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Avances en Psicología Latinoamericana

Print version ISSN 1794-4724On-line version ISSN 2145-4515

Av. Psicol. Latinoam. vol.42 no.1 Bogotá Jan./Apr. 2024  Epub Sep 20, 2024

https://doi.org/10.12804/revistas.urosario.edu.co/apl/a.10902 

Artículos

Impactos do distanciamento social devido a pandemia da Covid-19: qualidade conjugal e desejo de separação

Impactos del distanciamiento social debido al Covid-19: calidad conyugal y deseo de separación

Impacts of Social Distancing due to the Covid-19 Pandemic: marital Quality and Desire for Separation

Angélica Paula Neumann1 
http://orcid.org/0000-0001-5888-0360

Fabrício de Andrade Rocha2 
http://orcid.org/0000-0002-0439-1016

Marina Zanella Delatorre2 
http://orcid.org/0000-0002-8475-6213

Adriana Wagner2 
http://orcid.org/0000-0002-0629-2310

1Departamento de Ciências Humanas, Universidade Regional Integrada do Alto Uruguai e das Missões, Campus de Erechim

2Programa de Pós-Graduação em Psicologia, Universidade Federal do Rio Grande do Sul


Resumo

Investigou-se o papel preditor do distanciamento social devido à pandemia da Covid-19 na qualidade conjugal e no relacionamento, assim como o papel moderador de variáveis contextuais, diádicas e individuais na interação entre tempo de distanciamento e desejo pela separação. Responderam ao instrumento 640 participantes, entre junho e julho de 2020. O distanciamento social não predisse a qualidade conjugal ou as mudanças na relação durante a pandemia, exceto pela vontade de separação. Quanto menos satisfação conjugal, resolução positiva dos conflitos e diferenciação de self, e quanto mais frequentes os conflitos, mais forte foi a relação entre tempo de distanciamento social e vontade de separação. Casais com melhores recursos individuais e conjugais se mostraram mais aptos para manejar as adversidades do contexto pandémico.

Palavras-chave: Covid-19; distanciamento social; qualidade conjugal; resolução de conflitos; diferenciação de self

Resumen

Se investigó el papel predictor del distanciamiento social por la pandemia de Covid-19 en la calidad marital y en la relación, así como el papel moderador de variables contextuales, diádicas e individuales en la interacción entre el tiempo de distanciamiento y el deseo de separación. Seiscientos cuarenta participantes respondieron al instrumento entre junio y julio de 2020. El distancia-miento social no predijo la calidad marital ni cambios en la relación durante la pandemia, salvo el deseo de separarse. Cuanto menor fue la satisfacción conyugal, la resolución positiva de conflictos y la diferenciación del sí mismo, y cuanto más frecuentes fueron los conflictos, más fuerte fue la relación entre el tiempo de distanciamiento social y el deseo de separarse. Las parejas con mejores recursos individuales y matrimoniales se mostraron en mejores condiciones de afrontar las adversidades del contexto pandémico.

Palabras clave: Covid-19; distanciamiento social; calidad marital; resolución de conflictos; diferenciación del sí mismo

Abstract

The predictive role of social distancing due to the Covid-19 pandemic for marital quality and the relationship was investigated as well as the moderating role of contextual, dyadic and individual variables in the interaction between time of social distancing and desire for separation. Six hundred forty participants responded to the instruments between June and July 2020. Social distancing did not predict marital quality or changes in the relationship during the pandemic, except for the desire for separation. The less marital satisfaction, positive resolution of conflicts and differentiation of self, and the more frequent the conflicts were, the stronger was the relationship between time of social distancing and the desire for separation. Couples with better individual and marital resources managed more properly the adversities of the pandemic context.

Keywords: Covid-19; social distancing; marital quality; conflict resolution; differentiation of self

A pandemia derivada da disseminação global do vírus Sars-CoV-2 trouxe uma série de repercussões mundiais, não apenas do ponto de vista da saúde, mas também da reverberação social das medidas sanitárias adotadas para conter a sua propagação. Entre essas medidas, o distanciamento social é uma estratégia destinada a reduzir a interação entre pessoas em comunidades nas quais alguns indivíduos podem estar contaminados, mesmo sem a manifestação de sintomas. Pode incluir o fechamento de escolas, comércio, eventos, entre outros (Wilder-Smith & Freedman, 2020). No Brasil, uma parcela da população aderiu ao distanciamento social domiciliar voluntário, sendo que o índice de distanciamento no Brasil alcançou o pico de 62,2 % em 22 de março de 2020 e variou entre 3 % e 55 %, aproximadamente, de abril a julho (InLoco, 2020).

A restrição das atividades presenciais em vários setores da economia desencadeou uma crise que teve como efeito a redução da renda das famílias (Moreira, 2020). A taxa de desocupação entre os brasileiros subiu de 11,8 % em fevereiro (Hecksher, 2020) para 13,7 % em julho de 2020, oscilando desde então. Estima-se que o impacto dessas perdas de ocupação e renda seja, aproximadamente, duas vezes maior para os estratos socioeconómicos mais baixos em comparação aos estratos superiores (Moreira, 2020).

Essa situação tende a fragilizar as famílias e os casais, já que tanto o temor de contaminação e de perda de entes queridos como o desemprego e a queda de rendimentos aumentam o estresse familiar. Por se tratar de um problema que atinge a sociedade como um todo, as redes de apoio provenientes do contexto em que as famílias se encontram também ficam enfraquecidas (Prime et al., 2020). O afastamento do emprego e o trabalho remoto podem provocar, ainda, mudanças na dinâmica familiar, uma vez que há um aumento no tempo de convivência diária, com poucas possibilidades de atividades fora do ambiente familiar. No caso do trabalho remoto, também há a necessidade de acomodar as necessidades de tempo e de atenção de cada indivíduo, bem como de compartilhar o ambiente entre família e trabalho, especialmente para casais com filhos que também estão em escolarização remota (Coyne et al., 2021; Craig & Churchill, 2021).

Os reflexos dessa situação nas relações conjugais apareceram inicialmente na China, primeiro epicentro da doença no mundo, onde houve recorde nos pedidos de divórcio após o relaxamento das medidas de distanciamento social. No Brasil, houve um aumento de 177 % na procura por escritórios especializados em direito de família e divórcios, além de um acréscimo nas buscas do Google já nos meses de março e abril de 2020 sobre como dar entrada no divórcio (82 %) e divórcio on-line gratuito (9900 %), respectivamente (Neves, 2020). Diferentes órgãos governamentais, como o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística e o Colégio Notarial do Brasil-Conselho Federal, entidade representativa dos cartórios no país, confirmaram aumentos significativos no número de divórcios no segundo semestre de 2020 (Santos, 2021).

O contexto de vulnerabilidade provocado pela pandemia da Covid-19 aumenta o risco de dificuldades de comunicação, de resolução de conflitos e de manutenção da coesão e do compromisso com a relação (Prime et al., 2020; Stanley & Markman, 2020). Apesar disso, investigações preliminares sobre as reverberações da Covid-19 nas relações conjugais apontam que não houve deterioração da dinâmica conjugal (Sachser et al., 2021; Stanley & Markman, 2020; Williamson, 2020). Para alguns casais, a convivência mais intensa e a necessidade de cooperação para lidar com a ameaça representada pelo vírus podem ter gerado maior sensação de intimidade e de compromisso com o relacionamento. Para outros, a mesma situação é fonte de estresse, conflitos e consideração de divórcio (Evans et al., 2020; Fernandes et al., 2021). Dessa forma, a dinâmica relacional prévia parece ter um papel importante na forma como a pandemia impacta na conjugalidade (Evans et al., 2020; Stanley & Markman, 2020; Williamson, 2020).

Ainda que sejam resultados preliminares, esses achados possivelmente refletem a diversidade de fatores envolvidos nas relações de casal. A literatura demonstra que a qualidade conjugal é influenciada pela interação dinâmica entre variáveis contextuais, características individuais dos cónjuges e processos adaptativos envolvidos no relacionamento (Delatorre & Wagner, 2021; Karney & Bradubury, 1995). O modelo denominado "vulnerabilidade, estresse e adaptação" (vulnerabiliy, stress and adaptation model - VSA) foi desenvolvido na década de 1990 e integra três classes de variáveis que influenciam no desenvolvimento conjugal. Essas variáveis são: a) os eventos estressantes da vida que os casais vivenciam; b) as vulnerabilidades individuais e duradouras que cada cónjuge traz para o relacionamento e c) os processos adaptativos dos quais os casais lançam mão para lidar com circunstâncias difíceis. Esse modelo propõe que os casais precisam se adaptar a uma variedade de eventos e circunstâncias estressantes ao longo da vida, e que a capacidade do casal de se adaptar depende do grau de estresse que eles vivenciam e das vulnerabilidades que cada um traz para o relacionamento. As experiências acumuladas sobre o seu processo adaptativo gradualmente influenciam na percepção acerca da sua qualidade conjugal, o que contribui para a estabilidade do relacionamento (Karney & Bradubury, 1995). Assim, pode-se pensar que eventos contextuais estressantes, como a pandemia da Covid-19 e, em consequência, a adoção das medidas de distanciamento, têm repercussões diversas nos processos adaptativos entre o casal, de acordo com as peculiaridades do contexto em que estão inseridos e dos recursos e vulnerabilidades individuais dos cónjuges.

No que diz respeito aos fatores contextuais, há evidências de associações entre qualidade conjugal e apoio social e conjugal (Reifman & Niehuis, 2018), cultura (Fellows et al., 2016) e dificuldades financeiras (Kelley et al., 2018). Assim, a magnitude do impacto da pandemia da Covid-19 na conjugalidade pode apresentar uma ampla variação de acordo com a existência de desafios decorrentes da própria pandemia, como a perda de emprego, as dificuldades financeiras, o adoecimento de membros da família, entre outros, e de fatores contextuais prexistentes, como a vulnerabilidade social e a disponibilidade de apoio (Pietromonaco & Overall, 2021).

Em termos de processos adaptativos, há associações bem estabelecidas na literatura entre a comunicação (Lavner et al., 2016) e as estratégias de resolução de conflitos (Delatorre & Wagner, 2019; Overall & McNulty, 2017) com a qualidade conjugal. Esses estudos mostram que estratégias de resolução de conflitos que envolvem comunicação direta, validação, negociação e a busca por um acordo estão associadas à maior qualidade conjugal, enquanto o afastamento do conflito, a culpabilização, os insultos e a postura defensiva se associam à menor qualidade do relacionamento.

O papel dos processos adaptativos entre o casal, bem como de características individuais dos cónjuges, na satisfação com o relacionamento no contexto da pandemia e do distanciamento social tem sido demonstrado em estudos preliminares sobre o tema, embora os resultados dos estudos sejam heterogêneos. Por exemplo, um estudo americano comparou dados de 654 pessoas que estavam em um relacionamento amoroso antes e depois da pandemia (Williamson, 2020). Os resultados demonstraram que, em média, a satisfação conjugal não diminuiu após o início da pandemia, mesmo levando em conta os dados sociodemográficos dos participantes, as experiências negativas resultantes da pandemia, o tempo de relacionamento e a situação conjugal. Contudo, houve um efeito de moderação dos níveis de coping e de conflito, sendo que participantes com baixos níveis de coping e altos níveis de conflito experimentaram queda na satisfação conjugal, enquanto o resultado oposto foi observado quando os níveis de coping eram altos e os de conflito eram baixos. A autora destaca que os participantes que sofreram declínio na satisfação conjugal já apresentavam um escore abaixo do ponto de corte, que indica a existência de problemas relacionais desde antes da pandemia. Outro estudo, que investigava uma amostra de 3.593 participantes de 57 países, demonstrou uma associação entre os estressores relacionados à Covid-19 com maior incidência de conflitos com o parceiro e menor satisfação conjugal, sendo essa associação atenuada quando havia percepção de maior responsividade do parceiro (Balzarini et al., 2020).

No que diz respeito às características e vulnerabilidades específicas de cada cônjuge, a diferenciação de self pode ser compreendida como a capacidade que um indivíduo possui de diferenciar-se emocionalmente dos outros, adquirindo autonomia emocional (Bowen, 1991). Estudos mostram que níveis elevados de diferenciação de self estão associados a melhores indicadores de satisfação conjugal (Bartle-Haring et al., 2019). Além disso, indivíduos com níveis elevados de diferenciação de self também demonstram ter mais condições para proteger o relacionamento do estresse advindo de eventos externos (Finzi-Dottan & Kormosh, 2018).

Dessa forma, os estressores associados à pandemia da Covid-19 podem aumentar a vulnerabilidade dos casais, embora as implicações desses estressores na conjugalidade também dependam dos recursos dos quais o casal dispõe, das características individuais dos parceiros e dos riscos aos quais está exposto (Silva et al., 2020). Nesse sentido, compreender as relações entre diferentes aspectos das medidas de distanciamento social e a vivência da conjugalidade durante a pandemia, considerando a realidade da população brasileira, é fundamental para auxiliar casais que enfrentam as reverberações dessas medidas no relacionamento. Assim, este estudo buscou verificar o papel preditor do distanciamento social na qualidade conjugal e em mudanças autodeclaradas no relacionamento conjugal devido à pandemia, e o papel moderador da satisfação conjugal, do contexto, dos processos adaptativos de resolução de conflito e da variável individual diferenciação de self na interação entre tempo de distanciamento social e desejo pela separação.

Método

Participantes

Originalmente, um total de 1.122 indivíduos responderam aos instrumentos, sendo 77.1 % (n = 865) mulheres. Devido à discrepância no percentual de respostas entre os gêneros, realizou-se uma randomização dos participantes na proporção de 60 % de mulheres e 40 % de homens. Assim, a amostra final deste estudo está formada por 640 participantes (384 mulheres e 256 homens), com média de idade de 36 anos (DP = 11.75), variando entre 18 e 80 anos. Os participantes se declararam heterossexuais (85.3 %; n = 546), homossexuais (7.6 %; n = 48) ou bissexuais (6.1 %; n = 39), e todos coabitavam com seus parceiros no momento da pesquisa há, em média, 9.49 anos (DP = 9.88), sendo que 47.4 % eram casados oficialmente (n = 303). A maior parte da amostra estava em primeira união (78.3 %; n = 501) e não tinha filhos (55.8 %; n = 357), embora aqueles com prole tinham, em média, 1,75 filhos (DP = 0.95).

No que tange à escolaridade, 68.7 % tinham nível superior (n = 440), sendo que 42 % da amostra possuía pós-graduação completa (n = 269). Os rendimentos individuais mensais médios dos participantes foram de R$ 5.802,58, com grande variabilidade (DP = R$ 7.509,12), e a renda média dos seus parceiros(as) foi de R$ 5.612,49 (DP = R$ 8.158,34).1 A carga horária semanal de trabalho foi de, em média, 37h (DP = 13,12h). Apesar de a maior parte dos participantes residir na região Sul do país, eles estavam distribuídos em pelo menos 22 estados brasileiros, contemplando todas as regiões.

Instrumentos

Questionário sociodemográfico e contextual

Desenvolvido pelos pesquisadores a fim de caracterizar os participantes no que tange a sexo, idade, condição amorosa, tempo de coabitação, orientação sexual, relacionamentos anteriores, filhos, tempo dedicado ao trabalho, renda e escolaridade. Foi utilizado para coletar informações sobre o contexto de vida durante a pandemia, considerando a vivência do distanciamento social, os impactos socioeconómicos decorrentes da pandemia, as condições de risco em termos de saúde relacionados à Covid-19 e as possíveis mudanças no relacionamento nesse período.

Para avaliar a vivência do distanciamento social pelos participantes, foram desenvolvidas as seguintes questões: "Assinale o quanto você deixou de fazer atividades que usualmente fazia fora de casa" (1 - não deixei de fazer nada; 5 - deixei de fazer todas as atividades que fazia fora de casa); "Em média, quantas vezes por semana você tem saído/saiu de casa no período de isolamento social?" e "Por quanto tempo você está ou ficou em distanciamento social? (avaliados em dias)". Os participantes também caracterizaram o seu período de distanciamento social devido ao coronavírus optando entre uma das seguintes opções: "Não estou/estive em isolamento social e minha rotina não sofreu alterações"; "Sigo/segui trabalhando fora de casa com carga horária normal, mas não tenho realizado/não realizei outras atividades que fazia antes (reuniões sociais, visitação de amigos e familiares etc.)"; "Saio/saía de casa apenas para atividades essenciais, como supermercado, farmácia etc. e eventualmente para alguma outra atividade que não é/era considerada essencial (esporte, visitação de familiares, fazer compras)"; "Saio/saía apenas para atividades essenciais, como supermercado, farmácia etc."; "Desde que a pandemia iniciou, praticamente não saio/saí de casa para nada".

Para investigar mudanças no relacionamento durante a pandemia, foram coletados índices autodeclarados, medidos por meio de itens únicos em escala Likert de 1 a 5, relacionados à qualidade da relação durante a pandemia (1 - piorou; 5 - melhorou), a conflitos com o cônjuge (1 = não aumentaram nada; 5 - aumentaram muito), à vontade de se separar durante o período de distanciamento social (1 - não pensou em se separar; 5 - pensou com muita frequência), a manifestações de carinho e de afeto (1 - diminuíram muito; 5 - aumentaram muito) e à frequência das relações sexuais (1 - diminuiu muito; 5 - aumentou muito).

Escala de Qualidade Conjugal - EQC (Delatorre & Wagner, 2022)

Avalia a qualidade do relacionamento conjugal através de 29 itens distribuídos em cinco dimensões: satisfação - avaliação global do relacionamento em termos afetivos e cognitivos; compromisso - engajamento de cada membro do casal no relacionamento, incluindo assumir responsabilidades, cumprir acordos e apoiar o(a) parceiro(a); intimidade - proximidade, conexão, pertencimento e abertura emocional entre os cónjuges; atração e sexo - atração física, excitação e desejo sexual em relação ao parceiro(a); e carinho e afeto - sentimento de afeição pelo(a) parceiro(a), expresso por demonstrações físicas de carinho, afeto e cuidado. Os itens são pontuados por meio de uma escala Likert, variando entre 1 (não representa quase nada) e 6 (representa muito), sendo calculadas as médias dos itens que correspondem a cada dimensão. Os alfas de Cronbach e ómegas de Mcdonald foram satisfatórios para as dimensões "satisfação" = 0.97; ω = 0.97), "intimidade" = 0.93; ω = 0.93), "atração e sexo" = 0.92; ω = 0.92), "carinho e afeto" = 0.92; ω) = 0.92), e "compromisso" = 0.86; ω = 0.86).

Escala de Conflito Conjugal (Buehler & Gerard, 2002 , traduzida e adaptada para o português brasileiro por Mosmann, 2007)

É constituída por duas subescalas. A primeira avalia a frequência de desentendimentos com o parceiro(a) em uma escala Likert de 6 pontos (nunca, uma vez ao mês ou menos, diversas vezes ao mês, aproximadamente uma vez por semana, diversas vezes por semana, quase todos os dias). Originalmente avalia seis motivos de conflito, porém os motivos listados foram ampliados para 17, conforme estudos anteriores (Neumann et al., 2018). A segunda subescala avalia a intensidade dos conflitos conjugais em três itens, pontuados em escala Likert de 5 pontos (nunca, raramente, algumas vezes, frequentemente, sempre). Os escores maiores representam altos níveis de conflito.

Inventário de Estilos de Resolução de Conflitos (Conflict Resolution Styles Inventory; Kurdek, 1994 , traduzido e adaptado para o português brasileiro por Scheeren et al., 2014 , e validado por Delatorre et al., 2017)

Avalia quatro estilos de resolução de conflitos conjugais: resolução positiva dos problemas (uso de negociação, α = 0.80; ω = 0.80); envolvimento no conflito (uso de ataques pessoais e perda de controle, α = 0.83; ω = 0.83); afastamento (uso de recusa ao diálogo, α = 0.82; ω = 0.82) e submissão (uso de desistência em defender a sua posição, α = 0.74; ω = 0.74). Possui 16 itens medidos em escala Likert de 5 pontos (1 - nunca e 5 - sempre).

Inventário de Diferenciação do Self- Revisto (Differentiation of Self Inventory - Revised; Skowron & Schmitt, 2003 , validado para Portugal por Major et al., 2014 , e adaptado para o português brasileiro por Fiorini, 2017)

Investiga a diferenciação de self em adultos a partir da avaliação das suas relações significativas com a família de origem e com as relações atuais, por meio de uma escala Likert de 6 pontos (1 - nada verdadeira; 6 - muito verdadeira). Os 46 itens são divididos em quatro dimensões: reatividade emocional α = 0.85; ω = 0.86) - mensura a tendência para responder aos estímulos ambientais com base em respostas emocionais automáticas, com labilidade emocional; fusão com outros α = 0.75; ω = 0.70) - avalia o superenvolvimento emocional com os outros significativos, dependência e necessidade de aprovação; posição do eu α = 0.78; ω = 0.74) - distingue um sentido claro e definido do self e a capacidade de manter as próprias crenças e convicções, mesmo quando pressionado a fazer o contrário; e corte emocional α = 0.82; ω = 0.80) - avalia o medo da intimidade e o uso consequente de defesas que estabelecem distanciamento emocional e comportamental em relação aos outros. Em todas as subescalas, os valores mais altos refletem maior diferenciação de self, isto é, menos reatividade emocional, menos corte emocional, menos fusão com os outros e mais posições de eu.

Procedimentos Éticos e de Coleta de Dados

Os dados foram coletados de forma on-line por meio da plataforma Survey Monkey em junho e julho de 2020. A amostra foi formada por conveniência, por meio de convites enviados por e-mail, mensagens de texto e redes sociais. Os participantes puderam indicar outros possíveis respondentes, o que caracterizou o método snowball sampling. O critério de inclusão era estar morando com o(a) parceiro(a) amoroso(a) no momento da pesquisa. Na página inicial do formulário on-line, constava o termo de ciência para questionário anónimo, o qual prestava informações sobre a pesquisa e assegurava o anonimato. Os participantes precisaram selecionar a alternativa "Concordo com os termos e aceito responder ao questionário" para prosseguir. O estudo foi aprovado por Comitê de Ética em Pesquisa (n.° do processo: 4.063.196).

Procedimentos de Análise dos Dados

A fim de testar se o distanciamento social diminui os indicadores de qualidade conjugal, os participantes foram divididos em dois grupos: aqueles que estavam em distanciamento social mais rígido (aqueles que não saíam de casa ou saíam apenas para atividades essenciais e, eventualmente, para alguma atividade não essencial, n = 431) e aqueles que não estavam em distanciamento social ou estavam de modo mais flexível (trabalham fora de casa, mas deixaram de fazer outras atividades que faziam antes, n = 209). Após a sondagem dos pressupostos estatísticos, foi conduzida uma análise de variâncias (Anova) para verificar se há diferença significativa nos índices de qualidade conjugal, conforme a EQC, entre os dois grupos.

Para testar se o distanciamento social revela e amplia problemas conjugais preexistentes, utilizou-se a amostra original, isto é, os 640 sujeitos. Analisados os pressupostos, realizou-se uma série de análises de regressão linear múltiplas para verificar se os indicadores de distanciamento social são preditores dos índices de qualidade conjugal e de mudanças autodeclaradas no relacionamento conjugal durante a pandemia. Para tal, os três índices de distanciamento social (o quanto deixou de fazer atividades fora de casa, quantas vezes por semana sai de casa e o tempo de distanciamento social) foram lançados simultaneamente como preditores de cada um dos cinco índices da EQC e de cada uma das cinco mudanças autodeclaradas no relacionamento durante a pandemia.

A partir destes resultados, realizou-se uma análise de moderação, utilizando-se a função moderate.lm do pacote QuantPsyc do software R, com o objetivo de verificar o efeito moderador da satisfação conjugal sobre a relação entre tempo de distanciamento social e vontade de separação. Verificou-se também o efeito moderador de variáveis do contexto, dos processos adaptativos e dos recursos individuais sobre a relação entre tempo de distanciamento social e vontade de separação, utilizando-se a mesma função do software R. No que tange ao contexto, foram investigadas as seguintes variáveis: intensidade de conflitos conjugais; frequência média de conflitos conjugais; ter sido considerado suspeita ou diagnóstico positivo para Covid-19; pertencer ao grupo de risco para Covid-19; desemprego, atraso de salário e diminuição de clientela do prestador de serviço. No que diz respeito aos processos adaptativos, foram testados os quatro estilos de resolução de conflitos: resolução positiva, envolvimento no conflito, afastamento e submissão. Já o efeito da individualidade foi testado a partir das quatro dimensões da diferenciação do self: reatividade emocional, fusão com outros, posição do eu e corte emocional.

O software utilizado para a análise dos dados foi o R versão 4.0.4.

Resultados

A análise dos itens autodeclarados que avaliavam mudanças na relação conjugal durante os cinco primeiros meses da pandemia sinaliza que, nesse período, a maioria dos participantes não experimentou prejuízos na relação. Pouco mais de um terço (38.1 %) declarou que a qualidade da relação não melhorou nem piorou nesse período, e 14.5 % relataram que a qualidade da relação piorou. Quanto à vontade de separação, 69.1 % afirmaram não ter pensado em se separar durante o confinamiento imposto pela pandemia.

O resultado da Anova demonstrou que não há diferenças significativas em nenhum dos índices de qualidade conjugal entre o grupo que estava em distanciamento social mais rígido e o grupo que estava em regime mais flexível ou sem confinamiento [satisfação conjugal - F(1, 638) = 0.017; p = 0,897; intimidade-F(1, 638) = 0.020; p = 0.887; atração e sexo - F(1, 638) = 0.235; p = 0.628; carinho e afeto - F(1, 638) = 1.219; p = 0.270; compromisso - F(1, 638) = 0.030; p = 0.863]. Não se pode, portanto, afirmar que as pessoas que estavam em confinamiento mais rígido tiveram prejuízos no relacionamento como resultado das medidas de distanciamento social.

A Tabela 1 apresenta os resultados das regressões lineares múltiplas que buscaram verificar se os índices de distanciamento social eram preditores da qualidade conjugal e dos índices autodeclarados de mudanças no relacionamento conjugal durante a pandemia. Nenhum dos indicadores de distanciamento social predisse significativamente os índices de qualidade conjugal, confirmando que não há influência do confinamiento sobre tal aspecto da relação. Quanto às mudanças autodeclaradas na relação conjugal, encontrou-se uma relação significativa entre tempo de distanciamento social e vontade de separação [Modelo: F(3,627) = 4,538; p < 0.01, R2 = 0.02; Interação: β = 0.004; p < 0.01]. Este resultado indica que, quanto maior o tempo de confinamiento, maior foi a vontade de separação.

Tabela 1 Regressões lineares múltiplas com índices de distanciamento social como preditores de qualidade conjugal e de mudanças autodeclaradas durante a pandemia 

O quanto deixou de fazer atividades fora de casaa Quantas vezes por semana sai de casaa Tempo de distanciamento sociala
EQC b 0 b 1 b 1 b 1 r 2
Satisfação 5.08 *** 0.033 -0.013 -0.002 0.004
Intimidade 4.94 *** 0.022 0.001 -0.000 0.000
Compromisso 5.13 *** 0.031 0.004 0.000 0.001
Carinho e afeto 4.94 *** 0.007 0.025 0.000 0.002
Atração e sexo 4.67 *** 0.026 0.017 0.000 0.001
Mudanças autodeclaradas
Qualidade da relação 3.33 *** 0.027 -0.012 0.000 0.002
Vontade de separar 1.02 *** 0.058 0.034 0.004 ** 0.021
Conflitos e brigas 3.01 *** -0.055 0.005 0.001 0.003
Manifestações de carinho e afeto 3.23 *** 0.045 0.002 0.001 0.004
Frequência de relações sexuais 3.04 *** -0.007 -0.008 -0.001 0.001

a Variáveis preditoras; b 0 - intercepto da regressão; b 1 - coeficiente angular

* p < 0.05; ** p < 0.01; *** p < 0.001

Para explicar melhor esse achado, foi realizada uma série de análises de regressão, em que foram testados os efeitos de moderação da satisfação conjugal e de variáveis estressoras contextuais, dos processos adaptativos e de recursos/vulnerabilidades individuais na relação entre tempo de distanciamento social e vontade de separação. A satisfação conjugal foi utilizada nesta análise partindo da inferência de que essa variável é um reflexo da qualidade geral da relação.

No primeiro modelo, foram inseridos o tempo de distanciamento social, a satisfação conjugal e a interação entre essas variáveis como preditores da vontade de separação. O modelo foi significativo [F(3, 628) = 267.8; p < 0.001), R 2 = 0.561] e demonstrou que houve interação significativa entre o tempo de distanciamento social e a satisfação conjugal (β = -0.002;p < 0.01), sugerindo que a satisfação conjugal modera a relação entre tempo de distanciamento social e vontade de separação. No que diz respeito aos conflitos, houve interação significativa entre a frequência média dos conflitos conjugais e o tempo de distanciamento social na predição da vontade de separação [Modelo: F(3, 628) = 74.13; p < 0.001, R2 = 0.26; Interação: β = 0.005; p < 0.001], mas não entre a intensidade dos conflitos e o tempo de distanciamento social. Nenhuma das interações entre tempo de distanciamento social e variáveis de contexto de saúde e de trabalho foi significativa na predição da vontade de separação. Quanto aos processos adaptativos, o tempo de distanciamento social teve interação significativa com a resolução positiva de conflitos [Modelo: F(3, 617) = 35.07; p < 0.001; R2 = 0.146; Interação: β = -0.001; p < 0.01], mas não com o envolvimento no conflito, o afastamento e a submissão. Finalmente, no que tange à individualidade, o tempo de distanciamento social apresentou interação significativa com a fusão com o outro [Modelo: F(3, 628) = 10.31; p < 0.001; R2 = 0.047; Interação: β = -0.0024; p < 0.05], com a reatividade emocional [Modelo: F(3,628) = 19.96; p < 0.001; R2 = 0.087; Interação: β = -0.002; p < 0.05] e com o corte emocional [Modelo: F(3,628) = 42.5;p < 0.001; R2 = 0.169; Interação: β = -0.003; p < 0.01] na predição da vontade de separação. Não houve interação significativa entre o tempo de distanciamento social e a posição do eu, enquanto preditores da vontade de separação.

Na sequência, foram realizadas análises de moderação (Tabela 2 e Figura 1) para investigar todas as interações estatisticamente significativas. As análises indicaram que, quanto menores os índices de satisfação conjugal, resolução positiva dos conflitos e diferenciação do self, e quanto maior a frequência dos conflitos, mais forte foi a relação entre o tempo de distanciamento social e a vontade de separação. Em contrapartida, essa relação desaparece quando há altos níveis de satisfação conjugal (+1SD), baixa frequência de conflitos conjugais (-1SD) e quando as pessoas são altamente diferenciadas (+1SD), ou seja, o tempo de distanciamento social não impactou significativamente na vontade de separação desses participantes.

Tabela 2 Efeitos moderadores significativos sobre a relação entre vontade de separação e tempo de distanciamento social 

Vontade de separação * Tempo de distanciamento social
b 0 b 1 EP IC 95 %
Satisfação conjugala
Alta (+1SD) 0.812 0.000 0.001 -0.002 0.002
Média 1.669 0.003*** 0.001 0.001 0.004
Baixa (-1SD) 2.525 0.005*** 0.001 0.003 0.008
Frequência de conflitosa
Alta (+1SD) 2.639 0.011*** 0.002 0.007 0.015
Média 1.676 0.004*** 0.001 0.002 0.006
Baixa (-1SD) 0.714 -0.003 0.002 -0.007 0.001
Resolução positiva de conflitosa
Alta (+1SD) 1.530 0.004*** 0.001 0.002 0.006
Média 1.672 0.005*** 0.001 0.003 0.007
Baixa (-1SD) 1.814 0.006*** 0.001 0.004 0.008
Fusão com os outrosa
Alta (+1SD) 1.405 0.000 0.002 -0.004 0.004
Média 1.669 0.004*** 0.001 0.001 0.006
Baixa (-1SD) 1.934 0.007*** 0.002 0.003 0.010
Reatividade emocionala
Alta (+1SD) 1.313 0.001 0.002 -0.003 0.004
Média 1.667 0.004*** 0.001 0.001 0.006
Baixa (-1SD) 2.022 0.007*** 0.002 0.003 0.010
Corte emocionala
Alta (+1SD) 1.028 0.000 0.002 -0.004 0.003
Média 1.668 0.004*** 0.001 0.002 0.006
Baixa (-1SD) 2.307 0.007*** 0.002 0.004 0.010

a Variáveis preditoras; b0 - intercepto da regressão; b1 - coeficiente angular; EP - erro-padrão; IC - intervalo de confiança; * p < 0.05; ** p < 0.01; *** p < 0.001

Figura 1 Gráficos dos efeitos moderadores significativos sobre a relação entre vontade de separação e tempo de distanciamento social 

Discussão

Este estudo buscou verificar o papel preditor do distanciamento social decorrente da pandemia da Covid-19 na qualidade conjugal e em mudanças autodeclaradas no relacionamento. Por si só, o distanciamento social não se configurou como um preditor dos índices de qualidade conjugal ou das mudanças no relacionamento durante a pandemia, com exceção da vontade de separar-se do(a) parceiro(a). Diante disso, tomando com base o modelo VSA (Karney & Bradbury, 1995), investigou-se o papel moderador da satisfação conjugal, de estressores contextuais, dos processos adaptativos de resolução de conflitos e da variável individual diferenciação de self na interação entre tempo de distanciamento social e vontade de se separar. A satisfação conjugal, a frequência média de conflitos, a estratégia de resolução positiva dos conflitos e a diferenciação de self foram variáveis moderadoras dessa interação.

O tempo de distanciamento social, por si só, não foi um preditor de mudanças nos indicadores de qualidade conjugal testados. Da mesma forma, o distanciamento social não predisse mudanças autodeclaradas na qualidade da relação, na percepção de conflitos com o cônjuge, nas manifestações de carinho e de afeto e na frequência das relações sexuais durante a pandemia. É possível que esse resultado se deva à grande variedade de experiências relacionais vivenciadas nesse período. Estudos evidenciam que uma parcela das pessoas vivenciou melhoras no relacionamento, outras não perceberam mudanças e outras, ainda, se depararam com sérios problemas relacionais após o início da pandemia (Evans et al., 2020; Fernandes et al., 2021; Schmid et al., 2021; Williamson, 2020). Em nosso estudo, cerca de 30 % da amostra cogitou separar-se nos meses iniciais da pandemia. Essa foi a única variável testada que foi predita pelo tempo de distanciamento social, porém com um baixo valor explicativo.

Estudos preliminares indicaram que a dinâmica relacional prévia tem um papel importante na forma como a pandemia impacta na conjugalidade (Evans et al., 2020; Stanley & Markman, 2020; Williamson, 2020). Considerando que a satisfação conjugal não foi predita pelo tempo de distanciamento social, que não houve diferenças na qualidade conjugal entre os participantes que estavam em distanciamento social mais rígido e mais flexível, e que a satisfação conjugal é um indicativo da qualidade global do relacionamento, optou-se por testar o papel moderador da satisfação conjugal na interação entre o distanciamento social e a vontade de separação. Nos indivíduos com níveis altos de satisfação conjugal, a vontade de separar-se não foi impactada pelo tempo de distanciamento social. Ao contrário, entre aqueles com baixos níveis de satisfação com o relacionamento, quanto maior o tempo de distanciamento, maior foi o desejo de separar-se do(a) parceiro(a). A sensação de isolamento social foi considerada um preditor significativo da diminuição do compromisso com o relacionamento em um estudo multinacional realizado entre março e abril de 2020 (Balzarini et al., 2020). De acordo com Lebow (2020), a situação de confinamiento cria limites mais rígidos entre a família nuclear e o mundo externo, diminuindo as interações sociais e o apoio social que, anteriormente, amenizavam de alguma forma as tensões relacionais. Dessa forma, sem os escapes do contexto extrafamiliar, a ideia da separação parece ganhar espaço, como uma das saídas possíveis para manejar uma relação conjugal já desgastada.

Uma vez que a satisfação com o relacionamento interage com os eventos estressantes, com os recursos e vulnerabilidades de cada parceiro(a) e com os processos adaptativos na delimitação da dinâmica conjugal, análises de moderação adicionais foram empregadas tomando por base os três domínios de variáveis presentes no modelo VSA (Karney & Bradubury, 1995). No âmbito de eventos estressantes, nenhuma das variáveis de saúde ou de trabalho interagiram com o tempo de distanciamento para predizer o desejo pela separação. É possível que esse resultado seja impactado pela condição socioeconómica dos participantes, uma vez que os rendimentos médios individuais da amostra equivaliam a, aproximadamente, cinco salários-mínimos no ano de 2020. Há evidências de que a perda de trabalho e renda devido à pandemia tende a ser maior para os estratos socioeconómicos mais baixos (Moreira, 2020). No estudo de Balzarini et al. (2020), os participantes que reportaram mais dificuldades financeiras devido à Covid-19 apresentaram piora em variáveis do relacionamento. Já Schmid et al. (2021) encontraram que a piora nos níveis de satisfação com o relacionamento ocorreram independentemente de os participantes experimentarem mudanças em sua situação laboral em virtude da pandemia.

Ainda no que tange às variáveis representativas de eventos estressantes, considerou-se que a intensidade dos conflitos conjugais e a frequência de conflitos no dia a dia do relacionamento são medidas de estresse ao qual o casal está submetido. Nesse sentido, as análises revelaram interação entre a frequência média de conflitos conjugais e o tempo de distanciamento social, indicando que, quanto maior a frequência de conflitos conjugais, maior a vontade de separação com o passar do tempo. Em conjunto, tais dados sugerem que os eventos estressantes derivados da dinâmica conjugal impactam com mais força no desejo de permanecer ou não na relação do que os eventos contextuais externos. A responsividade do parceiro(a) é um fator que atenua o impacto dos estressores relacionados à Covid-19 no relacionamento conjugal (Balzarini et al., 2020). Assim, pode-se depreender que, nos casais com alta frequência de conflitos, os cónjuges tendem a estar mais focados nas suas necessidades, percepções e desejos individuais, sendo menos responsivos aos interesses e necessidades do(a) parceiro(a).

De acordo com o modelo VSA, os processos adaptativos dizem respeito às estratégias das quais os casais lançam mão para lidar com circunstâncias difíceis (Karney & Bradbury, 1995). Nesse sentido, encontrou-se que a estratégia de resolução positiva dos problemas, que diz respeito ao emprego de uma postura respeitosa, de escuta ativa e de busca de negociação (Kurdek, 1994), interagiu significativamente com o tempo de distanciamento social na predição da vontade de separação, configurandose como um fator protetivo ao relacionamento durante a pandemia. Esse dado ganha importância na medida em que as estratégias de resolução de conflitos podem ser modificadas por meio do aprendizado (Neumann et al., 2018).

Por fim, o modelo VSA considera que a terceira classe de variáveis que impactam no desenvolvimento da conjugalidade são as vulnerabilidades individuais e duradouras que cada cónjuge traz para o relacionamento (Karney & Bradubury, 1995). A diferenciação de self é um desses elementos, na medida em que se forma nas experiências do indivíduo com a sua família de origem e tende a permanecer operando nas suas relações posteriores (Bowen, 1991). Três dimensões da escala de diferenciação de self -fusão com o outro, reatividade emocional e corte emocional- moderaram a relação entre tempo de distanciamento social e desejo de separação. Em pessoas com indicadores altos de diferenciação, o tempo de distanciamento social não teve efeito significativo sobre a vontade de separação, enquanto pessoas menos diferenciadas demonstraram aumento no desejo de se separar com o passar do tempo de distanciamento.

Indivíduos com níveis elevados de reatividade emocional tendem a responder aos estímulos ambientais de forma automática, com labilidade emocional (Major et al., 2014). Nesse sentido, é possível que cogitem a separação diante do impacto dos estressores, porém, possivelmente, sem uma reflexão profunda acerca dessa decisão. Os indivíduos com níveis altos de corte emocional são aqueles que apresentam medo da intimidade, utilizando, para isso, estratégias de relacionamento pautadas no estabelecimento de limites ou no distanciamento emocional e comportamental em relação aos outros (Lampis et al., 2019). Diante disso, é coerente que esses indivíduos apresentem maior propensão a cogitar a separação durante o confinamiento, uma vez que este impõe uma proximidade maior com o(a) cónjuge. Um dado que surpreende, porém, é o que aponta que indivíduos com altos níveis de fusão com outros tenham tido maior desejo de se separar com o passar do tempo, uma vez que são indivíduos com superenvolvimento emocional, apresentando comportamentos de dependência e necessidade de aprovação.

Estudos mostram que homens com níveis maiores de fusão com os outros e mulheres com níveis maiores de reatividade emocional apresentam maior ansiedade de separação (Peleg & Yitzhak, 2011). Esses indivíduos costumam utilizar estratégias comunicacionais destrutivas, adotando comportamentos de demanda de seus(suas) parceiros(as) e, muitas vezes, emprego de agressões verbais e insultos quando não obtêm respostas que assegurem a segurança da relação. Outro estudo aponta que indivíduos com baixos níveis de diferenciação tendem a se comunicar com os seus parceiros(as) ou utilizando padrões de comunicação evitativos, ou de demanda e recuo, assim empregando estratégias de manutenção da relação que infligem custos para a própria relação (Ghanbarian et al., 2020).

Estes achados têm implicações importantes para a prática da psicologia, na medida em que corroboram a importância das variáveis conjugais e intrafamiliares como recursos diante de contextos sociais adversos. Sem negar o impacto do contexto no desenvolvimento psíquico, os dados deste estudo denotam que os indivíduos que desenvolveram bons níveis de diferenciação de self ao longo de sua vida e que utilizam estratégias construtivas de resolução de conflitos se mostram mais aptos para manejar as adversidades do contexto de forma colaborativa. O impacto do distanciamento social nos casais, assim, irá variar conforme a natureza dessas relações, configurando-se como um evento potencializador tanto dos recursos quanto das fragilidades do relacionamento conjugal. Diante disso, evidencia-se a necessidade de desenvolvimento de políticas públicas que fortaleçam os laços familiares, tanto no que tange a aspectos individuais de fomento à diferenciação de self e à capacidade de autorregulação emocional quanto no que tange a relações conjugais construtivas e respeitosas.

Por fim, torna-se necessário ressaltar as limitações deste estudo. Uma vez que os dados foram coletados em junho e julho de 2020, e as medidas de distanciamento social iniciaram, no Brasil, no mês de março, este estudo observou dados de indivíduos que estavam vivenciado tais medidas há cerca de três ou quatro meses. É possível que dados coletados em um período posterior tragam resultados diferentes, seja devido à necessidade de reorganização que o tempo impõe, seja devido ao retorno gradual de muitas pessoas a atividades desenvolvidas fora do ambiente doméstico. Além disso, as análises realizadas não permitiram compreender a interrelação entre as variáveis estudadas, lançando luz para a necessidade de novos estudos que possam investigar como elas influenciam umas nas outras.

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1 Valores equivalentes em dólares em 21 de julho de 2024, em que USD 1 = R$ 5.60: R$ 5.802.58 = USD 1.036.08; R$ 7.509.12 = USD 1340.79; R$ 5.612.49 = USD 1002.14; R$ 8.158.34 = USD 1456.72

Para citar este artigo: Neumann, A. P., Rocha, F. A., Delatorre, M. Z., & Wagner, A. (2024). Impactos do distanciamento social devido à pandemia da Covid-19: qualidade conjugal e desejo de separação. Avances em Psicología Latinoamericana, 42(1), 1-17. https://doi.org/10.12804/revistas.urosario.edu.co/apl/a.10902

Recebido: 13 de Maio de 2022; Aceito: 03 de Julho de 2024

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