INTRODUÇÃO
A espécie Eleusine indica (L.) Gaerth. (capim-pé-de-galinha) (Poaceae), é uma das plantas daninhas mais nocivas para as culturas devido a sua elevada prolificidade (pode produzir quase 50 mil sementes por planta) e sua tolerância a diversas condições ambientais (Kashyap et al. 2024; Ma et al. 2015). Está entre as cinco espécies mais importantes no mundo, afetando em torno a 50 culturas em mais de 60 países, também pela geração de resistência a herbicidas, sendo um dos problemas mais importantes em culturas anuais no Brasil (Heap, 2020; Silva et al. 2009) como milho, soja e feijão.
O uso intensivo de glifosato na soja gerou biótipos resistentes de E. indica, sendo necessário o uso de outros herbicidas como a mistura de clorimuron-etilo + lactofen e aplicação sequencial de fluazifop-p-butilo, mostrando controle eficiente da espécie (Correia et al. 2011) No Brasil existem biótipos de E. indica com resistência a herbicidas que inibem a ACCasa (Vidal et al. 2006), EPSPS (Takano et al. 2018) e biótipos que apresentam resistência múltipla a esses dois mecanismos de ação (Heap, 2020).
O controle químico das plantas daninhas necessita de conhecimentos relacionados à tecnologia de aplicação, bem como a comunidade infestante, a fisiologia da cultura, as características físico-químicas dos herbicidas e às condições edafoclimáticas locais (Barroso et al. 2022). Destas considerações, o estádio fenológico das plantas daninhas constitui a base da eficácia do controle químico (Jerônimo et al. 2021).
Normalmente o controle de E. indica com herbicidas pós-emergentes é mais eficiente na presença de até um perfilho (Takano et al. 2018), por causa da menor espessura da cutícula das folhas e a maior quantidade de tecidos meristemáticos em plantas jovens (Oliveira & Inoue, 2011). Contudo, na prática às vezes E. indica não é controlada naquele estádio suscetível, sendo, portanto, relevante estudar o efeito de herbicidas pós-emergentes nessa espécie em perfilhamento.
Considerando a dificuldade no manejo por causa da resistência a herbicidas e pelo difícil controle com herbicidas pós-emergentes em estádios avançados de desenvolvimento (Takano et al. 2016), se reduziram as opções de manejo de E. indica. Portanto é necessário estudar a eficiência de herbicidas pós-emergentes com diferentes mecanismos de ação em distintos estádios de desenvolvimento da espécie. Diante disto, o objetivo deste trabalho foi avaliar herbicidas pós-emergentes para o controle do capim pé-de-galinha em dois estádios de desenvolvimento, pré-perfilhamento e em perfilhamento da planta.
MATERIAIS E MÉTODOS
Dois experimentos foram conduzidos a céu aberto em área anexa ao Laboratório de Plantas Daninhas da Universidade Estadual Paulista (UNESP), situado no município de Jaboticabal/SP (S 21°14'39,2" W 48°17'55,3").
O solo utilizado para preencher os vasos era do tipo Latossolo Vermelho Escuro com textura argilosa, pH(CaCl2 )=5.4, matéria orgânica=18 g/dm3, P(resina)=65 mg/dm3, K=2.8 mmolc/dm3, Ca=33 mmolc/dm3, Mg=9 mmolc/dm3 e H+Al=18 mmolc/dm3.
Sementes foram coletadas em plantas maduras de E. indica no local da condução do experimento, o foram semeadas 20 sementes do capim-pé-de-galinha em vasos de 0,5 litros. Duas semanas após a semeadura, foi realizado o desbaste a fim de deixar quatro plantas por vaso. As plantas foram mantidas com irrigação sempre que visualmente necessário durante todo o experimento.
Em um primeiro experimento, a aplicação dos herbicidas foi realizada quando as plantas possuíam quatro folhas, sem perfilhos (pré-perfilhamento), e em um segundo experimento, quando as plantas apresentavam em média oito folhas e a presença de cinco perfilhos (em perfilhamento). As aplicações foram realizadas com pulverizador costal, mantido a pressão constante de CO2, com barras de 1,5 m e quatro pontas do tipo XR11002, sendo regulado para distribuir 200 L/ha1. A dosagem dos herbicidas (L de produto comercial por hectare) foi extrapolada para a área total dos vasos por cada tratamento.
O delineamento experimental utilizado em cada experimento foi o inteiramente casualizado, com quatro repetições. A unidade experimental estava formada por quatro vasos de 0,5 L com quatro plantas de capim-pé-de-galinha em cada vaso, fazendo em total 176 vasos por experimento, onde foram aplicados em pós-emergência os herbicidas ametrina, amônio-glufosinato, clethodim, glyphosate, haloxyfop, indaziflam, mesotrione, nicosulfuron, paraquat, pyroxsulam e tembotrione, nas doses mostradas na tabela 1.
Tabela 1 Descrição dos herbicidas aplicados, seus mecanismos de ação e doses em litros do produto comercial (PC) e gramas do ingrediente ativo por hectare.

O controle da planta daninha foi avaliado aos 7, 14 e 21 dias após a aplicação (DAA) através da escala percentual de notas, variando de 0 a 100 % de controle (Gazziero, 1995), sendo 0 % a ausência de sintomas e 100 % a morte da planta. Aos 21 dias após aplicação, coletou-se a parte aérea restante em cada unidade experimental foram colocadas em sacos de papel e secas em estufa com circulação forçada de ar à temperatura de 60 °C por 48 horas. Após esse período, as amostras foram pesadas em balança analítica para obtenção da massa seca.
Os dados de controle (porcentagem) foram transformados utilizando função arcoseno. Todos os dados foram submetidos à análise de variância a uma probabilidade de erro de 5 %; quando significativas, as médias foram comparadas pelo teste de Tukey (p<0,05) utilizando-se o software AgroEstat.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
No primeiro estádio, aos 7 DAA, nota-se que ametrina, amônio-glufosinato e paraquat foram eficazes no controle do capim pé-de-galinha, com valores de controle de 81,25, 77,50 e 100 %, respectivamente. Aos 14 DAA, haloxyfop, amônio-glufosinato, glyphosate, paraquat, indaziflam, tembotrione e ametrina promoveram controle da população com médias superiores a 80 %. Aos 21 DAA, clethodim, haloxyfop, amônio-glufosinato, glyphosate, paraquat, indaziflam, tembotrione e ametrina proporcionaram controle igual ou maior que 95 % (Tabela 2). Lorenzi (2014) considerou plantas de E. indica em estádio inicial (até o perfilhamento) altamente suscetíveis a clethodim, amônio-glufosinato, glyphosate, paraquat e tembotrione por apresentarem controle maior que 95 %, resultados coincidentes com o nosso estudo.
Os dados de massa seca da parte aérea acompanharam os resultados observados de controle da população, com médias menores que 0,07 g/planta para os herbicidas mais eficazes (Tabela 2): haloxyfop, clethodim, amônio-glufosinato, glyphosate, paraquat, tembotrione e ametrina. Pereira et al. (2020) também registraram menores valores de massa seca (menos de 12 g m-2) de E. indica mais outras gramíneas, após aplicação complementar de clethodim (108 g i.a. ha-1) e haloxyfop (62,35 g i.a. ha-1) no feijão caupi.
A aplicação de pyroxsulam e mesotrione resultou em controle pobre (55-69,9 %) e nicossulfuron em controle regular ou justo (70-81,9 %) de E. indica na última avaliação, segundo a escala da WSSA (2002). Estes herbicidas também propiciaram os maiores valores de massa seca acumulada (0,28, 0,27 e 0,09 g/planta para pyroxsulam, mesotrione e nicossulfuron, respectivamente) em relação aos demais tratamentos (Tabela 2). Devido ao escasso controle, as plantas não interromperam completamente seu crescimento e desenvolvimento, acumulando assim maior massa seca em comparação às plantas mais afetadas pelos herbicidas.
Tabela 2 Médias de controle visual (%) e massa seca da parte aérea (MSPA) de uma população de capim pé-de-galinha tratada com herbicidas pós-emergentes quando com quatro folhas totalmente expandidas (pré- perfilhamento).

Médias seguidas pela mesma letra na coluna não diferem significativamente pelo teste de Tukey, com nível de significância de 5 %. DAA: dias após a aplicação.
Nota-se que o glyphosate e os inibidores da ACCase (clethodim e haloxyfop) foram eficazes (mais de 95 % de controle) no controle da espécie, confirmando a ausência de resistência de E. indica para esses herbicidas. Apesar de as condições do experimento de Takano et al. (2018) foram diferentes ao nosso estudo (casa de vegetação e biótipos de E. indica resistentes ao glyphosate), eles encontraram resultados semelhantes com nosso trabalho, já que obtiveram 100 % de controle de E. indica com um perfilho após aplicação de haloxyfop (60 g i.a. por hectare) e clethodim (108 g i.a. por hectare). Aplicações de haloxyfop, clethodim e fluazifop em populações de capim pé-de-galinha de até dois perfilhos demonstraram até 90 % de controle (Molin et al. 2013; Ulguim et al. 2013).
Por outro lado, o escasso controle de E. indica pelos herbicidas inibidores da ALS (pyroxsulam e nicossulfuron) e inibidores da HPPD (mesotrione) se deve ao fato desses herbicidas controlarem predominantemente plantas daninhas eudicotiledôneas e algumas monocotiledôneas (Carvalho, 2013). O desempenho de clethodim e amônio-glufosinato também já foi relatado na literatura como eficaz no controle de capim pé-de-galinha (Burke et al. 2005; Ulguim et al. 2013). Segundo Burke et al. (2005), a aplicação de clethodim em plantas de capim pé-de-galinha que apresentam até seis perfilhos, promove 83 % de controle aplicando alta dose (140 g i.a. por hectare). Isso significa que plantas de E. indica mais desenvolvidas com perfilhos poderiam ser controladas com clethodim, porém incrementando a dose de 108 a 140 g i.a. ha-1, o que pode ser prejudicial desde o ponto de vista econômico e ambiental.
Entretanto, mesmo o controle de E. indica com herbicidas inibidores da ACCase seja eficiente, seu uso deve ser cuidadoso pela pressão de seleção que podem submeter às populações, selecionando biótipos com resistência múltipla ao local de ação (Takano et al. 2018). Segundo nossos resultados, outros herbicidas eficientes no controle de E. indicam foram os inibidores da síntese de parede celular (indaziflam), inibidores do FSII (ametrina) e inibidores da GS (amônio-glufosinato), podendo-se constituir em alternativas para a rotação de mecanismos de ação no manejo da planta daninha. No entanto, além do uso de herbicidas, pode se incluir no manejo integrado o uso de plantas de cobertura como o milho e crotalária, as quais podem até suprimir E. indica (D’amico-Damião et al. 2020).
No estádio de perfilhamento aos 7 DAA, os herbicidas amônio-glufosinato, glyphosate, paraquat e ametrina proporcionaram controle da população superior a 80 %. Aos 14 DAA, o controle de capim pé-de-galinha foi superior a 90 % em tratamentos com haloxyfop, amônio-glufosinato, glyphosate, paraquat e ametrina. Os herbicidas pyroxsulam, mesotrione e nicossulfuron se mostraram ineficientes no controle de capim pé-de-galinha, além do herbicida tembotrione, que não apresentou controle da população maior que 43,75 % na avaliação realizada aos 21 DAA (Tabela 3). Neste caso, em plantas de E. indica na presença de perfilhos, perde-se a possibilidade do uso dos herbicidas inibidores da HPPD (mesotrione e tembotrione) pelo pobre controle mostrado (menor que 66 %) Lorenzi (2014) coincide parcialmente com esses resultados ao mostrar que E. indica no estádio de quatro perfilhos é tolerante (0 % de controle) ao mesotrione e pouco suscetível (menos de 50 % de controle) ao tembotrione.
Considerando os herbicidas inibidores da ACCase, o haloxyfop teve ação mais rápida no controle da espécie em perfilhamento do que o clethodim, propiciando o haloxyfop 56,25 % e 11,25 % mais de controle quando comparado ao clethodim aos 14 DAA e 21 DAA, respectivamente. Os herbicidas amônio-glufosinato, glyphosate, paraquat e ametrina demonstraram controle eficiente da população já aos 7 DAA, com médias de controle superiores a 80 % (Tabela 3). Hooda & Chauhan (2023) apontaram que, de 12 herbicidas pós-emergentes, o amônio-glufosinato (750 g i.a. por hectare) ocasionou um dos menores valores de sobrevivência (8,35 % na média de dois locais) e massa seca (0,04 g por vaso na média de dois locais) de E. indica, demonstrando assim a eficácia do herbicida na espécie.
Tabela 3 Médias de controle (%) e massa seca da parte aérea (MSPA) de uma população de capim pé-de-galinha tratada com herbicidas pós-emergentes quando com oito folhas totalmente expandidas (em perfilhamento).

Médias seguidas pela mesma letra na coluna não diferem significativamente pelo teste de Tukey, com nível de significância de 5 %. DAA: dias após a aplicação.
Por causa do rápido crescimento de E. indica e a escassez de herbicidas pós-emergentes seletivos para culturas convencionais, há limitações para o controle dessa espécie em estádios avançados de desenvolvimento (Takano et al. 2016, 2018). Alem disso, as plantas se tornam menos suscetíveis aos herbicidas conforme avança seu estádio fenológico em decorrência da menor quantidade de tecidos novos (Marques et al. 2011), os quais absorbem melhor os herbicidas.
Outra limitação é a disponibilidade de herbicidas seletivos para as culturas e eficazes no controle de gramíneas, como no caso do milho, onde oito mecanismos de ação estão registrados para controle de capim pé-de-galinha (MAPA, 2021). Se a população de E. indica encontrada na área de cultivo for resistente à glyphosate ou à ACCase, ou a ambos, as opções para controle da espécie caem para seis mecanismos de ação. Dos herbicidas estudados neste trabalho, o amônio-glufosinato, glyphosate, mesotrione, nicosulfuron e tembotrione são seletivos para o milho, dos quais mesotrione e nicossulfuron não controlaram a espécie nos estádios iniciais e nem tembotrione controlou a E. indica em perfilhamento.
Para a soja, dos herbicidas estudados, cinco são seletivos para a cultura, dos quais clethodim, haloxyfop, amônio-glufosinato e glyphosate apresentaram controle eficaz de capim pé-de-galinha. Em casos de biótipos com resistência à herbicidas inibidores da ACCase ou ao glyphosate, o controle da espécie seria possível com o amônio-glufosinato em dessecação pré-plantio ou pós-emergência em culturas tolerantes a esse herbicida. O que ressalta a necessidade de se buscarem alternativas de controle da espécie na pré-emergência pelo uso de herbicidas residuais, aplicações sequenciais na dessecação pré-plantio e/ou pelo uso de outros métodos de controle, como a cobertura do solo com palhada (Silva et al. 2009; Lima et al. 2014).
Em conclusão, é indicado que os herbicidas clethodim, haloxyfop, amônio-glufosinato, glyphosate, paraquat, indaziflam, tembotrione e ametrina foram eficazes no controle de capim pé-de-galinha em estádio pré-perfilhamento. Plantas em perfilhamento foram eficazmente controladas pelos herbicidas clethodim, haloxyfop, amônio-glufosinato, glyphosate, paraquat, indaziflam e ametrina. Estádios mais avançados de desenvolvimento do capim-pé-de-galinha reduzem a eficácia de controle denicossulfuron e tembotrione.