1. Introdução
As micro e pequenas empresas representam grande parte dos negócios existentes no Brasil. A participação das micro e pequenas empresas no Brasil tem apresentado relevância ao se destacar pela sua potencial capacidade de gerar empregos e pela quantidade de negócios atuantes, produzindo efeitos significativos na economia (Vargas, 2002). Essa assertiva é corroborada pelos resultados apontados pelo Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (SEBRAE) que, em seus relatórios, apresentam um percentual de 98,2% das empresas formais, atingindo 52,1% do total dos empregos existentes, e 41,4% da massa salarial (SEBRAE, 2015).
Apesar dessa relevância, os estudos voltados à observação dessas micro, pequenas e médias empresas são limitados. Anjos, Espejo e Scherer (2011), por exemplo, verificaram que, entre os anos 1925 e 2010, apenas 72 artigos em revistas internacionais que estão estritamente relacionados aos pequenos negócios e demonstrações contábeis foram encontrados, sendo a maioria publicada a partir do ano 2000. Já Santos, Pescador, Silva, Del Corso e Gimenez (2014) compuseram em sua amostra o total de 26 artigos do universo de 7.549 publicados no Encontro Nacional da Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Administração (ENANPAD) no período de 1999 a 2009. Além disso, a literatura clássica trata deste tema de forma ainda incipiente, voltando-se majoritariamente à análise e à observância das práticas empresariais das grandes organizações, surgindo, então, a necessidade de melhor compreensão das evidências encontradas na literatura.
Independentemente do ramo de atuação, as micro, pequenas e médias empresas possuem como característica uma gestão com utilização limitada de práticas gerenciais e restrições ao acesso às fontes de financiamento. Entretanto, alguns questionamentos seguem sendo buscados por pesquisadores: as informações financeiras oferecidas por meio de relatórios nessas empresas são úteis? E, mais importante, a literatura tem trazido alternativas aplicáveis à gestão dessas empresas?
Diversas dessas perguntas têm sido abordadas em estudos no Brasil, no entanto, os resultados não se encontram consolidados e os trabalhos pouco são tratados de forma interdisciplinar, dificultando a construção de um conhecimento sólido e de uma contribuição consistente acerca dessas organizações. Para tentar compreender melhor o cenário posto, este estudo inicialmente realiza uma busca nas principais revistas da área de gestão, incluindo a grande área da administração e contabilidade, para verificar como a academia tem respondido às questões emergentes da sociedade. A questão de pesquisa deste artigo, portanto, apresenta-se da seguinte forma: quais são as contribuições que os artigos dos principais periódicos brasileiros de gestão têm apresentado em relação às práticas de contabilidade gerencial em gestão de micro, pequenas e médias empresas?
Adicionalmente, essa pesquisa tem como referência um trabalho semelhante no contexto internacional, o estudo de López e Hiebl (2015). Os autores realizaram uma revisão do conhecimento atual de gestão em pequenas e médias empresas (PMEs) com as principais revistas estrangeiras, sem considerar os estudos brasileiros, visto que quase to dos são publicados em português.
A justificativa dessa pesquisa também se embasa no fato de não haver evidências de qualquer estudo que faça uma revisão bibliográfica nas revistas acadêmicas brasileiras em relação às práticas de gestão em micro, pequenas e médias empresas.
Esta pesquisa, por se tratar de uma revisão sistemática da literatura, apresenta configurações específicas em sua discussão, haja vista que o trabalho apresenta, ao longo da sua análise, toda a literatura encontrada de acordo com as restrições metodológicas adotadas. Portanto, a estrutura deste trabalho segue com a introdução, os procedimentos metodológicos, a discussão da literatura encontrada, assim como, as oportunidades para pesquisas futuras e a conclusão.
O artigo está estruturado por tópicos: 1) a introdução; 2) a apresentação do roteiro metodológico; 3) a discussão e a análise dos resultados encontrados na literatura, sendo esse composto por cinco subtópicos, os quais apresentam os respectivos eixos temáticos encontrados nesta pesquisa (sucessos das pequenas empresas, as práticas gerenciais de custos e produção, práticas de gestão como estratégias e planejamento, perfil dos contadores, gestores e empresários, e a internacionalização e exportação nas pequenas empresas); 4) Apresentação das propostas de pesquisas futuras - oportunidades para pesquisas futuras; 5) a conclusão.
2. Roteiro metodológico
Este artigo, por se tratar de uma revisão sistemática da literatura, buscou por critérios concisos e claros para a escolha dos estudos. A revisão sistemática foi definida por Sampaio e Mancini (2007, p. 84) como “uma forma de pesquisa que utiliza como fonte de dados a literatura sobre determinado tema. Esse tipo de investigação disponibiliza um resumo das evidências relacionadas a uma estratégia de intervenção específica, mediante a aplicação de métodos explícitos e sistematizados de busca, apreciação crítica e síntese da informação selecionada”.
As etapas desse tipo de revisão podem ser visualizadas na figura 1.
A partir do que foi demonstrado, nota-se que o estudo foi dividido em oito etapas. A primeira etapa foi definida na introdução com a pergunta de pesquisa proposta e, a segunda foi a definição da base de dados, sendo esses os periódicos brasileiros da temática de gestão apresentados na lista de Periódicos CAPES (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior) do ano de 2012 e atualizada para o ano de 2015.Dessa lista, foram utilizados os periódicos relacionados que incluíam a grande área de administração, contabilidade e turismo (que é considerado dentro do espectro de gestão), com classificação do nível A2 até o nível B4. Como palavras-chave, foram escolhidas as mesmas utilizadas pelos estudos de López e Hiebl (2015), que deveriam constar no título e/ou resumo.
No primeiro grupo, foram inclusos os artigos relacionados à área de micro, pequenas e médias empresas com tais palavras-chave: “pequenos negócios”; “pequenas e médias empresas’’; “PME”; “médias empresas”; “pequena empresa”; “empresa de médio porte”; “firma pequena”; “firma média”; “empresa de tamanho médio”; “pequena companhia”; “empresa de médio porte”; ou “inicialização”.
No segundo grupo, relacionado à gestão e à contabilidade gerencial, foram as palavras-chave: “gerenciamento de contas”; “conta gerencial”; “controle de gestão”; “orçamento”; “medida de desempenho”; “desempenho gerencial”; “avaliação de desempenho”; “custo contábil”; “custo gerencial”; “atividade baseada gerencial”; ou “custo baseado em atividades”.
Na terceira etapa, após definidos os critérios, conduziu-se a realização das buscas iniciais nos periódicos, com análise cautelosa de relevância dos artigos encontrados. Na quarta etapa ocorreu a coleta dos primeiros artigos.
Na quinta etapa, foram estabelecidos os critérios de exclusão, sendo alguns deles baseados no estudo de López e Hiebl (2015). Assim, foram excluídos os artigos que:
Não estavam disponíveis.
Não eram nacionais.
Retratavam temas irrelevantes.
Retratavam temas relativos a empresas grandes.
Na sexta etapa, foram coletados todos os artigos da nossa amostra que totalizaram 140 e foram excluídos 60 de acordo com os métodos estabelecidos, resultando em um total de 80 artigos utilizados. Na sétima etapa, foi elaborada uma planilha no Excel, onde foram elaborados os resumos de cada artigo selecionado no final da sexta etapa (como por exemplo: metodologia, amostra, objetivo). Por fim, tem-se a oitava etapa, que se configurou na identificação das semelhanças temáticas entre os artigos, sendo formados 5 eixos: gestores, empresários e contadores; controle de produção e custos; sucesso empresarial; gestão, estratégia e práticas; e, exportação e internacionalização. Os eixos encontrados podem ser visualizados na figura 2.
3. Discussão e resultados da análise da literatura
Esta seção contempla a discussão dos resultados encontrados no presente estudo, e se divide em dois principais tópicos: as características dos artigos (3.1) e os principais resultados (3.2). Nesse último tópico, são apresentados os resultados da análise, onde foram encontrados 5 subtópicos.
3.1.Características dos artigos
Com base nos 80 artigos que compuseram a amostra, pode ser observado que os artigos foram publicados em 34 revistas diferentes e que 26 deles são de revistas classificadas como Qualis A2 (a segunda melhor classificação de periódicos de acordo com as definições da CAPES), representando 32,5% do total de artigos, mesmo percentual aplicado às revistas classificadas como B1 (tabela 1). Essa classificação Qualis é elaborada com base no nível de citações e critérios das revistas analisadas pela CAPES. As classificações quanto à sua qualidade se apresentam em ordem decrescente de classificação, sendo Qualis A1 e A2 os estratos superiores, e B1, B2, B3, B4 e B5, compõem o segundo estrato de qualificações. As revistas mais qualificadas, segundo a CAPES, são aquelas constantes entre A1 e B2. O último estrato é o C, onde geralmente estão classificadas as revistas com perfil mais técnico e menos acadêmico.
Cabe ainda ressaltar que a revista Análise (Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul - PUCRS) não está mais classificada entre os periódicos de Administração, mas optou-se por permanecer com o seu artigo, visto que no momento da seleção das revistas, a mesma se en quadrava no critério estabelecido.
O periódico que mais publica na área de controle e práticas gerenciais é a Revista de Custos e @gronegócio (B1), com 12 artigos publicados, enquanto a Revista Brasileira de Gestão de Negócios (A2) publicou oito artigos na área. A Revista de Administração da Universidade de São Paulo (RAUSP) também está entre os periódicos que mais publicaram, possuindo sete artigos relacionados. Periódicos como Revista Ciências da Administração, Contabilidade e Organizações, Revista das Micro e Pequenas Empresas (Faculdade Campo Limpo Paulista - FACCAMP) e a Revis ta Iberoamericana de Contabilidad de Gestión publicaram quatro artigos cada.
Esse resultado indica que as práticas gerenciais e estudos voltados aos sistemas de controle das pequenas e médias organizações estão mais presentes em revistas de Administração e pouco evidenciados nas revistas especializadas de Contabilidade.
Já em relação aos métodos de coleta dos dados, verifica-se que 45 artigos utilizam um viés quantitativo (questionários), o que representa mais da metade da amostra (56,25%), enquanto 35 artigos são estudo de caso e utilizam entrevistas, ou, em alguns casos, são pesquisas de caráter exploratório (43,75%).
Dentre os estudos com caráter exploratório, apenas um dos artigos encontrados realiza uma proposta de contro le financeiro voltado para as empresas de pequeno porte no agronegócio (Tung, 1992), e nessa mesma proporção foi encontrado um estudo com a característica de pesquisa -ação (Faria, Freitas e Marion, 2009) que buscou verificar a aplicação de custeio-alvo em uma pequena empresa. Outros estudos, considerados qualitativos em seus mé todos de coleta, combinaram métodos para análise das respectivas amostras, como análise documental e entre vista (Carlini Junior e Fonseca, 2006; Mizumoto, Artes, La zzarini, Hashimoto e Bedê, 2010; Góes, Brugni, Beiruth e Guimarães, 2013) e, análise documental juntamente com dados secundários (Weiss, 2015).
Outro resultado encontrado foi a percepção da tempo ralidade nas publicações. Até os anos 2000 foram publica dos somente 8 artigos (Teixeira, 1982a, 1982b; Guagliardi e Mazzon, 1983; Tung, 1992; Consentino e Erdmann, 1999; Colossi e Duarte, 2000). Entre 2001 e 2010 foram publica dos 37 artigos relacionados ao tema de pequenas e médias empresas, e 36 entre os anos 2010 e janeiro de 2016, in dicando um aumento proporcional de publicações nos úl timos 6 anos. Internacionalmente, esse tema começou a atrair interesse na literatura acadêmica internacional, se gundo Ribeiro, Corrêa e Souza (2012). Isso refletiu um au mento no interesse de pesquisa algumas décadas depois no Brasil, sendo possível observar nesta pesquisa, o au mento considerável nas pesquisas a partir dos anos 2000.
3.2. Principais resultados
Neste subtópico, são consolidados os principais objeti vos e resultados encontrados nos artigos analisados. Paraisso, foi feita uma análise a fim de realizar agrupamentos pela similaridade temática. Assim, foram encontrados 5 eixos temáticos principais, os quais são compostos por mais ou menos trabalhos, conforme figura 3.
3.2.1. Gestores, empresários e contadores
Um eixo temático encontrado foi o relacionado às análises, sendo utilizados como principal objeto de estudo o perfil dos gestores, empresários e contadores nas pequenas empresas. Os principais resultados desses artigos são encontrados na tabela 2.
Os estudos de Teixeira (1981, 1982a, 1982b) tiveram como amostra 53 respondentes, onde no primeiro trabalho o autor encontrou características em comum nessas empresas: fragmentação das atividades do dirigente; falta de planejamento adequado; e muitas práticas não programadas, como reuniões, telefonemas e encontros. Assim, no segundo estudo, o autor consegue realizar proposições para melhorias dos procedimentos adotados pelos gestores a fim de minimizar os problemas comuns nas pequenas organizações.
Já Guagliardi e Mazzon (1983), tendo como amostra 98 pequenas indústrias, identificaram que os gestores possuem um conhecimento mínimo e tendem a adotar práticas diferenciadas de marketing, mas não realizam um plane jamento adequado dessa atividade. Os autores comentam que alguns pequenos empresários tendem até mesmo a realizar pesquisa de mercado e entender seu público-alvo, mas, as informações ficam perdidas no tempo por falta de sistematização, registro e organização.
O trabalho de Carrão, Johnson e Montebelo (2007) sugere uma relação negativa entre as características empreendedoras e o nível de escolaridade dos empresários, no entanto, os resultados dos testes não evidenciaram uma associação estatisticamente significante. Já quanto aos contadores, os estudos de Mazzioni et al. (2007); Miranda et al. (2008) e Moreira et al. (2013b) evidenciam que os contadores são necessários nas empresas, mas ele não oferece todos os serviços potenciais e nem os gestores solicitam tais serviços, como o apoio nos processos gerenciais. Por fim, o estudo de Oliveira et al. (2015) evidencia que os dirigentes atribuem diferentes funções aos administradores e gestores nas diferentes fases de maturidade e existência da empresa (a exemplo, empresas menores tendem a apresentar uma função múltipla do dono da empresa, desempenhando funções de contador, gestor, vendedor, etc.).
3.2.2. Controle de produção e custos
Os resultados também demonstram uma gama de estudos que estão relacionados especificamente, ou majoritariamente, às ferramentas de controle e custos nas pequenas empresas.
A prática de custos é uma das mais utilizadas na gestão da empresa, e muitas vezes utiliza tais informações para conhecimento da produção, tomada de decisões sobre o nível de estocagem e vendas que promovam retorno. Por ser tão intrínseca à operacionalização, é uma das práticas mais básicas e conhecidas pelos gestores (tabela 3).
Em todos os artigos encontrados, é possível observar uma reafirmação do limitado conhecimento e a aplicação das ferramentas relacionadas aos custos. Por vezes, os motivos para acontecimento de tal fato seja a interação familiar (Biasio, Dani, Eckert e Mecca, 2015), ou mesmo a falta de atendimento a um princípio básico da contabilidade, a entidade (Nascimento, Gallon e Fey, 2008).
Alguns desses trabalhos realizam uma proposta prática e apresentam resultados positivos por ocasião da implementação de algum método ou sistema (Cosentino e Erdmann, 1999; Basic e Bortolozzo Júnior, 2007; Torejani e Panosso, 2008; Faria, Freitas e Marion, 2009; Battistussi, Antonelli e Bortoluzzi, 2014).
3.2.3. Sucesso empresarial
Outro grupo detectado, a partir da análise, refere-se ao sucesso empresarial. Apesar de esse tema estar relacionado de alguma forma com os demais subtópicos, os artigos encontrados são facilmente identificados como artigos voltados ao entendimento da manutenção e sucesso das pequenas empresas no mercado (tabela 4).
Esse grupo de estudos apresenta algumas contribuições práticas voltadas para a continuidade da empresa e seu sucesso empresarial. Em um deles, há uma característica comparativa, onde os autores se utilizaram de dados secundários e de questionários, possuindo um total de 1961 observações (Mizumoto et al., 2010). Em todos os casos, é possível observar que as práticas gerenciais, principalmente no que tange à atividade de produção, são relevan tes para a continuidade e sucesso dos negócios estudados.
3.2.4. Gestão, estratégia e práticas
Notavelmente, este tema é o mais encontrado ao realizar uma busca de artigos relacionados à gestão e práticas gerenciais específicas. Embora a própria abrangência do termo práticas gerenciais sugira uma indefinição pela vasta aplicabilidade, foi recorrente a delimitação em áreas como a de custos, controle, estratégia e planejamento.
Nesta seção, os resultados são expostos com seus respectivos autores em duas análises: do período de 1984 - 2010 e 2011 - 2016. Essa segregação se deu pela facilidade na análise dos artigos, visto que a quantidade de artigos nestas revistas é semelhante. Isso demonstra o elevado interesse de publicação dos autores nos últimos 5 anos (tabela 5).
Nos 25 trabalhos encontrados, percebe-se uma predominância pela não utilização das práticas gerenciais pelas pequenas empresas. No entanto, alguns estudos demonstraram resultados diversos como o de Guagliardi e Mazzon (1983), onde os autores verificaram que as práticas de marketing são bem adotadas nas empresas de sua amostra, assim como o de Lima et al. (2010a), onde os autores encontraram que as firmas estudadas (empresas de confecção) apresentam uma gestão que utiliza informações sobre custos e fluxos de caixa. Já Callado et al. (2008) observaram que as empresas analisadas utilizam indicadores na sua gestão.
Ainda em relação aos resultados positivos, há o trabalho de Lima e Imoniana (2008) que constatou uma relação significativa entre a utilização de práticas gerenciais e o processo decisório, indicando a importância que os conhecimentos sobre tais ferramentas influenciam de maneira positiva na gestão. Já o trabalho de Tavares et al. (2009) demonstra a possibilidade de, por vezes, as empresas se rem melhores em determinado nicho de práticas. No estudo realizado por eles, foi observado que as empresas não possuíam boas práticas na gestão de pessoas, enquanto atendiam de modo satisfatório às práticas relacionadas ao marketing e estratégia.
Os resultados encontrados a partir da análise desses 24 artigos (tabela 6), publicados entre 2011 e 2016, demonstram uma perpetuação de achados que, por sua vez, indicam a baixa utilização de ferramentas contábeis e de controle, ou quando utilizam tais ferramentas, não obtém conhecimento suficiente para tomada de decisão.
No entanto, alguns trabalhos encontraram associações positivas. O estudo de Carlos Filho, Lagioia, Santos e Santos (2015) verificou que as empresas de fruticultura no sertão de Pernambuco evidenciam boas práticas de gestão de custos e caixa, mesmo que algumas delas não sejam conhecidas pelos gestores. Essa explicação talvez possa estar relacionada ao fato de boa parte dessas empresas se caracterizarem como exportadoras. Já o trabalho de Fernandes, Antonialli, Costa Filho e Caixeta (2015) evidenciam as contribuições dos sistemas ERP, enquanto Bessi (2015) enfatiza as contribuições da inovação no processo de gestão.
Marassi, Reif e Reis (2015) ainda contribuem nesse sentindo afirmando que consultorias externas provaram ser providenciais nas melhorias de gestão, através de um estudo de caso. Por fim, o estudo de Melo e Leone (2015), utilizando como amostra 49 pequenas indústrias, demonstrou que estas possuem um bom nível de adoção às práticas gerenciais.
Percebe-se também que embora haja agrupamento de artigos em função temporal de sua publicação, não houve mudanças significativas ao longo dos anos nesta área temática.
3.2.5. Exportação e internacionalização
Embora não tenha sido apresentada uma quantidade significativa de artigos com esta temática, os que existem são facilmente categorizados. Os artigos apresentam características específicas de pequenas empresas voltadas à exportação ou internacionalização, conforme tabela 7.
A principal justificativa para a limitada existência de artigos nesta área temática é a reduzida quantidade de pequenas empresas aptas para realizar processos de exportação. Essa realidade tem sido mudada em contextos de desenvolvimento local, como o polo de confecções no estado de Pernambuco, região Nordeste do Brasil, que no ano de 2016 esteve passando por processo de seleção para capacitação de pequenas e médias empresas para estarem aptas à atividade de exportação e internacionalização, em suas etapas iniciais.
4. Oportunidades para pesquisas futuras
Diante dos resultados encontrados, surgem algumas problemáticas a serem discutidas nos futuros estudos.
O contador está preparado para fornecer suporte na to mada de decisão gerencial nas micro e pequenas em presas?
Esse questionamento está relacionado ao fato de que é comum a pouca demanda pelos serviços contábeis gerenciais por parte das empresas, mas não se fala acerca da preparação do contador e o seu interesse em promover aos gestores/empresários tal reflexão e incentivo. Portanto, uma pesquisa que puder aprofundar sobre as habilidades e competências gerenciais dos contadores de micro e pequenas empresas, que em geral são terceirizados, pode fomentar o debate sobre as motivações e os subsídios de informações para os gestores acerca do processo decisório. Essa hipótese pode ser mais fundamentada nos achados encontrados por Vaz e Espejo (2015).
Quando examinados os artigos que delineiam o sucesso empresarial, há sempre uma tendência em relacionar o sucesso com a continuidade ou crescimento da empresa. No entanto, percebe-se que a maioria desses estudos não aborda esse questionamento como parte da análise da pesquisa. Tem-se o conhecimento de que alguns empreendedores possuem divergentes objetivos e motivações ao iniciar um negócio, portanto, relacionar esses fatores com as práticas de gestão pode trazer contribuições. Assim, empresas que talvez planejam rápida expansão e criação de redes tendem a buscar maior conhecimento e prática, e aquelas que existem em função de expectativas estritamente pessoais dos gestores apresentam comportamento distinto.
É comum também observar artigos que teorizam a respeito dos benefícios das práticas gerenciais, no entanto, são limitados os estudos que evidenciam relações concretas com o desempenho ou sucesso da organização, principalmente pela dificuldade em realizar estudos longitudinais. Assim, recomenda-se a elaboração de estudos que possuam amostras maiores a fim de verificar diferenças significativas entre o desempenho e as características das pequenas empresas que adotam tais práticas e das que não adotam.
Outra sugestão de pesquisa reside na exploração das características da gestão das pequenas empresas exportadoras. Algumas delas estão inseridas num contexto de arranjo produtivo local, como é apresentado no trabalho de Carlos Filho et al. (2015), elevando ainda mais a complexidade e relevância de tais empresas.
Alguns estudos abordam as pequenas empresas levando em consideração a influência delas em relação à família. Assim, entender de que forma a família interfere nas práticas gerenciais é também ainda um ponto a ser mais discutido na literatura. Tal influência pode ocorrer na composição da direção e cargos da empresa, por ser a principal fonte de recursos, ou até mesmo pelo objetivo nas sucessões.
5. Conclusão
O objetivo deste estudo foi verificar quais as principais contribuições e achados que os periódicos brasileiros têm evidenciado acerca das práticas gerenciais nas micro e pequenas empresas. Em função disso, foram encontrados 80 artigos, que foram categorizados por semelhanças temáticas.
Foi verificado que as principais contribuições têm sido sobre os sucessos das pequenas empresas, as práticas gerenciais voltadas aos custos e produção, as práticas de gestão como estratégias e planejamento, o perfil dos contadores, gestores e empresários, e a internacionalização e exportação nas pequenas empresas. Como era de se esperar, o maior grupo encontrado foi o relacionado às práticas de gestão das pequenas empresas, que incluíam o planejamento estratégico, sistemas de controle gerenciais, gestão de pessoas e inovação. O segundo maior grupo foi o relacionado ao controle de custos e da produção, que apresentou, assim como no primeiro grupo, resultados que sugerem uma baixa aplicação das ferramentas.
Embora algumas empresas tenham demonstrado conhecer sobre gestão e utilidade de ferramentas, a maioria dos estudos evidencia um baixo nível de conhecimento de práticas de controle e sistematização das empresas, sendo esse um dos motivos indicados como o principal vilão no impedimento ao sucesso das organizações.
Diferentemente do estudo de López e Hiebl (2015), os estudos encontrados no âmbito brasileiro apresentam uma característica mais descritiva, enquanto os estudos internacionais tendem a realizar inferências acerca das práticas de gestão adotadas, como sua influência sobre a família, o tamanho, o setor e outros.
Por fim, esse estudo apresenta diversas sugestões de pesquisas futuras, visando maior aprofundamento dos resultados até então encontrados, inclusive com o incentivo a estudos com maiores contribuições metodológicas e mais robustez em testes estatísticos, permitindo maior signifi cância nas relações encontradas.