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Revista colombiana de ciencia animal recia

On-line version ISSN 2027-4297

rev. colombiana cienc. anim. Recia vol.14 no.2 Sincelejo July/Dec. 2022  Epub Mar 28, 2023

https://doi.org/10.24188/recia.v14.n2.2022.919 

Artículo original

Aplicação intratumoral de eisplatina no tratamento de sareóide periocular em equino

Intratumumal application of eisplatin in the treatment of periocular sarcoid in equine

Aplicación intratumoral de cisplatino en el tratamiento de sarcoide periocular en equinos

Rodrigo Martins Ribeiro3  * 

Roger Mendes Franco1 

Fabiano Santana2 

Débora da Silva Freitas Ribeiro3 

Maria Clara Hauch Alves3 

Vantuil Moreira de Freitas3 

1.Universidade Federal de Jataí-UFJ, Faculdade de Medicina Veterinária, Jataí/GO, Brasil.

2.Univerisade de Brasilia, Faculdade de Medicina Veterinária, Departamento de Medicina Veterinária, Brasília/DF, Brasil.

3.Centro Universitário de Mineiros-UNIFIMES, Departamento de Medicina Veterinária, Nucleo Avançado de Pesquisa de Equinos de Goiás (NAPEG) Mineiros/GO, Brasil.


RESUMO

O sarcóide equino é um uma neoplasia cutânea, de origem fibroblástica, não metastática, localmente invasivo, responsável por até 66% dos tumores de pele em equinos. Entre as alternativas de tratamento, a utilização de cisplatina intratumoral após excisão cirúrgica prévia é uma opção, com baixa taxa de recidiva. O objetivo deste trabalho é relatar o caso de um sarcóide localizado na região supra orbital esquerda de uma égua e seu tratamento com cisplatina intratumoral após excisão cirúrgica. Foi atendida uma égua, tordilha, SRD, com 5 anos e peso de 280 Kg, apresentando aumento de volume, não ulcerativo na região supra orbital esquerda, com evolução progressiva de 60 dias. Suspeitando de neoplasia, foi realizado excisão completa da lesão e encaminhado para exame histopatológico, sendo diagnosticado Sarcóide. Devido a recidiva do tumor, o segundo procedimento foi a associado com exérese da massa tumoral seguido do tratamento quimioterápico com cisplatina na dose 1mg/ cm3 de massa tumoral. A droga foi injetada por via intratumoral, durante 4 aplicações, com intervalo de duas semanas entre cada administração. Foi observado involução da lesão logo após a primeira dose até a remissão completa do tumor no final do tratamento. O animal foi acompanhado por mais 7 meses após o término da terapia e constatou-se cicatrização completa sem sequela e sem ocorrência de recidivas. Pode-se concluir que o prognóstico foi favorável e o tratamento proposto neste relato de caso por meio da quimioterapia com cisplatina intralesional associada à excisão cirúrgica foi eficaz.

Palavras-chave: Cavalo; neoplasia; quimioterapia

ABSTRACT

Equine sarcoid is a cutaneous neoplasm, with fibroblast, non-metastatic origin, locally invasive, responsible for even 66% of skin tumors in equines. Among treatments alternation, the use of intratumoral cisplatin after previous surgical excision is an option, with low recurrence rate. This study aims to report the case of a sarcoid located in the left supraorbital region of a mare and its treatment with intratumoral cisplatin. A mare was seen, tordilha, SRD, 5 years old and the weight of 280 Kg, presenting non-ulcerative volume increase in the left supraorbital region, with progressive evolution of 60 days. Neoplasm was suspected and lesion complete excision was made and forwarded to histopathological examination and sarcoid was diagnosed. Due to tumor recurrence, the second procedure was excision of tumor mass followed by chemotherapy treatment wtih 1mg/cm3 cisplatin dose of tumor mass. The drug was injected through intratumoral, during 4 applications, with two weeks breaks between every application. It was observed involution of the lesion right after the first dose until tumor's complete remission at the end of the treatment. The animal was seen during 7 months after the end of therapy and it was noted complete healing without sequels and relapses. It can be concluded that prognosis was favorable, and treatment proposed on this case report trough chemotherapy with intralesional cisplatin associated to surgical excision was effective.

Keywords: Horse; neoplasia; chemotherapy

RESUMEN

La sarcoide equina es una neoplasia cutánea de origen fibroblástico, no metastásica, localmente invasiva, responsable de hasta el 66% de los tumores cutáneos en equinos. Entre las alternativas de tratamiento, el uso de cisplatino intratumoral tras extirpación quirúrgica previa es una opción, con una baja tasa de recurrencia. El objetivo de este trabajo es reportar el caso de una sarcoide localizada en la región supraorbitaria izquierda de una yegua y su tratamiento con cisplatino intratumoral posterior a la extirpación quirúrgica. Se trata una yegua torda, SRD, de 5 años y 280 kg de peso, con aumento de volumen en región supraorbitaria izquierda no ulcerosa, de evolución progresiva de 60 días. Ante la sospecha de neoplasia, se realizó extirpación completa de la lesión y se remitió para estudio histopatológico, siendo diagnosticada como Sarcoide. Debido a la recidiva tumoral, el segundo procedimiento se asoció a la escisión de la masa tumoral seguida de tratamiento quimioterápico con cisplatino a dosis de 1mg/cm3 de masa tumoral. El fármaco se inyectó por vía intratumoral, durante 4 aplicaciones, con un intervalo de dos semanas entre cada administración. Se observó involución de la lesión poco después de la primera dosis hasta la remisión completa del tumor al final del tratamiento. Se siguió al animal durante otros 7 meses después del final de la terapia y se observó una curación completa sin secuelas ni recurrencias. Se puede concluir que el pronóstico fue favorable y el tratamiento propuesto en este reporte de caso a través de quimioterapia con cisplatino intralesional asociado a extirpación quirúrgica fue efectivo.

Palabras clave: Caballo; neoplasia; quimioterapia

INTRODUÇÃO

Afecções cutâneas em equinos são muito comuns na rotina de atendimento clínico a campo e dos atendimentos hospitalares. A importância destas lesões epidérmicas e dérmicas é devido ao comprometimento estético e um fator agravante destas afecções cutâneas se dá ao fato de desencadear perdas econômicas com tratamento e eventualmente descarte involuntário e morte do animal 1,2. Entre as lesões de pele nos cavalos, as neoplasias se destacam, sendo observadas em até 50% das dermatopatias 3.

Entre os tipos de neoplasias cutâneas, o sarcóide é o mais observado nos equídeos, totalizando até 66.87% dos tumores analisados em equinos 4. O sarcóide pode afetar todas as raças e espécies dos equídeos 5. É uma neoplasia de tecido fibroso com característica fibroelástica, sem comportamento de metástases, porém apresenta alto índice de recorrência local 6.

As lesões mais comuns são vistas em pele fina e com áreas de pouco pelo, incluindo a face, porção medial dos membros, virilha, pálpebras, orelhas e abdômen 7. Sua etiologia ainda é controversa 8, mas estudos já concluíram que o papiloma vírus bovino tipo 1 e 2 estão associados com a manifestação do sarcóide em cavalos que possuem um contato maior com bovinos 9.

Existem várias alternativas de tratamento do sarcóide equino, como ligadura, remoção cirúrgica, criocirurgia, cirúrgica a lazer, eletroquimioterapia, quimioterapia intralesional e radioterapia 5.

A quimioterapia intralesional é muito eficaz em casos de tumores cutâneos, sendo mais utilizado após excisão cirúrgica prévia 10. Entre os quimioterápicos utilizados para o tratamento do sarcóide equino a cisplatina intralesional é uma opção 5,11.

O objetivo deste relato de caso foi descrever o diagnóstico de um sarcóide localizado na região supra orbital esquerda de uma égua e a resposta ao tratamento com cisplatina intratumoral após excisão cirúrgica do tumor.

RELATO DE CASO

Um equino, fêmea, com 5 anos de idade, mestiço, pesando 280 kg, com pelagem tordilha negra foi atendida pelo Médico Veterinário de Grandes Animais do Centro Universitário de Mineiros (UNIFIMES), com queixa principal de aumento de volume progressivo com evolução de 60 dias, não ulcerado, na região supra orbital do olho esquerdo. No relato do proprietário, o paciente era criado extensivamente sem presença de outros animais.

No primeiro dia de atendimento, durante o exame físico do animal foi constatado a presença de uma massa nodular na região supra orbital do olho esquerdo, acometendo tecido subcutâneo da região, sem ulceração e hiperpigmentação, o tamanho do nódulo era de aproximadamente 2 cm de largura, 5 cm de comprimento e 4 cm de altura, na avalição oftalmológica não foi constatado hiperemia, secreção ou alterações clínicas. Os parâmetros clínicos se encontravam dentro dos valores de normalidade (Figura 1).

Figura 1 Imagens fotográficas digitalizadas ilustrando o aspecto macroscópico da lesão Sarcóide na região supra orbital esquerda, em função do tempo (dias). 

Legenda: 1° dia: Aspecto macroscópico de sarcóide na primeira excisão cirurgica do tumor, 17° dia: após primeira excisão cirúrgica do tumor, 63° dia: dia da segunda excisão cirúrgica.

No 17° dia foi realizado a remoção cirúrgica do nódulo para posterior análise histopatológica, o animal foi operado em estação, como pré-operatório, o animal foi sedado com cloridrato de detomidina 1% (Riohex®) na dose de 40 ug/kg, IV, foi realizada a tricotomia, antissepsia com clorexidina 2% (clorexidin®), e bloqueio regional infiltrativa ao redor da lesão com 10 ml de cloridratado de lidocaína 2% (Lidocaína®), sem vaso constritor.

Durante o trans operatório, foi realizado uma incisão ao redor da lesão, com margem de segurança de 1 cm, divulsionando a massa tumoral, seguida de hemostasia, redução de espaço morto, com posterior dermorrafia com fio nylon 05, com padrão de sutura wolff.

No pós operatório foi administrado penicilina G Potássica 5.000.000 UI (Agrovet®), na dose de 10.000 UI/kg, SID, IM, durante 7 dias, flunexim meglumine (Banamine®) (1.1 mg/kg), SID, IV, durante 5 dias. O tratamento tópico preconizado foi limpeza diária com solução fisiológica, com administração de pomada ganadol®, BID, até o fechamento da lesão.

A amostra excisada foi acondicionada em solução de formalina 10% e encaminhada para laboratório de patologia para posterior análise, sendo realizada a clivagem da amostra em 3 mm de espessura, após a fixação e lavagem da amostra, a mesma sofreu o processo de dascalcificação e posteriormente foram emblocadas em parafina. Quando as amostras estão emblocadas na parafina as amostras sofreram desidratação com álcool siopropílico e depois foi clarificado com xilol. Após a microtomia da parafinha em amostras com espessura de 4 micrômetros e colocados nas lâminas para posterior coloração de hematoxilina e eosina. No laudo histopatológico foi observado proliferação neoplásica sem delimitação, densamente celular e sem encapsulamento, composta de numerosos feixes de células fusiforme dispostos em vários sentidos, sustentados por estroma fibrovascular uniforme. As células possuíam limite pouco distinto, citoplasma homogêneo e eosinofílico, núcleo oval, central e hipercromático, com nucléolos evidentes, e proporção núcleo/citoplasma de 1:3 a 1:4, sendo diagnosticado sugestivo de sarcóide (Figura 2).

Figura 2 Fotomicrografía de corte histológico de sarcóide equino com coloração de hematoxilina e eosina retirado cirurgicamente do equino do presente relato (10x). É possível notar proliferação neoplásica acentuada de fibroblastos levemente pleomorficos e dispostos em vários sentidos. 

Após o 63° dia foi observado recidiva do tumor com aumento de volume e ulceração, com a área da ferida apresentado aproximadamente 4 cm de comprimento, 7 cm de comprimento, 4 cm de largura e 5 cm de altura (Figura 1), sendo definido como escolha tratamento de excisão cirúrgica associada à quimioterapia intratumoral, com cisplatina (C-Platin 50mg®). No 64° dia de tratamento o procedimento cirúrgico foi realizado em estação, seguindo o mesmo protocolo de sedação anteriormente e preparo cirúrgico, sendo realizada novamente uma exérese do tumor com área de segurança de 2 cm (Figura 1).

No 80° dia foi administrado cisplatina intratumoral na dose de 1mg/cm3 de massa (10), com 4 administrações, com intervalo de 14 dias entre elas. Durante o tratamento, foi constatado regressão da lesão, com remissão total do tumor macroscópicamente após a 4° administração, no 125° dia de tratamento (Figura 3).

Figura 3 Aspecto macroscópico da ferida na região supra orbital esquerda e evolução do tratamento quimioterápico após a segunda excisão cirúrgica do tumor, em função do tempo (dias). 

Legenda: 64° dia: 1 dia após a segunda excisão cirúrgica do tumor; 80° dia: Dia da primeira quimioterapia com cisplatina; 88° dia: 8 dias após a primeira quimioterapia com cisplatina; 95° dia: dia da segunda quimioterapia com cisplatina; 110° dia: dia da terceira quimioterapia com cisplatina; 125° dia: dia da quarta quimioterapia com cisplatina.

O animal foi acompanhado durante 7 meses após a última administração do quimioterápico, não apresentando recidiva nos 317 dias após o início do tratamento (Figura 4).

Figura 4 Aspecto macroscópico ilustrando 317° dias após início do tratamento para sarcóide na região supra orbital esquerda demonstrando o 195 dias após a última aplicação intratumoral com cisplatina 

DISCUSSÃO

Para a remoção do sarcóide é recomendada a excisão cirúrgica com uma margem de segurança de pelo menos de 1 cm, tentando assim, diminuir as chances de recidiva, pois acredita-se que a presença do DNA do Vírus do Papiloma Bovino (BPV) ocorra nas margens das lesões 12. Por outro lado, a remoção cirúrgica do sarcóide tem como desvantagem uma alta taxa de recidiva, como demonstrado neste relato de caso, mesmo com a retirada de margem de segurança de aproximadamente 1 cm ao redor da lesão, demonstrando que mesmo com essa preocupação ainda restou algum resquício de célula cancerígena na região excisada, sendo necessário a associação de outras técnicas além do procedimento cirúrgico.

A associação com outras técnicas tais como criocirurgia, hipertermia e quimioterapia diminuem a frequência da recidiva 8. O uso concomitante de quimioterapia intratumoral é recomendado para diminuir as chances de recidiva dos tumores cutâneos após sua excisão cirúrgica 13.

Os quimioterápicos mais utilizadas em tumores equinos são a bleomicina, cisplatina e o 5-fluorouracil 14. Neste relato de caso, o quimioterápico de escolha para administrar após a excisão cirúrgica foi a cisplatina (15, 11,12.

O quimioterápico cisplatina (cis-diamminedichloroplatinum) é um composto inorgânico com platina em sua base molecular, sua ação ocorre com o impedimento da transcrição e replicação do DNA da célula tumoral, é um dos quimioterápicos mais eficazes. Entretanto, os pesquisadores relatam alta taxa de toxicidade quando utilizado por via sistêmica, e por possuir um alto poder carcinogênico, necessitando a utilização de proteção pelos profissionais da saúde 13.

A alternativa para evitar essa toxicidade é administrar uma dose menor com a utilização por via intratumoral, alternativa essa, utilizada no presente caso, em que foram explorados os efeitos da resposta do tratamento em relação à dose administrada do fármaco, maximizando sua concentração 13. Entre as vantagens da administração da cisplatina por via intratumoral estão a ausência de necrose tecidual e sua toxicidade, sendo independente da taxa de crescimento tumoral 14.

O início do tratamento deste relato de caso foi realizado 15 dias após a excisão cirúrgica, como demonstrado na literatura, sendo comparado o início de tratamento com quimioterapia cisplatina por via intratumoral imediatamente e 15 dias após a excisão cirúrgica, sendo constatado que não existiu diferença entre os protocolos, com a remissão da massa tumoral 6.

A evolução do tratamento do sarcóide deste trabalho demonstrou que o tratamento foi eficiente durante as 4 administrações intratumorais com cisplatina, com remissão completa sem recidiva como observado nas figuras 2 e 3, concordando com a literatura 14 que utilizaram a cisplatina intralesional. Foi observado uma melhora em 96% dos equinos com sarcóide tratados com o mesmo protocolo utilizado neste relato de caso 12.

Em conclusão, o tratamento com cisplatina intratumoral após excisão cirúrgica mostrou-se eficaz, promovendo a regressão total do tumor macroscópicamente, demonstrando ser um produto de fácil manipulação, tendo como desvantagem o tratamento de longa duração, sendo necessário utilização de proteção de quem o manipular.

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Como citar (Vancouver): Martins RR, Mendes FR, Santana F, da Silva FRD, Hauch AMC; Moreira de FV. Aplicação intratumoral de cisplatina no tratamento de sarcóide periocular em equino. Rev Colombiana Cienc Anim. Recia. 2022; 14(2): e919. https://doi.org/10.24188/recia.v14.n2.2022.919

Recebido: 13 de Abril de 2021; Aceito: 20 de Julho de 2021; Publicado: 05 de Agosto de 2021

* Correspondência: vetrodrigo@msn.com

Conflicto de interesses

Declaramos no tener conflictos de interés con respecto al trabajo presentado en este informe

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