e a continuidade de organizações contextualizadas em ambientes dinâmicos, turbulentos e incertos (Pekkola et al, 2016).
Nesse sentido, para explorar a OE nas organizações, existem dimensões pré-estipuladas na literatura. Acerca dessas dimensões da OE, Miller (1983) foi o pioneiro a discorrer sobre a inovatividade, assunção de riscos e proatividade, seguido por demais autores, como Lumpkin e Dess (1996), os quais propuseram mais construtos (autonomia e agressividade competitiva). Conforme Santos et al. (2015), ainda poucos são os estudos que englobem as cinco dimensões, em que amplamente são utilizadas as três originais. Autores como Casillas e Moreno (2010) e Hughes e Morgan (2007) utilizaram as cinco em suas investigações, e outros pesquisadores, como Lazzarotti et al. (2015), ainda utilizaram uma sexta, a rede de relações.
Normalmente, a literatura remete à OE - seja de maneira unidimensional, seja multidimensional ao desempenho das organizações. O desempenho pode ser mensurado por meio de diversas variáveis, como o crescimento em volume de vendas ou prestação de serviços, aumento de lucrati-vidade e do número de colaboradores contratados (Lazzarotti et al, 2015). De maneira geral, parece existir uma associação positiva entre a OE e o desempenho (Anderson et al, 2020). Entretanto, novas pesquisas são bem-vindas para explorar novos contextos e perspectivas (Martens et al, 2016), como figura o caso das cooperativas de crédito no âmbito brasileiro.
Cooperativas de crédito em âmbito brasileiro
A cooperativa de crédito é uma instituição financeira formada por uma associação autónoma de pessoas unidas voluntariamente, com forma e natureza jurídica próprias, de natureza civil, sem fins lucrativos, constituída para prestar serviços a seus associados (Banco Central do Brasil [Bacen], 2018). Além disso, visa à apresentação de soluções financeiras e à geração de renda para seus cooperados, e pode também ser entendida como mecanismos promotores da intermediação financeira entre seus associados e o mercado (Da Silva et al, 2017; Favalli et al, 2020).
As cooperativas são mais que uma instituição financeira, formadas pela união de forças e de pessoas, que têm por objetivo social a mutualidade e a prestação de serviços financeiros a seus cooperados em suas atividades específicas, e buscam apoiar e aprimorar a produção, a produtividade e a qualidade de vida, bem como a comercialização e a industrialização dos bens produzidos (Paiva & Santos, 2017; Maia et al, 2019).
Além disso, as cooperativas de crédito prestam-se a desenvolver programas de poupança, de uso racional do crédito e formação educacional dos cooperados no sentido de fomentar o cooperativismo (Paiva & Santos, 2017). Leite et al. (2014) destacam que as cooperativas de crédito são formadas por poupadores ou tomadores de recursos financeiros e objetivam a obtenção de crédito para seus cooperados em condições melhores do que as oferecidas pelo mercado.
Desse modo, os recursos captados pelas cooperativas de crédito são aplicados no seu local de origem, de forma a aumentar a produção e atender aos fins sociais decididos pelos cooperados, nas assembleias (Portal Cooperativismo Financeiro [PCF], 2018). Fica evidente que a sobrevivência das cooperativas de crédito está atrelada à rentabilidade, à prestação dos serviços e à operação de captação e concessão de créditos aos cooperados (Paiva & Santos, 2017; Favalli et al, 2020).
A atuação das cooperativas de crédito vem aumentando significativamente, principalmente por praticarem as menores taxas sobre os empréstimos e menor custo das operações financeiras, além de oferecerem as maiores taxas de remuneração sobre os depósitos aplicados na cooperativa, comparado ao sistema bancário e financeiro (Bressan et al, 2011; Maia et al, 2019). Referente à expansão das cooperativas de crédito, que atingem as regiões menos favorecidas pelos bancos comerciais, como as pequenas cidades, possibilitam-se a inclusão financeira da baixa renda e a ampliação do microcrédito, além de trazer para essas regiões o desenvolvimento socioeconómico (Paiva & Santos, 2017).
Conforme Pinheiro (2014), as cooperativas de crédito são chamadas "instituições financeiras", pois criam uma fonte de liberação de crédito para seus associados. Assim, desempenham papel importante na economia de vários países. Em 2017, havia mais de um bilhão de cooperados em todo o mundo e as respectivas cooperativas estavam presentes em 100 países (Organizações Cooperativas Brasileiras [OCB], 2018). O sistema cooperativo de crédito no Brasil abrange aproximadamente 10,2 milhões de brasileiros, e esse número está a aumentar gradativamente a cada ano (OCB, 2018). As cooperativas de crédito situam-se na 6a posição do ranking de maiores instituições financeiras do país, com uma representatividade de mercado de aproximadamente 4% do total de ativos no mercado financeiro (PCF, 2018).
As cooperativas de crédito passam por constantes desafios com o intuito de se manterem voltadas à sua missão central. Em meio a constantes mudanças na economia, contam com as taxas que são referências para a venda dos seus produtos e oferecerem garantias de seu negócio. Dessa forma, mantêm um portfólio de produtos com variadas soluções financeiros que agregam comodidade, valor e segurança. Além disso, que atendam o sonho e a expectativa de crescimento na vida de cada cooperado (Dambros et al., 2009).
No âmbito do desempenho das cooperativas de créditos, dois vieses principais podem ser observados: métricas financeiras e métricas não financeiras. De acordo com Callado et al. (2007), os indicadores financeiros restringem-se principalmente a fatos passados, enquanto indicadores não financeiros consistem em informações atuais com perspectivas direcionadas para o futuro. Nesse ínterim, diante da OE autopercebida pelos gestores das cooperativas e do intento do estudo em oferecer subsídios informacionais voltados ao futuro, emprega-se o uso de métricas não financeiras em tal investigação.
Após o exposto nesta subseção, compreende-se que as cooperativas de crédito contam com especificidades em relação a outras organizações atuantes no mercado. O cenário brasileiro também apresenta características interessantes. Ademais, o desempenho também se torna algo relevante a ser explorado, ao considerar as métricas não financeiras. Diante de tudo isso e da incerteza que é característica presente no ambiente das cooperativas de crédito brasileiras, o presente estudo explora o relacionamento das dimensões da OE em prol do desempenho dessas organizações. A próxima subseção descreve a lógica de construção das hipóteses do estudo.
Desenvolvimento das hipóteses
Em linhas gerais, estudos sobre a OE no contexto de cooperativas de crédito apoiam uma relação benéfica para o desempenho. Werlang et al. (2018) realizaram um survey com 111 funcionários de uma cooperativa de crédito do noroeste gaúcho e oeste catarinense, Brasil, e analisaram cinco dimensões propostas por Lumpkin e Dess (1996) e Miller (1983), ao passo que encontraram relação positiva da OE com o desempenho. Similarmente, Lizote et al. (2012) analisaram por meio de survey com 54 gestores de cooperativas de crédito catarinenses as três dimensões estipuladas por Miller (1983) e evidenciaram relação positiva e significativa entre a OE e o desempenho. Por sua vez, Roncalio et al. (2017) estudaram a OE em um sistema de crédito cooperativo, por meio de levantamento da percepção de gestores e diretores, e constataram a presença das cinco dimensões de Lumpkin e Dess (1996) e Miller (1983).
As hipóteses para o presente estudo são desenvolvidas de acordo com cada uma das seis dimensões de OE (perspectiva multidimensional) e a expectativa de associação com o desempenho das cooperativas de crédito. Em contraponto aos estudos anteriores, contemplam-se cooperativas de crédito em âmbito nacional, faz-se a inclusão de uma sexta dimensão (rede de relações) na OE, além de considerar a multidimensionalidade das dimensões e uma técnica de modelagem para analisar as hipóteses. Após a contextualização da OE na primeira subseção e da explicação sobre o contexto cooperativista de crédito brasileiro, a presente subseção explora conceitos das dimensões especificas da OE, além de revisitar a literatura e explorar os achados de estudos similares, que vêm a fundamentar as hipóteses elaboradas.
A inovatividade, também denominada "comportamento inovador" ou "comportamento inovativo", relaciona-se à criação de algo, como sistemas, operações, atividades, serviços, produtos ou demais aspectos que apresentem novidades e/ou atualizações vantajosas, e visa à obtenção de melhores desempenhos (Covin & Miles, 1999). Em geral, parcela da literatura apoia resultados não positivos ou não significativos, como em empresas familiares (Kallmuenzer et al, 2018) e microempresas (Al Mamun & Fazal, 2018) e outra parcela apoia uma relação positiva e significativa entre a inovatividade e o desempenho, como em micro e pequenas empresas (Isichei et al, 2020) e com empreendedores em novos negócios (Cho & Lee, 2018). Para as cooperativas de crédito, além da busca por novas formas para facilitar o contato com o cooperado, procuram promover atendimentos personalizados a este, conforme as demandas; assim, tornam-se necessárias adaptações perante a presença do espírito inovativo (OCB, 2018; PCF, 2018). Desse modo, espera-se que:
H1. A inovatividade contribua positivamente para o desempenho das cooperativas de crédito.
A assunção de riscos sempre esteve inerentemente atrelada ao empreendedorismo, visto que qualquer oportunidade acarreta a aceitação de algum tipo de risco (McClelland, 1972). A aceitação de riscos demonstra a disposição dos gestores para aplicarem determinados recursos, no almejo de potenciais retornos para a organização (Lumpkin & Dess, 1996), e tem-se exemplos de resultados não significativos (Cho & Lee, 2018; Isichei et al, 2020) e positivos/ significativos (Shah & Ahmad, 2019; Zhang et al, 2018) com o desempenho. Dependendo das organizações e das métricas de desempenho, a assunção de riscos pode ser uma condição ausente ou presente para o alto desempenho (McKenny et al, 2018). A atividade exercida por bancos e/ou cooperativas e demais instituições de crédito envolvem riscos intrínsecos às situações (Matias, 2013) e, no contexto de finanças, quanto maior o grau do risco que for aceito, maior será a expectativa sobre o retorno (Assi, 2012). Assim, espera-se que:
H2. Assumir riscos contribui positivamente para o desempenho das cooperativas de crédito.
A proatividade caracteriza-se pela constante busca de novas oportunidades, assim como pela participação em mercados e operações emergentes (Lumpkin & Dess, 1996). A literatura contém relações não significantes (Al Mamun & Fazal, 2018) e positivas significantes da proativi-dade com o desempenho (Isichei et al, 2020; Kallmuenzer et al, 2018). A proatividade pode ser evidenciada por meio do crescimento da participação de mercado das cooperativas de crédito, assim como aumento do número de cooperados e de novas facilidades e tecnologias para estes (OCB, 2018; PCF, 2018). Essa dimensão considera a procura da organização em antecipar-se aos concorrentes no que tange ao desenvolvimento e ao lançamento de novos processos, produtos e serviços (Miller, 1983). Nesse sentido, espera-se que:
H3. A proatividade contribua positivamente para o desempenho das cooperativas de crédito.
A autonomia origina-se na liberdade dos gestores e dos colaboradores para que possam apresentar e desenvolver novas ideias, juntamente com a concretização delas, caso sejam viáveis/interessantes para a organização (Lumpkin & Dess, 1996). A literatura evidencia resultados não significativos (Shah & Ahmad, 2019) e positivos significativos da autonomia no desempenho (Al Mamun & Fazal, 2018; Kallmuenzer et al, 2018). Neste panorama, com a existência da autonomia na organização as iniciativas não são barradas, o que pode proporcionar novas experiências e ensejos, o que pode levar a melhores desempenhos (Martens et al, 2012). Assim, espera-se que:
H4. A autonomia contribua positivamente para o desempenho das cooperativas de crédito.
A agressividade competitiva torna-se essencial para que a firma consiga se manter constante no mercado/setor que atua, uma vez que exprime a disputa dela com as concorrentes pela participação e pela representatividade nos respectivos nichos (Lazzarotti et al, 2015; Lumpkin & Dess, 1996). Existem resultados não significativos (Kallmuenzer et al, 2018; Shah & Ahmad, 2019) e resultados positivos e significativos (Lee et al, 2019) acerca do efeito da agressividade no desempenho das organizações. Além disso, para alto desempenho, a agressividade competitiva é uma condição fundamental (Mckenny et al, 2018). A crescente participação das cooperativas de crédito no total de ativos no mercado financeiro exprime a presença da agressividade competitiva nessas organizações (PCF, 2018). Assim, assume-se que:
H5. A agressividade competitiva contribui positivamente para o desempenho das cooperativas de crédito.
A sexta dimensão utilizada nesta investigação, a rede de relações ou rede de negócios, conota sua relevância devido à importância da construção de relacionamentos nas organizações, seja para manter-se competitiva, inserir-se em novos mercados, manter-se com sistemas e tecnologias atua-lizados, internacionalizar-se, seja pela simples busca de novas oportunidades (Basile, 2012; Covin & Miller, 2014). A rede de relações figura como uma dimensão oportuna para ser explorada na OE e demanda por mais estudos com tal perspectiva (Frare et al, 2019). Conforme Mahama (2006), o próprio termo "cooperação/cooperativa" existe devido à formação de redes, no caso composta pelos cooperados e pelos colaboradores responsáveis pela manutenção das cooperativas. Com base no exposto, propõe-se que:
H6. As redes de relações contribuem positivamente para o desempenho das cooperativas de crédito.
Após a disposição das hipóteses, elaborou-se o modelo teórico a ser testado nesta pesquisa (figura 1). As dimensões foram exibidas com o auxílio de legenda visual, para indicar a origem dos construtos e das relações testadas.
Ainda com relação aos construtos da OE investigados nesta pesquisa, Miller (2011), ao revisitar seu trabalho seminal (Miller, 1983), mencionou as contribuições de Lumpkin e Dess (1996), ao sugerir o acréscimo de outras duas dimensões. As redes de negócios também foram destacadas como uma possibilidade por Miller (2011), o que reforça a inclusão dessa dimensão como uma oportunidade de pesquisa, conforme já havia sido proposto por Mello e Leão (2005).
Procedimentos metodológicos
A investigação é descritiva e possui abordagem quantitativa. A população compreendeu 976 cooperativas de crédito brasileiras listadas pelo Bacen (2018), as quais continham informações sobre o contato de um gestor responsável e seu respectivo e-mail. Nessa perspectiva, a pesquisa foi enviada para todas as cooperativas de crédito, via e-mail dos gestores, e resultou em 68 respostas (emitidas por 68 gestores de diferentes cooperativas de crédito). Um respondente foi excluído das análises por ter respondido todas as assertivas com o mesmo nível (ponto) da escala Likert e potencialmente figurou como outlier.
A amostra final resultou em 67, representando, assim, aproximadamente 7% da população. O tamanho da amostra encontra-se adequado perante o critério de dez vezes o número de caminhos estruturais, ou seja, 60 casos (Thompson et al, 1995; Wong, 2016). Houve corte transversal do período no que tange à coleta de dados, que abrangeu o último trimestre do ano de 2018 (Creswell, 2010).
Para a coleta de dados, foi aplicado um questionário por meio de survey, adaptado de Lazzarotti et al. (2015), Lumpkin e Dess (1996) e Miller (1983), dividido em três blocos: o primeiro bloco com 18 questões correspondentes à OE; o segundo com três assertivas acerca do desempenho; por último, as perguntas sobre o perfil dos gestores/cooperativas. Ressalta-se que a adaptação do instrumento consistiu na aproximação para a realidade das cooperativas de crédito. Na tabela 1, seguem os indicadores utilizados para a mensuração dos construtos pesquisados.
Os itens do instrumento foram mensurados com escala Li-kert de cinco pontos (1 - discordo totalmente, 2 - discordo parcialmente, 3 - não concordo nem discordo, 4 - concordo parcialmente e 5 - concordo totalmente). O questionário foi enviado para o endereço eletrónico (e-mail) de cada cooperativa de crédito brasileira.
Acerca dos indicadores do construto desempenho, as respostas dos gestores foram relativas ao ano do preenchimento do questionário (2018), referente ao ano anterior (2017). Tal estratégia foi adaptada de Lazzarotti et al. (2015), cuja investigação mensurou o desempenho das empresas que compunham sua amostra dessa forma, comparando o ano em questão com o antecedente.
Referente aos procedimentos de elaboração e aplicação dos questionários, houve o cuidado com o Common Method Bias (CMB), que tange ao viés associado ao método. Para minimizar o CMB, procurou-se construir um questionário simples, didático e pouco extenso, além de assegurar a preservação do anonimato dos que viessem a responder. No entanto, apesar do cuidado para minimizar o viés, não se pode afirmar que tenha sido eliminado totalmente (Podsakoff et al, 2003).
A técnica de análise dos dados utilizada foi a modelagem de equações estruturais (MEE), a qual permite agrupar todos os construtos de um modelo em uma única estrutura, o que propicia essa análise multivariada dos dados. A MEE caracteriza-se por ser uma técnica confirmatória, que permite a análise das várias relações, como de dependência, independência e interdependência entre os construtos estipulados (Hair et al., 2009).
Optou-se pelo método de mínimos quadrados parciais (Partial Least Squares [PLS]), com uso do software SmartPLs 3.0 e por meio da análise caminhos (path) no que corresponde ao esquema de ponderações, com limite máximo de 500 interações. O PLS torna-se um método adequado para a modelagem de relações complexas, de independência e/ ou dependência das variáveis latentes (Nitzl et al., 2016).
Construto | Sigla | Indicador | |
---|---|---|---|
Orientação empreendedora | Inovatividade | INI | Investimos em pesquisa e desenvolvimento. |
IN2 | Introduzimos novos produtos/serviços nos últimos três anos. | ||
IN3 | Buscamos formas diferentes para realizar ações e solucionar problemas. | ||
Assunção de riscos | ARI | Atuamos em projetos de alto risco. | |
AR2 | Enfrentamos situações de risco para explorar oportunidades. | ||
AR3 | Realizamos empréstimos financeiros. | ||
Proatividade | PR1 | Somos pioneiros na implementação de produtos/serviços/tecnologias. | |
PR2 | Temos iniciativas que causam reações na concorrência. | ||
PR3 | Monitoramos constantemente as necessidades dos clientes. | ||
Autonomia | AU1 | Incentivamos a criatividade e as ações independentes nos colaboradores. | |
AU2 | Possuímos equipes autónomas. | ||
AU 3 | Disponibilizamos informações importantes para os colaboradores. | ||
Agressividade competitiva | AC1 | Buscamos constante participação de mercado. | |
AC 2 | Monitoramos e reagimos à ameaça dos concorrentes. | ||
AC3 | Enfrentamos a competição, tirando o concorrente do mercado. | ||
Redes de relações | RR1 | Celebramos parcerias/acordos de cooperação. | |
RR2 | Adotamos estratégias deliberadas para influenciar os outros. | ||
RR3 | Participamos regularmente de reuniões sociais e encontros empresariais. | ||
Desempenho | DE1 | Crescimento em volume de vendas/prestação de serviços. | |
DE2 | Aumento de lucratividade. | ||
DE3 | Aumento do número de colaboradores contratados. |
Fonte: adaptada de Lazzarotti et al. (2015), Lumpkin e Dess (1996) e Miller (1983).
Além da complexidade do modelo, a utilização desta técnica justifica-se pela robustez ante pequenas amostras (menos de 100 casos), pela ausência da normalidade dos dados, evidenciados pela aplicação do teste de Kolmogorov-Smirnov (KS), o qual apresentou coeficientes de significância (p-value) menores que 0,05 para todos os indicadores do construto, o que demostra a não normalidade dos dados (Bido & Silva, 2019; Guide & Ketokivi, 2015).
Resultados
A amostra compreendeu 67 cooperativas de crédito brasileiras, dispostas em 19 estados e o Distrito Federal, conforme tabela 2. Tal diversificação torna-se relevante no contexto nacional e contempla cerca de 75% dos estados do território brasileiro.
Abreviatura | Estado | Respondentes por estado | |
---|---|---|---|
AL | Alagoas | 1 |
|
AM | Amazonas | 1 | |
BA | Bahia | 4 | |
CE | Ceará | 4 | |
DF | Distrito Federal | 1 | |
ES | Espírito Santo | 4 | |
GG | Goiás | 1 | |
MA | Maranhão | 2 | |
MG | Minas Gerais | 11 | |
MS | Mato Grosso do Sul | 4 | |
MT | Mato Grosso | 1 | |
PB | Paraíba | 1 | |
PE | Pernambuco | 2 | |
PI | Piauí | 1 | |
PR | Paraná | 10 | |
Rj | Rio de Janeiro | 2 | |
RG | Rondónia | 2 | |
RS | Rio Grande do Sul | 7 | |
SC | Santa Catarina | 3 | |
SP | São Paulo | 5 | |
Total | 67 |
Fonte: dados da pesquisa.
O estado com maior percentual na amostra foi Minas Gerais (16,4%), seguido por Paraná (14,9%) e Rio Grande do Sul (10,4%). Acerca da classe das cooperativas, 50,75% são singulares e 49,25% são centrais. Ressalta-se que, para uma cooperativa ser central, deve ser composta por no mínimo três cooperativas singulares; desse modo, contribui para o gerenciamento das filiadas e possibilita a redução de custos (Bacen, 2018). Complementarmente, Cardoso (2014) cita que as cooperativas centrais têm como finalidade a facilitação dos serviços financeiros da cooperativa como um todo.
Relativo à modalidade de ingresso dos cooperados, a maior parte das cooperativas de crédito atua com sistema de livre admissão (52,2%), seguidas por 25,4% de crédito mútuo e 22,4% correspondentes ao crédito rural. Esse aspecto corresponde à forma em que o associado ingressa na cooperativa, em que está é a responsável por fixar em seu estatuto as condições para admissão.
No que tange à função dos respondentes, cerca de 18% são presidentes, 52% ocupam cargos de gerência (administrativa, de crédito, negócios, gestão de pessoas), 10% são diretores, 7% atuam como analistas de crédito ou finanças, 3% são auditores internos, outros 3% exercem a função de assistentes administrativos e 7% operam em outras atividades (contabilidade, controladoria, vice-presidência e setor jurídico).
A média de idade dos respondentes corresponde a 43 anos, com amplitude entre 21 e 62. Referente ao tempo de atuação, a média concentra-se entre seis e sete anos na cooperativa, no qual o gestor com menor tempo de atuação havia dois meses e com maior período igual a 17 anos no trabalho em questão.
Modelo de mensuração
Após a caracterização da amostra, tanto do respondente como do perfil da cooperativa de crédito, analisaram-se os dados via MEE. Em primeira rodagem dos dados, quatro indicadores (AR3, PRI, AU2 e AC3) apresentaram cargas fatoriais inferiores a 0,5 e, assim, foram excluídos para posterior análise, conforme sugerido por Hair et al. (2009). Após essas exclusões, todos os indicadores apresentaram cargas fatoriais acima de 0,6, de forma a confirmar as validades e as confiabilidades dos construtos (tabela 3).
Itens | AC | AR | AU | DES | IN | PR | RR |
---|---|---|---|---|---|---|---|
AC1 | 0.873 | 0.109 | 0.567 | 0.406 | 0.490 | 0.487 | 0.508 |
AC2 | 0.843 | 0.277 | 0.381 | 0.367 | 0.447 | 0.525 | 0.563 |
ARI | 0.086 | 0.731 | -0.045 | 0.090 | 0.090 | 0.000 | 0.088 |
AR2 | 0.235 | 0.986 | 0.111 | 0.363 | 0.255 | 0.125 | 0.026 |
AU1 | 0.458 | 0.030 | 0.822 | 0.170 | 0.628 | 0.445 | 0.410 |
AU3 | 0.462 | 0.110 | 0.830 | 0.173 | 0.435 | 0.393 | 0.379 |
DES1 | 0.440 | 0.281 | 0.137 | 0.864 | 0.241 | 0.220 | 0.308 |
DES2 | 0.394 | 0.242 | 0.299 | 0.824 | 0.252 | 0.188 | 0.215 |
DES3 | 0.181 | 0.249 | 0.036 | 0.628 | 0.013 | 0.001 | 0.224 |
IN1 | 0.250 | 0.301 | 0.426 | 0.114 | 0.675 | 0.188 | 0.257 |
IN2 | 0.446 | 0.257 | 0.510 | 0.230 | 0.855 | 0.330 | 0.256 |
IN3 | 0.504 | -0.036 | 0.511 | 0.143 | 0.687 | 0.585 | 0.524 |
PR2 | 0.537 | 0.180 | 0.353 | 0.187 | 0.376 | 0.905 | 0.492 |
PR3 | 0.466 | -0.029 | 0.557 | 0.133 | 0.481 | 0.803 | 0.521 |
RR1 | 0.530 | 0.162 | 0.487 | 0.213 | 0.480 | 0.584 | 0.727 |
RR2 | 0.405 | -0.021 | 0.346 | 0.162 | 0.157 | 0.391 | 0.755 |
RR3 | 0.524 | -0.022 | 0.336 | 0.337 | 0.365 | 0.434 | 0.874 |
Nota: Ac = agressividade competitiva; AR = assunção de riscos; AU = autonomia; DES = desempenho; IN = inovatividade; PR = proatividade e RR = rede de relações.
Fonte: dados da pesquisa.
Na tabela 4, averiguou-se a composite reliability (CR), traduzida ao português como "confiabilidade composta". Os índices de CR foram superiores a 0,7, conforme sugerido por Bido e Silva (2019). O uso dessa medida (CR) torna-se mais adequado para esse tipo de análise do que o alfa de Cronbach, visto que não toma viés devido ao número de indicadores (Hair et al., 2016).
Média | CR | AVE | AC | AR | AU | DES | IN | PR | RR | |
---|---|---|---|---|---|---|---|---|---|---|
AC | 3,93 | 0.848 | 0.736 | 0.858 | ||||||
AR | 3,10 | 0.857 | 0.753 | 0.219 | 0.868 | |||||
AU | 4,09 | 0.811 | 0.682 | 0.557 | 0.085 | 0.826 | ||||
DES | 4,19 | 0.819 | 0.606 | 0.451 | 0.330 | 0.208 | 0.778 | |||
IN | 4,08 | 0.786 | 0.553 | 0.546 | 0.237 | 0.642 | 0.233 | 0.744 | ||
PR | 3,91 | 0.845 | 0.732 | 0.588 | 0.107 | 0.507 | 0.191 | 0.487 | 0.856 | |
RR | 3,93 | 0.830 | 0.621 | 0.621 | 0.041 | 0.477 | 0.324 | 0.439 | 0.584 | 0.788 |
Nota: CR = composite reliability; AVE = average variance extracted; Ac = agressividade competitiva; AR = assunção de riscos; AU = autonomia; DES = desempenho; IN = inovatividade; PR = proatividade; e RR = rede de relações.
Fonte: dados da pesquisa.
Acerca da validade convergente, a qual expressa a capacidade do construto na medição do que realmente deveria servir como métrica, observou-se a average variance extracted (AVE) ou variância média extraída.
Esses índices foram satisfatórios, uma vez que ultrapassaram o mínimo de 0,5, no qual juntamente com as cargas fatoriais descritas na tabela 3, reforçam a presença de validade convergente (Fornell & Larcker, 1981; Hair et al., 2016).
No que tange à validade discriminante, a qual se caracteriza pelo grau que o construto e seus indicadores são exclusivos, no sentido de se diferenciar dos demais construtos e respectivos itens, fora avaliado pelo critério de cargas cruzadas (Hair et al., 2016). Esse critério demanda que a carga fatorial de cada item seja superior a todas suas cargas cruzadas, da mesma forma que a raiz quadrada da AVE para cada construto deve ser superior que os coeficientes de correlação da mesma coluna, como observa-se na tabela 4, com os índices em negrito maiores que os demais (Fornell & Larcker, 1981; Hair et al., 2016).
Descritas a confiabilidade, a validade discriminante e convergente, elaboraram-se alguns testes estatísticos no software SPSS 23 para averiguar a possível presença do CMB. O primeiro foi o teste de fator único de Harman, elaborado em análise fatorial exploratória pelo método de componentes principais não rotacionados, que busca identificar se um único fator consegue explicar a maior parte da variância total.
O fator com maior representatividade resultou em 32,30% de variância total explicada, assim não é um problema (Podsakoff et ai, 2003).
O segundo teste utilizado para avaliar a presença de CMB foi o método de correlação, ao considerar todos os cons-trutos do modelo. Conforme Pavlou et ai. (2007), pode haver existência de CMB quando os construtos se encontram altamente correlacionados (r > 0,90). Nesse ínterim, o maior valor de r encontrado foi 0,64, assim juntamente com o teste de Harman indicam que o CMB não é um problema para o presente estudo.
Modelo estrutural
Após a avaliação, ajustes e relato, prosseguiu-se para a elaboração do modelo estrutural (tabela 5). Fora elaborada a análise de caminhos, a estatística do teste t, juntamente com a significância (valor p), a qual fora calculada pela técnica de bootstrapping com 10.000 reamostragens (Streukens & Leroi-Werelds, 2016).
Variável independente | Variável dependente | H | VIF | f2 | Coeficiente estrutural | Valor t | Valor p |
---|---|---|---|---|---|---|---|
Inovatividade | Desempenho | H1 | 1,97 | 0,001 | -0,042 | 0,299 | 0,765 |
Assunção de riscos | H2 | 1,11 | 0,086 | 0,261 | 2,338 | 0,019* | |
Proatividade | H3 | 1,84 | 0,016 | -0,146 | 0,916 | 0,359 | |
Autonomia | H4 | 2,00 | 0,000 | -0,024 | 0,157 | 0,382 | |
Agressividade competitiva | H5 | 2,20 | 0,105 | 0,407 | 2,467 | 0,014* | |
Rede de relações | H6 | 1,90 | 0,022 | 0,175 | 1,046 | 0,296 |
Nota. H = hipótese; vir = variance infiaction factor; f2 = tamanho do efeito; * aceita-se sig. < 0,05.
Fonte: dados da pesquisa.
Sobre a validade preditiva, o valor do R2 da variável endógena (desempenho) foi 0,284, assim como o R2 ajustado foi 0,212, de forma a representar o poder de explicação dos construtos expostos no modelo (Hair et al., 2009). Com o R2, assume-se que as variáveis exógenas explicam cerca de 28,4% da variável endógena (desempenho), assim denota um grande poder de explicação, uma vez que Cohen (1988) sugere essa classificação para índices acima de 26%. Ainda no contexto da validade preditiva, o tamanho do efeito (f2) para as hipóteses significantes (H2 e H5) classifica-se de pequeno a médio, de acordo com a classificação proposta por Cohen (1988).
0bservou-se a possibilidade de existência de correlação nos construtos exógenos do modelo, ou seja, a multicoli-nearidade entre estes (Hair et al, 2016). Esse possível problema entre os construtos foi avaliado pelo vir-, em que os valores oscilam entre 1,11 e 2,20, assim abaixo do limite de 3,3 e comprova a ausência de multicolinearidade (Diamantopoulos & Siguaw, 2006).
Discussão dos resultados
A primeira hipótese testada (H1), acerca de a inovativi-dade contribuir positivamente para o desempenho das cooperativas de crédito, apresentou coeficiente de negativo e não esboçou significância; dessa maneira, não obteve base para ser suportada. Esse resultado corrobora a perspectiva de estudos prévios que não evidenciaram relação positiva/significativa da inovatividade no desempenho (Al Mamun & Fazal, 2018; Kallmuenzer et ai. 2018).
Apesar da relevância do comportamento inovador para a gestão das cooperativas de crédito, conforme destacado pela OCB (2018) e per (2018), no intuito de estas oferecerem maiores facilidades aos cooperados, não se pode confirmar estatisticamente a associação positiva com o desempenho. Desse modo, para a amostra em questão, a criação de novos sistemas, operações, atividade, serviços e produtos (Covin & Miles, 1999) não se associa positiva e significantemente com o desempenho. Apesar de que, em alguns estudos (Cho & Lee, 2018; Isichei et al, 2020), tenha sido encontrada relação positiva e significativa para a relação apontada, para as cooperativas de crédito da amostra a relação não foi suportada.
A segunda hipótese (H2), relativa à assunção de riscos contribuir positivamente para o desempenho das cooperativas de crédito, conotou coeficiente estrutural positivo e significância a 5%, assim é suportada. Este achado está alinhado ao exposto por Matias (2013), no qual as cooperativas sujeitam-se a assumir riscos que são inerentes às situações e às atividades exercidas. A relação positiva e significativa da assunção de riscos com o desempenho está amparada na literatura (Shah & Ahmad, 2019; Zhang et al, 2018).
Na presente investigação, assim como em outros estudos afins, exemplo os de Barreto e Nassif (2014), Roncalio et al. (2017) e Werlang et al. (2018), foram encontrados comportamentos cautelosos com relação à assunção de risco, de forma a evitar a precipitação da aplicação dos recursos para a continuidade do negócio.
Todavia, por mais que exista essa preocupação ante a tomada de oportunidades que envolvam riscos, este demonstra-se positivamente relacionado ao desempenho, de maneira a figurar como um pertinente antecedente.
Dessa maneira, percebe-se que a importância atribuída pelos gestores das cooperativas de crédito acerca da assunção de riscos relaciona-se positivamente com o seu desempenho. Estes achados evidenciam os cuidados manifestados pelos gestores das cooperativas de crédito diante da assunção de riscos, visto a tendência conservadora que apresentam nesse aspecto (Roncalio et al, 2017; Werlang et al., 2018). Mediante essa propensão cautelosa, melhores desempenhos são alcançados.
A hipótese H3 - a proatividade contribui positivamente para o desempenho das cooperativas de crédito - não foi suportada. Ainda que tal relação tenha se mostrado significativa e positiva em estudos anteriores (Isichei et al., 2020; Kallmuenzer et al., 2018), parcela da literatura já apontava que a depender da amostra, a relação poderia ser não significante (Al Mamun & Fazal, 2018). 0 presente estudo aponta que, para o caso das cooperativas de crédito brasileiras analisadas, a relação não se apresenta estatisticamente significante.
Nas investigações de Roncalio et al. (2017) e Lizote et al. (2012), foi evidenciada forte presença dessa dimensão nas cooperativas, corroborando a ideia que é uma das dimensões mais representativas da OE na gestão das cooperativas de crédito, apesar de não se apresentar significância na relação com o desempenho. Apesar do visível crescimento da participação no mercado de serviços financeiros/bancários (OCB, 2018; per, 2018), pela constante busca de novas oportunidades, como a ampliação da participação de mercado em que atua (Lumpkin & Dess, 1996), o fato de as cooperativas serem proativas não reflete significativamente no seu desempenho.
A quarta hipótese (H4), a qual discorre sobre a autonomia contribuir positivamente para o desempenho das cooperativas de crédito, resultou em coeficiente estrutural negativo e não foi estatisticamente significativa; dessa maneira, não pode ser suportada. Apesar de haver evidências de que a autonomia apresente altos índices de intensidade nas cooperativas de crédito (Roncalio et al, 2017; Werlang et al, 2018), no presente estudo a autonomia não se relaciona significativamente com o desempenho das cooperativas. Resultados de tal relação que não são significativos existem na literatura, pois depende do contexto das organizações (Shah & Ahmad, 2019) e estende essa perspectiva para as cooperativas de crédito brasileiras.
Por mais que a autonomia não esteja positivamente relacionada ao desempenho, as evidências apontam sua relevância nas cooperativas de crédito. De acordo com Martens et al. (2012) e Lumpkin e Dess (1996), por meio da autonomia, ocorrem o surgimento e o amadurecimento de iniciativas que podem ser úteis e desejáveis à organização. Martens et al. (2012) comentam que a autonomia pode promover alcance de melhores desempenhos, porém, no caso das cooperativas de crédito, tal fato ainda não fora comprovado estatisticamente.
A hipótese H5 - a agressividade competitiva contribui positivamente para o desempenho das cooperativas de crédito - foi suportada a 5% de significância, com coeficiente estrutural positivo. Esse achado corrobora a parcela de estudos que também encontraram relação positiva e significativa da agressividade competitiva no desempenho das organizações (Lee et al., 2019).
A relação da agressividade competitiva com o desempenho nas cooperativas de crédito foi comprovada estatisticamente. Esse fato evidencia que o grau em que as cooperativas atuam agressivamente no que tange à competitividade associa-se de forma positiva em relação ao desempenho (Lumpkin & Dess, 1996; per, 2018). Assim, a capacidade para que a organização consiga se manter constante no mercado/setor que atua (Lazzarotti et al, 2015; Lumpkin & Dess, 1996) é benéfica para o desempenho.
A intensidade da agressividade competitiva se associa positivamente ao desempenho das cooperativas, e corrobora Lumpkin e Dess (1996), os quais citam a necessidade de investimentos nesse sentido, seja para se manterem, seja para ganharem espaço no mercado. Desse modo, a crescente participação no mercado financeiro brasileiro e a gradativa alta do número de cooperados mediante a agressividade competitiva também é evidenciada pelo per (2018).
A última hipótese (H6), a qual discorre sobre as redes de relações contribuírem positivamente para o desempenho das cooperativas de crédito, resultou em coeficiente estrutural positivo, mas sem significância a nível estatístico, assim não pode ser suportada. Porém, mesmo não confirmada essa relação, Mahama (2006) explica que o simples ato de cooperar participa da formação de redes de negócios, assim figura presente no ramo do cooperativismo.
Na pesquisa de Lazzarotti et al. (2015), o construto da rede de relações apresentou significância na relação com a OE das empresas graduadas no Brasil; dessa maneira, evidencia que esse construto está presente na OE de certas organizações, a depender do setor, segmento e campo de atuação. Ao testar sua associação com o desempenho das cooperativas, não foi possível comprovar significativamente essa relação. Entretanto, o estudo corrobora ao explorar tal dimensão no âmbito da OE, pois ainda se institui de forma incipiente na literatura (Frare et al, 2019) e, logo, ao explorar novos contextos, novas discussões são possíveis.
Conclusões
O objetivo desta investigação compreende a análise das dimensões da OE relacionadas ao desempenho nas cooperativas de crédito. Para tanto, estudou-se uma amostra que abrangeu 67 cooperativas de crédito, dispostas em 19 estados e no Distrito Federal, composta de 50,75% de classe central e o restante singulares. Relativo à modalidade de ingresso, a maioria (52,2%) são de livre admissão.
Conclui-se que a assunção de riscos e a agressividade competitiva se associam positivamente com o desempenho das cooperativas de crédito brasileiras que compõem a amostra do estudo. Desse modo, a atuação em projetos de alto risco e exploração de potenciais situações de risco em prol de oportunidades (assunção de riscos), assim como a busca por constante participação de mercado e contínuo monitoramento e reação no mercado ante os concorrentes (agressividade competitiva) são benéficas para o desempenho de tais organizações.
Ao considerar a multidimensionalidade da OE, torna-se possível compreender quais dimensões se associam positivamente com o desempenho, além de quais não. Apesar de haver diversos estudos que empregaram tal perspectiva de análise, esta pesquisa estende a discussão para o contexto do cooperativismo de crédito brasileiro, e conclui pela aplicabilidade das discussões sobre a OE nessas organizações, em especial dos benefícios resultantes da assunção de riscos e da agressividade competitiva.
Implicações e contribuições
Estes achados contribuem ao denotar que, na OE, as dimensões "assunção de risco" e "agressividade competitiva" são percebidas com prudência pelos gestores das cooperativas de crédito, porém, no entanto, relacionam-se positivamente ao desempenho dessas organizações. Contudo, apesar de a ciência das especificidades das cooperativas de crédito em relação às demais organizações nas quais a OE ser investigada, demonstra-se a presença e a pertinência desse construto entre os gestores dessas instituições.
O estudo contribui teoricamente ao promover a análise multidimensional de seis dimensões da OE e suas respectivas relações com o desempenho, de forma a constatar que duas dimensões estão associadas ao desempenho de cooperativas de crédito, enquanto outras quatro dimensões não apresentam relação significativa. Tal achado ampara-se na discussão de Wales et al. (2020), no que tange à necessidade de analisar a OE de forma multidimensional nas organizações.
Este resultado possui contribuições práticas para a percepção e arranjo da OE de cooperativas de crédito, ante a reformulação e a implementação de estratégia, foco no controle gerencial e na tomada de decisão. Ademais, promove reflexões e discussões acerca da OE e sua relação com o desempenho, o que auxilia no entendimento desse campo no contexto das cooperativas de crédito atuantes no mercado brasileiro. Desse modo, o estudo fornece insights para os envolvidos no cooperativismo de crédito, em especial, os gestores das cooperativas.
Limitações e sugestões
Foram encontradas algumas limitações, como o tamanho da amostra, o que pode ter comprometido parcialmente a análise dos dados via MEE. Ademais, o estudo explora exclusivamente relações diretas entre as dimensões da OE e o desempenho, o que pode representar oportunidades para novos estudos considerarem variáveis mediadoras ou moderadoras. Uma sugestão natural seria a ampliação da amostra com outras técnicas de coletas de dados, como a realização de pesquisa in ioco. 0utra sugestão seria a aplicação desse modelo teórico em outros tipos de cooperativas ou até mesmo organizações, para corroborar a validação da sexta dimensão utilizadia (rede de relações).