Introdução
O uso contínuo e indiscriminado de antibióticos na pecuária leiteira para tratar mastites, afecções de cascos e/ou como promotor de crescimento tem favorecido uma pressão seletiva sobre os microrganismos, gerando mutações mediadoras de resistência. Logo, a utilização de alternativas aos antimicrobianos atuais podem ser implementadas, com o intuito de reduzir a expansão de bactérias e seus fatores de resistência 56.
A homeopatia tem sido utilizada no gado de leite como uma alternativa segura aos antibióticos, capaz de manter a saúde dos rebanhos 17. No entanto, além de atuar como antimicrobiano, a homeopatia pode ser utilizada também como protetor do fígado, modulando da função hepática.
O fígado de vacas lactantes apresenta elevada atividade metabólica em virtude da produção de leite. Certamente, a incapacidade de lidar com mudanças na oferta e demanda de nutrientes para suportar a lactação pode provocar problemas hepáticos, que implicam tanto no desempenho produtivo, como nos custos dos sistemas de produção 75. Por esse motivo, torna-se oportuno a adoção de estratégias de manejo, como o uso de compostos homeopáticos que sejam capazes de auxiliar na proteção da função hepática.
Várias plantas com diferentes princípios ativos podem ser utilizadas em preparos homeopáticos como potenciais agentes hepatoprotetores (e. g. silimarina, sanguinarina, quinino, miricitrina, fililina e oleuropeína). Esses compostos são caracterizados pela sua capacidade de modular as funções do fígado por meio de uma diversidade de mecanismos, incluindo ação antioxidante, antimicrobiana, anti-inflamatória, colerético e antifibrótica 28,55, que podem ser reproduzidos em medicamentos de origem homeopática.
Assim, a dinamização de substratos de origem vegetal podem ser utilizados nos animais de produção para otimizar a função do fígado, ainda com a vantagem de apresentar baixo custo, facilidade na administração, ausência de resíduos nos produtos de origem animal e no ambiente 26. Baseado nisso, o conhecimento das propiedades terapêuticas de plantas para a produção de medicamentos homeopáticos permite instituir seu uso nos rebanhos, como também desperta o interesse por mais pesquisas com o intuito de constatar seus efeitos terapêuticos nos animais de produção.
Portanto, objetiva-se com esta revisão discorrer sobre algumas plantas utilizadas pela homeopatia com ação hepatoprotetora e seus efeitos no metabolismo hepático de ruminantes em lactação.
Princípios básicos da homeopatia
A homeopatia (do grego homoios + pathos = “semelhante” + “doença”) consiste em um método terapêutico que visa o estímulo de uma reação orgânica, por meio da utilização de doses mínimas e dinamizadas de compostos com propriedades bioativas. Esse método foi desenvolvido por Samuel Hahnemann, que sistematizou todo o conhecimento relativo a utilização da homeopatia clássica como uma prática terapéutica 22.
Os compostos homeopáticos possuem ação baseada na premissa de que semelhante cura semelhante, atendendo ao princípio da similaridade (5. De modo que, a reação a doença ocorre através do estímulo a sintomas semelhantes ao distúrbio. Logo, a homeopatia exerce a cura da doença de forma indireta, uma vez que estimula o próprio indivíduo a combater a enfermidade 36.
Além disso, as diluições infinitesimais seguidas de agitações rítmicas são processos necessários para preparação de compostos homeopáticos, que caracterizam-se na dinamização, segundo princípio da homeopatia. A dinamização é fundamental para evitar a intoxicação ou agravamento dos sintomas da doença, uma vez que ambos os processos implicam na potencialização das propriedades latentes da substância, sem provocar toxicidade capaz limitar o tratamento 5.
A diluição da substância é apenas um processo usado para reduzir a dose a ser administrada. Enquanto, as agitações são aplicadas para que as propriedades aquosas armazenem informações relacionadas as substâncias com as quais esteve em contato. Esse suposto conceito denominado “memória da água” comporta-se de maneira seletiva, mantendo informações na forma de energia eletromagnética, que são retidas em uma forma física e não química nas soluções 16.
Supõe-se que, a detecção da energia contida nos medicamentos homeopáticos ocorra através de terminações do sistema nervoso, o qual é responsável pela percepção de todos os estímulos, sejam eles químicos, térmicos, luminosos ou sonoros. Em virtude da existência de terminações nervosas no trato digestivo, é possível que as substâncias homeopáticas tenham a capacidade de desencadear estímulos ao sistema imunológico, que provocam ações corretivas no equilíbrio orgânico do indivíduo 53.
Para tal, são utilizados uma diversidade de matérias-primas de origem vegetal, mineral ou animal que possuem propriedades terapêuticas. Cada elemento utilizado para compor os compostos homeopáticos possuem propriedades específicas, das quais são extraídas quantidades variáveis do agente ativo. O grau de diluições da substância inicial depende da concentração molecular do agente ativo que se espera no medicamento, o qual deve ser adequado para sensibilizar de forma suave e efetiva o sistema imunológico 36.
Na homeopatia, os elementos que originam os medicamentos podem ser utilizados de maneira isolada, ou em associação, que caracteriza as combinações homeopáticas. As combinações homeopáticas são amplamente utilizadas com o intuito de tratar um distúrbio, por meio da administração de várias substâncias com princípios terapêuticos semelhantes 57. Essa prática é amplamente difundida na criação de animais, em virtude da possibilidade de tratamento dos distúrbios através da ação de diversos agentes. Visto que, as causas dos problemas de saúde dos rebanhos são multifatoriais.
Além disso, a utilização da homeopatia de forma generalizada na produção animal, principalmente nos sistemas orgânicos, deve-se a facilidade na administração das substâncias, ao baixo custo, ausência de resíduos nos produtos de origem animal e no ambiente 26. Dado as atribuições da homeopatia, torna-se relevante a utilização de compostos homeopáticos como uma alternativa aos antibióticos atuais, uma vez que o uso indiscriminado de antimicrobianos na produção animal tem ocasionado expansão de bactérias e seus fatores de resistência 56.
Homeopatia na produção animal
A intensificação dos sistemas de produção para atender a demanda mundial por produtos de origem animal perturba o equilíbrio orgânico do rebanho, deixando-os propensos ao surgimento de distúrbios. Neste contexto, os antibióticos têm sido amplamente utilizados na produção animal como agentes profiláticos 71.
No entanto, a expansão na utilização de antimicrobianos para manter a saúde dos rebanhos, tem levado ao surgimento da resistência microbiana. Isso tem ocorrido em razão do uso indevido de antibióticos, que tem favorecido uma pressão seletiva sobre os microrganismos, gerando mutações mediadoras de resistência 56.
A disseminação de cepas resistentes de bactérias tem sido uma preocupação crescente da comunidade científica, em virtude dos riscos eminentes a saúde dos humanos e dos animais. Devido a isso, o setor pecuário tem utilizado a homeopatia como uma alternativa segura aos antimicrobianos, com o intuito de reduzir a expansão de bactérias e seus fatores de resistência 17,21.
Os medicamentos homeopáticos são utilizados no tratamento de diversos distúrbios que acometem os animais de produção. Nas aves e suínos, a homeopatia tem sido principalmente utilizada para tratar infecções respiratórias, diarreias e como agente promotor de crescimento. Enquanto, o tratamento de mastites e distúrbios de fertilidade em vacas leiteiras, diarreia e pneumonia em bezerros, tem sido os principais problemas em bovinos tratados por medicamentos homeopáticos 17.
Uso de medicamentos de origem homeopática na pecuária de leite
No gado de leite, a utilização da homeopatia como método terapêutico tem merecido destaque, devido os problemas corriqueiros que acometem a saúde dos animais. Problemas de mastite, falhas reprodutivas e afecções de cascos são os principais distúrbios de vacas leiteiras, os quais são responsáveis por perdas econômicas consideráveis.
Assim, o uso de medicamentos de origem homeopática no setor leiteiro mostra-se como uma alternativa viável aos antibióticos atuais, uma vez que auxilia na redução da expansão da resistência microbiana 73. Além disso, impossibilita a ocorrência de resíduos nos produtos lácteos, dispensando o período de carência e o descarte do leite. No entanto, além de atuar como antimicrobiano, a homeopatia pode ser utilizada também em bovinos leiteiros desempenhando funções relacionadas a modulação da atividade hepática.
Vacas em lactação sofrem uma sobrecarga metabólica ocasionada pela demanda da glândula mamária para produção de leite. A lactação representa uma mudança no particionamento dos nutrientes, que tem como intuito suportar a demanda metabólica para apoiar a síntese láctea 6. Esse período caracterizado por profundas mudanças na oferta de nutrientes favorece o surgimento de distúrbios, que estão intimamente relacionados com a capacidade do fígado de coordenar os processos metabólicos 80.
Logo, a elevada atividade metabólica do tecido hepático, principalmente durante o período de transição, pode comprometer a capacidade do fígado de coordenar mudanças relacionadas a oferta de nutrientes, ao perfil hormonal e a demanda metabólica 19. Certamente, a incapacidade do fígado em lidar com tais mudanças pode implicar em problemas hepáticos 75, que na maioria das vezes, ocorre de forma assintomática.
O estresse oxidativo, comum em vacas no início de lactação e/ou em condição de hipercetonemia, tem sido apontado como causa de distúrbios hepáticos. Dado que, o desbalanço entre a oferta e a demanda de energia ocasiona o acúmulo de lipídios hepáticos, que favorece a produção de espécies reativas, ou radicais libres 2,20. A superprodução de radicais livres induz a peroxidação lipídica, o dano ao DNA, a disfunção mitocondrial e, por consequência, a apoptose celular e a lesão tecidual 58. Du et al. 20 constataram que, o estresse oxidativo provocado pela condição de cetose em vacas, induz a apoptose de células hepáticas.
Assim, baseado na importância e nas peculiaridades que envolvem o fígado de vacas em lactação, torna-se oportuno a adoção de técnicas de manejo que auxiliem na regulação da função hepática para manter a saúde da vaca. Visto que, a exaustão do tecido hepático ocasionado pela vida produtiva da vaca pode, a longo prazo, afetar o desempenho produtivo.
Nesse sentido, o conhecimento das propriedades terapêuticas de plantas tem permitido o seu uso em medicamentos homeopáticos para o tratamento de disfunções do fígado. Isso tem despertado interesse do setor leiteiro, já que vacas lactantes são amplamente acometidas por desordens hepáticas 19. Logo, a dinamização de extratos de plantas e diluição em decimais de Hannheman podem ser utilizados para minimizar os danos hepáticos, tanto com a vantagem de apresentar custo reduzido, administração via alimentação, não agravar o quadro do distúrbio, como também inibir a resistência microbiana e a ocorrência de resíduos no leite.
Hepatoprotetores
Os hepatoprotetores são compostos capazes de restaurar as funções do fígado por meio de uma diversidade de mecanismos, incluindo ação antioxidante, antimicrobiana, anti-inflamatória, colerético e antifibrótica 28. Contudo, a propriedade antioxidante das substâncias hepatoprotetoras tem merecido destaque, devido sua capacidade de lidar com a sobrecarga metabólica 55, reflexo do metabolismo energético de vacas em lactação. Além disso, a superprodução de espécies reativas tem sido apontada como o mecanismo básico envolvido na etiologia de diversas doenças.
Os radicais livres são encontrados nos tecidos do corpo a um certo nível, como resultado dos processos metabólicos das células. Essas moléculas caracterizam-se por possuir elétrons não emparelhados na órbita externa, os quais são capazes de alterar a integridade da membrana plasmática das células através da transferência de elétrons 61. No entanto, quando a geração de radicais livres excede a capacidade de síntese de antioxidantes endógenos, o estresse oxidativo se instaura 8.
Os antioxidantes são moléculas capazes de reparar ou inibir a produção de espécies reativas. Assim, o uso de compostos naturais com ação antioxidante possibilita a neutralização de espécies reativas por meio da doação e/ou do sequestro elétrons 24. Isso auxilia na redução dos radicais livres e na manutenção da integridade da membrana plasmática das células, que previne a peroxidação lipídica e a apoptose celular, contribuindo para proteção contra os danos teciduais causados pelo estresse oxidativo.
Assim, compostos vegetais com diferentes princípios ativos tem sido explorados como potenciais agentes hepatoprotetores tanto na saúde humana, como animal. Nesta revisão, iremos nos concentrar em alguns extratos comumente utilizados e seus efeitos hepatoprotetores sobre o metabolismo e a resposta produtiva de animais de produção (Tabela 1).
Plantas e seus princípios bioativos com função hepatoprotetora
Silimarina da Cardus marianus
O extrato vegetal da Cardus marianus tem sido amplamente utilizado ao longo dos anos para tratar doenças do fígado. Essa planta possui a silimarina como o principal componente químico, a qual é composta por uma mistura de compostos secundários da classe dos polifenóis (flavonoides e lignanos), que quando combinados formam substâncias denominadas flavonolignanos 1.
A silimarina consiste na combinação de sete flavonolignanos, dentre os quais a silibina é o principal princípio bioativo do extrato da Cardus marianus 72. Esse composto bioativo possui inúmeras atividades biológicas, como efeitos antioxidantes, anti-inflamatórios e imunomoduladores, que estão relacionados às suas propriedades hepatoprotetoras 10.
No gado de leite, a silimarina tem sido utilizada em estudos com animais no período periparturiente, devido seu potencial de prevenir desordens metabólicas relacionadas ao fígado. Contudo, apesar de diversos estudos constatarem a eficácia da silimarina no metabolismo hepático, poucas publicações verificaram os seus efeitos na resposta produtiva e no metabolismo de vacas em lactação.
Os principais resultados obtidos com o uso da silimarina em vacas leiteiras estão relacionados a maior produção de leite 67,70,74, ao aumento na proliferação de células mamárias 63 e a mudança no status metabólico 70. Embora parte dos resultados mostram-se de maneira inconclusiva, é possível que os efeitos possam ser atribuídos, principalmente, as propriedades antioxidantes e de regeneração celular dos compostos ativos da silimarina.
As ações antioxidantes da silimarina foram revisadas recentemente por Surai (2015), que compilou diversos estudos que indicam os mecanismos antioxidantes da planta. Dentre os mecanismos de ação antioxidante, Surai (2015) destacou: (1) prevenção da formação de radicais livres via remoção de precursores ou inibição de enzimas produtoras de espécies reativas (e.g. xantina oxidase, NADPH oxidase); (2) eliminação dos radicais livres através da doação de elétrons para estabilizar as espécies reativas; e (3) ativação de enzimas antioxidantes, como superóxido dismutase.
Todos os mecanismos de inibição de espécies reativas supracitados, auxiliam na proteção da integridade das organelas celulares, uma vez que a superprodução de radicais livres induz a peroxidação lipídica, principal mecanismo responsável pela degeneração das membranas celulares. Logo, a silimarina evita o surgimento de doenças hepáticas através de mecanismos que inibem o processo de peroxidação lipídica 32.
Além disso, a fração polifenólica da silimarina pode afetar a atividade lipoperoxidativa através da modificação do metabolismo lipídico e do perfil de lipoproteínas no plasma. A redução na síntese de triglicerídeos, o aumento nas lipoproteínas de alta densidade (HDL) e proteção contra a oxidação de lipoproteínas de baixa densidade (LDL) 59,60, são efeitos que contrariam o acumulo de lipídios no fígado e, por consequência, o surgimento de desordens hepáticas 25.
Além disso, os compostos bioativos da Cardus marianus possuem a capacidade de estimular a síntese de proteínas nos hepatócitos, contribuindo na regeneração do tecido hepático 81. A regeneração dos hepatócitos consiste em uma importante atividade da silimarina para auxiliar no reparo dos danos e das funções do fígado. Acredita-se que, o estímulo a biossíntese de RNA polimerase nos ribossomos seja o principal responsável pela aumento na formação de proteínas nos hepatocitos 50,72.
A silimarina também apresenta ação anti-inflamatória, que exerce um papel relevante em seus efeitos hepatoprotetores. De modo que, a diminuição da resposta inflamatória ocasionada pela planta resulta, principalmente, na inibição da liberação de citocinas, como fator de necrose tumoral α (TNF - α). Essa resposta é capaz de impedir a apoptose celular, bem como o dano tecidual 1.
Assim, dado a diversidade dos mecanismos de ação sobre o metabolismo dos hepatócitos, a silimarina da Cardus marianus torna-se um importante composto bioativo amplamente utilizado com função hepatoprotetora, que possui capacidade de prevenir e reparar desordens hepáticas que acometem animais lactantes.
Sanguinarina da Chelidonium majus
A Chelidonium majus também conhecida como quelidónia maior, é uma erva medicinal com uma pluralidade de metabólicos secundários e atividades biológicas. Essa planta contém mais de 20 alcaloides diferentes da classe dos benzilisoquinolina, que são divididos quanto a estrutura molecular em: alcaloides de benzofenantridinas (sanguinarina, queleritrina, quelidonina), protoberberina (berberina, coptisina) e protopina 27.
O extrato alcaloide da quelidónia apresenta ação antioxidante 42,68, anti-inflamatória, antimicrobiana e colerética 12, que quando combinadas podem exercer um efeito hepatoprotetor. Embora os alcaloides presentes no extrato desempenhem múltiplas atividades biológicas, é possível através do uso de partes da planta (raízes, folhas e/ ou caule) alcançar uma especificidade de compostos bioativos.
Sanguinarina e queleritrina são os principais compostos bioativos obtidos das raízes da Chelidonium majus 33. Esses alcaloides isolados, podem atuar como agentes hepatoprotetotes devido sua ação antimicrobiana e anti-inflamatória 35. Além disso, tem sido amplamente utilizados nas dietas dos animais como aditivo alimentar para promover o crescimento, devido sua capacidade de regular o metabolismo dos aminoácidos 18.
Devido a isso, vários estudos têm incorporado a sanguinarina e queleritrina na dieta de aves, suínos e peixes com intuito de maximizar o desempenho 35,37,52. Nos bovinos, as pesquisas tem se concentrado, principalmente, na utilização dos alcaloides em dietas para o gado de corte, ao passo que, os estudos com bovinos leiteiros são escassos.
De forma isolada, Wang et al. (79 avaliaram um extrato vegetal rico em alcaloides de sanguinarina e queleritrina na dieta de vacas leiteiras, e não constataram variações na ingestão de alimento, na produção e na composição do leite. Além disso, os autores não detectaram resíduos de alcaloides de benzofenantridinas no leite das vacas.
Enquanto que, algumas pesquisas recentes com bovinos de corte tem verificado o potencial de uso desses alcaloides na dieta, com o intuito de maximizar o desempenho produtivo. Respostas positivas sobre a eficiência microbiana 4,54, o aproveitamento dos nutrientes da dieta 43, o ganho de peso e o rendimento de carcaça 41, tem sido os principais resultados obtidos com gado de corte, apesar das informações obtidas serem bastante limitadas.
Embora as pesquisas com bovinos baseiem-se apenas em respostas produtivas, é provável que os resultados obtidos nos estudos com animais de produção estejam relacionados a capacidade dos alcaloides de sanguinarina de regular o metabolismo dos aminoácidos.
A sanguinarina incorporada às dietas de animais de produção tem apresentado respostas positivas sobre a ingestão de alimento e o desempenho animal. Acredita-se que, o aumento na absorção de nutrientes, bem como a maior retenção de nitrogênio, são reflexo da redução da degradação dos aminoácidos 4. Isso ocorre devido a capacidade da sanguinarina de inibir a descarboxilação, que acontece através da redução da atividade da enzima aminoácido aromático descarboxilase 15. Assim, a menor degradação aminoacídica pode favorecer o aumento das concentrações séricas de aminoácidos essenciais e não essenciais para os processos metabólicos 38, que contribui para a maximização da resposta produtiva.
Além disso, o extrato da Chelidonium majus pode ainda, de modo geral, desempenhar funções como: ação antioxidante, atuando no estimulo da atividade de enzimas antioxidantes, como a superóxido desmutase 39; ação anti-inflamatória, inibindo o mecanismo de ação do fator nuclear kappa B (11; e ação antimicrobiana, desencadeando mecanismos de seleção de microrganismos 14,44. De modo que, todas essas propriedades terapêuticas associadas podem auxiliar na otimização da função hepática.
Quinino da China officinalis
O extrato da China officinalis também conhecida como Cinchona officinalis, é comumente constituído pela casca da árvore, a qual é a principal parte da planta utilizada para fins terapêuticos. A casca da quinquina, como popularmente é denominada, contém mais de 20 alcaloides distintos, incluindo o quinino e outros alcaloides, como a quinidina, cinchonidina e cinchonina 3.
O quinino é o principal alcaloide de cinchona utilizado com fins terapêuticos, o qual é amplamente utilizado como antiparasitário para tratar a doença malária. Ainda assim, estudos tem relevado as potencialidades do uso do extrato da China officinalis como agente antioxidante, anti-inflamatório e antimicrobiano 31, que associados podem contribuir no funcionamento do fígado.
A atividade antioxidante tem sido relacionada a capacidade dos alcaloides da cinchona de eliminar radicais livres superóxido e o óxido nítrico, bem como inibir a peroxidação lipídica 51. Enquanto que, a propriedade anti-inflamatória atua inibindo a função dos lissosomos, a liberação de citocinas e a ativação das células T 23. E, a ação antimicrobiana decorre através da inibição o crescimento de bactérias 34.
Além disso, acredita-se que o quinino derivado da China officinalis possa ainda, amenizar o quadro de hipocalcemia e hipomagnesemia desencadeado pela parasitemia intensa e pelas complicações no prolongamento do Q-Tc na malária severa 46. Embora ainda não se saiba com exatidão, como o quinino regula os níveis séricos do cálcio e magnésio em animais acometidos por esses distúrbios metabólicos.
Nesse sentido, Staats 79 desenvolveu um estudo isolado com vacas com o intuito de avaliar o extrato dinamizado da China officinalis sobre os parâmetros relacionados a condição de hipocalcemia. No entanto, o autor não constatou efeitos do extrato sobre a incidência de mastite, a produção de leite, a concentração de cálcio, fósforo e magnésio no sangue. Sendo necessário novos estudos com a finalidade de constatar a ação terapêutica dos alcaloides de cinchona em dietas para animais de produção.
Fililina e oleuropeína da Chionantus virginica
A Chionanthus virginica conhecida popularmente por Jasmim-da-virgínia, é uma pequena árvore ou arbusto do leste da América comumente utilizada em preparações homeopáticas. A casca da raiz é a principal estrutura vegetal usada no extrato da planta com fins terapêuticos, o qual pode atuar como agente antioxidante, anti-inflamatório e hepatoprotetor 47.
A casca da raiz da Chionanthus virginica contém dois grupos de compostos fenólicos, as lignanas e as secoiridoides, que apresentam nessa ordem, a fililina e a oleuropeína como as principais substâncias ativas relatadas em estudos por suas funções fitoterápicas 7. No entanto, a principal atividade biológica apresentada tanto pela fililina, quanto pela oleuropeína, é a ação antioxidante.
O potencial antioxidante do extrato da Jasmim-da-virgínia baseia-se na capacidade dos seus compostos fenólicos de neutralizar a atividade dos radicais livres, bem como inibir as reações de peroxidação lipídica. Esse controle da superprodução de espécies reativas se dá através da eliminação de radicais, como os aniônicos superóxido, estimulo da atividade redutora pela transformação dos íons Fe³+ em Fe²-, supressão do peróxido de hidrogênio e de quelantes de metais ferrosos 29,30.
Todas as propriedades antioxidantes supracitadas apresentam benefícios à saúde, uma vez que a superprodução de espécies reativas favorece o aparecimento de distúrbios metabólicos, como desordens hepáticas. Logo, considerando que animais em lactação estão constantemente em estresse oxidativo, estudos recentes tem buscado avaliar o uso de compostos naturais ricos secoiridoides e lignanas como agentes antioxidantes para otimizar a resposta produtiva e a qualidade dos produtos lácteos. Embora estudos com animais de produção utilizando esses compostos fenólicos oriundos da Chionanthus virginica sejam escassos.
Os principais resultados obtidos com o uso de dietas ricas em secoiridoides e/ou lignanas em dietas de animais lactantes baseiam-se no aumento da atividade de genes antioxidantes 13, incremento no teor de gordura no leite 69, maior concentração de ácidos graxos poliinsaturados 48, baixos índices de aterogênicidade e trombogênicidade 65 e melhoria da estabilidade oxidativa do leite e do queijo mussarela 9.
Além disso, Wang, Rui & Zhang (2009) avaliaram o uso tópico de fililina em vacas com mastite sobre a ocorrência de resíduos nos fluídos corporais. Porém, os autores não constataram retenção dessa substância no sangue e no leite das vacas lactantes acometidas com mastite.
Miricitrina da Myrica cerifera
A Myrica cerifera comumente conhecida como bayberry ou murta de cera, é uma pequena árvore ou arbusto que cresce em regiões da América Central e do Norte utilizada como fitoterápico para o tratamento de diversas doenças. Essa planta possui três principais classes de metabólitos secundários: os diarilheptanóides, sendo os mais importantes o miricanol e o miricanona; os flavonoides, destacando-se a miricitrina; e os triterpenos, com os principais isolados o taraxerol, o taraxerona e a taraxane (76.
O extrato vegetal da Myrica cerifera possui o potencial antioxidante como principal atividade biológica dos seus metabólitos secundários. Esse efeito antioxidante é exibido, principalmente, pela miricitrina, um composto polifenólico da classe dos flavonoides presente na casca da raiz da murta de cera. Assim, o potencial da miricitrina em reduzir o estresse oxidativo de sistemas biológicos está relacionada a sua capacidade de inibir a produção e eliminar os radicais livres 15.
Dessa forma, a ação antioxidante da miricitrina tem sido atribuída a sua capacidade de reduzir os níveis séricos de aspartato aminotransferase (AST) e alanina aminotransferase (ALT), reduzir alterações histopatológicas no fígado, aumentar o nível de glutationa (GSH) e de citocromo CPY450 18, inibir a produção de óxido nítrico e bloquear a ativação das vias da proteína cinase C (PKC) 40. Esses mecanismos de ação previnem a peroxidação lipídica hepática, o que confere ao extrato da Myrica cerifera uma atividade hepatoprotetora.
No entanto, além de reduzir o estresse oxidativo, a miricitrina pode também desempenhar atividade antinflamatória, suprimindo a inflamação por meio da diminuição da expressão da ciclooxigenase-2 (COX-2) e do fator de necrose tumoral alfa (TNF-α) no fígado. Ainda, o extrato vegetal da murta de cera é capaz de inibir a expressão de proteínas (TGF-β1, α-SMA) que provocam a fibrose hepática e aumenta a regeneração do tecido hepático pela estímulo a expressão de antígenos nucleares de célula proliferante (PCNA) 15.
Baseado nos mecanismos terapêuticos supracitados, a miricitrina pode ser amplamente utilizada para redução do estresse oxidativo, da inflamação e da fibrogênese hepática. No entanto, apesar de comprovada sua eficácia como agente hepatoprotetor, estudos utilizando a Myrica cerifera na alimentação de animais de produção são escassos.
Os principais resultados obtidos com a utilização do extrato vegetal rico em flavonoides de miricitrina estão relacionados a modulação do metabolismo ruminal através da mudança na composição microbiana do rúmen 77, diminuição da produção de metano (CH4) 45 e aumento da digestibilidade da matéria seca e matéria orgânica da dieta de vacas lactantes 49.
Considerações finais
A homeopatia pode ser utilizada como uma alternativa segura para prevenção a disseminação de cepas resistentes de bactérias. Além disso, os compostos homeopáticos podem ser ainda utilizados na produção animal, podendo prevenir e reparar desordens hepáticas que comumente acometem animais em lactação.
Várias plantas com diferentes princípios ativos podem ser utilizados pela homeopatia como agentes hepatoprotetores. No entanto, a dificuldade de identificação e padronização dos compostos bioativos limitam a utilização de plantas com propriedades terapêuticas na produção animal. Visto que, existem poucas informações na literatura relacionadas a caracterização química, ao detalhamento dos mecanismos de ação e a toxicidade dos princípios bioativos. Além do mais, os efeitos das avaliações in vivo de extratos vegetais dinamizados dependem de fatores como dosagem, duração, via de administração, espécie e condição fisiológica do indivíduo.
Por esse motivo, espera-se com esta revisão despertar o interesse por novos estudos com a finalidade de elucidar os efeitos de compostos vegetais no metabolismo e na resposta produtiva de animais de produção. Dado que, os resultados obtidos em estudos com animais de produção são bastante inconclusivos.