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Revista Cuidarte

Print version ISSN 2216-0973

Rev Cuid vol.7 no.2 Bucaramanga July/Dec. 2016

https://doi.org/10.15649/cuidarte.v7i2.329 

doi: http://dx.doi.org/10.15649/cuidarte.v7i2.329

ARTÍCULO ORIGINAL

RISCO DE ADOECIMENTO DOS PROFISSIONAIS DE ENFERMAGEM NO TRABALHO EM ATENDIMENTO MÓVEL DE URGÊNCIA

RIESGO DE ENFERMEDAD DE LOS PROFESIONALES DE ENFERMERÍA EN EL TRABAJO EN LA ATENCIÓN MÓVIL DE URGENCIA

RISK OF DISEASE OF NURSING PROFESSIONALS AT WORK IN EMERGENCY MOBILE SERVICE

Fabiana A. Worm1, Márcia A. Oliveira Pinto1, Diego Schiavenato1, Rosana Amora Ascari2, Leticia de Lima Trindade3, Olvani Martins da Silva4

1 Enfermeiro (a), Graduado (a) em Enfermagem pela Universidade do Estado de Santa Catarina - UDESC. Chapecó, Brasil. E-mails: faworm@gmail.com, titamarcia@yahoo.com.br, diegorai@yahoo.com.br
2 Doutoranda em Enfermagem. Mestre em Saúde Coletiva. Professora Assistente do Departamento de Enfermagem da Universidade do Estado de Santa Catarina - UDESC. Chapecó, Brasil. Autor para Correspondência. E-mail: rosana.ascari@hotmail.com
3 Doutora em Enfermagem. Professora Adjunta do Departamento de Enfermagem da Universidade do Estado de Santa Catarina - UDESC. Chapecó, Brasil. E-mail: letrindade@hotmail.com
4 Doutoranda em Enfermagem. Mestre em Unidade de Terapia Intensiva. Professora Assistente do Departamento de Enfermagem da Universidade do Estado de Santa Catarina - UDESC. Chapecó, Brasil. E-mail: olvanims @hotmail.com

Histórico
Recibido: 04 de Enero de 2016
Aceptado: 07 de Abril de 2016

Cómo citar este artículo: Worm FA, Pinto MA, Schiavenato D, Ascari RA, Trindade L, Silva OM. Risco de adoecimento dos profissionais de enfermagem no trabalho em atendimento móvel de urgência. Rev Cuid. 2016; 7(2): 1288-96. http://dx.doi.org/10.15649/cuidarte.v7i2.329

© 2016 Universidad de Santander. Este es un artículo de acceso abierto, distribuido bajo los términos de la licencia Creative Commons Attribution (CC BY-NC 4.0), que permite el uso ilimitado, distribución y reproducción en cualquier medio, siempre que el autor original y la fuente sean debidamente citados.


RESUMO

Introdução: O trabalho dos profissionais de enfermagem do Serviço de Atendimento Móvel é de extremo risco ao adoecimento, por contaminação com fluídos, perfuro cortantes, risco no trânsito, ergonômicos, violência, físico e psicológico. Este estudo objetivou mapear os fatores de risco ao adoecimento relacionado ao trabalho dos profissionais de Enfermagem da Equipe do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência Materiais e Métodos: Foi realizado um estudo transversal, através de um instrumento validado (Inventário sobre Trabalho e Riscos de Adoecimento). A amostra foi composta por 18 indivíduos maiores de 18 anos, técnicos de enfermagem e enfermeiros atuantes no atendimento móvel. Excluíram-se profissionais em férias e os ausentes. Resultados: Na avaliação do contexto de trabalho, a organização do trabalho foi apontada como crítica. Os Indicadores Prazer e Sofrimento no Trabalho apontaram liberdade de express ão dos profissionais, por outro lado há falta de reconhecimento e esgotamento profissional. Para a avaliação dos danos relacionados ao trabalho destacam-se os danos físicos. Discussão: Na avaliação crítica, os profissionais sinalizaram que estão insatisfeitos com a “organização do trabalho”. Quanto ao prazer e sofrimento destacou-se o “esgotamento profissional” e a “falta de reconhecimento”. Os danos físicos evidenciados estiveram relacionados ao trabalho. Conclusões: Os resultados mostram que a equipe de enfermagem do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência apresenta riscos de adoecimento, principalmente relacionado ao fator físico e psicológico.Â É necess ário rever as condições de trabalho destes profissionais, buscando a melhoria do local de trabalho. O risco ao adoecimento traz prejuízos no trabalho e na vida do profissional.

Palavras chave: Enfermagem, Riscos Ocupacionais, Saúde do Trabalhador. (Fonte: DeCS BIREME).


RESUMEN

Introducción: El trabajo de los profesionales de enfermería del Servicio de Atención Móvil es de extremo riesgo de enfermedad, por contaminación con fluidos, perforaciones cortantes, riesgo en el tránsito, ergonómicos, violencia, física y psicológica. Este estudio tuvo como objetivo trazar los factores de riesgo de enfermedad relacionado al trabajo de los profesionales de Enfermería del Servicio de Atención Móvil de Urgencia. Materiales y Métodos: Fue realizado un estudio descriptivo, con abordaje cuantitativo, a través de un instrumento validado (Inventario sobre Trabajo y Riesgos de Enfermedad). Fueron incluidos en la investigación 18 individuos mayores de 18 años, técnicos de enfermería y enfermeros que actuaban en la atención móvil. Se excluyeron los profesionales que estaban de vacaciones y los ausentes. Resultados: La evaluación en el contexto de trabajo fue crítica. Los indicadores de placer y sufrimiento se presentaron satisfactorios. Para los daños relacionados al trabajo, se destacan los daños físicos. Discusión: En la evaluación crítica, los profesionales señalaron que están insatisfechos con la “organización del trabajo”. En cuanto al placer y sufrimiento se destacó el “agotamiento profesional” y la “falta de reconocimiento”. Los daños físicos evidenciados estuvieron relacionados al trabajo. Conclusiones: Los resultados muestran que el equipo de enfermería del Servicio de Atención Móvil de Urgencia presenta riesgos de enfermedad, principalmente relacionado al factor físico y psicológico. Es necesario revisar las condiciones de trabajo de estos profesionales, buscando la mejora del lugar de trabajo. El riesgo de enfermedad trae prejuicios en el trabajo y en la vida del profesional.

Palabras clave: Enfermería, Riesgos Laborales, Salud Laboral. (Fuente: DeCS BIREME).


ABSTRACT

Introduction: The job of the nursing team of the Mobile Service is at extreme risk to illness, by contamination with fluids or piercing and slashing objects, risk in traffic, risk in ergonomics, violence physical and psychological. This study aimed to map the risk factors to diseases related to the work of nursing professionals of the Mobile Emergency Service Team. Material and Methods: A descriptive study was conducted with a quantitative approach, using a validated instrument (Inventory Labor and Illness Risk). The study included patients over 18 years old, nursing technicians and nurses working on mobile service of emergency. Were excluded the professionals that were on vacation and missing. Results: The assessment in the context of the work was critical. Pleasure and suffering indicators presented themselves satisfactorily. For damages related to work, the evaluation was moderate criticism. Discussion: In the critical evaluation, professionals indicated dissatisfaction with the "organization of work". As pleasure and suffering, it was highlighted the "burnout" and "lack of gratefulness". The evident physical damages were related to work. Conclusions: The results show that the nursing team of the Emergency Service is submitted to illness risks, mainly related to the physical and psychological factor. It is necessary to review the working conditions of these professionals, aiming to improve the workplace. The risk to illness harms the work and life of this professional.

Key words: Nursing, Occupational Risks, Occupational Health. (Source: DeCS BIREME).


INTRODUÇÃO

Na área da saúde, o trabalho do Serviço Atendimento Móvel de Urgência (SAMU) objetiva classificar e priorizar as urgências e emergências, buscando evitar que intervenções desnecess árias sejam levadas ao hospital. Garantir que o usuário utilize dos meios de assistência pública de acordo com seu estado clínico, levando em conta o livre arbítrio do mesmo, garantindo o direcionamento aos locais adequados e a continuidade no seu tratamento, priorizando suas necessidades e complexidades1.

O trabalho no atendimento de emergência é desempenhado com suporte de muitos aparelhos necess ários para a manutenção da vida e estabilização do paciente, estes aparatos tecnológicos podem gerar estresse aos profissionais de saúde, produzindo ansiedade, sofrimento, uma vez que lidam com situações que requerem agilidade, raciocínio rápido, bem como técnicas aperfeiçoadas. Neste contexto estes indivíduos estão sujeitos há um desgaste profissional, ao estresse laboral crônico, e consequentemente a Síndrome de Burnout2.

O ambiente laboral compõe-se de um conjunto de fatores que de forma direta ou indireta podem provocar riscos ao profissional, camuflando ou retardando sinais e sintomas de comprometimentos à saúde do trabalhador3. Existem fatores no meio ambiente de trabalho que são nocivos ao organismo, tais como as condições físicas, biológicas e emocionais4.

Assim o profissional de enfermagem do SAMU está constantemente exposto a riscos à saúde, seja em ambiente hospitalar, clínicas, domicílio ou atendimento móvel. Nos últimos anos houve uma expans ão dos serviços de urgência e emergência no Brasil os quais tem empregado muitos profissionais de enfermagem, com notória representatividade no cenário brasileiro o que despertou o interesse em conhecer quais os fatores de risco ao adoecimento presente no cotidiano laboral da equipe de enfermagem do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência.

Os trabalhadores de enfermagem vêm enfrentando situações danosas à saúde com o uso de estratégias coletivas de defesa frente às adversidades no ambiente de trabalho, tais como o distanciamento que assumem frente à morte e a despersonalização que se constata pela frieza/humor em suas atitudes no trabalho5. Neste sentido, o objetivo deste estudo é identificar os fatores de risco ao adoecimento relacionado ao trabalho de enfermagem em Serviço de Atendimento Móvel de Urgência.

MATERIAIS E MÉTODOS

Estudo transversal, exploratório e descritivo com quatro enfermeiros e 14 técnicos de enfermagem e 4 enfermeiros atuantes no atendimento móvel de urgência, vinculados à base do SAMU da região Oeste de Santa Catarina pertencente aos Municípios de Chapecó, Xanxerê, São Miguel do Oeste, Maravilha, Palmitos e São Carlos. Foram excluídos os profissionais que estavam em licença, férias e com tempo de trabalho inferior a um ano.

Para a coleta de dados, as pesquisadoras com horário agendado no local de estudo, distribuíam os questionários, os quais eram preenchidos pelos informantes sem a presença do pesquisador. Em um segundo encontro, estes eram recolhidos pelas pesquisadoras.

O instrumento utilizado foi Inventário sobre Trabalho e Riscos de Adoecimento (ITRA), que busca identificar os riscos de adoecimento sendo avaliado o contexto de trabalho, exigências /custo humano no trabalho e efeitos do trabalho para a saúde, o qual validado no Brasil em 2003 e readaptado em 2004 e 20066.

O referido instrumento permite conhecer o perfil dos antecedentes no processo de adoecimento, é composto por escala tipo Likert, podendo atingir cinco ou sete pontos a cada item investigado, sendo a soma desses pontos a representação simbólica do que espera medir6. O ITRA é composto de quatro sub-escalas e 128 itens (afirmativos), que avalia diferentes riscos de adoecimentos, a saber: Escala de avaliação do Contexto de Trabalho - EACT; Escala de custo humano no trabalho - ECHT; Escala de indicadores de prazer e sofrimento no trabalho - EIPST e; Escala de avaliação dos danos relacionados ao trabalho - EADRT6.

A escala EACT compreende três fatores que são a organização do trabalho, condições do trabalho e relação s ócio profissionais; a ECHT avalia o custo físico, cognitivo e afetivo; a EIPST compreende a avaliação da realização profissional, liberdade de express ão, esgotamento profissional e falta de reconhecimento e; por fim a EADRT avalia os danos físicos, psicológicos e sociais do trabalho6.

Neste estudo o instrumento de coleta de dados foi composto pelas escalas: Escala de avaliação do Contexto de Trabalho - EACT; Escala de indicadores de prazer e sofrimento no trabalho - EIPST e; Escala de avaliação dos danos relacionados ao trabalho - EADRT, acrescido de questionário comtemplando dados socioculturais dos trabalhadores. A coleta de dados deu-se de março a junho de 2013, mediante o preenchimento do questionário s ócio cultural e as escalas que compõem o ITRA. Participaram do estudo 18 trabalhadores de enfermagem, após assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido.

Foram realizadas análises estatísticas descritivas a fim de diagnosticar a situação de trabalho dos profissionais de enfermagem do SAMU. As variáveis contínuas com distribuição normal foram expressas em média e desvio padrão e as categóricas através de suas frequências e percentuais. A análise dos dados foi realizada utilizando o programa Microsoft Excel.

A pesquisa foi aprovada pelo Comitê de Ética em Pesquisa com Seres Humanos da Universidade do Estado de Santa Catarina, tendo sua aprovação sob o parecer substanciado n° 181.079 de 2012, via Plataforma Brasil.

RESULTADOS

Dentre os 18 participantes 78% (n=14) eram técnicos de enfermagem e 22% (n=4) enfermeiros, com predomínio do gênero feminino (77,78%), faixa etária entre 25 e 31 anos (33,33%). A metade dos participantes (50%) era casada e a maioria possui filhos.

O tempo de formação profissional foi de 44% (n=8) entre cinco a dez anos e 33% (n=6) de um a quatro anos. Em relação aos quatro enfermeiros, todos possuem especialização, e somente uma era especialista em atendimento pré-hospitalar (APH).

Quanto ao tempo de trabalho no SAMU, 39% (n=7) dos profissionais trabalham de um a quatro anos nessa atividade, e 33% trabalham de cinco a dez anos; 61% (n=11) dos profissionais atuam em plantões de 24 horas e 22% (n=4) trabalham no noturno. A carga horária/dia da maioria dos trabalhadores é de 12 horas (72% - 13) e 50% dos profissionais trabalham 40 horas semanais.

Para apresentar a avaliação do contexto de trabalho, buscou-se o índice da organização de trabalho, relações s ócio-profissionais e as condições do trabalho dos profissionais. Através dos escores estabelecidos pelo ITRA, através do cálculo destes fatores obtiveram-se suas avaliações, conforme apresentado na (Tabela 1).

A (Tabela 2), aponta os principais fatores apresentados na organização do trabalho, nas relações s ócio-profissionais e nas condições de trabalho através da escala de avaliação do contexto de trabalho.

Para os indicadores de prazer e sofrimento no trabalho, buscou-se o índice dos fatores de riscos relacionados à realização profissional, liberdade de express ão, falta de reconhecimento e ao esgotamento profissional, (Tabela 3), de acordo com os escores estabelecidos pelo ITRA6.

A (Tabela 4), aponta os principais fatores relacionados à realização profissional, a liberdade de express ão, a falta de reconhecimento e o esgotamento profissional.

Para os danos relacionados ao trabalho, buscou-se conforme o índice dos fatores de riscos relacionados aos problemas físicos, psicológicos e sociais (Tabela 5).

A (Tabela 6), apresenta os principais fatores relacionados aos danos físicos, danos psicológicos e os danos sociais.

DISCUSSÃO

Avaliação no contexto do trabalho

A organização no trabalho se dá pela divis ão do trabalho de forma igualitária7. Leva a satisfação da equipe quando as ações são planejadas e distribuídas entre todos, e as decis ões são tomadas e compartilhadas, dando maior autonomia à enfermagem8.

No presente estudo, a “organização do trabalho” apresentou uma avaliação moderada, crítica, diferente de outros estudos, onde a avaliação foi grave9. Contudo, estudo sinaliza falta de organização entre as equipes do SAMU, não sendo igualmente divididas as tarefas entre os profissionais10.

Para as “condições de trabalho” a avaliação foi mais positiva, satisfatória. Estas envolvem principalmente a qualidade dos materiais e ambiente onde se trabalha, bem como o trabalho, os equipamentos e materiais disponíveis para a realização eficaz do trabalho proposto7. Cabe destacar que o improviso, a desorganização, e até mesmo a acomodação do profissional gera limitações para desenvolver as atividades corriqueiras, elevando ao grau de insatisfação dos trabalhadores no atendimento dos pacientes, pois suas ações planejadas podem tornar-se frustradas e insuficientes8.

Quando analisado a Escala de Avaliação do Contexto de Trabalho, no que se refere à organização do trabalho, os fatores de maior ênfase foram: “existe forte cobrança por resultados ” e “existe fiscalização no desempenho”. Mesmo quando as tarefas são cumpridas, a cobrança por resultados excelentes na execução das mesmas são vis íveis, não levando em conta a real dificuldade enfrentada pelo profissional de enfermagem para desempenhar a sua ação11.

Nas relações s ócio-profissionais o fator em evidência foi “a comunicação entre os profissionais é insatisfatória”. Isso porque a comunicação não é somente mensagens repassadas verbalmente, mas também com a linguagem corporal, postural, toque, escrita e contato visual, sendo que a comunicação do profissional da enfermagem não fica restrita apenas aos cuidados singulares do paciente, mas de toda sua interação com o meio em que está inserido12.

O relacionamento entre os profissionais de enfermagem é frágil em certas circunstâncias pela lacuna existente entre o planejamento e a organização de cada trabalhador. Em uma equipe não basta ser líder, mas também é preciso demonstrar conhecimento e habilidade, o que muitas vezes torna-se um obstáculo, gera conflitos, dificultando a comunicação entre os profissionais13. As relações interpessoais podem levar a satisfação se cada profissional desenvolver planejamento participativo e a tomada de decisão8.

O fator “comunicação entre os funcionários é insatisfatória” também foi apontado, está possui relação com as formas de conhecimento, experiências, e até mesmo conflitos entre os componentes da equipe de enfermagem, repercutindo na assistência inadequada ao usuário, e, conflitos entre os profissionais 14.

No contexto de trabalho aparece o fator “as condições de trabalho oferecem riscos à segurança das pessoas ” uma vez que a escassez de equipamentos necess ários para os atendimentos, faz com que o profissional fique exposto a diversos riscos tanto para si mesmo quanto para o paciente, gerando a sensação de tarefa incompleta15. O profissional da equipe de enfermagem enfrenta press ões para trabalhar em certas situações com falta de equipamentos e materiais, o que implica em não seguir corretamente suas metas de segurança no cuidado15, ficam expostos constantemente há vários riscos que podem acarretar problemas de saúde ou acidentes de trabalho16.

Para o fator “o espaço físico para realizar o trabalho é inadequado”, pode ser atribuído ao espaço físico das ambulâncias, e de locais adversos em que se encontram os pacientes com pouca ventilação e temperatura inadequada, pois os profissionais desempenham suas atribuições em inúmeras situações16.

A compreens ão das dificuldades encontradas pelo profissional para desenvolver as suas ações faz com que cada um analise diferentemente o seu desempenho, se auto avalie, com o propósito de melhorar o atendimento nas adversidades encontradas, utilizando-se do conhecimento para uma assistência segura e adequada ao paciente17.

Os achados na “organização no trabalho” em conjunto indiciam que há problemas na organização no serviço, que a fiscalização não ocorre adequadamente, e que os profissionais de enfermagem do SAMU, no cenário pesquisado, executam tarefas que trazem riscos para si e para os usuários.

Prazer e sofrimento no trabalho

Os indicadores de prazer e sofrimento no trabalho são mensurados no instrumento através dos índices de realização profissional, a liberdade de express ão, a falta de reconhecimento e o esgotamento profissional dos escores.

Para a “realização profissional” obteve-se avaliação satisfatória, resultado semelhante ao encontrado na literatura18. A realização profissional é trabalhar fazendo aquilo que gosta, quando há gratificação pelo que faz, quando se identifica com o trabalho realizado7. Ocorre quando o trabalhador consegue transformar o sofrimento vivenciado ao desempenhar suas tarefas, e buscar melhores condições de saúde para cada situação de sofrimento enfrentado no trabalho7.

A realização profissional da enfermagem consiste fundamentalmente em estar de bem consigo, promovendo uma assistência qualificada aos usuários que necessitam de atendimento pelos profissionais de enfermagem, mesmo que em situações de sofrimento encontrados no decorrer dos atendimentos19.

Em relação à “liberdade de express ão” que neste estudo obteve avaliação positiva, satisfatória, ocorre quando se tem a liberdade de poder se expressar no ambiente de trabalho, falar com os colegas e chefias sobre o que se pensa, ou sobre o trabalho em questão7. Quando a chefia traz um modelo de gestão flexível os profissionais sentem-se livres em se expressar, os torna co-participativos14.

Para a “falta de reconhecimento” a avaliação foi moderada-crítica, semelhante ao estudo que buscou identificar a percepção dos profissionais de Terapia Ocupacional em 19 hospitais de Belo Horizonte, sobre o risco de adoecimento na profiss ão, advindos do sofrimento e prazer no exercício de sua função18.

A falta de reconhecimento é o sentimento de injustiça, indignação, falta de valorização no trabalho e/ou quando seu trabalho não é reconhecido. Pode ainda ser interpretado como esgotamento profissional, que é a frustração com o trabalho, o estresse, o desgaste físico e emocional7.

O “esgotamento profissional” teve uma avaliação para raramente, grave e representa o acúmulo de trabalho, o que leva o profissional ao excesso de atividades, deixando o físico cansado, estressado14, ou quando o profissional apresenta sentimento de frustração, insegurança, sentimento de inutilidade no trabalho que realiza7. As correlações entre o excesso de trabalho dos profissionais de enfermagem faz com que o esgotamento profissional se intensifique muitas vezes em decorrência da dedicação destes trabalhadores, com uma renda pessoal abaixo do esperado20.

Para a EIPST, os fatores que apareceram com maior ênfase referente à realização profissional foram a “liberdade para falar sobre meu trabalho com os meus colegas ” e “liberdade para usar minha criatividade” que para a enfermagem, são elementos indispens áveis na prática do trabalho conjunto com diversas áreas da saúde, tendo liberdade para falar com a equipe, buscando continuamente a reciclagem e aperfeiçoamento sendo de grande valia tanto para o profissional quanto para o paciente e seus familiares16.

A liberdade para usar a criatividade faz com que o profissional de enfermagem avalie a sua aplicabilidade e validação, até onde é viável as iniciativas tomadas perante situações diversas na assistência prestada ao paciente20. A liberdade de express ão inclui ainda o fator “identificação com minhas tarefas ”. O cuidar não é somente acompanhar como está a saúde do paciente, e sim dividir tudo o que se sabe, respeitar os direitos e os deveres de cada um, suas qualidades e seus defeitos, perante a sociedade21.

Quanto a falta de reconhecimento os fatores atribuídos foram à “insatisfação” e o “estresse”, sendo este último, considerado um dos fatores que desencadeia o esgotamento emocional14. Quanto à “insatisfação”, esta ocorre principalmente em relação à baixa remuneração dos profissionais, bem como o esgotamento emocional a que estão expostos7.

No esgotamento profissional o fator que obteve a maior pontuação foi a “desvalorização”, a qual faz com que o profissional se esgote rapidamente proporcionando um desmotivo no desejo da boa produtividade e cumprimento das ações previstas e desenvolvidas corriqueiramente22, seguida pela “falta de reconhecimento do meu esforço”. Esta falta de reconhecimento pelo trabalho desenvolvido faz com que o profissional sinta seu ego ferido, pela desconfiança, injustiça, individualismo, banalização e isolamento, repercutindo, por vezes no desejo de mudança22.

Danos relacionados ao trabalho

Os danos relacionados ao trabalho foram avaliados por meio do índice dos fatores de riscos relacionados aos problemas físicos, psicológicos e sociais. Quando avaliado os danos físicos, a avaliação foi moderada, crítica. Outro estudo9, encontrou avaliação moderada, crítica e considera que os distúrbios biológicos são causados pelo trabalho, sendo os mais comuns os distúrbios musculoesqueléticos.

Muitas doenças do trabalho vêm aumentando entre os profissionais de saúde, entre elas as Les ões por Esforço Repetitivo/Distúrbio Osteomuscular Relacionado ao Trabalho (LER/DORT), provocando danos físicos aos profissionais 23,24. Essas doenças ocorrem devido a uma sobrecarga do sistema osteomuscular, provocam dores e limitações de movimento, levando a mudanças na vida do trabalhador e outras patologias25.

Em relação aos “danos psicológicos ” no presente estudo a avaliação foi positiva, suportável, representados pelos sentimentos que o profissional tem sobre si, sobre sua vida, sua profiss ão, principalmente os negativos 9. No que tange aos “danos sociais ” a avaliação foi positiva, suportável, que podem ser considerados como as dificuldades que os profissionais têm de se relacionar com familiares e na vida social9.

Na avaliação dos danos relacionados ao trabalho, os fatores que prevaleceram foram dores na coluna vertebral e alteração de sono. O profissional que realiza suas funções com dor, pode sofrer alteração na sua atuação profissional. O sono é uma necessidade fisiológica indispens ável para o bom desempenho de qualquer indivíduo, e esta ligada as funções vitais e a recuperação do profissional no seu estado físico e mental26. A qualidade do sono pode causar má qualidade no desenvolvimento profissional do indivíduo, pois causa cansaço excessivo e muitas vezes leva a insatisfação no trabalho. Neste contexto observa-se que o profissional que trabalha no turno da noite acarreta para sua saúde problemas no ritmo de vida, como alterações fisiológicas, de convivência social, inquietação após o término do horário de trabalho e principalmente, má qualidade no sono27.

Relativo aos danos psicológicos, dentre os fatores mais comprometidos referem-se a “vontade de ficar sozinho” e “conflitos nas relações familiares ”. Os danos psicológicos dos profissionais de enfermagem ocorrem devido ao grau de responsabilidade e a precis ão em realizar os procedimentos, qualquer erro pode causar dano ou ser fatal ao paciente14.

O isolamento social demonstra a privação do indivíduo de seus contatos sociais que pode ser de forma voluntária ou involuntária. A solidão é um aspecto psicológico e o isolamento social é um aspecto físico. Isolamento social é se sentir só, é a solidão em si28. Já os conflitos nas relações familiares, comumente interferem no trabalho do profissional. As relações familiares de baixa qualidade são um grande fator de risco para os sintomas de depress ão29.

Em relação aos danos sociais, os fatores de maior prevalência foram o “mau humor”, e a “tristeza”. Noutro estudo9 o mau humor também se apresentou prevalente. Quanto à tristeza, está pode se manifestar negativamente na dimens ão das relações de cuidado, que reforça a ideia de que o profissional de enfermagem apresenta fragilidade ao lidar com situações de perda30.

A enfermagem passa diariamente por sofrimento dentro do seu local de trabalho, e um dos principais motivos deste sofrimento é a morte, a qual gera sentimento de tristeza, fazendo com que o profissional busque auxílio, refúgio em vários lugares, no entanto o sentimento de tristeza permanece impregnado em si14.

Entre as limitações deste estudo, destaca-se o pequeno número de participantes, não podendo generalizar os achados, e a supress ão da escala de custo humano no trabalho, pelo não aprofundamento no referencial do trabalho.

CONCLUSÕES

Esta pesquisa que buscou identificar os fatores de risco ao adoecimento relacionado ao trabalho de enfermagem em Serviço de Atendimento Móvel de Urgência no oeste catarinense com base no Inventário sobre Trabalho e Risco de Adoecimento demonstrou que o profissional de enfermagem vivencia em seu cotidiano laboral um misto de sofrimento e prazer, conforme descreve a Psicodinâmica do Trabalho.

Na avaliação do contexto do trabalho, os profissionais de enfermagem do SAMU sinalizaram que estão insatisfeitos com a organização do seu local de trabalho. Quanto aos indicadores de prazer e sofrimento no trabalho, destaca-se o esgotamento profissional e a falta de reconhecimento, com ênfase para a “desvalorização”, “falta de reconhecimento do meu esforço”, “estresse” e “insatisfação”, mostrando que o esgotamento, bem como a falta de reconhecimento da equipe é um problema dentro deste contexto, o que repercute na sua saúde física e ps íquica destes trabalhadores.

Na avaliação dos danos relacionados ao trabalho, os danos físicos foram os mais sinalizados, com destaque as “dores nos braços ” e “alterações do sono”, demonstrando um problema de saúde grave entre os profissionais de enfermagem, os quais podem repercutir na sua qualidade de vida e na capacidade para o trabalho.

Dentre as limitações do estudo identificou-se a escassez de pesquisa utilizando o Inventário sobre Trabalho e Risco de Adoecimento - ITRA em trabalhadores do Serviço de Atendimento Médico de Urgência - SAMU, considerando que esta modalidade de atendimento encontra-se em expans ão no Brasil, requerendo outras pesquisas.

Os achados sinalizam para necessidade de acompanhamento das condições de trabalho e saúde dos profissionais de enfermagem e expans ão dos estudos para os demais componentes destas equipes, bem como investimentos na reestruturação da organização e condições de trabalho, no fortalecimento das relações de trabalho e no desenvolvimento de estratégias para minimizar os danos físicos relacionados ao trabalho.

Conflito de interesses: Os autores declaram que não há conflito de interesses.


REFERÊNCIAS

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