A escola é um ambiente de grande contribuição para a promoção da saúde emocional quando analisamos o ser humano como um ser biopsicossocial. Assim, percebe-se que qualquer alteração - psicológica, ambiental ou biológica - o afeta. Compreendendo que o público-alvo da pesquisa é o estudante na adolescência, vê-se a importância de analisar essa fase tão importante do desenvolvimento humano, principalmente em situações como a vivida durante a pandemia da covid-19, em que o sistema educacional foi um dos mais afetados em todo o mundo (Naito et al,2022; Nery et al.,2022). A adolescência é considerada uma das muitas etapas de desenvolvimento do ser humano, durante a qual ocorrem transformações físicas, cognitivas, emocionais e sociais de forma acelerada e exigente (Oliveira, ).
Segundo a Organização Mundial de Saúde, a adolescência compreende a fase de desenvolvimento do indivíduo entre dez e dezenove anos de idade, definição esta adotada também pelo Ministério da Saúde no Brasil (). Esse é um momento único que molda as pessoas para a vida adulta. Enquanto a maioria dos adolescentes tem uma boa saúde mental, múltiplas mudanças físicas, emocionais e sociais - incluindo a exposição à pobreza, abuso ou violência - podem torná-los vulneráveis a condições de saúde mental. Promover o bem-estar psicológico e protegê-los de experiências adversas e fatores de risco que possam afetar seu potencial de prosperar não são apenas fundamentais para seu bem-estar, mas também para sua saúde física e mental na vida adulta. A não adaptação a estas mudanças poderá se transformar num estado de vulnerabilidade e problemas psicológicos. As alterações nos seus padrões físicos ou psicológicos acarretam um conjunto de transformações provocando na sua vida mudanças cognitivas e sociais (Vieira et al.,2019).
Durante o período da adolescência, existe um conjunto de pressões e exigências que mudam obrigatoriamente a forma de viver, por ser um momento de muitas mudanças, as quais apresentam três principais aspectos do desenvolvimento: o físico, o psicológico e o social, os quais devem ser levados em consideração (Minayo & Ghalhano, 2015). O bem-estar impulsiona o desenvolvimento saudável destes três aspectos. Esse tem sido um importante objeto de estudo no campo da psicologia.
Existem diferentes concepções de bem-estar (Deci & Ryan, 2008; Ryan & Deci, ), o qual consiste na experiência e funcionamento psicológico. Este desempenha grande influência em vários aspectos da vida, tais como o ensino, o estilo educativo e a religião, pois todas estas áreas têm como principal foco promover a transformação do indivíduo num ser humano melhor.
Ao analisar o adolescente e o professor como indivíduos biopsicossociais, podemos verificar que existe um interesse da comunidade científica em conhecer melhor essa relação, bem como o que a envolve. Escolher ser professor é uma decisão que compreende uma das profissões consideradas mais estressantes e desgastantes na atualidade. Certamente isso ocorre devido às mudanças sociais e ao aumento significativo da demanda diária de trabalho, bem como à pressão social que o professor tem vivenciado ao ser inserido na sociedade do conhecimento. Essa é uma profissão que requer muitas habilidades, entre elas ser capaz de aprender, ensinar e sem dúvidas contribuir de maneira significativa para a promoção de uma sociedade rica em conhecimento (Guimarães et al.,2019).
Visando a importância do bem-estar psicológico de quem faz acontecer o processo de ensino-aprendizagem, voltamos o olhar para o espaço que possibilita o equilíbrio desse desenvolvimento: a escola. Ao falar de escola é necessário mencionar as ações pedagógicas, as quais precisam estar embasadas num ambiente afetivo, sendo ele agente de grande influência para uma aprendizagem saudável e eficaz. Assim como o estudo de Rezapour et al. (2022), este visa a elencar algumas informações importantes sobre as emoções de alunos e professores e sua relação com outros fatores.
O bem-estar psicológico pode ser entendido como o equilíbrio emocional entre os fatores internos de cada indivíduo e as suas experiências com o ambiente externo. Ou seja, é estar bem consigo mesmo e simultaneamente com os outros, aceitar as exigências e dificuldades do dia a dia, saber lidar, enfrentar ou gerir as emoções, maximizando a plenitude da vida com respeito (Lima et al., 2021). Além disso, pode ser analisado a partir de seis dimensões: relações positivas com outros, autonomia, domínio sobre o ambiente, crescimento pessoal, propósito na vida e autoaceitação (Machado et al., ).
Durante muito tempo, confundiu-se ensinar com transmitir. Nesse contexto, o estudante era um agente passivo da aprendizagem e o professor era um transmissor não necessariamente presente nas necessidades do estudante. Acreditava-se então que estudantes e professores habitavam mundos diferentes e que os propósitos da educação eram distintos, nos quais alguns se propunham a falar e outros a ouvir. Entretanto, a escola deve se ocupar com a questão do conhecimento e da qualidade de suas relações, visto que as interações afetivas existentes no cotidiano escolar são de suma importância para o desenvolvimento e a construção do conhecimento (Paiva, 2019).
Muitos são os desafios da vida acadêmica, especialmente quando se trata do público adolescente, pois esta é uma fase que merece muita atenção. Diante da relevância do tema, e com intuito de transformar e ampliar o olhar para o ambiente educacional, o presente estudo está focado no bem-estar psicológico do estudante na adolescência. Certamente, se há o bem-estar de seus professores, ambos terão maior suporte emocional para lidarem com os contratempos que surgirem. É também objetivo do estudo a análise da influência do ambiente educacional de internato na promoção do bem-estar psicológico de professores e estudantes, para propiciar o desenvolvimento de espaços de produção social e ambientes saudáveis, favoráveis ao desenvolvimento humano e ao bem-viver (Brasil, ), tendo em vista ser mais comum encontrar estudos acerca da saúde física do que do bem-estar psicológico em adolescentes (Cordero-López & Calventus-Salvador, 2022). Ter estudantes morando na escola significa participar de forma intensificada de seu desenvolvimento e envolve ações que contribuem para a formação de um estudante autônomo, um cidadão ativo e independente.
Método
Caracterização do estudo e participantes
Esta pesquisa é de natureza aplicada, transversal, de abordagem quantitativa. A educação básica da instituição de ensino onde aconteceu a pesquisa é composta por 524 estudantes. O critério de inclusão está vinculado aos estudantes que frequentam a escola no regime de internato, matriculados no Ensino Médio - 1°, 2° e 3° anos -, sendo o total de 129. Os estudantes inseridos nesse processo são adolescentes de ambos os sexos. Participaram também da pesquisa 27 professores das diversas disciplinas que atuam no contexto de internato.
Local
O cenário para a realização do estudo é uma casa de ensino que atua em regime misto, sendo de externato e internato, onde há estudantes que estudam e residem na instituição e outros que estudam, mas residem fora. Os estudantes participantes são os matriculados no regime de internos, ou seja, os que estudam e moram no local, bem como os professores que fazem parte desse contexto. A instituição de internato escolhida está localizada no Sul do Brasil, no estado do Paraná.
Instrumentos
Foram utilizados instrumentos selecionados de acordo com as variáveis do estudo.
Questionário semiestruturado para coleta de dados sociodemográficos. Os participantes foram divididos em dois grupos, sendo um deles composto por estudantes e o outro por professores. Os estudantes responderam um questionário sociodemográfico contendo os seguintes itens: nome, idade, sexo, cor, série, como conheceu a instituição, há quanto tempo é estudante interno na instituição, se faz ou não acompanhamento psicológico e, se faz, há quanto tempo esse acompanhamento acontece. Os professores responderam um questionário sociodemográfico, o qual contém itens diferentes, tais como: nome, idade, sexo, cor, há quanto tempo é professor na instituição, qual é sua formação e área de atuação.
Escala de bem-estar psicológico (EBEP). Os 129 estudantes e os 27 professores participantes da pesquisa responderam a EBEP, adaptada para o português por Machado et al. (2013), a partir da versão original de Ryff e Essex (1992). A escala original é composta por 84 questões, divididas em seis fatores, as quais avaliam as dimensões do bem-estar psicológico: autoaceitação, propósito na vida, domínio do ambiente, relações positivas com outros, crescimento pessoal e autonomia. A versão adaptada ao português contém 36 questões, sendo distribuídas em seis itens para cada uma das dimensões citadas. Os itens são respondidos numa escala do tipo Likert de seis pontos, variando de "discordo totalmente" (1) a "concordo totalmente" (6).
Procedimentos
A pesquisa respeitou todos os procedimentos éticos, baseados nos parâmetros definidos pela Comissão Nacional de Ética em Pesquisa. O estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa local com o Parecer n° 4.024.664.
Análise de dados
A análise quantitativa dos dados aconteceu por meio de estatística descritiva e testes de comparação de grupos. Neste estudo, após a constatação da não normalidade dos dados, realizou-se o Teste Mann-Whitney para comparação entre os grupos de acordo com as características sociodemográficas. Este teste é usado para comparar tendências centrais de duas amostras independentes - como no caso deste estudo: estudantes e professores. Em seguida, apenas para o grupo de estudantes foi realizada uma análise de cluster não hierárquico (Johnson & Wichern, 2007) com base no algoritmo k-means, com a finalidade de identificar subgrupos quanto às características de bem-estar psicológico, a partir da EBEP. Esta técnica exploratória de análise multivariada de dados permite classificar um conjunto de categorias em grupos considerados homogêneos a partir da observação das similaridades ou dissimilaridades entre elas. O método k-means consiste na transferência de um sujeito - observação - para um cluster em que o centróide se encontra a menor distância.
A quantidade de grupos foi definida pelo método Average Silhouette. Após a divisão dos dois grupos resultantes da análise de cluster, para comparação entre os grupos e verificar se havia diferenças entre eles, procedeu-se novamente às análises de comparação de grupos. Este tipo de análise para definir a quantidade de grupos mede o quão bem um ponto se encaixa num cluster, sendo sua classificação definida pelo seu valor próximo de +1 (indicando que os pontos estão muito longe dos pontos do outro cluster) ou próximo de 0 (indicando que os pontos estão muito perto ou até interseccionando um outro cluster) (Ferreira, 2008). As análises quantitativas foram conduzidas com o R Language for Statistical Computing da R Foundation, Viena.
Resultados
Os resultados obtidos envolvem dois grupos distintos: estudantes e professores. São apresentados de acordo com as características dos participantes, iniciando pela análise descritiva dos dados dos estudantes, em seguida de seus professores.
Pela análise descritiva da caracterização da amostra, verificamos que dos 129 estudantes matriculados na Educação Básica - Ensino Médio - em regime de internato, tivemos a participação de 106, o que equivale a 82,2 %. Os outros 23 (17,8 %) estudantes decidiram não participar. Já entre os professores, todos aceitaram participar do estudo, sendo um total de 27. Estes e outros dados podem ser encontrados na tabela 1.
Dos 106 estudantes envolvidos, 55 (51,9 %) pertencem ao sexo feminino e 51 (48,1 %) são do sexo masculino. A idade dos participantes variou entre 14 e 18 anos, sendo a média de 15,8 anos (±1,01). As séries em que os estudantes estão inseridos corresponde ao Ensino Médio, desta forma 32 (30,2 %) são estudantes do 1° ano, 42 (39,6 %) do 2° ano e 32 (30,2 %) do 3° ano. O tempo que os estudantes estão no internato também variou: 33 (31,1 %) estão no internato há menos de um ano, 22 (20,8 %) há um ano, 26 (24,5 %) há dois anos e 25 (23,6 %) há três anos.
Uma variável importante para compreender o bem-estar psicológico diz respeito ao acompanhamento psicológico dos estudantes. Neste estudo, pode-se notar que somente 15 (14,1 %) deles estão inseridos nesse processo. Os outros 91 (85,9 %) mencionam que não fazem esse acompanhamento com profissional da psicologia.
Uma questão importante de se levar em conta é sobre como os estudantes conheceram o colégio. Nesse quesito houve uma variação interessante de pelo menos onze formas. Entre elas destacam-se duas: 25 estudantes relatam que conheceram o internato através de amigos; da mesma maneira, a pesquisa nos mostrou que a família é o meio pelo qual o maior número de estudantes conheceu o internato, sendo o total de 66.
De outro lado, o convite para participar da pesquisa foi aceito pelos 27 professores, ou seja, todos os que têm contato direto com os estudantes matriculados em regime de internato, sendo eles distribuídos em 11 (40,7 %) do sexo feminino e 16 (59,3 %) do sexo masculino. A idade dos professores variou entre 23 e 64 anos, sendo a média de 36,55 anos (± 9,27). O tempo que os professores atuam no internato também foi variado: os mais recentes (7 professores) estão no colégio há 2 anos ou menos (25,9 %); no entanto, a maioria deles (20) está no colégio há mais de três anos. Além disso, é importante destacar que três deles atuam no colégio há mais de 20 anos.
Após conhecer as características dos participantes da pesquisa, realizou-se a análise comparativa dos grupos de estudantes de acordo com algumas das variáveis sociodemográficas (tabela 2). A primeira análise refere-se à comparação dos grupos de acordo com o sexo. A análise foi pautada na EBEP, levando em consideração as seis dimensões propostas aí.
Nota. Para o teste de Mann-Whitney, o tamanho do efeito é dado pela correlação bisserial de classificação.
* Diferença estatisticamente significativa.
A partir dos dados presentes na tabela 2, pode-se perceber que algumas dimensões do instrumento apresentam valores superiores para os estudantes do sexo masculino: relações positivas com outros, autonomia, propósito de vida e autoaceitação. Já as estudantes do sexo feminino apresentaram valores superiores para as dimensões: domínio sobre o ambiente e crescimento pessoal. No entanto, apenas a dimensão de autonomia apresentou diferença estatisticamente significativa entre os grupos, demonstrando que os estudantes do sexo masculino se apresentam mais autodeterminados e independentes do que as do sexo feminino, capazes de resistir às pressões sociais e autorregular o seu comportamento.
A análise de dados seguiu o mesmo formato para as respostas dos professores (tabela 3).
A partir dos dados presentes na tabela 3, pode-se perceber que algumas dimensões do instrumento apresentam valores superiores para as professoras: domínio do ambiente, crescimento pessoal, propósito de vida e autoaceitação. Já os professores do sexo masculino apresentaram valores superiores para a dimensão de autonomia. Na dimensão de relações positivas com as pessoas, os professores tanto do sexo feminino quanto do sexo masculino apresentaram os mesmos valores. Podemos notar que o grupo de professores não apresentou diferença estatisticamente significativa entre os grupos. Isso pode ser explicado também pelo tamanho da amostra analisada.
Após os resultados apresentados, recorreu-se à análise de cluster para verificar a possibilidade de encontrar grupos com características diferentes quanto ao bem-estar psicológico apenas para o grupo de estudantes. Neste sentido, utilizou-se a análise de cluster não hierárquica com base no algoritmo k-means. A figura 1 representa o resultado da análise de cluster dividindo os grupos em 2 clusters.
A figura 1 ilustra a formação dos dois grupos. O número de grupos foi definido pelo método Average Silhouette. O primeiro cluster foi formado por 22 estudantes (20,7 %), enquanto o segundo cluster por 84 (79,3 %). Estes grupos foram separados para que as características de bem-estar psicológico ficassem mais fáceis de se observar, sendo assim possível criar ações mais efetivas a grupos específicos de acordo com suas necessidades. Estes resultados referentes ao bem-estar psicológico dos dois clusters formados podem ser observados na tabela 4.
Nota. Para o teste de Mann-Whitney, o tamanho do efeito é dado pela correlação bisserial de classificação.
Ao analisar a diferença quanto ao bem-estar psicológico dos dois grupos formados pela análise de cluster, verifica-se na tabela 4 que há diferença estatisticamente significativa entre os dois grupos. O grupo 2 é formado por estudantes que apresentam índices melhores no bem-estar psicológico em todos os domínios analisados. Além disso, o tamanho do efeito das análises para todos os domínios é considerado grande, variando de 0,38 a 0,88 (Kerby, 2014).
Discussão
A pesquisa se propôs a refletir sobre o ambiente educacional de internato e suas relações com a promoção do bem-estar psicológico de professores e estudantes. Assim, foi possível analisar algumas variáveis, as quais respondem aos objetivos propostos inicialmente. Neste momento serão apresentados como pano de fundo os principais pressupostos teóricos que contribuem para o alicerce da pesquisa, associando-os ao conceito de bem-estar psicológico e aos resultados obtidos.
O conceito de bem-estar psicológico pode ser analisado a partir de seis dimensões definidas teoricamente: a relação positiva com as pessoas, a autonomia, o domínio do ambiente, o crescimento pessoal, o propósito de vida e a autoaceitação (Lima et al.,2021; Ryff, 1989; Santos et al.,2019). Este estudo tinha como hipóteses o fato de professores e estudantes perceberem o ambiente educacional de internato como um cenário que lhes permite transformarem-se em verdadeiros protagonistas de suas vidas, ao receber todo apoio para que essa transformação seja possível. Ou seja, percebem que o desenvolvimento da autonomia é mais evidente.
Sabe-se que as transformações durante o período da adolescência acontecem de forma gradual. Essas transformações são influenciadas por diversos aspectos, entre eles o comportamento de dependência afetiva e de vínculos com os pais, na medida em que o adolescente vai adquirindo capacidades e reconhece sua autonomia. Cavadas (2011) destaca que, neste período, o adolescente conhece grandes alterações no suporte social recebido, devido à extensão e às variações nas suas relações sociais, as quais se estendem para além do núcleo familiar. A convivência com os pares na escola, com os professores e demais profissionais da educação faz com que o adolescente comece a explorar novas possibilidades de relacionamentos.
Estas variações rodeiam, por exemplo, a extensão de suas redes sociais. Cresce o leque de possibilidades de serem influenciados de outras formas, como por outros adultos, os professores e o surgimento de novas relações de pares, algumas delas marcadas por grande proximidade que podem lhe acompanhar por muitos anos (Simões et al.,2018). Embora sejam muitas as formas de serem influenciados, é notável que o adolescente não dispense o referencial dos pais como figuras fundamentais durante esse processo, visto que há uma complementaridade entre a vinculação e a autonomia (Cavadas, 2011; Fleming, 1988).
A proximidade com os professores do colégio em questão torna-se um fator importante para que os estudantes se desenvolvam e compreendam como este ambiente pode colaborar para seu crescimento pessoal. Trabalhar no colégio por muitos anos significa desenvolver competências e habilidades que auxiliam não apenas no processo de didática, mas também nas relações sociais ali vivenciadas. Estar inserido no ambiente por um determinado tempo envolve ter a capacidade de domínio sobre ele, que é a capacidade de escolher ou criar ambientes adequados que correspondam às suas características psíquicas, o que reflete a participação em seu meio, bem como a manipulação e controle de ambientes complexos. Foi notável que esse também é um item bem desenvolvido no ambiente educacional de internato (Strelhow, 2017).
A autoaceitação é definida como o aspecto central da saúde mental, pois envolve a característica marcante relacionada ao elevado nível de autoconhecimento e maturidade. As atitudes positivas sobre si mesmo surgem como um dos principais aspectos do funcionamento psicológico positivo. Os resultados encontrados nesta pesquisa mostram que o ambiente onde estão inseridos alunos e professores exerce influência no processo de autoaceitação (Santos et al.,2019).
Além da autoaceitação, um outro aspecto que também é bastante evidente é o relacionamento positivo com outras pessoas, o sentimento de empatia e afeição por todas as pessoas com quem eles se envolvem. O relacionamento interpessoal envolve a capacidade de amar fortemente, manter os laços afetivos e de amizade, além da identificação com o outro (Santos et al.,2019). Com relação ao crescimento pessoal, chama a atenção o fato dos professores e estudantes relacionarem a influência desse crescimento e desenvolvimento em seus propósitos de vida. Eles retratam de forma envolvente como o ambiente em que estão inseridos e a convivência com as pessoas que os cercam promovem a reflexão sobre seus propósitos de vida.
Como observado nos resultados, o grupo de estudantes analisados apresenta características de bem-estar psicológico homogêneas quanto ao sexo. Este é o motivo pelo qual a análise de cluster foi administrada posteriormente. O propósito de encontrar grupos distintos quanto a esta variável foi descobrir padrões que possam guiar professores e educadores a desenvolverem estratégias de promoção da saúde no ambiente escolar. A identificação de estudantes com características mais frágeis de bem-estar psicológico pode direcionar ações mais efetivas e necessárias.
O fator cognitivo presente no contexto do bem-estar refere-se à forma como acontecem as interpretações e a construção de crenças sobre a percepção de mundo. O fator motivacional está relacionado aos valores empregados ao sujeito, o que retrata suas metas pessoais. O afetivo envolve o nível de satisfação com a vida, ou seja, o que o motiva a viver (Mello & Araújo, 2013). Certamente os propósitos de vida auxiliam no enfrentamento de situações desafiadoras que envolvem sofrimento, podendo desta forma contribuir para a promoção da saúde e qualidade de vida de professores e estudantes. É desafiador avaliar as características de bem-estar psicológico de estudantes e professores (Naito et al.,2022), sendo este fator associado e influenciado por fatores do ambiente e as relações estabelecidas.
Considerações finais
Este artigo foi desenvolvido a partir do objetivo de apresentar algumas considerações sobre a influência do ambiente educacional de internato para a promoção do bem-estar psicológico de professores e estudantes. Como considerações finais, tem-se que a relação do bem-estar psicológico de professores e estudantes inseridos no ambiente educacional de internato está vinculada aos propósitos pelos quais eles decidiram fazer parte desse contexto. Ou seja, se o indivíduo escolheu estar no internato por sentir que esse é um ambiente de novas descobertas, de aventura, desafios, que poderá contribuir para a sua formação pessoal, acadêmica e emocional, certamente terá sucesso em sua jornada, no entanto a experiência dos indivíduos que estão inseridos nesse contexto contra sua vontade poderá ser aversiva.
Para além dos resultados encontrados, e apesar dos objetivos alcançados, este estudo apresenta algumas limitações que precisam ser destacadas. Primeiro, há que se levar em consideração o tamanho da amostra, que pode ser um fator influenciador nos resultados quantitativos, no entanto, para um estudo com características institucionais, a amostra foi significativa quanto à totalidade dos estudantes e professores do Ensino Médio. Outro ponto a ser destacado é com relação à natureza dos dados. Ou seja, recomenda-se que futuros estudos sejam realizados com o objetivo de compreender as características de bem-estar psicológico e sua relação com o ambiente educacional, explorando dados mais qualitativos e estruturais do ambiente em questão.
Apesar das limitações apresentadas, este estudo foi capaz de demonstrar como as características psicológicas podem ser influenciadas pelas questões ambientais. Bem como, as relações sociais indicam uma possibilidade de facilitação na adaptação dos estudantes a um novo ambiente cercado de desafios.