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Psicología desde el Caribe

Print version ISSN 0123-417XOn-line version ISSN 2011-7485

Psicol. caribe vol.37 no.1 Barranquilla Jan./Apr. 2020  Epub May 05, 2021

https://doi.org/10.14482/psdc.37.1.306.76 

Artigos

Velhice LGBT e facilitadores de grupos de convivências de idosos: suas representações sociais

LGBT old age and facilitators of elderly living groups: their social representations

LUCIANA KELLY DA SILVA FONSECA* 
http://orcid.org/0000-0001-8832-5261

LUDGLEYDSON FERNANDES DE ARAÚJO** 
http://orcid.org/0000-0003-4486-7565

JOSE VICTOR DE OLIVEIRA SANTOS*** 
http://orcid.org/0000-0002-6661-2873

ANA GABRIELA AGUIAR TREVIA SALGADO**** 
http://orcid.org/0000-0001-7235-2599

LORENA ALVES DE JESUS***** 
http://orcid.org/0000-0001-7629-9676

HIAGO VERAS GOMES****** 
http://orcid.org/0000-0002-8547-8649

*Universidade Federal do Delta do Parnaíba, Orcid: https://orcid.org/0000-0001-8832-5261 Correspondencia: L.kelly_fonseca@hotmail.com

**Universidade Federal do Delta do Parnaíba, Orcid: https://orcid.org/0000-0003-4486-7565

***Universidade Federal do Delta do Parnaíba, Orcid: https://orcid.org/0000-0002-6661-2873

****Universidade Federal do Delta do Parnaíba, Orcid: https://orcid.org/0000-0001-7235-2599

*****Universidade Federal do Delta do Parnaíba, Orcid: https://orcid.org/0000-0001-7629-9676

******Universidade Federal do Delta do Parnaíba, Orcid: https://orcid.org/0000-0002-8547-8649


Resumo

O presente artigo buscou identificar as Representações sociais dos facilitadores de grupos de convivência dos Centros de Referência da Assistência Social (Cras) a respeito da velhice LGBT, dos estados do Ceará e Piauí, Brasil. Trata-se de um estudo exploratório e descritivo com dados transversais. Assim, utilizou-se para coleta de dados entrevistas semiestruturadas e questionário sociodemográfico. O estudo contou com 20 facilitadores de grupos de convivência, de ambos os sexos, com idade entre 22 e 49 anos (M= 30,95; DP=7,41). Verificou-se a partir dos dados apreendidos as percepções que permeiam o universo dessa coorte, que foram: sociedade preconceituosa para com a população LGBT; indivíduos sem preconceito; falta de informação e naturalização do processo de envelhecimento.

Palavras-chave: Velhice LGBT; representações sociais; idosos; LGBT; Cras

Abstract

This article aimed to identify the Social Representations of the facilitators of Social Assistance Reference Centers (CRAS) living groups regarding LGBT old age, from Ceará and Piauí states, Brazil. This is an exploratory and descriptive study with cross-sectional data. To collect data, sociodemographic questfonnaire and semi-structured interviews were used. The study included 20 facilitators of living groups, both sexes, aged between 22 and 49 years (M = 30.95; SD = 7.41). It was verified from the data apprehended as perceptions that permeate the universe of this cohort, which were: prejudiced society for the LGBT population; isolated without prejudice; lack of information and naturalization of the aging process.

Keywords: old age LGBT; social representatfons; senfors; LGBT; CRAS

Introdução

Uma das grandes incitações atuais é pensar sobre o envelhecimento da população. Essa crescente preocupação diz respeito ao crescimento da esperança de vida desde o final do século passado. Este fenômeno é apontado como resultado do progresso social que originou um aumento no número de idosos ativos, saudáveis e envolvidos socialmente em lugar de idosos doentes, incapacitados e dependentes (Deponti & Acosta, 2010; Jesus, 2010; Neri, 2008; Neri et al. 2013; Silva, Farias, Oliveira & Rabelo, 2012).

A fase denominada velhice é considerada uma etapa finita do desenvolvimento, sendo alcançada de maneira individual e díspar por cada indivíduo (Macedo, 2010). São considerados idosos os indivíduos com mais de 65 anos em países desenvolvidos e com mais de 60 anos nos países subdesenvolvidos (Neri, 2008; Neri et al., 2013). No tocante ao envelhecimento da população mundial, a Organização Mundial de Saúde - OMS prediz que em 2025 existirão 1,2 bilhões de pessoas que estarão na fase da velhice (Macedo, 2010). No que concerne à realidade brasileira, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE (2015) existem cerca de 203,2 milhões de pessoas idosas brasileiras, pontuando 13% da população (IBGE, 2015; Veras, 2011).

Desse modo, várias políticas públicas brasileiras foram instituídas para garantir os direitos dessa parcela da população. Um exemplo entre elas é a Política Nacional do Idoso, que se encontra na Lei n° 8.842, de 04/01/1994, que tem como objetivo proteger as questões de cunho social das pessoas idosas a partir dos 60 anos. Consoante a isso, a Lei n° 10.741, de 01/10/2003, do Estatuto do Idoso, foi adicionada para que fossem garantidos os direitos e deveres das pessoas idosas brasileiras.

Logo, concomitante ao crescimento da população idosa global, encontra-se o aumento da população de lésbicas, gays, bissexuais e transgêneros (LGBT). Isso se deve à melhoria nos serviços de saúde, à informação e aos direitos de acesso à saúde e à educação continuada (Kimmel, 2015; Santos, Carlos, Araújo & Negreiros, 2017). Em virtude do aumento dessa população, a Geriatria e a Gerontologia têm se debruçado em suas pesquisas e intervenções com o escopo de compreender as diversas facetas da sexualidade na velhice das pessoas LGBT (Henning, 2017; Vieira, Coutinho & Saraiva, 2015).

Dentre os escritos que permeiam a luta do movimento LGBT nos dias vigentes estão alocados os temas cidadania, direitos humanos e estilos de vida sendo per-passados pelas diversas políticas públicas que são desenvolvidas no Brasil e no mundo com a ascensão e visibilidade que essa população vem tomando (Paiva & Melo, 2013). Porém, o quesito pesquisas sobre a luta LGBT atrelada à velhice ainda estão no campo do introdutório (Leal & Mendes, 2017; Mota, 2009).

Nos estudos que discorrem sobre essa população, encontra-se a concepção de que essa coorte está inserida em duas parcelas da sociedade que são alvo de preconceito e ideias negativas, que é ser idoso e ainda estar incluído entre as pessoas LGBT (Cardoso & Chaves, 2014; Henning, 2017; Leal & Mendes, 2017; Pedutto & Lopes, 2017). Uma evidência disto é que mesmo com o avanço nas leis que regem e garantem direitos a essa população, as pessoas idosas ainda se encontram à margem de melhorias e igualdade de direitos, pois sua categoria ainda é pouco pensada por estudiosos da área (Araújo, 2016). Uma outra questão que os especialistas apontam sobre esta parcela da população é que a sexualidade do idoso LGBT ainda é por vezes mascarada e de difícil expressão (Mota, 2014).

Dentre as políticas públicas existentes que se destinam a acolher essa população, encontram-se as redes de atenção à saúde e assistência social, que são fundamentais para assistir à população idosa em seus diversos aspectos. A Política Pública da Assistência Social visa a garantir a todos os que dela necessitarem a proteção social, as necessidades básicas, a segurança de sobrevivência, a segurança da acolhida e o convívio familiar (Ferreira, Bansi & Paschoal, 2014).

Visto isso, pode-se destacar, então, o papel dos facilitadores de grupos de convivência dos Centros de Referência da Assistência Social (Cras), que implica uma demasiada importância no fortalecimento de vínculos e perpetuação de bem-estar biopsicossocial da população idosa que participa ativamente de tal ferramenta social (Ferreira, Bansi & Paschoal, 2014; Silva & Bezerra, 2018). Entendendo que existem diferentes formas de viver-se a velhice, o papel dos facilitadores é de grande ajuda para o idoso reconhecerse como atuante ainda em uma sociedade que por muitas vezes o põe alheio à sua existência e com capacidade de continuar vivendo de forma ativa, contribuindo para um envelhecimento sadio (Araújo, 2016; Cruz & Ferreira, 2011).

Neste sentido, um estudo a ser considerado é o da Teoria das Representações Sociais (RS), que permite um entendimento da maneira em que um determinado grupo constrói, introjeta e compartilha um aglomerado de conhecimento sobre determinado objeto durante acontecimentos do cotidiano. Destarte, essas representações são construídas por sistemas sociocognitivos nas relações sociais, o que provoca encadeamentos no cotidiano, sendo que a comunicação e as ações toma-das por um grupo em detrimento de outro são resultado da maneira em que os atores sociais representam esse grupo e a qual significado lhes atribui, ou melhor, as RS são frutos da representação de um objeto e seu significado adquirido pelo individuo (Arruda, 2002; Araújo, Coutinho & Saldanha, 2005; Moscovici, 1978).

A colaboradora de Moscovici, Denise Jodelet, trouxe para si a função de sistematização do tema auxiliando no aperfeiçoamento teórico e procurando esclarecer melhor o conceito e os processos formadores das representações sociais. Para essa autora, a teoria das representações deve ser ponderada combinando elementos afetivos, mentais e sociais e integrando-a ao lado da cognição, da linguagem e da comunicação (Arruda, 2002; Araújo, Coutinho & Saldanha, 2005; Moscovici, 1978). Nesse aspecto, o estudo das RS permite indagar sobre os sentidos construídos diante de referências sociais, imagens e preconceitos sobre velhice e envelhecimento que permeiam o contexto em que os sujeitos estão postos (Araújo, Coutinho & Saldanha, 2005; Santos, Tura & Arruda, 2013).

Logo, diante do exposto, a relevância social e acadêmica deste estudo resulta em possibilitar conhecer sobre a realidade dessa parcela da população acerca das representações sociais da velhice de pessoas LGBT visto que existe escassez de estudos sobre o tema contribuindo, assim, para conhecimento, disseminação e reflexão acerca de tal temática.

Método

Tipo de Investigação

Trata-se de um estudo exploratório e descritivo com dados transversais.

Locus da Investigação

Esta pesquisa foi realizada em Centro de Referência da Assistência Social dos Estados do Ceará e do Piauí, Brasil.

Participantes

Contou-se com a participação de 20 facilitadores de grupos de convivências de idosos, de ambos os sexos, dos estados do Ceará e do Piauí, Brasil. Com idades entre 22 e 49 anos (M= 30,95; DP= 7,41).

Destes, 45% são solteiros; quanto à orientação sexual, 90% dos participantes são heterossexuais - ressalta-se que as pessoas LGBT também podem ser heterossexuais, porém sendo transgêneros. 65% da amostra tem pós-graduação. Sobre ter alguma disciplina em sua formação acadêmica acerca da área na qual o facilitador atua, 55% respondeu positivamente. Quando questionados sobre existir algum parentesco com alguém LGBT, 50% disseram não e os outros 50%, sim. Por fim, foi perguntado se o facilitador tem algum contato com algum idoso LGBT e 75% pontuaram que não têm contato algum.

É importante salientar que o critério utilizado para participação deste estudo está em pleno desenvolvimento de suas atividades nos grupos de convivência dos Cras.

Instrumentos

QUESTIONÁRIO SOCIODEMOGRÁFICO

Elaborado com a finalidade de obter informações sobre sexo, estado civil, orientação sexual, escolaridade, se tem algum parentesco com algum indivíduo com orientação sexual homoafetiva e se convive com algum idoso LGBT para caracterização da amostra.

ENTREVISTA SEMIESTRUTURADA

Foram elaboradas perguntas semiestruturadas para obter informações a respeito das Representações Sociais dos facilitadores grupos de convivência dos Cras. Foram elas: "O que você pensa sobre a homossexualidade na velhice?" e "Como você entende a velhice LGBT?", sendo importante ressaltar que as duas foram analisadas conjuntamente.

PROCEDIMENTOS ÉTICOS

Esta investigação se inclinou segundo orientações das diretrizes e instruções regulamentadoras de pesquisa nas Ciências Humanas e Sociais envolvendo seres humanos conforme consta na Resolução n° 510/2016 do Conselho Nacional de Saúde. Desta forma, foi enviada para apreciação pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Federal do Piauí. Logo após aprovação do Comitê de Ética em Pesquisa (número do CAAE 57225916.1.0000.5214), foi mantido contato com a Secretaria de Desenvolvimento Social e Cidadania de cada estado para verificar a disponibilidade da realização da referida pesquisa com os facilitadores dos grupos de convivência.

COLETA DE DADOS

A coleta de dados foi realizada de forma individual, voluntária e anônima entre os facilitadores dos grupos de convivência. Os colaboradores foram selecionados por meio do critério de conveniência. No primeiro momento os participantes tiveram acesso ao Termo de Consentimento Livre Esclarecido (TCLE) e receberam todas as informações sobre a pesquisa e as implicações que a participação poderia acarretar. Os partícipes também foram informados sobre as questões do sigilo, risco e benefícios da pesquisa, sobre o livre arbítrio em participar ou não e, até mesmo, sobre desistir de sua participação a qualquer momento sem nenhum prejuízo. Logo após os devidos esclarecimentos, foi então aplicado questionário com perguntas semiestruturadas e questionário sociodemográfico para caracterização da amostra, que teve duração de aproximadamente 30 minutos cada, tendo variações pequenas de tempo de resposta dos sujeitos. Salienta-se que não foi verificada nenhuma recusa em participar da presente investigação.

ANÁLISES DOS DADOS

No tocante ao tratamento das análises dos dados, as informações obtidas nesta pesquisa foram analisadas por meio do software gratuito Interface de R Pour Analyses Multidimensionnelles de Textes et de Questionnaires (IRAMUTEQ), que analisa os corpus textuais atribuídos às perguntas respondidas pelos colaboradores que compõem a amostra, ou seja, é um método informatizado para análise de textos que busca apreender a substância e a organização do discurso, informando as relações entre as bases lexicais mais relatadas pelos sujeitos (Camargo, 2013). Por último, os dados obtidos com a aplicação do questionário sociodemográfico foram feitas estatísticas descritivas, como média e desvio padrão no software SPSS for Windows na versão 22.

Resultados

No que diz respeito aos dados apreendidos na entrevista semiestruturada com enfoque nas questões sobre velhice LGBT para analisar as representações sociais dos colaboradores da pesquisa, foi executada a Classificação Hierárquica Descendente (CHD) para a análise do corpus da pesquisa.

A Classificação Hierárquica Descendente (CHD) correlaciona o conteúdo dos textos baseado na frequência e qui-quadrado (X2), criando classes de Unidades de Contextos Elementares (UCEs) e Unidades de contextos iniciais (UCIs) com vocabulário semelhante entre si. Estas classes são representadas por dendograma (figura), que ilustram as relações entre elas (Camargo, 2005).

A CHD foi descrita em uma única parte ou corpus textual, sendo subscritas em quatro classes distintas referentes às representações sociais dos colaboradores. O mesmo foi formado por 20 UCIs e classificado em 18 UCEs, com palavras ou vocábulos distintos referentes a 375, possuindo um total de ocorrências de 930, foram analisadas com média de 3,46 em termos de frequência, sendo consideradas 62,o7% do total, considerando o valor de significancia das respostas analisadas (ver figura 1 ao final do artigo).

Figura 1 Dendograma da Classificação Hierárquica Descendente das representações sociais da velhice LGBT. 

A Classe 1 é denominada processo de naturalização da velhice LGBT e dita sobre a aceitação das pessoas em relação à propensão da orientação sexual de cada indivíduo em qualquer momento de sua vida, inclusive na velhice, bem como o processo de anuência da velhice como sendo próprio do ser humano. Sendo esta classe equivalente a 22,22% do total da amostra analisada, sua variável descritiva são indivíduos do sexo feminino e é composta por 4 UCEs.

As palavras que mais representam a Classe 1 são: Velhice; Não; Natural; Processo, respectivamente, que foram aplicadas para justificar a ideia de que velhice deve ser considerada algo natural, inerente ao processo vital, devendo ser ponderada de forma positiva e ser alcançada da forma mais saudável possível. Percebe-se que os partícipes evitam qualquer diferenciação de gênero tratando-se desse processo visto que em suas falas é destacado que todos experienciam essa fase da vida.

Esta fala ilustra uma das perspectivas que compõe a Classe 1: "a princípio não vejo diferença entre heterossexual e homossexual na velhice, porque a velhice é um processo natural onde a orientação sexual não muda" (colaborador 011, 34 anos, pós-graduada, heterossexual).

Relativo à classe 2, as palavras destacadas foram: Forma; Vida; Achar; Melhor; Entender, referindo-se à variável descritiva profissão psicólogo; esta foi nomeada de indivíduo sem preconceito. A mesma é compatível a 22,22% do total da amostra e contem 4 UCEs. Aqui as pessoas versam sobre não ter preconceito para com as pessoas que elegem viver a vida da melhor forma que julgam possível, respeitando suas vontades, sem importar-se com a opinião alheia, ou seja, demonstra a concepção de respeito para com as preferências dos indivíduos, sendo elas uniformes ao seu pensamento ou não.

Nesse aspecto, o presente discurso caracteriza as representações identificadas na amostra: "acho que cada um vive sua vida da maneira que acha melhor, não tenho preconceito e trataria da mesma forma que trato qualquer pessoa" (colaborador 001, 33 anos, ensino superior completo, heterossexual).

Alusivo à Classe 3, que foi denominada de sociedade preconceituosa e trata sobre o preconceito e desrespeito que a sociedade tem para com os idosos LGBT e que representa 33,33% da amostra examinada, compondo a variável descritiva bissexual e comportada por 6 UCEs, as palavras mais acentuadas foram: fato; muito; idade; terceiro; por; pessoa; de.

Quanto a isso, foram identificadas representações de deslocamento do preconceito para a sociedade, ou seja, o entrevistado se diz não se incomodar com a orientação sexual do próximo, como se pode observar na Classe 2, porém fala em preconceito por parte da sociedade, isentando-se de ser partícipe da mesma. Uma fala que exemplifica esta representação social é:

Penso que ser homossexual na terceira idade é um grande desafio, em especial pelo preconceito da sociedade diante da diversidade. O fato de a pessoa ser idosa muitas vezes implica no desrespeito, considerando que o envelhecimento mesmo sendo algo natural à sociedade penaliza esse processo inerente à vida, apesar de muitos avanços no sentido de quebrarem barreiras na livre definição de orientação sexual, muito é necessário para garantir que a velhice LGBT ocorra garantindo os direitos de quem brinda da terceira idade (Colaborador 020, 32 anos, pós-graduado, bissexual).

No que concerne à classe 4, que é denominada de "conhecimento acerca do tema" e representa 22,22% da amostra avaliada, sendo composta pela variável solteiro e constituída por 4 UCEs, pode-se observar a falta de discussão e informação sobre o tema velhice LGBT.

Nesse sentindo, as pessoas que foram entrevistadas articulam que esse é um tema bastante complexo e que deveria ser dispensado mais tempo e meios de ser debatido para conhecimento geral da população. Um exemplo dessa representação é o deste entrevistado. "Tema muito complexo para se trabalhar, mais do que em jovens e adultos, penso ser um processo lento de abertura dessa população para a sociedade" (colaborador 010, 25 anos, pós-graduando, heterossexual).

Ainda nesse sentido, as representações desta classe intensificam a importância de um discurso aberto que envolva todos para fins de extinguir preconceitos e de promover conhecimento. Um exemplo disso é o discurso a seguir: "É preciso sim discutir as nuances que implicam tal realidade, tal como o preconceito, o envelhecimento saudável, as DSTs e demais questões" (colaborador 017, 28 anos, pós-graduanda, heterossexual).

Discussão

A presente investigação objetiva analisar as representações sociais da velhice LGBT sob a ótica dos facilitadores de grupos de convivências de idosos dos Cras visando a uma compreensão interestadual, com intuito de apreender as concepções que permeiam tal coorte entre os estados do Ceará e Piauí, Brasil.

Nesse sentido, é possível notar no estado da arte que a representação social da velhice LGBT passou por diversas transformações e tais modificações acompanharam algumas mudanças na sociedade. Então, fundamentado nos dados percebidos neste trabalho, houve de início um processo de naturalização da velhice por parte dos entrevistados, pois é dito pelos mesmos que todos, independentemente de sua orientação sexual, vão experienciar este estado vital. Paralelamente a essa ideia, encontra-se a concepção de que as necessidades, as responsabilidades e as preocupações da velhice LGBT são basicamente as mesmas da população de idosos em geral, ou seja, preocupação com preconceito de idade, estigma social etc. (Gato, Carneiro & Fontaine, 2011).

Entretanto, em outro estudo se apresenta a ideia de que devido ao preconceito exacerbado para com esse grupo especifico, deve-se ater a salvaguardar os direitos e recursos que são por certo de pessoas mais idosas LGBT, pois para essa população é mais difícil estar acessando tais recursos (Orel & Fruhauf, 2015). Visto isso, apesar de suas preocupações serem basicamente as mesmas em comparação com a população heterossexual idosa, a forma como o grupo LGBT acessa seus direitos é diferenciada pelo fator de discriminação da sociedade, que podeser resultado do desconhecimento sobre tal assunto e que colabora para a exacerbação e disseminação de mitos, estereótipos negativos e preconceitos acerca do tema (Araújo, Coutinho & Saldanha, 2005; Fontes & Neri, 2015).

Para os profissionais entrevistados, falar sobre esse tema com a população mais velha é um desafio, por tratar-se de um conteúdo delicado e com pouco acesso à informação. Logo, atender o grupo de idosos LGBT se caracteriza como uma provocação a mais, pois para os mesmos lidar com essa temática é bastante complexo, alegando não ter conhecimento suficiente sobre o assunto. Os entrevistados ainda apontam esse lapso como uma falha a ser corrigida por parte deles mesmos. Para alguns estudiosos, é de suma importância os profissinais saberem lidar com esse público, pois, a partir disso, é que os idosos LGBT se sentirão acolhidos e pertencentes à comunidade e isso ditará fatores culturais e atributos pessoais mais desenvolvidos nessas pessoas, contribuindo, assim, para a saúde biopsicossioal dos mesmos (Poeschl, Venâncio & Costa, 2012).

Profissionais que lidam com pessoas mais velhas LGBT têm o papel de entender e buscar abarcar essa população em seus trabalhos para que, assim, seja alcançada uma melhora na vida social, psicológica e cultural dessas pessoas. Para tanto, os facilitadores dos Cras que se deparam com esse tema devem ter bem estabelecidos em suas práticas ações que busquem ir além da redução das necessidades dos idosos LGBT, incluídas em suas condutas práticas terapêuticas, educacionais e sociais, objetivando o aumento da capacidade desse grupo de lidar com as adversidades que a sociedade lhes impõe (Ellis, Kitzinger & Wilkinson, 2003).

Foram verificados ainda nesse estudo discursos que ditam sobre um preconceito velado por parte da sociedade para com a população LGBT. Estudos apontam que as pessoas que diferem das normas que a sociedade dita sobre sexualidade é violentada diariamente, seja de forma verbal, seja de forma física (Araújo & Fernandéz-Rouco, 2016). Isto vai ao encontro das representações sociais que foram obtidas nessa pesquisa, que nos revelam uma menção de situações que poderiam ser vivenciadas por essa população, sendo elas sofrimento, isolamento e medo.

A questão das pessoas deslocarem o preconceito à sociedade revela uma forma de autoimunizarse, pois o preconceito moderno, por vezes, é velado e implícito e é evidenciado de diferentes formas a depender de cada indivíduo já que as motivações das pessoas se fazem a partir de suas crenças, valores e atitudes. Certas pessoas sentem um impulso de não se mostrarem preconceituosas por causa de valores intrapessoal e interpessoal, outras já agem em conformidade com as normas que são estabelecidas na sociedade, independentemente de suas crenças e valores (Antunes, 2011).

Sendo assim, a conjectura em que as representações sociais dos facilitadores dos grupos de convivência perpassam e são edificadas intercorre em meio à contemporaneidade, por meio da qual, mesmo que o tema aqui estudado se encontre em ascensão, emergem marcas de pensamentos não condizentes com a sociedade em transformação, o que demonstra a falta de informação e a disseminação de preceitos sobre o assunto.

Considerações finais

Foram verificadas dimensões chave que permeiam o universo das equipes dos facilitadores dos grupos de convivência estudados tais como a visão de uma sociedade preconceituosa, em que existe abstenção de participação da pessoa entrevistada nessa sociedade. Os indivíduos se dizem sem preconceito e são a favor de não interferir nas escolhas do próximo. Também foi mencionada a falta de informação e, por fim, a ideia de naturalização do processo de envelhecimento. Então, conclui-se que este estudo possibilitou que as pessoas entrevistadas pudessem refletir sobre o tema em questão fazendo-se útil para a propagação, a discussão e a reflexão acerca da temática.

Destarte, os dados desta pesquisa reforçam a necessidade de cada vez mais emergirem programas que incentivem e promovam informação, bem como discussão do tema, podendo assim desmistificar estereótipos. Necessita-se ainda de estudos que atinjam com maior facilidade a população estudada e que tenha uma maior abrangência para que se torne mais generalizado de forma a contribuírem para futuras pesquisas e propagação de conhecimento. Essa temática é de suma importância nos campos da saúde, educação, dentre outras. Desta maneira, este trabalho favoreceu para concatenar as RS que perpassam o contexto interestadual desse universo.

Referências

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Recebido: 04 de Setembro de 2018; Aceito: 20 de Outubro de 2019

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